quarta-feira, 28 de novembro de 2012

XIX Congresso do PCP


Nos dias 30 de Novembro, 1 e 2 de Dezembro, realiza-se em Almada o XIX Congresso do PCP.

Aqui podem encontrar os documentos em discussão e informações diversas sobre o XIX Congresso

Objetivo e inegável


O Orçamento de Estado para 2013 é um passo sem precedentes de assalto fiscal às famílias, de cortes nas funções sociais do Estado, da imposição de uma austeridade sem limites. Este orçamento é uma máquina de fazer pobres, ao multiplicar o desemprego – e é o próprio Governo que assume, com uma indiferença desumana, ao dar como previsão mais 150 mil desempregados durante o próximo ano –, ao roubar salários e pensões, ao cortar em todas as prestações sociais, incluindo o próprio subsídio de desemprego!
Ao paralisar a economia, ao ampliar enormemente a carga fiscal sobre as empresas, como com o aumento do IVA para a restauração, ao cortar no investimento do Estado, este orçamento é mais um passo decidido para lançar o país no caos social e económico e garantir que, tal como a Grécia, Portugal terá de pedir um segundo resgate, sob condições ainda mais penosas.
Ao desmantelar as mais básicas funções sociais do Estado, cortando na saúde, na educação, na solidariedade, e, mais recentemente lançando a ideia de refundar o papel do Estado, este Orçamento é sobretudo o ajuste de contas da velha direita com o Estado Social e com os direitos dos portugueses conquistados na Revolução de Abril. PSD e CDS/PP querem reescrever o contrato social, acabar com Estado Direito e transformá-lo numa máquina repressiva e autoritária para governar um país empobrecido e subjugado aos interesses estrangeiros.
A comunicação social inunda-nos com a ideia de que o Estado gastou mais do que devia nos últimos anos. Mas para onde foi esse dinheiro gasto a mais? Para a saúde? Para a educação? Para as reformas e pensões? Não. Os desmandos das finanças públicas foram para o BPN, para o BPP, para recapitalizar a banca, para as Parcerias Público Privadas, para, foram para um Estado marginal criado para satisfazer os interesses das clientelas políticas. Foi para aqui, e para aqui continua a ir, que foi o dinheiro público, foi para aqui e não para beneficiar os portugueses!
Mas a comunicação social, no seu exercício da arte de bem (des)informar, alimenta também a ideia, veiculada pelo PSD e CDS, de responsabilização dos anteriores governos do PS. Importa, todavia, trazer à memória que foram eles mesmos, o PSD e o CDS/PP, durante todos estes anos, os melhores amigos da governação do PS.
Vejamos: apoio do PSD e do CDS/PP ao pacto assinado pelo governo de Sócrates com a troika; o mesmo PSD e o mesmo CDS/PP que viabilizaram o Orçamento de 2010; o mesmo PSD que viabilizou o Orçamento de 2011 e os PEC’s 1, 2 e 3.
Recuando um pouco no tempo: Orçamento de 1996 - viabilizado pela abstenção do CDS e do PSD/Madeira; Orçamentos de 1997, 1998 e 1999 – viabilizados com a abstenção do PSD; Orçamento de 2000 – desta vez foi o CDS/PP a viabilizar; Orçamento para 2001 – viabilizado pelo deputado Daniel Campelo, do CDS/PP (quem não se lembra); Orçamento para 2001, viabilizado pelo então Deputado “Independente” Daniel Campelo que, após um curto período de “nojo” rapidamente regressou ao CDS/PP, sendo atualmente Secretário de Estado do Governo de Passos Coelho e Paulo Portas.
Mais palavras para quê! Os responsáveis políticos pela destruição da economia nacional e pela grave situação que vivemos têm nome e rosto.
Nada faz recuar este Governo na sua cruzada reacionária contra o Portugal moderno e democrático. Se a Autonomia dos Açores atrapalha, então, cilindra-se a Autonomia, abandonam-se os deveres do Estado para com a Região e desrespeita-se a Constituição, o Estatuto Político-Administrativo e as regras mais básicas da lealdade e legitimidade institucional. Para lá da apreciação que cada de nós poderá fazer do rumo que Passos Coelho e Paulo Portas estão a imprimir ao país, a verdade é que este Orçamento de Estado prejudica, a muitos níveis, a nossa Região. Este, como outros o são, é um dado objetivo e inegável.
Lisboa, 27 de Novembro de 2007

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 28 de Novembro de 2012, Angra do Heroísmo

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Jimi Hendrix

Pela passagem do dia do seu nascimento fica este pequeno tributo a Jimi Hendrix.

