quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O necessário retorno às origens

Imagem retirada da Internet
Às forças políticas de esquerda exige-se coragem, muita coragem, para enfrentar os tempos de retrocesso civilizacional que se traduzem na ascensão de projetos políticos, protagonizados por personalidades com estilos diversos que vão desde o cavalheiro Macron, ao boçal Bolsonaro. Coragem que não pode apenas ser traduzida em lamentos pelos perigos que espreitam a “democracia liberal” e pela enunciação da necessidade de combater os populismos, a coragem necessária para evitar este crescendo do neoliberalismo que, sem máscaras assume a sua verdadeira natureza fascizante, tem de manifestar-se com soluções políticas que retomem os percursos assentes em valores ancorados na promoção e garantia da dignidade dos cidadãos, não seria necessário mais dos que os consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, e prosseguir o caminho da evolução civilizacional assente em modelos de desenvolvimento sustentáveis.
As forças partidárias de esquerda, com as conhecidas exceções, afastaram-se da sua matriz ideológica e capitularam às teses do mercado abrindo espaço ao neoliberalismo e à continuada demonização dos que se mantêm firmes na defesa da intervenção do Estado em setores estratégicos da economia, mas também nos setores sociais como sejam a saúde, a educação e a segurança social.

Imagem retirada da Internet
Os resultados desta adesão às teses neoliberais do livre mercado, estão à vista. Pobreza, desemprego, concentração da riqueza, desigualdade, exclusão social. Estes e outros fatores promovem a marginalidade, a intolerância, o aumento da criminalidade, das dependências e, sobretudo, descontentamento e descrédito, mormente, entre as principais vítimas. Ou seja, os cidadãos deixam de acreditar, com razão, em projetos políticos que, não só perpetuam os seus problemas como lhes induzem falsas expetativas, mas que, sobretudo, aumenta o número de cidadãos que são empurrados para o limiar da pobreza e da exclusão.
O descontentamento e o descrédito têm sido capitalizados por personalidades à margem do discurso político tradicional. Esta tendência, como já referi em escritos anteriores, não é incompreensível. Embora me seja difícil aceitar pois, existem alternativas quer à esquerda que aderiu às políticas de direita, quer às forças e projetos políticos de cariz neofascista que se têm vindo a afirmar no continente europeu e americano.
Mas a coragem a que referi logo no início não pode limitar-se à constatação e ao lamento, a coragem tem de ir um pouco mais longe, sob pena do fenómeno que nos preocupa se metastatizar e se tornar irreversível.
Exige-se às forças políticas, ditas de esquerda, o regresso à sua matriz ideológica original e coragem para assumir as responsabilidades que têm na disseminação de ideias e práticas políticas que as aproximam da direita e que têm contribuído para a ascensão do neoliberalismo. Para simplificar, O PS é aos olhos dos cidadãos um partido de esquerda, mas o seu projeto político e a sua ação em nada o diferenciam dos partidos de direita. No atual contexto só a necessidade de diálogo à esquerda, para se manter no poder, levou o PS a infletir ligeiramente a sua prática política.
O exemplo nacional pode generalizar-se à Europa, com os resultados que estão à vista de todos e que no caso da França, da Espanha e da Grécia levou à erosão dos respetivos partidos socialistas. Só não vê quem não quer e, no PS não falta quem não queira ver.

Ponta Delgada, 30 de Outubro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 31 de Outubro de 2018

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Na SMTV - "Os Porquês?

Mais uma viagem pelo mundo da comunicação.
Amanhã na SMTV, durante a tarde, irá para a antena a minha primeira participação no programa “Os Porquês?”.
Embora pareça, mas não vai ser. Não lhe irei dar respostas lineares a perguntas concretas, também não quer dizer que isso não venha a acontecer, lá de vez em quando, mas a abordagem, a este desafio que a SMTV me fez, será a de levantar questões e deixar-lhe espaço para encontrar a sua resposta para os seus porquês. Não lhe vou trazer verdades absolutas, nem as minhas certezas. Trago-lhe dúvidas e deixo-lhe a minha opinião.

Sintam-se convidados a ver e a dar a vossa opinião.

... fonte de descrédito

Fonte da imagem (aqui)





Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos






(...) As forças partidárias de esquerda, com as conhecidas exceções, afastaram-se da sua matriz ideológica e capitularam às teses do mercado abrindo espaço ao neoliberalismo e à continuada demonização dos que se mantêm firmes na defesa da intervenção do Estado em setores estratégicos da economia, mas também nos setores sociais como sejam a saúde, a educação e a segurança social. 
Os resultados desta adesão às teses neoliberais do livre mercado, estão à vista. Pobreza, desemprego, concentração da riqueza, desigualdade, exclusão social. Estes e outros fatores promovem a marginalidade, a intolerância, o aumento da criminalidade, das dependências e, sobretudo, descontentamento e descrédito, mormente, entre as principais vítimas. Ou seja, os cidadãos deixam de acreditar, com razão, em projetos políticos que, não só perpetuam os seus problemas como lhes induzem falsas expetativas, mas que, sobretudo, aumenta o número de cidadãos que são empurrados para o limiar da pobreza e da exclusão. (...)

