sábado, 21 de junho de 2025

morada de infância

 
foto de Aníbal C. Pires
memórias de S. Vicente da Beira 


da infância na beira serra

por aqui
na sombra protetora da Gardunha
com tempo
brinquei com o tempo
medido nos ponteiros sonolentos
do relógio do campanário

por aqui
aprendi as primeiras letras
como quem descobre velhos segredos
decifrados nas ardósias 
e outros sedimentos do tempo

por aqui
aprendi a contar e a decifrar 
os sinais do tempo
observei a azáfama das formigas
e o voo frutífero das abelhas

por aqui
perdi medos
gritei aos quatro ventos
soube calar e ouvir
o peso dos silêncios

por aqui
fui criança e aprendi a olhar
a vastidão do Mundo
para além dos altos cumes
    rasguei horizontes

por aqui
ganhei amigos
dispersos pelos trilhos da vida
mas presentes na memória

por aqui
foi morada de infância
em recantos graníticos e pinheirais
em ruas ladeadas de muros
onde crescia musgo e esperança

as veredas do passado
permanecem na lembrança
como ecos de um lugar da infância
distante no tempo e no espaço
mas sempre presente

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, junho de 2025

sábado, 14 de junho de 2025

aprender

Aníbal C. Pires - do arquivo pessoal
olhando o Mundo


não aprendi nos quadros
nem nos manuais gastos 
por verdades prontas a servir

aprendi no chão que piso
nos passos que me levam pelo Mundo
que a cartografia coloca à margem
e a história cobre de brumas

a vida não tem currículo fixo
tem perguntas sem resposta
tem tardes de vento e silêncio
tem o rumor da água
tem outras verdades

a escola que me molda
é feita de um tempo lento
de escutar o voo dos pássaros
de sentir o coração das pedras
que guardam memórias

aprendi com o peito aberto
e a ver para lá do olhar
aprendo com o mundo
sento-me nas margens 
ouço os silêncios
aprendo

educar não é repetir
é questionar
é acordar
é saber que a cidadania
não se escreve a giz
nem se digita
a cidadania vive-se
nos caminhos da vida 
na luta 
no sonho que é esperança

Aníbal C. Pires, junho de 2025

quinta-feira, 12 de junho de 2025

da memória do tempo

foto Aníbal C. Pires
geografias da pele


os rostos contam histórias

e gosto

das histórias que os rostos me contam
são imagens 
traçadas a carvão
na memória do tempo

olhos que guardam histórias
carregam a poeira dos caminhos
e brilham como o lume
que aquece
ilumina 
e aconchega

não imploro por nomes
nem datas
nem lugares
só quero as memórias
e as histórias
que os rostos me contam

leio as geografias da pele
como um livro
feito de histórias
silenciadas

são narrativas
que contam sem dizer
a história dos rostos
que só o silêncio
sabe ler

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 12 de junho de 2025

domingo, 1 de junho de 2025

mulheres da Palestina - a abrir junho

imagem retirada da internet
Podia trazer uma outra imagem de mulheres palestinianas para marcar o início do mês de junho. Imagens de morte e terror, optei por uma imagem de heroísmo, luta e resistência.

São mulheres palestinianas, são mulheres que lutam e resistem. São lindas como todas as mulheres que lutam.