sábado, 14 de junho de 2025

aprender

Aníbal C. Pires - do arquivo pessoal
olhando o Mundo


não aprendi nos quadros
nem nos manuais gastos 
por verdades prontas a servir

aprendi no chão que piso
nos passos que me levam pelo Mundo
que a cartografia coloca à margem
e a história cobre de brumas

a vida não tem currículo fixo
tem perguntas sem resposta
tem tardes de vento e silêncio
tem o rumor da água
tem outras verdades

a escola que me molda
é feita de um tempo lento
de escutar o voo dos pássaros
de sentir o coração das pedras
que guardam memórias

aprendi com o peito aberto
e a ver para lá do olhar
aprendo com o mundo
sento-me nas margens 
ouço os silêncios
aprendo

educar não é repetir
é questionar
é acordar
é saber que a cidadania
não se escreve a giz
nem se digita
a cidadania vive-se
nos caminhos da vida 
na luta 
no sonho que é esperança

Aníbal C. Pires, junho de 2025

quinta-feira, 12 de junho de 2025

da memória do tempo

foto Aníbal C. Pires
geografias da pele


os rostos contam histórias

e gosto

das histórias que os rostos me contam
são imagens 
traçadas a carvão
na memória do tempo

olhos que guardam histórias
carregam a poeira dos caminhos
e brilham como o lume
que aquece
ilumina 
e aconchega

não imploro por nomes
nem datas
nem lugares
só quero as memórias
e as histórias
que os rostos me contam

leio as geografias da pele
como um livro
feito de histórias
silenciadas

são narrativas
que contam sem dizer
a história dos rostos
que só o silêncio
sabe ler

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 12 de junho de 2025

domingo, 1 de junho de 2025

mulheres da Palestina - a abrir junho

imagem retirada da internet
Podia trazer uma outra imagem de mulheres palestinianas para marcar o início do mês de junho. Imagens de morte e terror, optei por uma imagem de heroísmo, luta e resistência.

São mulheres palestinianas, são mulheres que lutam e resistem. São lindas como todas as mulheres que lutam.


quarta-feira, 28 de maio de 2025

O Mundo mudou, mas o Ocidente continua em negação.

imagem retirada da internet
    Os resultados eleitorais foram dissecados até ao tutano, ainda que, nem sempre ou quase sempre, o que lhe está verdadeiramente na origem não tenha sido tomado em devida conta. Nada tenho a acrescentar ao que, desde há muito, vou deixando grafado nestes e outros textos sobre as causas que podem justificar estes resultados eleitorais e, este não é o momento, de tentar desconstruir as narrativas dominantes.

    A proximidade do ato eleitoral, a euforia de alguns, a demissão de outros e a afirmação, institucional e na rua, de quem não se verga, nem desiste, mas resiste, dizem bem da forma como os diferentes partidos políticos se posicionam, ao que veem e ao que estão. E julgo que, para já, é suficiente, pois, qualquer tentativa de expressar opinião sobre o assunto seria completamente improdutiva, não passou tempo suficiente, a poeira ainda não assentou e, como tal, a visibilidade está aquém do que é desejável para tecer considerações sobre as contradições em que este novo quadro parlamentar se irá, com naturalidade, enredar. 

    Resta a firmeza da luta a que os resistentes nos habituaram ao longo dos seus 104 anos de existência em unidade com os amantes da liberdade, da democracia e de um Estado que continue a garantir os direitos sociais, laborais, culturais e políticos, tendo como referencial a Constituição da República Portuguesa que, apesar das sete revisões a que foi sujeito o texto fundador do Portugal de Abril e de todas as tentativas para lhe retirar o essencial das conquistas da Revolução, ainda mantém a matriz que a afirmou como uma das mais progressistas da Europa.

    Como já se percebeu não é sobre os resultados eleitorais e do que que se lhe segue que versa o texto que hoje partilho com os leitores.