Preocupante e expetável

Palácio do Planalto - Brasília (imagem retirada da Internet)
Se regozijei com o resultado das eleições presidenciais no Brasil, Não. Claro que não. Se tinha alguma expetativa sobre a possibilidade de acontecer uma viragem e o candidato da “frente democrática” ganhar as presidenciais, Tinha. Se venho insultar o povo brasileiro pela sua opção eleitoral maioritária, Não. Se me custa aceitar que seja possível alguém com o perfil do cidadão brasileiro que foi eleito presidente ser objeto de tanto apoio popular, Custa. Se existem explicações para este e outros fenómenos eleitorais semelhantes, Existem sim e, desde logo, uma explicação política concreta, para além do conhecido contexto em que este ato eleitoral foi disputado e de outras variáveis igualmente relevantes.
Mas antes de abordar uma das razões que, em minha opinião, justificam estas opções eleitorais por candidatos com discursos e propostas que, há alguns anos atrás, perdoem-me a expressão, não lembrariam ao diabo, mas que na atualidade recolhem um crescente apoio eleitoral, e, os exemplos são conhecidos, não posso deixar de registar a minha perplexidade por algumas opiniões que tive oportunidade de ler e de ouvir sobre a atual situação política brasileira onde acabou de ser eleito como presidente um cidadão com caraterísticas, direi, pouco democráticas.

Imagem retirada da Internet
Não, Não é estranho e o fenómeno vai ter tendência a alastrar-se pela falência das democracias liberais que promovem o rotativismo do poder entre os partidos do centro e pela sua submissão ao neoliberalismo económico e à especulação financeira. O caso brasileiro não é único, nos Estados Unidos, em França, na Polónia, na Hungria, mas também na Grécia e em Itália ascenderam ao poder alguns “outsiders” afastando do poder os partidos da alternância ao centro.
No final da década de 90 do século passado caíram, com a implosão da União Soviética, um conjunto de referenciais políticos, sociais e económicos que deixaram o caminho livre ao neoliberalismo que desde a década de 70 vinha a ganhar força, primeiro com a “experiência” chilena e depois com a sua exportação, ainda que maquilhada, para os Estados Unidos e Inglaterra. Os partidos sociais democratas ou do chamado socialismo democrático deixaram cair a sua matriz política, em Portugal Mário Soares meteu o socialismo na gaveta, e com a adesão à chamada “terceira via” a social democracia aproximou-se ideologicamente dos partidos liberais e conservadores. Ou seja, o poder político nos países europeus tem vindo a ser exercido pelo centro político constituído por partidos cujos projetos pouco diferem sem que as respostas políticas satisfaçam os cidadãos que têm vindo a assistir à degradação das sua condições de vida, à perda de direitos sociais, rendimentos e, sobretudo, à desacreditação dos atores políticos em grande medida pelo seu afastamento dos cidadãos e povos que representam, mas também pela impunidade face a conhecidos casos de utilização dos cargos públicos em proveito próprio.
Estes são fatores que favorecem o apoio eleitoral a projetos políticos cuja matriz ideológica pouco importa, numa primeira instância, aos eleitores, mas que lhes dá, ou promete, soluções diferentes e radicais para solucionar os seus problemas mais prementes.
Nada disto é novo, mas alguns cidadãos e atores políticos teimam em meter a cabeça na areia.

Ponta Delgada, 28 de Outubro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 29 de Outubro de 2018

sábado, 27 de outubro de 2018

O emprego, a ATA e a SATA - crónicas radiofónicas




Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 11 de Agosto de 2018 e pode ser ouvida aqui







O emprego, a ATA e a SATA

Fonte IEFP
Apesar de Agosto e, para lá dos incêndios que, nos últimos dias, fustigaram Monchique e Silves e, sobre os quais muito tem sido dito nos estúdios das televisões nacionais, nem sempre com abordagens dignas e, sobretudo, que não respeitam o sofrimento das populações afetadas, nem os homens e mulheres que combatem os fogos e protegem as populações.
Mas, como dizia apesar de ser Agosto e, para lá do drama anual dos incêndios florestais, por cá sempre vai havendo uma novidade ou outra que merecem atenção.
Não sei se deu conta, mas o INE divulgou os dados do emprego do segundo trimestre deste ano e o desemprego continua a cair. A Vice-presidência do Governo Regional lá veio a público assumir que tudo isto se deve às políticas regionais promotoras do emprego. Antes de continuar devo dizer-lhe que só posso ficar satisfeito pela descida do desemprego na Região e que essa descida, de facto, se tem vindo a verificar de forma continuada.
Não tenho, contudo, a mesma opinião do Vice-presidente do Governo Regional sobre a leitura dos dados do INE e muito menos quanto aos motivos que estão na origem da descida do desemprego na Região.
Os dados divulgados pelo INE não contemplam algumas variáveis, é uma questão metodológica, mas se os dados tivessem em devida conta o subemprego, os trabalhadores a tempo parcial, os inativos disponíveis que não procuram emprego e os cidadãos afetos a programas ocupacionais, então a taxa de desemprego seria bem maior. Isto não me dá nenhuma satisfação, mas se queremos tratar dos problemas do desemprego e promover políticas de emprego, então não podemos escamotear estes dados que nos afastam da realidade.
Quanto ao contexto que tem favorecido o aumento do emprego na Região, ao contrário do que é afirmado pelo Governo Regional, a descida da taxa de desemprego na Região não se fica a dever ás políticas regionais, mas sim a um contexto nacional favorável. Não estou a fazer esta afirmação de forma gratuita. Não o faço só porque sim. Faço-o ancorado nos dados mensais sobre o emprego divulgados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
Vejamos, no trimestre a que se referem os últimos dados do INE podemos verificar na informação facultada pelo IEFP que em todas as regiões do país se apurou uma descida da taxa de desemprego, no entanto, verifica-se que a descida nos Açores fica muito abaixo da média nacional. Mas se alargarmos a análise a outros trimestres constatamos exatamente o mesmo, os Açores ficam sistematicamente muito abaixo da média nacional. O expetável seria que a Região e as suas políticas de emprego tivessem um impacto positivo na criação de emprego e que a descida da taxa de desemprego na Região fosse superior à média nacional, Mas não.
Assim só posso inferir que se a taxa de desemprego na Região acompanha, em baixa, a tendência nacional é o contexto nacional que tem favorecido a descida da taxa de desemprego nos Açores e não as políticas regionais. Apenas isto.
Vou continuar consigo mais uns instantes para lhe deixar duas notas sobre o Grupo SATA.
A primeira, uma boa notícia, é a saída da SATA do capital da Associação de Turismo dos Açores (ATA). Já devia ter acontecido desde que foi alterado o paradigma do modelo de transporte aéreo de e para a Região, ou seja desde de 2015. Esta decisão peca por tardia, mas não posso deixar de a registar como uma medida positiva.
A ATA é uma empresa da esfera do setor público empresarial regional e que vai, finalmente, ser entregue à iniciativa privada. Claro que o representante do setor privado não gosta da solução, ou melhor gostar até gosta se o erário público continuar a financiar o seu funcionamento. Ora muito bem. Afinal os empresários querem, ou não, libertar-se do jugo do poder público.
A outra nota, e esta sim será a final tem a ver com a entrada em funções do novo Conselho de Administração do Grupo SATA. Já era conhecida a figura que vai assumir a presidência, o Dr. António Teixeira, foram ontem divulgados mais dois, ou apenas os dois, elementos que vão integrar, a partir de segunda-feira o Conselho de Administração do Grupo.
Foto by Aníbal C. Pires
A nomeação da Dra. Ana Azevedo, a quem desejo sucesso, vem comprovar que dentro do Grupo existem quadros capazes de assumir a administração, e há por lá mais, quanto ao Dr. Vítor Costa é mais um recrutamento externo com origem numa espécie de ninho de gestores públicos. Aguardemos pela distribuição de responsabilidades, mas também para perceber se a composição deste Conselho de Administração se fica, ao contrário dos anteriores, apenas por 3 elementos ficando a aguardar uma recomposição quando for concluído o processo de privatização dos tais 49% da Azores Airlines.
Não deixei votos de sucesso ao Dr. António Teixeira e ao Dr. Vítor Costa, Deixei sim. Os votos de sucesso para a Dra. Ana Azevedo, ainda que de forma implícita, são para todo o Conselho de Administração pois, o sucesso que desejo à Dra. Ana Azevedo será sempre capitalizado a favor de toda a administração.
É um prazer estar consigo
Fique bem.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 11 de Agosto de 2018

