sábado, 30 de novembro de 2013

Na Horta, evocação de Álvaro Cunhal

Caros amigos e camaradas, 
Esta exposição integra-se nas comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal. O PCP realizou, ao longo deste ano, também nos Açores, um vasto conjunto de iniciativas que visam recordar, o intelectual, o dirigente comunista, o lutador pela liberdade, o homem que, como nós, tinha esperanças e sonhos e lutou para os realizar. 
Mas penso que mais do que recordar, estas iniciativas servem para transportarmos para o presente e para projetarmos no futuro uma importantíssima lição de vida e, mais ainda, uma verdade fundamental da condição humana, que me atrevo a formular desta forma:
– Somos homens porque sonhamos. Somos homens livres porque lutamos para realizar os nossos sonhos.
É este o ensinamento que retiro da vida e obra de Álvaro Cunhal e que reencontro em tantos rostos, em tantas vidas no Partido que era o seu Partido, neste Partido que é o meu Partido, neste Partido que é o nosso Partido.
 E, caros camaradas, neste Partido acima de tudo sonhamos. Somos sonhadores desmedidos que sonham um mundo sem exploradores nem explorados. Um mundo onde a liberdade de sonhar e de trabalhar para realizar os próprios sonhos seja a regra para todos os seres humanos. Um mundo mais equilibrado, mais justo, um mundo mais feliz. 
Este é o sonho que partilhamos com incontáveis gerações que vieram antes de nós. Este é o sonho que partilhamos com milhões de homens e mulheres de todo o mundo e a raiz da fraternidade que nos une, fraternidade que dizemos de maneira tão bonita no calor humano da palavra “camarada”. 
Este é o sonho que partilhamos com Álvaro Cunhal, camarada de sonho e de luta para o realizar. 
Neste Partido, aprendemos com Álvaro Cunhal a ser sonhadores militantes, pois sabemos, aprendemos, que quando a dureza da vida nos rouba a capacidade de sonhar, de ver um futuro diferente do presente que nos impõem, perdemos algo essencial. Um homem sem sonhos, um homem sem nada porque lutar nunca será um homem livre.
É por isso que os que querem manter a humanidade escravizada, amarrada à atafona de gerar lucros para outros, não gostam de homens que sonham e gostariam de ter um mundo sem sonhos, no fundo um mundo de cegos, que aceitassem passivamente e para sempre o seu domínio. Fosse em nome da União Nacional, em tempos idos, seja em nome da troika, neste áspero presente, o que pretendem é roubar aos portugueses a capacidade de sonhar uma vida e um país diferente. 
A esses, aos que querem perpetuar o seu poder sobre uma massa de explorados dóceis, dizemos, como o Álvaro sempre disse: Não! Aqui sonhamos! E lutamos e lutaremos para tornar os nossos sonhos realidade!

Caros amigos e camaradas,
Este sonho que partilhamos com Álvaro Cunhal é importante, mas é sobretudo um sonho útil. É, afinal, a condição dos nossos esforços e trabalhos. É por causa desse sonho que não nos deixamos ficar em casa descansados e vimos aqui e a tantos outros sítios, juntar-nos aos que sonham como nós, para unidos lutar, agir, transformar o mundo e a vida.
E também aqui, neste momento mágico em que o sonho se torna em ação transformadora, o Álvaro teve muito para nos ensinar. Mostrou-nos a determinação, a coerência, a racionalidade e a inteligência, em cada momento, perceber onde estão os interesses do nosso Povo, onde é que está o verdadeiro inimigo que é preciso combater. 
Ensinou-nos que de nada vale uma teoria revolucionária sem um Partido revolucionário que a leve à prática. Soube afastar do nosso Partido a “ferrugem do erro”, fosse o da pressa revolucionária de saltar etapas e querer desesperadamente tudo, já, agora, fosse o erro de abdicarmos de ser quem somos, vendendo a nossa identidade em troca de um assento à mesa do poder. 
Ensinou-nos que, para tornar realidade este nosso grande sonho coletivo, o nosso primeiro trabalho tem de ser o de ajuntar vontades, como Baltazar Sete-Sois e Blimunda Sete-Luas, no romance de Saramago.
O Álvaro ensinou-nos que o nosso trabalho de comunistas é hoje, como o foi durante os tempos negros do fascismo, como o foi sempre, o de levar esperança ao nosso Povo, o de mostrar que é possível um futuro diferente, o de por mais gente a sonhar e a transformar a vida.
Os tempos duríssimos que vivemos, o sofrimento que nos infligem, os muitos milhares de portugueses infelizes, a quem tentam roubar todos os dias a capacidade sonhar, tornam este trabalho ainda mais importante, ainda mais urgente. 
A sombra negra que, uma vez mais desceu, sobre Portugal, tentando abafar toda a esperança, tentando apagar todos os sonhos, humanos, simples, grandiosos por isso mesmo, faz com que precisemos cada vez mais das lições que Álvaro Cunhal nos ensinou.
Esta, camaradas, não é uma exposição sobre o passado, é uma exposição para o presente que queremos transformar, uma exposição para o futuro que, juntos, conquistaremos.
Cidade da Horta, 29 de Novembro de 2013