    O mundo gira, e gira cada vez mais rápido. E o que está a acontecer fora das nossas fronteiras, muitas vezes ignorado ou manipulado, terá um impacto muito mais profundo na vida dos povos do que os acordos parlamentares internos. Portugal à semelhança do chamado Ocidente parece descurar todas as alterações que estão a acontecer um pouco por todo o Mundo. 

imagem retirada da internet

    O Mundo está a mudar, mas o Ocidente continua a fingir, ou não quer perceber que o Eurocentrismo e o Atlantismo estão à beira de perder protagonismo e os privilégios que lhe advinham de um modelo herdado do colonialismo e que os instrumentos financeiros, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional e, bélicos, a OTAN, foram perpetuando.


    Vivemos tempos de viragem histórica. O mundo está a mudar diante dos nossos olhos, os centros de decisão estão a deslocar-se e os dirigentes políticos ocidentais atuam como se nada tivesse sido alterado e parecem continuar a viver no passado glorioso que já não existe. A arrogância geopolítica, a fé cega no dólar, a moral seletiva e a cegueira estratégica estão a deixar os dirigentes europeus e estado-unidenses à margem de uma nova ordem internacional em formação. Se os dirigentes políticos continuarem a ignorar as profundas alterações que se têm verificado no xadrez geopolítico mundial e a não participarem na mudança avizinham-se tempos difíceis para os povos do chamado ocidente ou, se preferirem, do Norte Global, embora existam diferenças concetuais entre um e outro, mas que neste caso, retirando as questões culturais e históricas, se pode considerar uma e a mesma coisa, pois, os países que não pertencem ao ocidente, mas fazem parte do chamado Norte Global, estão politicamente alinhados a ocidente. 

imagem retirada da internet

    Vejamos então algumas transformações e podemos começar pelos BRICS. Os BRICS alargaram-se e já deixaram de ser de ser apenas uma sigla económica para se tornar um projeto político em expansão, representa hoje uma alternativa real ao modelo imposto pelo Ocidente desde o fim da chamada Guerra Fria. A sua recente e continuada expansão, os movimentos coordenados para reduzir a dependência do dólar, a chamada desdolarização, e os acordos comerciais bilaterais em moedas locais, mostram que há vida (e poder) para lá de Washington e de Bruxelas. A multipolaridade deixou de ser um cenário hipotético e já está em construção, diria mais, o processo está em movimento acelerado.

    Enquanto isso, a União Europeia continua a agir como um apêndice político dos Estados Unidos. No caso do conflito na Ucrânia, os líderes europeus alinharam cegamente com a estratégia da OTAN, mesmo depois de se tornarem óbvios os custos económicos, sociais e energéticos dessa decisão. A diplomacia foi substituída por slogans, e o realismo geopolítico, pelo pensamento ilusório (wishful thinking). Veja-se por exemplo: a Rússia não foi derrotada, (como se desejava) a Ucrânia está devastada (como previa quem racionaliza o conflito) e a Europa mais dependente e dividida do que nunca, como era óbvio que viesse a acontecer face ao efeito boomerang das sanções impostas à Rússia.

imagem retirada da internet - Ibrahim Traoré,
Presidente do Burquina Faso

    Fora da bolha euro-atlântica, o mundo já começou a reagir. Em África, especialmente no Sahel e entre os países da CEDEAO, assistimos a um levantamento contra o neocolonialismo e as elites locais aliadas às antigas potências coloniais. Em alguns casos foram Golpes de Estado? Talvez. Mas também sinais claros de que uma nova geração rejeita o papel de marioneta num teatro montado em Paris, Londres ou Washington.


    Na América Latina, o mapa político mudou. México, Colômbia, Venezuela e Brasil estão a afirmar soberania e a questionar décadas de submissão ao Fundo Monetário Internacional e aos interesses estado-unidenses, não são mais o quintal do seu vizinho do Norte. O Sul Global está a criar as suas próprias alianças, os seus próprios fóruns, a sua própria linguagem política, e veja-se o despropósito, não está à espera da aprovação de ninguém.

imagem retirada da internet
    Mas talvez o exemplo mais gritante da falência moral do Ocidente seja a Palestina. O que está a acontecer em Gaza é um genocídio transmitido em direto. E mesmo assim, os líderes ocidentais hesitam, relativizam, justificam. O direito internacional, que durante décadas foi brandido como argumento de superioridade civilizacional, tornou-se irrelevante quando os aliados do Ocidente o pisam com as botas cardadas do sionismo. A hipocrisia é total. A humanidade, ausentou-se e os direitos humanos suspenderam-se.