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

.... dos afetos e da cultura

Créditos Câmara Municipal da Lagoa
No passado dia 20, a convite do Gabinete do Secretário Regional Adjunto para as Relações Externas, apresentei e moderei um encontro literário, no Centro cultural da Caloura.
Foi um encontro entre Vamberto Freitas e Lélia Nunes que o promotor designou por: Conversa à volta das letras - Açores e Santa Catarina: aproximações literárias. Este encontro contou com a presença do Secretário Regional Rui Bettencourt e teve como anfitrião o Prof. Tomaz Borba Vieira.

Ficam alguns fragmentos da apresentação que fiz deste encontro literário.


Sobre o local e o anfitrião

Créditos Teresa Viveiros
(…) A realização deste evento cultural no Centro Cultural da Caloura, espaço multifuncional implantado numa zona rural com caraterísticas favoráveis à produção agrícola, podemos ainda observar o que resta dos antigos pomares e dos vinhedos, cria uma ambiência de exceção para quem visita o Centro Cultural da Caloura.


Tomaz Borba Vieira (Imagem retirada da Internet)
Mas é o simbolismo associado à descentralização que quero deixar registado e, não posso deixar de dirigir uma palavra de apreço e reconhecimento ao Prof. Tomaz Borba Vieira, por toda a sua dedicação e empenhamento para que este projeto cultural aqui tivesse sido implantado. 
Obrigado Senhor Prof. Tomaz Borba Vieira. (…)


Sobre Vamberto Freitas

Vamberto Freitas (Imagem retirada da Internet)
(…) O Vamberto Freitas não é apenas um ensaísta e crítico literário. Vamberto Freitas é, se me permitem, uma instituição de utilidade pública para a literatura. É-o em particular para as temáticas literárias de matriz açoriana escritas em português e inglês, mas é mais, muito mais do que isso pois, a dimensão da sua obra não se confina à apreciação e, por conseguinte, divulgação dos autores que escrevem nos Açores, sobre os Açores, ou sobre a diáspora açoriana e, mais genericamente sobre a diáspora portuguesa. O seu trabalho e a sua obra não têm fronteiras culturais, nem está eivada de qualquer visão redutora da literatura. (…)


Sobre Lélia Nunes

Lélia Nunes (imagem retirada da Internet)

(...) Mais do que tudo o que a sua nota biográfica nos dá a conhecer sobre o seu percurso académico, cívico e literário, Lélia Nunes integra um grupo de arquitetos das letras que constroem pontes entre as ilhas, ilhas que no princípio apenas eram nove torrões de terra lávica pulverizados no Atlântico Norte,


Mas,

*Já não são nove, as ilhas
A vaga de erupções migrantes
Universalizou a açorianidade
Novas e muitas ilhas despontaram
Unidas pelo culto ao Divino 
Num imenso arquipélago 
De sonhos e saudade

Lélia Nunes transpira paixão pelos Açores e pela cultura açoriana. Lélia Nunes é uma das filhas desse imenso arquipélago de sonhos e saudade unido pelo culto do Divino. (…)

*Excerto de um poema que pode ser lido integralmente aqui

Caloura, 20 de Outubro de 2018

domingo, 21 de outubro de 2018

Nós por cá todos bem, E a SATA - crónicas radiofónicas

Foto by Aníbal C. Pires



Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 03 de Agosto de 2018 e pode ser ouvida aqui