As fotos foram gentilmente cedidas pelo Jornal "O Breves)

Intervenção proferida na inauguração alusiva ao centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, Horta 29 de Novembro de 2013, 18 horas, antigas instalações da delegação do Banco de Portugal. A exposição estará aberta ao público até ao dia 5 de Dezembro.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Vale a pena



Hoje ao fim da manhã quando me liguei ao mundo virtual encontrei no mural da minha página do Facebook uma prenda. Agradeci de imediato no mesmo espaço, não como um gesto mecânico de cordialidade mas pelo conteúdo e simbolismo da oferta. Por feliz coincidência, ao cair da tarde, a Beatriz Madruga passou pela exposição alusiva ao centenário do nascimento de Álvaro Cunhal inaugurada hoje, pouco depois das 18h, na cidade da Horta. Foi a oportunidade para lhe expressar de viva voz os meus agradecimentos e dizer-lhe o quanto me soube bem ler as suas palavras e escutar a “Semeadura” de Vitor Ramil e que Mercedes Sosa também gravou. Ofereci-lhe o exemplar do texto da intervenção que proferi na abertura da exposição e que mais tarde partilharei convosco aqui no momentos.

O bigode


Mais um excelente cartoon do António Pedroso, deputado do PSD eleito por S. Jorge. O António soube traduzir toda a "pressão" e comentários que durante os últimos dias foram emitidos sobre o meu bigode.
Fica aqui o registo do António Pedroso e a promessa que lá para o próximo Natal, se tudo correr como eu desejo retomarei o aspeto com que nos últimos anos se habituaram a ver-me. 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O voto nem tudo justifica

As obras que ainda decorrem no porto da Madalena pretendem dotar aquele porto de infraestruturas que o adaptem às exigências da modernização do transporte marítimo e de uma adequada gare de passageiros. Estamos todos de acordo quanto à necessidade. A solução encontrada já não recolhe unanimidade. É voz corrente entre os homens do mar que o novo molhe de proteção e o novo cais de acostagem trarão alguns problemas de operacionalidade, não sei se assim será. Sei, contudo, que a voz avisada de quem vive e trabalha no mar costuma ser a voz da razão, como se tem comprovado ao longo do tempo e de muitos milhões de euros na correção de obras marítimas. Sei, também, que essas e outras vozes foram, em devido tempo, alertando para esse facto. Os decisores fizeram “orelhas moucas” e os técnicos, não sei. Não sei, eles lá saberão. Mas lá que houve quem colocasse dúvidas, lá isso houve.
E se sobre a decisão técnica não me pronuncio, apenas me interrogo, o mesmo não se passa com a volumetria da nova gare de passageiros e não me refiro à sua localização, pois essa ficou, julgo eu, inevitavelmente dependente do novo cais de desembarque. Sei que com o passar do tempo todos nos vamos habituar àquilo, mas não gosto. Não gosto, nem nunca gostarei de obras, públicas ou privadas, que limitem o acesso ao mar. Parece um paradoxo, não é. Afinal estamos a falar de uma infraestrutura construída para possibilitar o acesso ao mar, e eu a afirmar que o confina. E assim é, aquele espaço ficou irremediavelmente perdido para uso público sem reservas.
Os autarcas e a população aceitam, cada um lá terá as suas razões, com serenidade as decisões do poder regional. Como poderiam recusar perguntarão, trata-se de investimento público que se aqui não for realizado irá ser canalizado para outros territórios, não se pode perder a oportunidade. Dirão, mesmo tendo a consciência que a solução que lhes foi apresentada, quando é, não é a mais adequada à necessidade e à reivindicação da autarquia e das populações. E eu pergunto, mas porquê, porque raio é que isto acontece. E acontece muitas vezes, demasiadas vezes. Os exemplos estendem-se por todas as ilhas, quiçá por todos os concelhos.
Só encontro uma justificação para esta falta de capacidade de discutir as soluções apresentadas para satisfazer necessidades e reivindicações locais. A falta de participação cívica e o envolvimento na tomada de decisões, aliás mal de que enferma a democracia na Região e no País. Reduzir a intervenção política à escolha eleitoral, escolhas cíclicas que legitimam representantes, mas não legitimam tudo o que os representantes decidem.
A democracia sai enriquecida e fortalece-se se for participada, a democracia definha e torna-se asfixiante se a reduzimos ao ato de delegar a nossa opinião, de quatro em quatro anos, neste ou naquele partido ou coligação, neste ou naquele protagonista. A participação cívica e política deve ser uma atitude tão natural como respirar e, a nossa democracia precisa de arejar com opiniões diversas, precisa saber ouvir, precisa de saber dialogar, sob pena de se extinguir e transformar em qualquer outra coisa. Outra coisa que não será certamente um sistema político fundado na vontade e na participação popular.
Madalena (Pico), 11 de Novembro de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 13 de Novembro de 2013, Angra do Heroísmo 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Notas à margem