    E no meio de tudo isto, a China observa, investe, negocia, constrói infraestruturas, assegura matérias-primas e alarga a sua esfera de influência sem precisar de usar bombas. Pequim não precisa de ser perfeita, basta-lhe ser consistente. E está a conseguir impor-se, pacificamente, como uma potência económica e tecnológica, mas também militar para afastar qualquer devaneio na agonia da unipolaridade.

    O mundo unipolar, centrado nos Estados Unidos, está a morrer. Diria que está no estertor final, ou já só lhe faltará a certidão de óbito. Os herdeiros desse mundo, os dirigentes ocidentais, recusam-se a aceitar o óbvio e o óbito e continuam a discursar como se tudo fosse reversível, como se bastasse manter as sanções, repetir mantras democráticos e financiar mais umas guerras por procuração de que a história está repleta, mas não precisamos recuar no tempo para encontrar exemplos, acontece na Ucrânia e, mais recentemente na Síria.

imagem retirada da internet

    O problema é que o mundo já não está a ouvir a Kaja Kallas, a Ursula von der Leyen, o António Costa, ou a Administração estado-unidense e muito menos os analistas que, por cá, repetem as palavras dos grandes centros de poder com atraso e a convicção que lhes é paga. O Sul Global está a libertar-se do jugo neocolonial e a afirmar-se sem tutelas. Não perceber, ou pelo menos, não prestar atenção às alterações na geopolítica mundial e, sobretudo, não participar e aceitar o fim da unilateralidade e participar no processo de construção de uma nova ordem mundial ancorada na multipolaridade é um erro. E os erros, como sabemos, costumam pagar-se bem caros.

Ponta Delgada, 27 de maio de 2025 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 28 de maio de 2025

terça-feira, 27 de maio de 2025

o mundo em mudança e... a Palestina

imagem retirada da internet



Excerto de texto para publicação no Diário Insular e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.




(...) Fora da bolha euro-atlântica, o mundo já começou a reagir. Em África, especialmente no Sahel e entre os países da CEDEAO, assistimos a um levantamento contra o neocolonialismo e as elites locais aliadas às antigas potências coloniais. Em alguns casos foram Golpes de Estado? Talvez. Mas também sinais claros de que uma nova geração rejeita o papel de marioneta num teatro montado em Paris, Londres ou Washington.

Na América Latina, o mapa político mudou. México, Colômbia, Venezuela e Brasil estão a afirmar soberania e a questionar décadas de submissão ao Fundo Monetário Internacional e aos interesses estado-unidenses, não são mais o quintal do seu vizinho do Norte. O Sul Global está a criar as suas próprias alianças, os seus próprios fóruns, a sua própria linguagem política, e veja-se o despropósito, não está à espera da aprovação de ninguém.

Mas talvez o exemplo mais gritante da falência moral do Ocidente seja a Palestina. O que está a acontecer em Gaza é um genocídio transmitido em direto. E mesmo assim, os líderes ocidentais hesitam, relativizam, justificam. O direito internacional, que durante décadas foi brandido como argumento de superioridade civilizacional, tornou-se irrelevante quando os aliados do Ocidente o pisam com as botas cardadas do sionismo. A hipocrisia é total. A humanidade, ausentou-se e os direitos humanos suspenderam-se. (...)


domingo, 18 de maio de 2025

Nakba - a catástrofe.

imagem retirada da internet
No discurso dominante ocidental, o conflito na Palestina parece ter nascido a 7 de outubro de 2023. Desde essa data, os noticiários e o mainstream passaram a repetir análises simplificadas e simplistas, retratando Israel como uma democracia alvo de ataques por forças bárbaras. Muitas imagens foram instrumentalizadas e algumas, no mínimo, manipuladas para induzir repulsa seletiva, desumanizar os palestinianos, legitimar uma campanha militar genocida em Gaza e um silêncio cúmplice, fez-se ouvir no Mundo, perante os crimes de guerra, perante a barbárie. Mas quem olha para o mundo para além da espuma mediática reconhece outra realidade. A narrativa dominante é falsa e serve para legitimar um processo colonial e genocida promovido pelo sionismo. A génese deste conflito não começou em 2023, nem em 2000, nem em 1967. O conflito não começou com o Hamas. O conflito começou com a Nakba, a Catástrofe palestiniana, e a origem deste projeto colonial é muito anterior a 1948, remonta ao fim do século XIX.