Nós por cá todos bem, E a SATA

Foto by Aníbal C. Pires
Não ceder à tentação de escrever sobre a SATA tem sido um dos sacrifícios dos últimos meses. Hoje não resisto e, vou abandonar-me a este apetite voraz de especular sobre o cenário que nos está a ser criado.
Não há novidades, digo eu. As contas de 2017 apresentaram os resultados esperados, ou um pouco pior, a exploração de uma das empresas do Grupo patenteia, nos primeiros meses de 2018, um défice de exploração assinalável, foi nomeado um novo Presidente do CA do Grupo SATA, o processo de privatização de 49% do capital social decorre na opacidade e, nas brumas está mergulhada uma tal Comissão, nomeada para assegurar a transparência do processo, os trabalhadores aguardam tranquilamente, não se sabe o quê, e espera-se a concretização da anunciada renovação total do Conselho de Administração.
Quando afirmei que não havia novidades fi-lo de forma consciente. É a história recente (desde 2013) a repetir-se. Como tal, Nada de novo. Ou melhor, muito pouco para o tanto que, em tempo útil, devia ter sido feito.
Então, dirá quem lê, Para que perdes o teu tempo com um assunto sobre cujo desfecho ninguém dá a mínima importância. A população não quer saber, os trabalhadores, embora preocupados, têm-se remetido, como já disseste, ao silêncio e à anuência tácita do que possa vir a ser o futuro próximo do Grupo, por outro lado, está instalada a ideia de que o Governo Regional não tomará nenhuma decisão de deixar cair uma ou mais empresas do Grupo face ao impacto social e económico regional que uma decisão dessas provocaria, Assim é.
Mas o Grupo pode ser enfraquecido não por uma decisão direta, mas por um conjunto de decisões, ditadas pelo dito mercado, que conduzam o Grupo, enquanto empresa pública, para uma dimensão que não vá além de assegurar o transporte aéreo marginal, aliás desejo e vontade de alguns partidos políticos e agentes económicos que têm pugnado por reduzir as empresas de transporte aéreo do Grupo apenas às ligações interilhas, às ligações com o continente, nas rotas onde existem OSP, e às ligações com a diáspora, sendo que no que diz respeito às últimas está-se a configurar um cenário em que a SATA também poderá ser dispensável.
Ao Eng. Paulo Meneses, desejo-lhe que recupere, em pleno, o seu estado de saúde, mas fica também uma ideia que julgo já ter partilhado num dos muitos escritos que tenho sobre a SATA, Não era fácil, não é fácil, vencer os poderes intermédios que estão instalados no Grupo, Não era, nem é fácil libertar a gestão empresarial do Grupo dos devaneios, sem rumo, do acionista. Apesar da sua entrega o Eng. Paulo Menezes acabou por ser derrotado. Lamento, pelo Eng. Paulo Meneses, mas lamento sobretudo pelo Grupo SATA.

Foto by Aníbal C. Pires
Quanto ao novo Presidente do CA uma de duas possibilidades se colocam. Ou o Dr. António Teixeira é um peão para a transição, ou será já um homem de mão do putativo parceiro do Grupo SATA. Quando for conhecida a composição do novo CA tudo se tornará mais claro, ainda assim sobram-me muitas dúvidas, no atual contexto, de que o Dr. António Teixeira possa vir a afirmar uma liderança capaz de ultrapassar as barreiras internas e, muito menos a afirmar o Grupo no mercado do transporte aéreo de passageiros, a não ser que tenha o discernimento de procurar dentro do Grupo os quadros, existem sim, capazes de catapultar o Grupo SATA para um modelo organizacional que suporte uma estratégia empresarial capaz de responder de per si, nem sequer direi ao aumento da atividade comercial e operacional, mas tão só à atual procura na época alta e à maleabilidade comercial e operacional que rentabilize os recursos no período de menor procura.
Embora os TACV e o Grupo SATA, tudo leva a crer que sim, venham a ter como parceiro o mesmo grupo, que tem um reconhecido know how na aviação civil, passou demasiado tempo para assegurar, por exemplo, uma posição dominante na Macaronésia, a BINTER está a expandir-se e a tornar-se a transportadora de referência da Macaronésia, só faltam os Açores e a seu tempo cá chegará vontade não lhe falta, e, por outro lado, a TAP está a municiar-se com aeronaves e recursos humanos para expandir o seu negócio, mormente, para a América do Norte, em particular para os Estados Unidos.
E nós por cá todos bem ao sabor de um Verão ameno e despreocupado, Como convém.
Fique bem.
Eu volto no próximo sábado, assim o espero.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 03 de Agosto de 2018

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

A SATA e o seu Presidente não são compatíveis. Demita-se, ou demitam-no.

