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Foto by Aníbal C. Pires (2013) |
Dos milhares de notícias difundidas durante a passada semana sobre aviação comercial olhei com particular atenção sobre três. Apenas três porque se relacionam diretamente à região onde vivo, Apenas três e, ainda assim, uma delas mal chegou a ser notícia, os tripulantes de cabine e a SATA chegaram a acordo. O fim da conflitualidade social no Grupo SATA não mereceu grande atenção da comunicação social, mas é um facto relevante, digo eu. Diria até que o acordo é tão importante quanto o conflito. Conflito que mereceu manchetes e outras parangonas jornalísticas, mas vá-se lá saber o que são “critérios editoriais”, porque para que servem, isso sabe-se. Voltarei ao Grupo SATA e á sua ausência estratégica lá mais para o fim desta opinião partilhada de segunda-feira.
Já escrevi e publiquei muitas linhas sobre o modelo de negócio das companhias aéreas de baixo custo e, como se sabe, sempre me manifestei contra aquilo que considero uma atividade comercial em que o “core business”, não é a aviação comercial mas as vantagens financeiras que os destinos (países, regiões, municípios) disponibilizam para receberem visitantes e com isso dinamizarem a indústria turística, no caso dos Açores dir-me-ão que foi mais do que isso, e, aparentemente, só aparentemente assim foi, mas essa questão será objeto de análise noutra oportunidade.
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Foto by Aníbal C. Pires (2017) |
O senhor O’Leary bem tentou esconder a saída em massa de pilotos. Primeiro veio a público que 140 pilotos tinham batido com a porta, mas já se sabia que eram 7 centenas, depois veio a recusa generalizada dos pilotos em trabalhar nas condições oferecidas, depois da “crise” se instalar, depois veio tudo aquilo que se sabe e vai sabendo. Afinal a eficiência do modelo e as virtualidades do mercado desmoronaram. Nas transportadoras de baixo custo tudo está bem quando corre bem, mas na aviação comercial, por diferentes motivos, nem sempre tudo é como o esperado. Os passageiros desprotegidos pelas irregularidades operacionais da Ryanair se não sabiam deviam saber que os dados do jogo são estes e não outros, não têm sequer o direito moral de se queixarem.
Nos Açores, para já, só uma das duas ilhas que é servida pela Ryanair vai ser afetada com cancelamentos, embora outros eventos já se estejam a verificar e face ao cenário que está desenhado é previsível que mais irregularidades venham a acontecer.
Isto não é o fim da Ryanair, mas é um indicador que o paradigma laboral e de recrutamento de pilotos se vai alterar nos próximos anos, não só na Ryanair mas na generalidade das transportadoras aéreas que abandonaram o modelo de formação dos seus próprios pilotos, ou seja, deixaram de ter uma cultura de empresa e de envolvimento dos seus trabalhadores, o facto de lhes chamarem colaboradores em nada altera o seu estatuto. As empresas vão ter de optar entre um investimento inicial no recrutamento e formação dos seus pilotos, aliás como a TAP e a SATA Air Açores ainda fazem, garantindo um elevado retorno com a sua permanência durante toda a carreira, ou sendo a opção pela rotatividade dos pilotos terão de suportar com todos os custos que daí advêm, como acontece nas transportadoras aéreas similares à Ryanair. À primeira oportunidade mudam para as empresas que valorizam os seus trabalhadores.
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Foto by Aníbal C. Pires (2013) |
A Delta Airlines, empresa estado-unidense de aviação com sede em Atlanta, na Geórgia, anunciou o reforço da sua operação com Portugal. Para além do voo já existente que liga Lisboa a New York, a Delta Airlines anunciou mais um voo que vai ligar a capital portuguesa a Atlanta e, ainda um voo sazonal que a partir de Maio de 2018, vai ligar, quatro vezes por semana, Ponta Delgada a New York (aeroporto JFK), num B 757-200ER. Esta é a parte da notícia que mais interesse despertou nos Açores. Os principais líderes políticos, empresariais e de opinião já vieram a terreiro congratular-se com esta iniciativa comercial da Delta. E é caso para isso, não pelo que isso pode representar para o pequeno segmento da população açoriana, em particular, os residentes em S. Miguel que querendo e podendo ir a New York não têm de ir a Lisboa, com os custos e tempo que isso acarreta, mas sobretudo porque, como os indicadores apontam, os turistas com origem nos Estados Unidos têm vindo a demonstrar um interesse crescente pelo destino Açores. E isso, sem dúvida, é bom. É bom e demonstra que o destino vale por si mesmo e não pelo baixo custo das passagens da Ryanair, sim porque a Easyjet já se foi. Não tenho dúvidas que a Delta Airlines pretende com estas novas rotas outros objetivos, mas aí cabe aos diferentes “players” posicionarem-se e adequarem estratégias.
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Foto by Aníbal C. Pires (Aeroporto de Atlanta, 2013) |
Ponta Delgada, 24 de Setembro de 2017
Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 25 de Setembro de 2017
Uma interpretação da realidade de um negócio complexo. Estou de acordo na sua generalidade. Um abraço
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