A Palestina era, no final do século XIX, uma terra habitada maioritariamente por árabes palestinianos (muçulmanos, cristãos e judeus). Era parte do Império Otomano e, apesar das dificuldades inerentes à época e ao contexto político e económico, vivia-se ali com relativa estabilidade e harmonia inter-religiosa. Essa realidade começou a mudar com o surgimento do sionismo político, um movimento europeu que defendia a criação de um Estado judeu (leia-se: estado sionista, pois existem diferenças substantivas, diria mesmo incompatíveis, entre a religião judaica e a ideologia sionista).

No Congresso Sionista Mundial de 1897, em Basileia, Theodor Herzl lançou as bases desse projeto. A ideia era simples, mas a sua concretização brutal: resolver a questão judaica na Europa (perseguições, pogroms, discriminação) através da fundação de um Estado exclusivamente judeu, leia-se sionista. A Palestina, de entre outros que foram equacionados, foi o território escolhido, sem ter em devida conta que ali vivia um povo pacífico e com uma cultura secular. 

imagem retirada da internet

Esta proposta foi ganhando apoio nas potências europeias, culminando na Declaração Balfour de 1917, quando o Império Britânico se comprometeu expressamente a apoiar a criação de um lar nacional para o povo judeu na Palestina. Tudo isto à margem do povo palestiniano, o destino daquele território e daquele povo foi decidido em Londres. A Palestina transformou-se, a partir daí, num território arquitetado para ser colonizado, com suporte político e militar de uma potência imperial, com os mesmos contornos e os mesmos efeitos de outros projetos coloniais. Este projeto colonial vem embrulhado numa mal disfarçada redenção europeia face às seculares perseguições aos judeus e ao Holocausto 

Durante o Mandato Britânico da Palestina (1920–1948), dezenas de milhares de judeus europeus migraram para a Palestina, na sua maioria financiados por organizações sionistas. Muitas dessas migrações foram pacíficas, mas outras envolveram compra forçada de terras, expropriação de camponeses e construção de enclaves fechados. As tensões foram-se avolumando. A população árabe resistia, organizava greves, revoltas e boicotes, mas era sufocada e reprimida com violência.

Foi neste contexto que ocorreu um episódio pouco conhecido e debatido, vá-se lá saber porquê, mas revelador da natureza sionista e do seu projeto colonial. Refiro-me ao Acordo de Haavara, assinado em 1933 entre o regime nazi alemão e alguns líderes sionistas. O objetivo era facilitar a emigração de judeus alemães para a Palestina, transferindo parte dos seus bens, o propósito alemão era contornar o boicote económico contra o nazismo, embora este boicote, ou sanções, tivesse sido incumprido por muitas empresas europeias e estado-unidenses. O Acordo de Haavara é sintomático da estratégia sionista, ou seja, longe de ser apenas uma resposta à perseguição do povo judeu, a migração de judeus para a Palestina era parte de um projeto sem valores nem princípios, pois, dispunha-se a fazer alianças moralmente questionáveis para alcançar o seu objetivo colonial.

Com o fim do mandato britânico e da Resolução 181/1947 das Nações Unidas, que criou dois estados, o movimento sionista, em 1948, deu corpo à criação do Estado de Israel (sionista), com a oposição dos países árabes. O nascimento desse estado aconteceu com a destruição de um território, de uma cultura e de uma sociedade onde muçulmanos, cristão e judeus tinham vivido, até então, em harmonia. Mais de 700 mil palestinianos foram expulsos, centenas de aldeias foram destruídas e apagadas do mapa, e massacres como o de Deir Yassin deram início ao regime de apartheid e do genocídio do povo palestiniano. Os bárbaros acontecimentos de 1948 ficaram conhecidos como Nakba, a Catástrofe. Que os palestinianos recordam e assinalam no dia 15 de maio.