A 321 Neo CS-TSG (Sete Cidades) - foto João Pires
Fiquei profundamente incomodado quando ouvi as declarações públicas do Presidente do Conselho de Administração (CA) após a cerimónia de batismo do A 321 Neo que decorreu na tarde da passada segunda-feira, no aeroporto de Ponta Delgada, e, mais tarde direi porquê.
Já a titular da pasta dos transportes, Ana Cunha, no discurso que proferiu na cerimónia de batismo do “Sete Cidades”, assim se ficou a designar o A 321 Neo que tem inscrito a palavra “Wonder”, me tinha deixado perplexo, neste caso por ter falado muito e não ter dito nada. Pronto se preferirem, A Secretária Regional que tem a tutela dos transportes falou muito mas não disse, Nada de novo.
Ana Cunha limitou-se a regurgitar o que todos sabemos sobre as vantagens de ter uma frota homogénea (aeronaves da família dos A 320), os benefícios na poupança de combustível que advêm da eficiência energética dos A 321 Neo e o aumento de rotações com os Estados Unidos e Canadá que este tipo de aeronave possibilita. Mas Ana Cunha, não só se esqueceu de referir o nome da personalidade que apadrinhou o “Sete Cidades”, Milagres Paz, como se esqueceu de referir que tudo o que disse se aplica ao A 321 Neo Long Range(LR), uma vez que os dois A 321 Neo estão transitoriamente ao serviço da SATA. Transitoriamente sim pois, como está anunciado e contratualizado com a Airbus (o fabricante) até ao fim de 2020 estarão ao serviço da SATA quatro A321 Neo LR. As diferenças entre estes dois modelos de aeronave são, no essencial, a autonomia os LR têm um pouco mais de autonomia, o que lhe confere uma maior fiabilidade na travessia do Atlântico a partir dos Açores, em particular durante o Inverno. Este facto, parecendo despiciente, fez toda a diferença na opção pelos A 321 Neo LR cuja produção está atrasada, segundo a Airbus, relativamente ao que estava previsto.

A 310 CS-TGV (S. Miguel) - foto by João Pires
Teria ficado bem à Secretária Regional dos Transportes ter feito uma alusão à importância da frota dos A 310, foram estes aviões que permitiram a expansão da empresa, porque no dia em aconteceu o batismo do “Wonder/Sete Cidades, o “phase out” dos A 310 ficou concluído, mas também uma palavra de referência ao Comandante Carlos Moniz que antes da realização daquele que foi último voo A 310 CS-TGV (S. Miguel) brindou os convidados e os inúmeros populares com manobras de alta performance, uma descolagem duas passagens baixas a alta velocidade e uma aterragem, até porque, também, o Comandante Carlos Moniz realizou, nesse dia, o seu último voo comercial. Mas que importância tem isso face à ação de propaganda do Governo Regional, digo eu que sou dado a sentimentalismos. Ou então, estaria Ana Cunha à espera que o Presidente do CA da SATA o fizesse. Se estava saíram-lhe defraudadas as expetativas pois, a ilustre figura não disse coisa com coisa. 
Mas se a intervenção de Ana Cunha passou à margem e não foi alvo de nenhuma análise crítica, a não ser, para já, esta que está a ler, o mesmo não aconteceu com as titubeantes respostas do Presidente do CA da SATA quando questionado pelos jornalistas no final da cerimónia de batismo do “Wonder/Sete Cidades”.

Imagem retirada da Internet
As palavras com que iniciei este texto referem-se ao meu profundo incómodo com as declarações do Presidente do CA da SATA e comprometi-me a dar conta das razões desse meu mal-estar. Pois bem, Não é aceitável, por inexperiente que seja, que o Presidente do CA da SATA tenha demonstrado um total desconhecimento quer da composição da atual frota da SATA Internacional/Azores Airlines, quer da evolução que ela virá a ter no futuro próximo. E não me venham dizer que é um problema de oratória e de dificuldade em enfrentar os microfones e as câmaras, nada disso, trata-se mesmo como é visível e audível de desconhecimento sobre o que lhe foi perguntado. Não é aceitável e o senhor Presidente do CA da SATA devia, no mínimo, apresentar a sua demissão a quem cometeu a leviandade de o nomear. Se o Presidente do CA da SATA não o fizer, então ao Governo Regional cabe-lhe essa decisão e, já agora, não demorem muito tempo. Se querem que a SATA seja aquilo que a Secretária Regional afirmou, então não percam mais tempo e demitam-no.
Se eu me senti incomodado imagino o que terão sentido os trabalhadores da SATA quando viram e ouviram as declarações do seu Presidente. Isto para não me referir ao que terão sentido os seus colegas do CA, em particular a Dra. Ana Azevedo. Posso também imaginar o que os principais responsáveis na estrutura organizacional da SATA, quando acederam às imagens e ao som, terão sentido. Eu diria que terá sido um misto de sensações que percorreu o espetro que vai da vergonha ao riso, dependendo de como cada um interpretou e reagiu perante aquela grave demonstração de ignorância de quem está à frente da sua (nossa) empresa.
Ponta Delgada, 16 de Outubro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 17 de Outubro de 2018

terça-feira, 16 de outubro de 2018

... estamos a chegar ao grau zero

A 310 CS-TGV (S. Miguel - foto by João Pires





Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos






(...) Teria ficado bem à Secretária Regional dos Transportes ter feito uma alusão à importância da frota dos A 310, foram estes aviões que permitiram a expansão da empresa, porque no dia em aconteceu o batismo do “Wonder/Sete Cidades, o “phase out” dos A 310 ficou concluído, mas também uma palavra de referência ao Comandante Carlos Moniz que antes da realização daquele que foi último voo A 310 CS-TGV (S. Miguel) brindou os convidados e os inúmeros populares com manobras de alta performance, uma descolagem, duas passagens baixas a alta velocidade e uma aterragem, até porque, também, o Comandante Carlos Moniz realizou, nesse dia, o seu último voo comercial. Mas que importância tem isso face à ação de propaganda do Governo Regional, digo eu que sou dado a sentimentalismos. Ou então, estaria Ana Cunha à espera que o Presidente do CA da SATA o fizesse. Se estava saíram-lhe defraudadas as expetativas pois, a ilustre figura não disse coisa com coisa. (...)

