“(…) Passo a passo, começou a corrida, o chão da pista a desfilar debaixo dos pés, a respiração a fender o ar, o peito a transbordar bravura, como se preparasse um salto em comprimento. Pareceu-lhe ouvir Chuck Berry e as malhas de ‘Johnny B. Goode’. Tornou as passadas ainda mais lestas e sentiu o corpo a comover-se no sabor da liberdade. O mundo preparava-se para abrir-lhe os braços.
Go, Johnny, go, go!
Go, Johnny, go, go! (…)”
E assim tem início a aventura migratória de Mané.
Quando acabei a leitura de Ilha-América publiquei a minha opinião sobre o mais recente romance de Almeida Maia. Uma opinião de leitor, as apreciações de ordem literária ficam para quem tem, para isso, qualificações.
Partilho, de novo, as palavras que na espontaneidade do momento foram escritas e publicadas.
Para quem preferir ouvir e ver fica um vídeo no final da publicação.
Pelo direito a sonhar
Almeida Maia recupera para a nossa memória coletiva um passado não muito distante. Um passado de pobreza, de isolamento, de repressão, um passado que não devemos esquecer. E Ilha-América cumpre esse objetivo. A ficção também serve, e muito bem, para revisitar a história.
Soube, ainda na década de 80 e após ter chegado aos Açores, do evento que está na base deste novo livro de Almeida Maia. Como passou a ser do meu conhecimento inferi que a história era do domínio público. Equivoquei-me.
Poucos conhecem o episódio da história da emigração ilegal açoriana que está na génese deste novo livro de Almeida Maia, e este, para além de outros, será um bom motivo para ler Ilha-América.
Quando iniciei a leitura, Aconteceu. Tinha consciência que seria, assim: empolgante.
Li de um fôlego. Pela escrita, pela viagem a um passado recente (1960), pela descrição rigorosa dos aspetos do viver insular dos anos 50/60 do século XX, pela influência da presença de cidadãos estado-unidenses em Santa Maria, é na ilha de Gonçalo Velho que tudo começa, mas também da importância do Aeroporto Internacional de Santa Maria na travessia aérea do Atlântico Norte. Pela descrição da brutalidade dos métodos da PIDE e o horror dos seus calabouços.
Em Ilha-América, Almeida Maia reabilita o direito a migrar rumo à utopia.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 14 de Outubro de 2020
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