Israel não nasceu num vazio. Nasceu sobre as ruínas de outra sociedade. Os refugiados palestinianos foram impedidos de regressar às suas casas, contra todas as resoluções das Nações Unidas, configurando um crime internacional. A sua terra, as suas casas, os seus campos foram apropriados pelo novo Estado, que se autodefiniu como judeu, excluindo assim os nativos não judeus, ou seja, a maioria da população antes de 1948.

No seu início o movimento sionista era um movimento político laico, mas rapidamente incorporou a religião como legitimador do projeto colonial. A ideia de que Deus prometeu esta terra ao povo judeu foi, e tem sido, usada para justificar a expulsão de palestinianos. Os colonos armados na Cisjordânia, continuam a usar essa lógica messiânica para atacar, queimar, desalojar e matar palestinianos, com o apoio e a complacência do exército sionista.

Mas não são apenas os sionistas judeus a alimentar essa ideia. O sionismo cristão, especialmente no mundo evangélico dos EUA, é uma força determinante no apoio incondicional ao estado sionista de Israel. Ancorados em interpretações bíblicas apocalípticas, os sionistas cristãos, acreditam que o regresso dos judeus à Terra Santa é uma condição essencial para o retorno de Cristo à Terra. Os sionistas cristãos contribuem para o financiamento militar, influenciam decisões políticas, promovem vetos diplomáticos e promovem o silêncio cúmplice dos crimes de guerra e de lesa humanidade perpetrados pelo estado sionista. 

Chamar conflito ao que se passa na Palestina é, por si só, uma falsificação. Não se trata de dois lados iguais em guerra. Trata-se de um povo colonizado e ocupado, e de um Estado que exerce dominação militar, territorial e legal sobre milhões de pessoas. Israel controla fronteiras, água, ar, eletricidade, deslocações, nascimentos, agricultura, comércio. Implementou um regime de apartheid denunciado por diferentes organizações internacionais e por alguns Estados.

A Nakba não foi um evento do passado. A Nakba é um processo em curso. A cada demolição de casa em Jerusalém Oriental, a cada colono que se apropria de terras na Cisjordânia, a cada veto dos EUA no Conselho de Segurança, a cada bomba em Gaza, a cada veto ao retorno dos refugiados, a cada criança palestiniana morta, a cada oliveira arrancada, é a Nakba a perpetuar-se com o silêncio cúmplice do Mundo.

Ignorar a história e reduzir a atual situação que se verifica em Gaza e nos territórios da Palestina ocupada a um evento do calendário recente é aceitar a opressão, o apartheid, o colonialismo e o genocídio, é aceitar a desumanização de um povo, é ser cúmplice do colonialismo, do apartheid e do genocídio. Datar o 7 de outubro de 2023 como o início do conflito é construir uma narrativa que mais não serve do que apagar décadas de colonização e de barbárie. A memória da Nakba não é apenas uma questão histórica, a Nakba é do presente e trazê-la para a discussão pública é lutar por justiça e pela humanidade. E a justiça exige que a verdade histórica seja reposta: a violência teve o seu início muito antes de 7 de outubro, a violência começou com a colonização da Palestina.

Ponta Delgada, 13 de maio de 2025 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 14 de maio de 2025

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Pepe Mujica - 1935/2025

Imagem retirada da internet

José Alberto Mujica Cordano
, popularmente conhecido por Pepe Mujica partiu hoje para a última viajem, e o Mundo ficou mais pobre.

Sobre este Homem singular já tudo terá sido dito e são conhecidos os seus pensamentos e ensinamentos. Nada tenho a acrescentar deixo, porém, uma sugestão cinéfila: “A Noite de 12 Anos”. Ver este filme é, não só, perceber a fibra de que são feitos alguns Homens, mas também um tributo a Pepe Mujica.

Até sempre Pepe!


terça-feira, 13 de maio de 2025

não é de agora

imagem retirada da internet


Excerto de texto para publicação no Diário Insular e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.




(...) Durante o Mandato Britânico da Palestina (1920–1948), dezenas de milhares de judeus europeus migraram para a Palestina, na sua maioria financiados por organizações sionistas. Muitas dessas migrações foram pacíficas, mas outras envolveram compra forçada de terras, expropriação de camponeses e construção de enclaves fechados. As tensões foram-se avolumando. A população árabe resistia, organizava greves, revoltas e boicotes, mas era sufocada e reprimida com violência.