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

A TAP, a SATA e um cenário de rutura operacional

Foto by Aníbal C. Pires
A desregulação laboral no setor, o modelo de formação e qualificação, o aumento da atividade e, porque não, a crise, são algumas das variáveis que estão na origem do défice de pilotos que atualmente se faz sentir um pouco por todo o Mundo. São conhecidos casos de encerramento de empresas e, muitas são as companhias aéreas que têm as aeronaves no chão por falta de pilotos e de dificuldades no recrutamento para colmatar as necessidades operacionais.
No caso português a TAP e a SATA, ainda que com impactos diferentes que se relacionam com a dimensão e o modelo de recrutamento, não estão imunes a esta carência de pilotos, mas se existem algumas variáveis que nem a TAP nem a SATA controlam, outras há que só dependiam de medidas de gestão que as previsões, há muito conhecidas para este cenário, aconselhavam.
O desespero da TAP, até há bem pouco tempo altamente seletiva no recrutamento e formação dos seus pilotos, conduziu à tomada de medidas que levantaram uma onda de críticas no seio comunidade que está, de um modo ou outro, ligado à aeronáutica civil. Não se compreende que a companhia de bandeira tenha deixado cair o domínio da língua portuguesa como um dos requisitos para as candidaturas. Veja-se que não se trata aqui de uma questão preferencial pela nacionalidade, o que seria criticável e no contexto da União Europeia até ilegal, mas deixar cair um requisito que é intrínseco à missão e cultura organizacional da TAP é incompreensível.
Mas não foi só. A TAP promoveu um “open day” em Espanha para recrutamento de pilotos e, numa iniciativa relâmpago, deu um salto ao Brasil com o mesmo intuito. É sabido que, pelos contornos destas ações de recrutamento, grande parte dos critérios de exigência na angariação de pilotos para a TAP perderam-se em Espanha e no Brasil. Se esta situação era evitável, Sem dúvida e a TAP tinha todas as condições para ter encontrado, em tempo oportuno, outras soluções. Veja-se o número de jovens pilotos portugueses que estão a voar em companhias aéreas um pouco por todo o Mundo, ou o número assinalável de pilotos com requisitos para entrar na TAP que, entretanto, por razões diversas enveredou por outras carreiras. Mas o drama da TAP vai continuar pois, em 2020 calcula-se que as necessidades sejam bem maiores das que para este ano foram tornadas públicas.

Foto by Aníbal C. Pires
Quanto à SATA Internacional/Azores Airlines a dimensão deste fenómeno pode ser, ainda coloco como uma hipótese, catastrófica por se estar a desenhar um cenário de rutura operacional. As necessidades imediatas apontam para o recrutamento de 20 novos pilotos que tendo, ou não, qualificação (type rating), só estarão operacionais daqui a alguns meses, isto se a SATA Internacional/Azores Airlines ainda tiver alguma atratividade para captar o número de pilotos necessários para suprir a falta destes tripulantes. Vejam-se as dificuldades da TAP e procurem-se as razões para a recente saída de um grupo de pilotos da SATA Internacional que apesar do aliciamento de última hora, feito pela empresa, não voltaram atrás com a sua decisão. Se tomarmos em consideração estes e outros aspetos não será difícil inferir que a atratividade da SATA Internacional/Azores Airlines já não é o que era.
A SATA Internacional/Azores Airlines reforçou a operação de Inverno. Ainda bem é sinal que existe procura e mercado para expandir o negócio. Lá haver procura e mercado, até há, o que não existe é quem coloque as aeronaves a voar, Pois. Assim e mais uma vez recorre-se à contratação de ACMIs, desta vez um A 320 da White. Sobre esta contratação também há alguma coisa para dizer, mas fica para outra oportunidade.
Se tudo isto poderia ter sido evitado, Sem dúvida. Podia ter sido evitado se a estratégia do representante do acionista não fosse oscilante e se as administrações tivessem sido suficientemente fortes para travar os desmandos do representante do acionista. Quanto a este assunto fico-me por aqui, embora muito fique por dizer, desde logo, sobre o modelo de recrutamento destes profissionais para uma empresa com as caraterísticas e missão da SATA Internacional/Azores Airlines.
Amanhã (hoje) o A 310 CS-TGV (S. Miguel) realiza o seu último voo, PDL/LIS, ficando assim concluído o processo de “phase out” destas aeronaves que durante 19 anos serviram a SATA Internacional. É menos uma aeronave e menos um Comandante, e é mais um dia que ficará registado, com o devido destaque, na história da SATA.
Ponta Delgada, 14 de Outubro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 15 de Outubro de 2018

... da carência na TAP e na SATA

Foto by Aníbal C. Pires







Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos.









(...) As necessidades imediatas apontam para o recrutamento de 20 novos pilotos que tendo, ou não, qualificação (type rating), só estarão operacionais daqui a alguns meses, isto se a SATA Internacional/Azores Airlines ainda tiver alguma atratividade para captar o número de pilotos necessários para suprir a falta destes tripulantes. Vejam-se as dificuldades da TAP e procurem-se as razões para a recente saída de um grupo de pilotos da SATA Internacional que apesar do aliciamento de última hora, feito pela empresa, não voltaram atrás com a sua decisão. Se tomarmos em consideração estes e outros aspetos não será difícil inferir que a atratividade da SATA Internacional/Azores Airlines já não é o que era. (...)

sábado, 13 de outubro de 2018

Um não assunto, ou a silly season a fazer das suas - crónicas radiofónicas

Foto by Madalena Pires






Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 21 de Julho de 2018 que pode ser ouvida aqui