Aqui e aqui poderão aceder a dois dos seus temas musicais.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Haja coragem


O debate do Programa do XI Governo Regional veio comprovar que, ainda mal saído da linha de partida, este Governo desistiu. 
Desistiu! Desistiu de se preocupar com aqueles que são os mais centrais dos problemas da nossa Região: a recessão, o desemprego e o empobrecimento dos açorianos. Talvez porque as dificuldades sejam grandes, talvez porque o Governo prefira atirar para Lisboa todas as responsabilidades ou, talvez porque a solução obriga a que se belisquem os velhos interesses e clientelas instalados, em bom rigor nem no programa, nem nas intervenções dos novos Secretários Regionais, por mais que se procure, não se encontra uma solução, uma política ou uma medida que vá à raiz destes problemas.
O momento exige a coragem política de sair do redil do dogma e atuar em contraciclo para estimular a nossa economia. Enquanto o Governo continua imerso no seu mundo de fantasia, invocando os anjos para que venham salvar a economia regional, a realidade é que cada vez mais açorianos estão desempregados, os agregados familiares estão cada vez mais pobres, as empresas vendem cada vez menos e despedem cada vez mais.
A questão do rendimento das famílias e da necessidade de se reativar o consumo, as vendas das empresas e a criação de emprego tornaram-se na questão essencial a que é necessário dar resposta urgente. É das respostas que forem dadas a esse problema que depende, em primeiro lugar, a capacidade da Região resistir, de vencer a recessão e de construir um futuro de crescimento e justiça social. Para isso é essencial a utilização das competências autonómicas, recusando as chantagens e ingerências do Governo da República e afirmando o direito dos açorianos a gerirem livremente os seus próprios recursos.
O Governo desistiu porque quis. O Governo desistiu por que é fiel aos mercados, como se o livre mercado fosse compatível com o estado social. O Governo desistiu porque continua a insistir na fidelidade dogmática à espúria terceira via.
O Governo desistiu porque insiste nos erros dos seus antecessores pois não se vislumbra no programa de Governo, nem se vislumbrou no debate do programa, um único rasgo de rutura com o passado, renovar só na imagem, renovação só no discurso de circunstância.
Mas o XI Governo da Região Autónoma dos Açores não só mantém a fidelidade à teologia do mercado como, no caso da diminuição do tarifário e do custo final das passagens aéreas, acentua essa sua crença propondo uma solução que terá como consequências a diminuição da qualidade do serviço, a remuneração do capital privado com capitais públicos, a continuada discriminação dos açorianos no acesso ao seu direito à mobilidade e ao não isolamento e, o que não é de somenos importância, a sustentabilidade económica da SATA.
As opções do Programa do Governo são pela competitividade da economia regional, o que em si mesmo não é sequer criticável, todavia todos sabemos muito bem o que isso significa – desvalorização do trabalho.
Necessitamos, como de pão para a boca, de construir um mercado interno pujante necessitamos, certamente e para que isso seja possível, do tal Plano Integrado de transportes aéreos e marítimos, necessitamos, certamente de diminuir a nossa dependência externa em produtos alimentares e outros, mas não tenhamos dúvidas que isto só terá sucesso se os trabalhadores, as famílias, em suma o Povo Açoriano tiver rendimento disponível.
Haja coragem para a rutura. Há outros caminhos, tenhamos a audácia de os trilhar.
Ponta Delgada, 25 de Novembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 26 de Novembro de 2012, Ponta Delgada 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

... a esperança parece que já não vale a pena(*)