Estou de visita oficial à ilha do Pico e no programa consta, concretizou-se hoje à tarde, uma visita à Quinta do Navalhão, em S. Roque. Sobre os conteúdos e apreciações que poderão vir a ser feitas sobre o encontro que mantive com os proprietários desta empresa agrícola ficarão para outras tribunas. Não podia, porém, deixar de registar, numa nota à margem, a satisfação que senti nos momentos iniciais da visita quando me apresentei a um dos proprietários e ele retorquiu, já nos conhecemos faz algum tempo, foi em S. Tomé. À memória chegou de imediato o fim do Verão (gravana em S. Tomé) do ano 2000 quando conheci dois jovens alunos da Universidade dos Açores, Engenharia Zootécnica, que estavam a estagiar em S. Tomé e Príncipe.
Se já na altura fiquei a admirar aqueles dois jovens, um das Caldas da Raínha e outro de Cascais, não só por terem ido estagiar para S. Tomé, mas também pela forma como estavam integrados, hoje não posso deixar de dizer que essa admiração se renovou. O Filipe fixou-se no Pico e tem um empreendimento agrícola que partilha com um sócio, que não esteve em S. Tomé, mas que também foi aluno da Universidade dos Açores e que optou por ficar na Região e fixar-se na ilha Maior.
Em S. Tomé partilhei com o Filipe e a sua colega de estágio um animado jantar, no qual estavam também a Isaura e a Maria Gaspar, minhas companheiras de viagem. Registei esse jantar na memória mas também em imagens que um destes dias por aqui irei partilhar.
Foi bom, o jantar em S. Tomé e foi muito bom este inesperado reencontro com o Filipe.

Foto=> Tiago Redondo

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

"Les Diaboliques", hoje no 9500


"Um filme-culto do cinema francês, que deu a Simone Signoret um dos seus papéis mais conhecidos. Les Diaboliques tem por cenário um colégio onde duas professoras planeiam o assassinato do diretor, marido de uma e amante da outra. O enredo implica uma série de reviravoltas, que ficaram famosas, assim como o final."
É uma sugestão para quem está em Ponta Delgada. No Cine Sol Mar, pelas 21h30, pela mão do Cineclube de Ponta Delgada.
Para ver o trailer aqui

