O Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) mereceu o apoio do Presidente do Governo Regional dos Açores, assim como mereceu o apoio da direita e do grande capital. Segundo Carlos César o PEC não põe em causa o plano de investimento público na Região e isso é, para o Presidente do Governo Regional, motivo suficiente para lhe dar o seu amparo político. O que Carlos César não disse nem reconheceu foi que as medidas constantes no PEC afectarão os açorianos, na mesma medida que os continentais e madeirenses pois é sobre os trabalhadores, independentemente do sector e do vínculo laboral, que as medidas draconianas anunciadas mais se farão sentir, senão vejamos:
- O PEC prevê que nos próximos quatro anos um em cada dez portugueses em idade activa esteja desempregado – 9,8% em 2010, 9,8% em 2011, 9,5% em 2012 e 9,3% em 2013;
- A perspectiva mais optimista que tem de crescimento económico é o de um valor de 1,7% prevista para o ano de 2013;
- O PEC não inova, pelo contrário agrava velhas e conhecidas receitas, medidas e orientações que tantos sacrifícios, desigualdades e injustiças, têm imposto à maioria do povo português. Quer se viva em Bragança, na Ribeira Brava ou Vila Franca do Campo;
- Um congelamento dos salários reais que se transformará mais desvalorizados e com menos poder de compra;
- A continuação da destruição do emprego no sector público, que inevitavelmente se traduzirá em mais acentuada degradação e encarecimento dos serviços públicos, favorecendo a sua apropriação pelo capital privado;
- Imposição do aumento da idade da reforma na Administração Pública, rompendo o acordo assinado, dos 62,5 para os 65 anos, levando milhares de trabalhadores a antecipar a sua saída para não serem ainda mais penalizados;
- Um programa de privatizações que vai atingir sectores estratégicos eliminando a presença do Estado em empresas estruturantes da economia e do território.
Estes são alguns dos aspectos que o Programa, anacronicamente, designado de Estabilidade e Crescimento, contempla. E a questão é: Será que o PEC não vai afectar negativamente os Açores só porque não estão postos em causa os investimentos públicos programados pelo Governo Regional?
A meu ver não restam dúvidas que sim! O PEC vai afectar o rendimento dos trabalhadores e das famílias, promover a continuada desigualdade social e económica que se tem aprofundado na última década.
O PEC é a rendição absoluta e sem condições aos ditames dos mercados financeiros e ao directório das grandes potências da EU, não há nestas medidas um rasgo de inovação e ruptura com um sistema que há mais de um ano colapsou. Trata-se apenas é tão só da reconfiguração de um modelo falido, ou seja, mais do mesmo.
Aníbal C. Pires, IN EXPRESSO DAS NOVE, 19 de Março de 2010, Ponta Delgada
Olá, Aníbal!
ResponderEliminarO teu texto fala do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) que mereceu o apoio do Presidente do Governo Regional dos Açores, da direita e do grande capital, como mencionas, ao mesmo tempo que toca (e de que maneira!) os sacrifícios, as desigualdades e as injustiças que se continuam a praticar, por este país fora.
O poder de compra vai agravar-se ainda mais e o desemprego segue o seu curso, numa subida incessante e a pique!
Mais degradação, mais desigualdade, mais injustiça e, sobretudo, muita ignorância!
Porque hoje se comemora o Dia Mundial da Poesia, porque eu sou uma das grandes admiradoras do grande Bertold Brecht e porque acho que este poema dele se entrelaça na perfeição com este pequeno comentário, aqui vai ele, juntamente com um grande abraço!
O Analfabeto Político
“O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.”
(Bertold Brecht)