Mesmo quando, até a esperança parece que já não vale a pena há sempre uma réstia de alento que nos diz que sim. Que há esperança! E que vale a pena, seja a alma grande ou pequena. Há esperança porque ela, a esperança, é a última a morrer. Só morre com o homem. 
Por isso vale a pena! Pelo homem! Pela humanidade! Vale a pena lutar.
Vale a pena lutar porque esse é o caminho a seguir por quem tem vindo a ser saqueado, este é o termo não outro. Saqueado no seu rendimento, saqueado nos seus direitos, saqueado na sua dignidade. Saqueado no seu futuro.
Vale a pena lutar por uma sociedade verdadeiramente democrática e justa. Vale a pena lutar na defesa dos direitos laborais e sociais. Vale a pena lutar pela defesa dos serviços públicos de saúde, de educação e de proteção social. Vale a pena lutar pela rutura com estas políticas de destruição dos sectores sociais do estado e pela sua entrega à voragem de um capitalismo selvagem, vulgarmente designado por crise.
E a luta é pelo direito ao trabalho com direitos. A luta é contra a precariedade das relações laborais. A luta é contra o pecado que constituem os escandalosos lucros da banca e dos seguros. A luta é das populações que se veem privadas dos serviços públicos. A luta é dos micros, pequenos e médios empresários, que verdadeiramente estruturam social e economicamente, que se veem preteridos pelos grandes grupos económicos nos apoios e nos benefícios. A luta é pelo futuro. O futuro da humanidade.
A desvalorização do trabalho, da cultura e do ensino conduzem à pobreza, à exclusão social, ao desemprego e são o produto acabado do modelo de desenvolvimento económico depredador dos recursos naturais e dos direitos sociais e económicos.
Esta barbárie, por vezes confundida com civilização, tem de ter fim e cabe-nos a todos providenciar o seu óbito. 
Vale a pena lutar mesmo quando a esperança parece que já não vale a pena. Porque só lutando a esperança renasce e, renascendo valeu a pena.
(*) Este texto foi escrito e publicado em Maio de 2007. A sua intemporalidade justifica que, de novo, o partilhe. Desta vez com outros públicos. 
Horta, 19 de Novembro de 2007

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 21 de Novembro de 2012, Angra do Heroísmo 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Orçamento de Estado é um atentado à autonomia


As condições de vida das famílias açorianas continuam a degradar-se fruto das políticas de austeridade e de desvalorização do trabalho. 
A proposta de Orçamento de Estado (OE) que está em discussão na Assembleia da República aponta para um rumo de aprofundamento brutal deste caminho de empobrecimento e recessão, que é urgente travar. Importa que seja reconhecido que as medidas de austeridade têm efeitos muito mais graves nos Açores, devido à dimensão da economia regional e ao contexto insular. O ano de 2012 tem mostrado claramente essa realidade e o agravamento da austeridade que o Governo de direita quer impor ao país, a continuidade destas políticas, em 2013, terá efeitos catastróficos sobre a economia regional, o emprego e as condições de vida das famílias açorianas.
De igual forma, a privatização de empresas estratégicas do Estado, designadamente a TAP e a ANA trarão gravíssimos prejuízos para o serviço público de transportes aéreos nos Açores. Esta estratégia errada está já a produzir efeitos no Aeroporto de Santa Maria, com a redução do seu horário de funcionamento, a redução do seu material operacional e, consequentemente, o desvio de escalas técnicas, como já sucede, para outros aeroportos.
A concretizar-se a privatização da ANA, SA sem que seja cumprido o protocolo subscrito em 2011, entre a Região e a República, que prevê a cedência dos terrenos da ANA que não estão afetos à atividade aeroportuária para o domínio da Região e do Município de Vila do Porto, incorre-se no risco de uma área substantiva da ilha de Santa Maria poder ficar nas mãos de uma entidade privada. 
A Região, em particular Santa Maria, estão a ser vítimas da saga privatizadora que domina a agenda política nacional. Os prejuízos em Santa Maria são já uma evidência, em virtude da redução do horário de abertura e da obrigatoriedade de solicitar autorização prévia, até às 13h do dia anterior, para efetuar escalas técnicas, e poderão vir a assumir uma dimensão dramática caso o protocolo de cedência dos terrenos não se concretize rapidamente. Estranho mesmo é o silêncio e a inércia do Governo Regional sobre a privatização da ANA, SA e, mais concretamente sobre a desvalorização do Aeroporto de Santa Maria.
A proposta de OE constitui um gravíssimo ataque à Autonomia dos Açores, desde logo, porque o Governo da República pretende obrigar a Região a reduzir o número de trabalhadores em funções públicas, esquecendo que, de acordo com a Lei, é a Região que tem competência para gerir a administração pública regional. Por outro lado, o OE, ao pretender que as verbas da sobretaxa de IRS revertam para o Governo da República, abre um gravíssimo precedente de roubo das receitas próprias da Região, que tem de ser firmemente recusado pelos Órgãos de Governo próprio dos Açores. 
Perante o crescimento da ofensiva da direita contra as condições de vida dos portugueses, têm-se intensificado as lutas e os protestos dos cidadãos, por todo o país e também nos Açores. Protestos que conheceram um momento alto na Greve Geral do passado dia 14 de Novembro. Pese embora a enorme desinformação e os incidentes com que se pretendeu desviar as atenções da opinião pública, a verdade é que esta foi uma das maiores greves gerais do pós 25 de Abril, demonstrando bem o descontentamento dos portugueses e o crescente isolamento social e político do Governo PSD/CDS. 
Horta, 18 de Novembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 19 de Novembro de 2012, Ponta Delgada