Coesão e emprego, ou a sua destruição

Nos primeiros dias de Novembro foram publicados dois interessantes relatórios sobre aspetos diferenciados da vida social e económica nacional. “Enfrentar a Crise do Emprego em Portugal” é o título do relatório produzido pela insuspeita Organização Internacional do Trabalho (OIT) no âmbito de um encontro realizado, no passado dia 4, em Lisboa. Na síntese podem ler-se, de entre, outras as seguintes conclusões: (…) Portugal enfrenta a situação económica e social mais crítica da sua história económica recente. Desde o início da crise global, em 2008, perdeu-se um em cada sete empregos (…), (…) A taxa de desemprego atingiu um máximo histórico de mais de 17 por cento (…) (…) O mercado de trabalho não registou qualquer melhoria desde o lançamento do programa de assistência financeira acordado com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, em 2011.(…) (…) O volume do investimento produtivo foi reduzido em mais de um terço desde 2008 – tendo-se verificado grande parte deste declínio nos dois últimos anos –, provocando uma erosão nos ganhos de produtividade e prejudicando uma prosperidade futura.(…) (…) De igual modo, a cobertura da negociação coletiva – uma instituição que provou ser essencial para prevenir a perda de emprego em empresas viáveis em países como a Alemanha, a Holanda e a Itália – tem diminuído em proporções sem precedentes. A reforma da negociação coletiva de 2011 visou promover acordos ao nível da empresa, entre os empregadores e os trabalhadores. No entanto, até ao momento, a reforma resultou numa redução geral da cobertura das convenções coletivas, aumentando assim a pressão para a redução dos salários e contraindo ainda mais a procura interna. A proporção de trabalhadores a auferir o salário mínimo mais do que duplicou desde o início da crise.(…)
Poderá dizer-se que não é novidade, Sim não constitui propriamente uma novidade mas não deixa de ser um importante reforço para a desconstrução da inevitabilidade das opções políticas do governo português e, sobretudo, para a necessidade de rutura com essas opções políticas que estão a destruir emprego e a empobrecer Portugal.
Um outro estudo, este do Instituto Nacional de Estatística (INE), versa sobre o poder de compra dos portugueses, em 2011, comparando esse índice por concelho. Mas ainda antes de olhar para os resultados por concelho, e neste caso só sobre os concelhos dos Açores, importa verificar como se comporta este indicador por NUT II, assim: A leitura dos resultados do IpC para 2011 associa ao território continental um poder de compra superior ao observado nas duas regiões autónomas portuguesas: o valor atingia 100,8 para o Continente e era, respetivamente, de 82,4 e 85,1 para as regiões autónomas dos Açores e da Madeira. Lisboa (131,0) constituía a única região NUTS II com um valor acima do poder de compra per capita médio nacional. Para o Algarve, o valor (96,7) situava-se marginalmente abaixo da média nacional. As três restantes regiões continentais — Norte, Centro e Alentejo — registavam índices de poder de compra per capita relativamente próximos: 89,2 para a região Norte, 88,0 para a região Alentejo e 87,5 para a região Centro. Os Açores com 82,4 é o mais baixo do País.
Numa análise mais fina podemos verificar que se verificam profundas assimetrias deste indicador nos 19 concelhos da Região. É no concelho de Ponta Delgada que o poder de compra é maior, 104,27, superior ao valor médio do continente, e é no concelho do Nordeste que se regista o menor, 55,86, seguindo-se por ordem crescente a Povoação, com 57,80, a Vila Franca, com 59,18, o Corvo, com 63,12, a Ribeira Grande, com 63,31, a Calheta, com 63,65, as Lajes das Flores, com 64,28, as Lajes do Pico, com 65,25, a Lagoa, com 67,31, Santa Cruz da Graciosa, com 68,70, as Velas, com 72,38, a Praia da Vitória, com 72,55, S. Roque, com 75,41, Santa Cruz das Flores, com 80,84, Madalena, com 82,77, Horta, com 86,40, Vila do Porto, com 87,38 e Angra do Heroísmo, com 91,22.
É caso para perguntar onde está o efeito das políticas de coesão social, territorial e económica, aliás onde estão os efeitos dessas políticas, por exemplo, na ilha de S. Miguel que é onde verifica a maior disparidade, o Nordeste, a Povoação e a Vila Franca na cauda da tabela e Ponta Delgada, no topo e bem acima da média do continente.
O que têm feito os sucessivos governos da Região para contrariar estas assimetrias e cumprir um dos desígnios autonómicos, o desenvolvimento harmonioso.
Madalena (Pico), 10 de Novembro de 2013

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 11 de Novembro de 2013, Ponta Delgada

Foto=> Catarina Pires

domingo, 10 de novembro de 2013

Álvaro Cunhal - 100 anos


«A alegria de viver e lutar vem-nos
da profunda convicção de que é justa, empolgante e invencível a causa por que lutamos»
Álvaro Cunhal

Pelos 100 anos do nascimento de Álvaro Cunhal só me ocorre dizer o seguinte, Estamos aí na luta camarada, Até sempre!


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A & L (Terra Nostra) - n.º 13


Já está na banca o suplemento Artes & Letras do jornal Terra Nostra, este suplemento literário é coordenado por Vamberto Freitas e Álamo Oliveira. Na página 4 podem encontrar pequeno um texto meu.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Desenvolvimento social (3, concl.)