Um não assunto, ou a silly season a fazer das suas

Foto by Aníbal C. Pires
Arranjar um assunto para conversar consigo no último fim de semana de Julho que não seja, de todo, uma futilidade, não é tarefa fácil. Não que os assuntos rareiem, não falta por aí animação, mas não sou muito dado a festas, sejam elas brancas ou às cores. Notícias dramáticas também abundam, seja na Região seja um pouco por todo o Mundo, mas também não sou muito dado a explorar as emoções para atrair a atenção, ou seja, esta coisa de que os factos são menos importantes do que as emoções, não é a minha praia. Isto não significa que não me emocione, ou que, por vezes, o que escrevo e digo seja pouco racional e resulte de um estado de alma que tenho necessidade de partilhar, assim como um grito sussurrado para o papel, ou melhor para um qualquer suporte digital  e, que se liberta e vai por aí parar às mãos de alguém, ou ao monitor de um smartphone ou de um computador pessoal, ou ainda, como é o caso, aos seus ouvidos. Não se preocupe hoje não vai acontecer nada disso, nem gritos, nem sussurros.
Sabe que, para mim, seria tão mais fácil escrever e falar sobre o que as pessoas querem e gostam de ouvir. Mais fácil e, sobretudo, mais popular. Não sigo esse caminho por não saber como se percorre, conheço-lhe todos os atalhos e encruzilhadas, mas porque não ficaria bem comigo mesmo.
Sim, eu sei que nada ganho com isso e terei sempre muita dificuldade em prender a atenção de quem me lê e ouve, mas tendo essa perceção, ainda assim, prefiro ficar com a minha consciência tranquila por não embarcar em facilitismos e populismos que não favorecem o pensamento crítico e a compreensão, o mais aproximada possível, da realidade que nos envolve e conforma.

Foto by Aníbal C. Pires
Tenho uma amiga que lê a generalidade dos textos que eu produzo, lê também os textos de um outro opinador da 105 FM, que escreve de forma invejável, e tem a seguinte opinião sobre os textos que produzimos: O que tu escreves obriga-nos a pensar, desperta em nós a curiosidade, os textos daquele teu amigo deixam-me de alma cheia, ainda que por vezes, quer um quer outro, invertam os papeis. Tu raramente abandonas a tua matriz dialética e mostras o teu outro lado, e o teu amigo, com mais frequência, atravessa a fronteira entre a abordagem da realidade e a prosa poética com que ele tão bem se expressa. 
E eu concordo, em absoluto, com ela, Assim é, sem que os textos do tal meu amigo sejam vazios de conteúdo, nada disso. É na forma como se abordam as questões que reside a diferença. Ele é um homem de fé, eu não a tenho. Tenho dúvidas, quiçá ele também, mas tem uma âncora de referência, Eu não. Eu ando por aí à deriva e quantas e quantas vezes a navegar contraventos e marés sem o amparo de um ancoradouro abrigado.
Não terá sido uma futilidade esta nossa conversa, já não estou tão seguro se afinal não se tratou de um grito sussurrado, ainda que tenha sido expresso com a voz firme e no tom adequado de modo a não ter necessidade de aumentar o volume do seu rádio para poder ouvir.

Bom fim de semana.
Fique bem eu volto, assim o espero, no próximo sábado.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 28 de Julho de 2018

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Uma herança cultural a rejeitar

Imagem retirada da Internet
A discussão sobre o assédio e os crimes de agressão sexual dominam, desde há longos meses, a agenda mediática e pública. Não é primeira vez que abordo este assunto e o que agora o motiva não tem nada, mas rigorosamente nada a ver com o recente e mediático episódio que envolve o Cristiano Ronaldo, embora o que tenho ouvido e lido sobre este caso em particular me deixe perplexo com a facilidade com que se condena ou iliba, quer um quer outro dos intervenientes.
No final de Setembro com base em dados divulgados pelo Ministério da Justiça (MJ) conheceu-se, com algum rigor, um facto que nos deve preocupar a todos. Apenas 37% dos autores de crimes por agressão sexual são condenados a prisão efetiva. Não vou desagregar nem esmiuçar os dados divulgados, esse trabalho foi feito pela comunicação social nacional.
No início do ano numa outra tribuna escrevi sobre as questões do assédio sexual e sobre os movimentos #MeToo e #TimesUp e coloquei algumas reservas sobre a forma como este assunto se estava a radicalizar, sem colocar em causa a importância da denúncia e a penalização do autor do assédio (homem ou mulher).
Imagem retirada da Internet
Quando tive conhecimento dos dados divulgados pelo MJ sobre as penas aplicadas aos agressores sexuais em Portugal, veja-se que neste caso não se trata apenas de assédio, mas de toda a gama de crimes de agressão sexual, não fiquei surpreendido pela leveza com que a justiça portuguesa penaliza estes crimes e, pensei cá para comigo, o Código Penal Português e quem o aplica refletem um pensamento, quiçá maioritário na sociedade, que se traduz na desculpabilização do agressor e, por conseguinte, na constatada impunidade que os dados do MJ, em minha opinião, vieram comprovar.
Estes dados e o pensamento que lhes confere “legitimidade” e aceitação social decorrem de uma herança cultural que, pensava eu, já estivesse diluída e apenas subsistisse numa pequena franja da sociedade portuguesa, mas não. Seja quem for o agredido há sempre uma corrente obsoleta e animalesca do pensamento que lhe atribui parte da culpa, ou seja, o cenário é montado de forma a que o agressor seja beneficiado por atenuantes que resultam de interpretações subjetivas do comportamento da vítima e das leituras, em minha opinião abusivas, que é feita no julgamento popular, mas também nos tribunais.
E se alguns dos crimes de agressão sexual decorrem de comportamentos patológicos, nem todos aqui são enquadráveis, muitos deles resultam da ancestral aceitação de comportamentos que conformam agressões sexuais e, sobre os quais continua a existir, eu diria, indiferença social que acaba por se transformar numa tácita desculpabilização dos agressores.
Temos um longo caminho a percorrer para que esta e outras heranças culturais se diluam na construção do ser social que tanto nos esforçamos por ser.
Ponta Delgada, 09 de Outubro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 10 de Outubro de 2018

... da aceitação

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Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos.