Foi neste contexto que ocorreu um episódio pouco conhecido e debatido, vá-se lá saber porquê, mas revelador da natureza sionista e do seu projeto colonial. Refiro-me ao Acordo de Haavara, assinado em 1933 entre o regime nazi alemão e alguns líderes sionistas. O objetivo era facilitar a emigração de judeus alemães para a Palestina, transferindo parte dos seus bens, o propósito alemão era contornar o boicote económico contra o nazismo, embora este boicote, ou sanções, tivesse sido incumprido por muitas empresas europeias e estado-unidenses. O Acordo de Haavara é sintomático da estratégia sionista, ou seja, longe de ser apenas uma resposta à perseguição do povo judeu, a migração de judeus para a Palestina era parte de um projeto sem valores nem princípios, pois, dispunha-se a fazer alianças moralmente questionáveis para alcançar o seu objetivo colonial. (...)


“ENTRE PAUSAS – Crónicas do Dário Insular (2022-2024)”

Não sei se será o último, mas é o mais recente e já se encontra disponível, na Livraria Letras Lavadas, para quem o desejar adquirir.

Apenas três apontamentos extraídos da nota introdutória que abre o livro.


(…) A edição deste livro não era uma prioridade. Outros livros de crónicas, contos e poesia já estavam – e estão – em preparação. No entanto, o convite, que muito me honrou, e a oportunidade de integrar a coleção da Letras Lavadas, coordenada por Vamberto Freitas e com capa(s) de Urbano, foram razões suficientes para dar primazia a este trabalho. (…)


(…) Não passou tempo suficiente para que alguns textos, que abordam temas e acontecimentos datados, perdessem interesse, ou se verificassem alterações que colocassem em causa a oportunidade da sua publicação. (…)


(…) Este livro reúne as crónicas publicadas no Diário Insular entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024. Embora tenham passado por uma cuidada revisão, as alterações não mudaram a essência nem o propósito original de cada texto. Estão aqui reunidas, por ordem cronológica, todas as crónicas publicadas no intervalo de tempo referido, o que significa que não houve seleção de textos, (…)


sexta-feira, 9 de maio de 2025

pelo 80.º aniversário do Dia da Vitória

“Todo o ser humano que ama a liberdade deve ao Exército Vermelho mais do que conseguirá pagar em uma vida”

Ernest Hemingway




O Exército Vermelho, oficialmente designado por: “Exército Vermelho dos Operários e dos Camponeses.

O Exército Vermelho" lutou contra 200 divisões nazis. Para se ter ideia da magnitude do conflito e do papel do Exército Vermelho, importa saber que, os Estados Unidos e o Reino Unido enfrentaram 10 divisões nazis.

A União Soviética foi o país que mais contribuiu para a derrota do nazismo, tendo o maior contingente de combatentes (2,6 vezes mais do que todos os outros aliados somados). A União Soviética foi o país que mais sofreu baixas: cerca de 27 milhões de soviéticos foram mortos durante a guerra, o equivalente a quase 14% da população do país.

A Segunda Guerra Mundial recebeu, na União Soviética, o nome de “Grande Guerra Patriótica”, porque afetou toda a população do país. Todas as famílias soviéticas perderam alguém ou teve familiares feridos ou desaparecidos.

A narrativa ocidental tem vindo, desde há muito, a menorizar o papel da União Soviética na derrota do nazismo. Nada que não tivesse sido previsto pelo Marechal Georgy Zhukov que afirmou:  “Libertamos a Europa do fascismo, mas eles nunca nos perdoarão por isso”.

Foi perante o Marechal Zhukov, às 0h43 (horário de Moscovo) do dia 9 de Maio de 1945 que General Wilhelm Keitel, em representação da Alemanha, assinou a rendição incondicional do exército nazi perante o Exército Vermelho, representado pelo Marechal Georgy Zhukov, pondo fim assim à Segunda Guerra Mundial. 

Há uma tentativa de reescrição da história, mas factos são factos, e por mais que a propaganda, emanada dos centros de poder herdeiros do nazismo, tente não vai conseguir apagá-los.

Viva o 80.º aniversário da vitória sobre o nazifascismo!