Nos dois primeiros artigos, este será por ora o último, sobre desenvolvimento social publicados neste espaço procurei, ainda que de forma superficial, demonstrar que a situação de crise que afeta o chamado Mundo coloca em causa os direitos humanos mais elementares, como sejam o acesso à alimentação, aos cuidados de saúde, à educação e ao trabalho justamente remunerado. A terciarização da economia e a especulação financeira que caraterizam as economias “ ocidentais”, um paradigma económico assente no aumento crescente do consumo, estão na base da fragilidade económica e da crise financeira que nos afeta. 
A receita tem sido a aplicação generalizada da matriz ideológica neoliberal à economia. As consequências estão à vista de todos, e insistir na cartilha da teologia do mercado, desvalorização do trabalho e dos trabalhadores e o desmantelamento da arquitetura do chamado Estado Social é, como o tempo o comprova, um erro profundo que coloca em causa o nosso futuro. 
Nos Açores são duramente sentidos os efeitos da “cura”. As medidas de austeridade que têm vindo a ser tomadas pelos Governos Regionais e da República tiveram efeitos destrutivos no plano económico e social. As empresas açorianas, frágeis e de pequena dimensão, orientadas sobretudo para o mercado interno, foram severamente atingidas pela redução generalizada do poder de compra das famílias e pela contração do investimento público. Sucedem-se os despedimentos, a reduções de atividade económica, falências e encerramentos de empresas, colocando os Açores como a região do país onde o desemprego mais tem crescido.
A realidade observada no plano social é dramática, com o ressurgimento de graves situações de pobreza extrema, um empobrecimento generalizado das famílias e com o acentuar das desigualdades na distribuição do rendimento.
A utilização dos mecanismos da Autonomia regional, se bem direcionados permitiriam, com algumas medidas conjunturais e estruturais, atenuar alguns destes problemas. O aumento do rendimento disponível das famílias por via de um acréscimo às compensações regionais já instituídas, mas também pela redução de alguns custos que sobrecarregam as famílias açorianas, medidas que se podem consubstanciar na diminuição dos valores da fatura da energia e o fim das taxas moderadoras, bem como a criação de mecanismos que visem a reposição dos cortes salariais, constituem-se como, senão como o remédio para todos os males, parte da solução para sair deste ciclo recessivo sem fim à vista. 
Qualquer paradigma de desenvolvimento social e económico, um e outro são indissociáveis, tem de ter como pilar a certeza de que os açorianos não estão condenados à pobreza e ao subdesenvolvimento e que está ao nosso alcance inverter este rumo de empobrecimento dos trabalhadores, das famílias e da Região. A chave de um modelo de desenvolvimento está, como já por diversas vezes o afirmei, na terra e no mar e na rutura política com modelos de crescimento económico dependentes da ditadura dos mercados financeiros e da chantagem dos grandes grupos económicos.
Valorizar e diversificar a nossa capacidade produtiva e geradora de riqueza, redistribuir melhor o rendimento e ampliando a solidariedade, utilizando o nosso potencial humano, garantindo a todos o direito ao trabalho, com direitos e justamente remunerado, proteger e valorizar o nosso meio ambiente único e frágil, encurtar as distâncias que a falta de visão e investimento dos sucessivos governos regionais nunca quiseram superar, refiro-me à necessidade de um modelo de transportes aéreos e marítimos, de passageiros e mercadorias que potencie o comércio interno e garanta o direito à mobilidade e o direito ao não isolamento, e claro está com custos comportáveis, apostar na inovação científica e tecnológica, apostar nas qualificações e potencialidades dos nossos jovens, gerir melhor os recursos públicos, pensando apenas no interesse dos Açores e não na satisfação das clientelas políticas, é possível inverter a crise em que se afunda o nosso arquipélago, ganhar o presente para garantir o futuro dos Açores, para o Povo Açoriano.
Ponta Delgada, 03 de Novembro de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 06 de Novembro de 2013, Angra do Heroísmo