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Exorcismo



Desiludido. 
Comigo, nunca contigo
Errei,
Sim
Falhei, confiando 
Num sorriso, 
Num olhar, 
Numa palavra
Na partilha do momento
Que queria nosso
Mas era teu, só teu, o dia
Como é tua, a vida, só tua
Como são teus, só teus, os momentos
Num breve instante cuidei de mim. 
Do meu deleite
Egoísmo? Talvez!
A tua gratidão, jamais
O teu Amor, Sim

Ponta Delgada, 15 de Novembro de 2012


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O NOTAM e o protocolo por cumprir


A importância do aeroporto de Santa Maria para os Açores e para o país é sobejamente conhecida. A sua posição geográfica, infraestruturas e pessoal altamente qualificado conferem-lhe um papel destacado enquanto plataforma logística aeronáutica nesta região do Atlântico.
A prová-lo está o fato de receber um número muito significativo de aeronaves, a que presta assistência e diversos tipos de serviços e, com isso, trazendo importantes benefícios económicos para a ilha de Santa Maria, para a Região e para o País.
Igualmente, os postos de trabalho relacionados com a atividade aeroportuária que assegura são verdadeiramente estruturantes para a economia da ilha, pelo que a importância deste aeroporto extravasa em muito a questão aeroportuária.
No final de Outubro expirou o NOTAM que garantia a abertura do Aeroporto de Santa Maria até às 24h. A redução do horário de funcionamento normal do aeroporto de Santa Maria, decidida ANA, SA e já implementado, vem contrariar todos indicadores que, de forma clara e inequívoca, colocam o Aeroporto de Santa Maria como uma importante infraestrutura para as escalas técnicas, aliás têm aumentado substantivamente, o que injustifica o NOTAM de 12 de Novembro que exige às companhias aéreas e às aeronaves privadas o pedido de autorização para utilização do aeroporto até às 13h do dia anterior. Há uma clara intenção da ANA, SA em desvalorizar a sua infraestrutura em Santa Maria. Vá lá saber-se porquê? Talvez a estratégia de privatização daquela empresa pública não seja, de todo, alheia a esta decisão, digo eu.
Em causa estão postos de trabalho diretos e indiretos, e a diminuição de receitas do handling da SATA, companhias abastecedoras e de catering e da própria ANA, SA pois, como é fácil concluir, as companhias aéreas e as aeronaves privadas que cruzam o Atlântico, face ao elevado custo da reabertura do aeroporto no período das 21h30 às 6h30, procurarão outras alternativas de escala.
A importância económica e social do Aeroporto de Santa Maria exige que os Órgãos de Governo próprio da Região tomem posição e exijam junto do Governo da República a revisão destas decisões, repondo o horário de funcionamento existente até aqui, ou mesmo decidindo pela abertura do aeroporto 24h por dia.
A ANA, SA e a tutela não satisfeitos com este ardil continuam a protelar a transferência, para a Região, de um conjunto muito significativo de terrenos no município de Vila do Porto, que não estão, presentemente, afetos à atividade aeroportuária e que constituem a área natural de expansão urbana de Vila do Porto.
A transferência destes terrenos para a posse da Região e do respetivo município são uma antiga reivindicação dos marienses e que foi formalizada com a concretização de um protocolo subscrito, no Verão de 2011, pelo Governo da República, pelo Governo Regional e pela Câmara Municipal de Vila do Porto. Passado mais de um ano sobre a assinatura do aludido protocolo não se vislumbra nenhum sinal de concretização do seu conteúdo.
Esta situação tem consequências negativas para o desenvolvimento urbano do concelho e impede o desenvolvimento de projetos privados e públicos relevantes para a ilha de Santa Maria. Esta inexplicável situação coloca profundas e sérias preocupações pois num quadro de privatização da ANA, SA e se a transferência dos terrenos, entretanto, não se efetivar, aquele património passará para a esfera privada, levantando novas dificuldades ao seu uso público.
Ponta Delgada, 13 de Novembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 14 de Novembro de 2012, Angra do Heroísmo

