![]() |
foto by Aníbal C. Pires |
É com a jovem e irreverente Rosário que calcorreamos as ruas de Ponta Delgada nos finais do século XIX e com ela embarcamos, clandestinamente, no Lidador rumo ao sonho na margem Sul deste Atlântico que nos aprisiona, mas também nos liberta. Sonho que nem sempre é prazeroso, quantas e quantas vezes os percursos migratórios se transformam em pesadelos.
Com a Rosário vivemos num “cortiço” do Rio de Janeiro, com ela somos escravos numa plantação de café, com ela passamos a servir na “casa grande”, com ela nos libertamos do sonho vendido por um engajador e, com ela regressamos a S. Miguel para, de novo, ouvir o “pio do milhafre”.
![]() |
Pedro Almeida Maia - imagem retirada da internet |
Rosário não fez fortuna, não trazia bens materiais, mas carregava consigo, ao desembarcar em Ponta Delgada, a preciosa bagagem que a transformou numa ativista pelos direitos das mulheres e da República. A rebeldia e a irreverência da jovem Rosário transformaram-se em consciência, ação e luta.
Esta é uma estória de mulher que se libertou do sufoco do capote e capelo, como soube livrar-se das amarras da prostituição, da escravidão e da servidão aos homens.
Rosário regressou, talvez numa sexta-feira que é, como sabemos, quando “a vida começa”, para ouvir o “pio do milhafre” e fazer ouvir a sua voz.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 14 de agosto de 2022
No próximo fim de semana vou procurar este livro naquele local onde só encontramos boa literatura, bom teatro, bom cinema e alguma boa música, é por isso e muitas outras coisas mais que dizemos que não há festa como esta.
ResponderEliminar