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Orçamentos

As condições de vida dos portugueses, e dos açorianos em particular, degradam-se visivelmente. As ruinosas políticas de austeridade levadas a cabo pelo partidos da troika falharam em todos os seus objetivos financeiros - défice e dívida -, bem como destruíram a economia nacional, afundando-nos numa recessão de que não há memória e impondo retrocessos sociais de muitas décadas, se não mesmo de séculos.
A proposta de Orçamento de Estado (OE) para 2014 propõe-se agravar, ainda mais, a dramática situação social e económica em que o País está afundado. Mantém e amplia os cortes salariais, insiste na penalização fiscal, medidas que só podem ter como resultado mais dívida, mais défice, maior recessão e um maior empobrecimento dos portugueses.
A proposta de OE é, particularmente, gravosa para os Açores. Para além da paralisação e estrangulamento dos serviços públicos da administração central, encerramento de tribunais, estações de correio, subfinanciamento da Universidade dos Açores, por exemplo, regista-se a redução de 67 milhões de euros nas transferências para a Região, a redução de 10% nas verbas, das verbas consignadas aos Açores que se destinam à formação e políticas de emprego e a redução do Plano de Investimentos da Administração Central (PIDDAC) para uma valor, diria, residual. Mas a gravidade das medidas que o OE propõe para os Açores vai para além das questões financeiras e da redução do investimento público central, como por exemplo, a imposição, na prática, de reduções de pessoal na administração regional, por via da proibição de novas contratações, violando o Estatuto Político Administrativo numa matéria que é claramente da competência da Região. Esta proposta de OE penaliza duplamente os açorianos também pela via fiscal que, para além do aumento de impostos terão de fazer face em 2014 à redução do diferencial fiscal, ou seja, os açorianos vão pagar mais impostos, por imposição do memorando da troika assinado pelo PS, PSD e CDS e este ano consagrado na Lei das Finanças Regionais.
Mas as dificuldades sentidas pelos açorianos são também fruto das opções do Governo Regional que, procurando disfarçar a sua atuação num manto de propaganda, segue na realidade a mesma política. O PS Açores tem sistematicamente procurado responsabilizar o Governo da República pelas medidas de que ele próprio zelosamente aplica e das quais beneficia no contexto regional.
Este alinhamento das políticas regionais com as da república comprova-se, por exemplo, no enorme desequilíbrio entre o volume de apoios concedidos às empresas e o investimento dirigido aos trabalhadores e aos cidadãos. Uma política que não tem trazido qualquer benefício à economia regional ou ao Povo açoriano. 
Em 2012 foram à falência 52 empresas na Região, mais 93% do que em 2011. A taxa oficial de desemprego foi de 16,1%, no 2.º trimestre de 2013, a que correspondem 19,1 mil desempregados (+0,5% do que no trimestre homólogo). Contudo a realidade para além das estatísticas é substantivamente diferente, e pior. A taxa real de desemprego e subemprego atinge já os 24% e, se lhe adicionar-mos o subemprego a tempo parcial e os inativos disponíveis e indisponíveis o número de açorianos sem acesso ao trabalho terá atingido mais de 38 mil, no 2.º trimestre de 2013.
Perante isto, o Governo Regional continua a insistir na sua ação propagandística no Orçamento Regional para 2014. Persiste num crescente apoio às empresas e pratica a caridade com as pessoas. O melhor exemplo é a cínica “generosidade” de um aumento do complemento regional de pensão em 1 Euro, por mês, ou ainda o anúncio da devolução dos salários roubados aos funcionários públicos como se de um apoio do Governo se tratasse. A compensação pelos cortes nos vencimentos dos trabalhadores da Administração Regional é um ato de justiça e não um apoio social caritativamente atribuído. Por outro lado, a remuneração complementar dos funcionários da administração regional é uma prestação que se relaciona com os custos da insularidade e que reveste, e se deve continuar a revestir, de uma natureza permanente, não devendo ser utilizada como compensação pelo corte dos salários, que são (espero que sim) provisórios. 
Ponta Delgada, 03 de Novembro de 2013

Aníbal C. Pires, In Jornal Açores 9, 04 de Novembro de 2013, Ponta Delgada 

domingo, 3 de novembro de 2013

Malèna (Monica Bellucci) - hoje em sessão doméstica



Neste outonal serão de Domingo depois de ter despachado as tarefas do imediato vou desligar as luzes e ver um filme do meu arquivo doméstico.
Malèna, um filme de Giuseppe Tornatore, com essa deusa da beleza transpira sensualidade por todos os poros e que dá pelo nome de Monica Bellucci no principal papel.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Uma Thurman - a abrir Novembro


Uma Thurman, atriz estado-unidense, de Boston, de uma beleza e encantos discretos mas, talvez por isso carrega uma sensualidade que transpira no seu olhar.

Da sua filmografia deixo-vos este trailler de "Henry&;June" e o convite para partirem à descoberta de outros filmes de Uma.