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Os arautos da desgraça


Não deixa de ser interessante constatar como a narrativa política tem vindo a evoluir quando se fala de crise e das políticas de austeridade.
À unanimidade inicial, quanto à necessidade absoluta do resgate e dos seus termos, até às medidas além troika, foi sucedendo a rutura e a dissidência das bem pagas vozes que pululam nos palcos do comentário das televisões nacionais. Também alguns dirigentes e ex-dirigentes do PSD e do CDS/PP fizeram ouvir as suas opiniões dissonantes com o radicalismo do governo dos seus partidos, sem consequência é certo mas, ainda assim, sempre disseram que não. Tanta austeridade não. E, segundo eles, talvez seja tempo de renegociar os juros e prazos da dívida.
Mas a evolução da narrativa nem sempre é de crítica e afastamento quanto à “receita”. Por exemplo Fernando Ulrich, presidente do BPI, fez a pergunta: Portugal aguenta mais austeridade? Não esperou pela resposta de ninguém, ele mesmo respondeu: Ai aguenta, aguenta!
Também a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, a curadora dos pobres, veio a terreiro verbalizar a necessidade de empobrecimento da sociedade portuguesa.
Fernando Ulrich e Isabel Jonet alimentam-se na crise é, por isso, natural que o primeiro defenda a intervenção do FMI e as políticas de austeridade que se abatem sobre o povo português, só o banco a que preside arrecadou 1200 milhões de euros, do resgate do país, para recapitalização. Quanto a Isabel Jonet, só tem trabalho, porque existem pobres. Está claro que, não será esta personalidade cuja atividade profissional depende da existência de pobres que quererá ver reduzida a pobreza e a exclusão em Portugal e na Europa, até por que, se isso viesse a acontecer estaria em perigo o seu próprio posto de trabalho, o que seria mais um drama nacional.

A “bola de Berlim”, de seu nome próprio Angela, vem passar umas horas a Lisboa para anunciar que Portugal não tem necessidade de renegociar com a troika as condições do resgate, porventura porque se prepara já uma segunda versão. Enfim! Nada de novo, é o discurso conhecido da ilustre senhora para os países periféricos do Sul da Europa. Mais e mais austeridade. 
Em Berlim o discurso é bem diferente. Aos alemães, a chanceler diz que é necessário aumentar a procura interna e que isso só é possível com a diminuição dos impostos e com o aumento dos salários. Pois!
Com o aprofundamento da discussão sobre a situação social, política, económica e financeira do país e, sobretudo, sobre as condições do resgate vai-se generalizando a ideia que a terapia indicada vai, a breve trecho, conduzir-nos para um estado terminal.
Dos 78 000 milhões de euros do resgate, 34 400 milhões são para suportar taxas e juros da “ajuda”, 12 000 milhões para a recapitalização da banca nacional (o banco do Ulrich levou 10% deste valor). Não houvesse necessidade de pagar juros da dívida e em 2012 não haveria défice. O FEEF (ou troika) financia-se nos mercados a taxas negativas e depois impõe, na “ajuda” aos países europeus, taxas e juros de usurário. Se isto não é o melhor negócio do planeta! Então não sei o que será um bom negócio.
E quem é que paga? O povo pá! Diminuem-se os salários e aumentam-se os impostos. Refunda-se o Estado e, já está.
Claro que a chanceler alemã prevendo que os habituais clientes vão deixar de lhe comprar submarinos e outros produtos afins preocupa-se, e faz bem em preocupar-se com o aumento da procura interna no seu país. Quanto os bancos alemães e sociedades afins, a chanceler, não tem com que se preocupar pois, por cá, há quem lhe continue a assegurar o pagamento da usura.
Ponta Delgada, 11 de novembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 12 de novembro de 2012, Ponta Delgada

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O "gene" da pobreza


Neste texto trago à reflexão um tema que tem sido profusamente objeto de estudos e de campanhas de esclarecimento. Mas, porque em minha opinião, o preconceito e a discriminação continuam a constituir verdadeiras ameaças ao bem-estar e ao desenvolvimento humano, penso que terão alguma utilidade as notas que em seguida deixo à vossa consideração.
As agências noticiosas dão-nos conta diariamente de graves questões sociais relacionadas com atitudes individuais e coletivas, cuja origem é motivada pelo preconceito e pela discriminação. Por outro lado, a história passada e recente é igualmente rica em factos que hoje reconhecemos como crimes contra a humanidade e que tiveram a sua génese em construções sociais fundamentadas em atitudes preconceituosas, que provocaram comportamentos discriminatórios. A escravatura, a inquisição, o antissemitismo, a eugenia ou o sexismo e, mais recentemente, o idadismo são alguns dos muitos exemplos que tristemente ilustram os resultados do preconceito e da discriminação.
O preconceito, segundo a psicologia social, é uma categoria particular de atitude e pode ser definido como, “... atitude favorável ou desfavorável em relação a membros de algum grupo baseada sobretudo no facto da pertença a esse grupo e não necessariamente em características particulares de membros individuais.” Ou ainda como, “...uma generalização errada de uma categorização de um grupo (estereótipo) para um membro individual do grupo, independentemente quer da veracidade do estereótipo do grupo, quer da aplicabilidade da caracterização do estereótipo do grupo ao indivíduo em questão.”  
O preconceito surge, portanto, se um sujeito é avaliado tendo em conta a sua pertença a um grupo particular e não tanto por traços ou características individuais. 
Enquanto categoria particular de atitude o preconceito tem para além das componentes afetiva e cognitiva, uma componente comportamental que se refere às formas como agimos em relação aos grupos alvo de preconceitos. Quando as intenções se concretizam em ações estamos perante discriminação.
A discriminação é, por consequência, a manifestação comportamental do preconceito.
A discriminação ocorre quando membros de grupos particulares são tratados de modo positivo ou negativo por causa da sua pertença a determinado grupo.
Os comportamentos discriminatórios podem manifestar-se a diferentes níveis que vão desde o evitamento, à exclusão (emprego, ensino, alojamento, etc.), ou, levado ao extremo, a manifestações violentas sobre os alvos do preconceito.
Os preconceitos, independentemente da sua índole, são construções sociais que refletem os contextos sociais, históricos e económicos da sociedade e de que certos grupos humanos se servem para instaurar ou expandir o seu domínio sobre outros grupos.
É neste âmbito que nalguns meios científicos se desenvolveram novas teorias racistas, já não baseadas nas diferenças morfológicas e culturais, mas assentes na diferenciação da realização económica dos cidadãos, individualmente considerados, e de diferentes grupos humanos. 
Os “sem terra”, os “sem emprego”, os “pobres”, produto das políticas neoliberais e da globalização que caracterizaram economia mundial nas últimas décadas são, na opinião de alguns autores como, Hernstein e Murray, as novas “raças inferiores”, possuidoras do “gene da pobreza”.
Os autores defendem a teoria no seu livro, The Bell Curve, que as diferenças raciais e de classe são causadas por fatores genéticos, ou seja, as pessoas são pobres por causa das suas características genéticas. Assim, segundo estes cientistas, os brancos pobres ou os afro-americanos partilhariam características genéticas inferiores.
A busca de suporte “científico” para a explicação do fracasso do paradigma económico neoliberal não é mais que uma repetição histórica, que tem como objetivo perpetuar um modelo de pensamento que assenta na superioridade de um grupo humano sobre outro.
Esta é a velhíssima modernidade que diariamente nos servem os grandes meios de comunicação social – sempre ao serviço do “dono”, claro está – e com que se pretende justificar diferenças entre os que têm e os que queriam ter, entre o Norte e o Sul. Agora já não no Mundo mas na Europa, dividida outra vez por uma muralha, uma nova cortina de ferro de preconceito, separando ricos e pobres.
Horta, 05 de novembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 07 de novembro de 2012, Angra do Heroísmo

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Políticas, personalidades e vias


A X Legislatura tem o seu início nestes primeiros dias de Novembro. O que muda!? Nada ou, muito pouco. O Parlamento mantém a mesma configuração, 33 deputados da esquerda, 24 deputados da direita, considerando a habitual nomenclatura atribuída aos partidos que têm assento parlamentar. 
O Governo, o XI, tem um novo Presidente, novos Secretários Regionais e foi apresentado em versão minimalista, dizem que é para agilizar mas, ligeireza não rima com centralizar, digo eu e, dirá o tempo.
O tempo dirá que: Turismo, Transportes, Obras Públicas, Comunicações, Tecnologia e Energia, são estas as competências, de entre outras minudências, da Secretaria tutelada por Vítor Fraga, o que é muita uva numa cesta só, mesmo para um corvino.
O mesmo se poderá dizer para todos os outros departamentos propostos por Vasco Cordeiro, designadamente para a Vice-presidência, mesmo com o turbo-Sérgio Ávila na tutela das Finanças, Planeamento, Emprego e Competitividade Empresarial, de entre outras minudências como seja a Administração Pública. Ah pois, e nas minudências também os Assuntos Parlamentares.
O Povo Açoriano, soberanamente, e com a sua sabedoria optou por deixar tudo na mesma, mesmo que tudo possa, a olhos mais desatentos, parecer diferente. 
Sem retirar qualquer mérito a Vasco Cordeiro e ao que de novo ele possa vir a trazer à vida política regional, a verdade é que foi o projeto político do PS Açores que foi validado no passado dia 14 de outubro, ou seja, foi o PS Açores que venceu as eleições. Não foi Vasco Cordeiro.
As personalidades são importantes? Sem dúvida que sim. Mas mais importantes que os protagonistas são os projetos políticos e a matriz ideológica que lhes dá sustentação e, em bom rigor, foi o projeto político do PS que os leitores sufragaram com uma acrescida maioria absoluta.
Em Portugal e na generalidade dos países europeus os partidos “socialistas” abandonaram, com a chamada terceira via, a sua matriz ideológica que se situava na social-democracia. Renderam-se às virtualidades do mercado e tentaram conciliar o inconciliável: o capitalismo fundado no mercado livre e o socialismo democrático.
Os povos europeus estão a pagar bem caro esta deriva ideológica dos partidos “socialistas” europeus. A aproximação aos partidos “populares” e a continuada cedência aos teólogos do mercado descaracterizaram os “socialistas” europeus que hoje não passam de uma mera imagem de marca para consumo dos eleitores flutuantes e que ainda têm algo a perder. Pouco, mas ainda têm.
Por muito que se lhe reconheçam qualidades e capacidades é neste cenário de faz de conta, que somos e não somos, que se move Vasco Cordeiro. E, por muito mérito que a personalidade tenha, a verdade é que Vasco Cordeiro está submerso neste pântano ideológico a que um dia Tony Blair chamou terceira via.
Horta, 04 de novembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 05 de novembro, de 2012, Ponta Delgada

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Mónica Bellucci - a abrir novembro


Em outubro não foi prestada a devida homenagem à beleza feminina. Novembro abre com uma repetição. Monica Bellucci já por aqui passou.
Não foi por acaso que trouxe de novo a Monica é assim como uma compensação para os e as visitantes do momentos.
Esta mulher quase me faz crer em Deus pois tamanha beleza e sensualidade junta não pode ser só obra do homem.
A foto veio daqui