(...) Quando tive conhecimento dos dados divulgados pelo MJ sobre as penas aplicadas aos agressores sexuais em Portugal, veja-se que neste caso não se trata apenas de assédio, mas de toda a gama de crimes de agressão sexual, não fiquei surpreendido pela leveza com que a justiça portuguesa penaliza estes crimes e, pensei cá para comigo, o Código Penal Português e quem o aplica refletem um pensamento, quiçá maioritário na sociedade, que se traduz na desculpabilização do agressor e, por conseguinte, na constatada impunidade que os dados do MJ, em minha opinião, vieram comprovar. (...)

Não era fácil, mas aconteceu

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Entre dois dos temas que tinha alinhado para hoje, a impunidade dos agressores sexuais e as eleições presidenciais no Brasil, escolho o ato eleitoral brasileiro sobre o qual, de momento, ainda não se conhecem resultados, mas as primeiras projeções apontam para uma segunda volta entre o candidato da extrema direita e o candidato apoiado pelo PT e pelo PCdoB. Este é um cenário que Bolsonaro não deseja, mas é o quadro que mantém a esperança de que o Brasil não seja entregue ao representante dos setores mais retrógrados da sociedade brasileira e que a frágil democracia daquele país possa sobreviver. Sim, é disso que se trata da defesa da democracia.
O Brasil é um país que tem dimensão e recursos, naturais e humanos, para garantir ao seu povo a dignidade que lhe tem sido confiscada por uma elite que é herdeira da estrutura colonial que cultiva a supremacia de um grupo humano sobre outros grupos humanos e, julgo que não será necessário elencar os atributos do candidato que representa esse pensamento para, nesta primeira volta, os cidadãos brasileiros terem votado em qualquer outro candidato.
Se as projeções se vierem a confirmar, Bolsonaro e toda a estratégia orquestrada, interna e externamente, para o colocar no poder sofrem uma derrota e fica aberto o caminho para que o povo brasileiro acabe com este pesadelo que não se confina às fronteiras do Brasil.
O crescimento eleitoral de personalidades e forças políticas ideologicamente próximas, ou mesmo assumidamente confessas da supremacia de um grupo humano sobre outros é, num olhar breve, inexplicável e levanta, desde logo, a questão, Será que não aprendemos nada com a história do Século XX. Mas se o olhar pousar sobre as raízes desse crescente apoio eleitoral, então talvez não seja assim tão difícil de entender, embora não deixe de ser paradoxal, pois esse apoio cresce entre as suas próprias vítimas, ou seja, as populações mais fragilizadas social e economicamente e, muitas vezes, desprovidas de direitos básicos, como por exemplo o direito ao trabalho. Mas este é um assunto que merece uma abordagem própria e hoje interessa-me olhar para o Brasil.

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Quando iniciei este texto tratava-se de um desejo, mas a esperança é já uma realidade. Os eleitores brasileiros ditaram uma segunda volta nas presidenciais brasileiras. O tal cenário que os mandantes de Bolsonaro não queriam e que o próprio tanto temia, O debate democrático. Se até agora o candidato da extrema direita fugiu ao debate e se escondeu nas redes sociais para evitar o confronto de ideias, de projetos e programas, como principal estratégia eleitoral, a partir de agora não será mais possível, sob pena de a sua candidatura se esboroar junto da maioria do eleitorado por falta de comparência.
A segunda volta das presidenciais brasileiras é um fracasso de Bolsonaro e da estratégia dos seus mandantes, por outro lado mantém as portas abertas para que a derrota total possa ser confirmada no dia 28 de Outubro pois, no debate público Bolsonaro não tem o que dizer a não ser as suas conhecidas atoardas racistas, sexistas, homofóbicas, ou a sua conhecida proposta para reduzir o número de pobres, ou seja, esterilizando-os para não proliferarem.
As próximas semanas serão de trabalho árduo para todos quantos no Brasil querem afastar o espectro de um ditador sentado no Palácio do Planalto.
Ponta Delgada, 07 de Outubro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 08 de Outubro de 2018

terça-feira, 9 de outubro de 2018

... dos paradoxos


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Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos.





(...) O crescimento eleitoral de personalidades e forças políticas ideologicamente próximas, ou mesmo assumidamente confessas da supremacia de um grupo humano sobre outros é, num olhar breve, inexplicável e levanta, desde logo, a questão, Será que não aprendemos nada com a história do Século XX. Mas se o olhar pousar sobre as raízes desse crescente apoio eleitoral, então talvez não seja assim tão difícil de entender, embora não deixe de ser paradoxal, pois esse apoio cresce entre as suas próprias vítimas, ou seja, as populações mais fragilizadas social e economicamente e, muitas vezes, desprovidas de direitos básicos, como por exemplo o direito ao trabalho. (...)

sábado, 6 de outubro de 2018

A atualidade e o antidogmatismo da teoria marxista - crónicas radiofónicas

Imagem retirada da Internet






Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 21 de Julho de 2018 que pode ser ouvida aqui





A atualidade e o antidogmatismo da teoria marxista

Um pouco por todo o Mundo, com maior ou menor expressão pública e mediatismo, em 2018, assinala-se o bicentenário do nascimento de Karl Marx.
Em Portugal o PCP um pouco por todo o território nacional tem promovido um conjunto de iniciativas para assinalar, por um lado II Centenário do nascimento de Karl Marx, mas também com o intuito de divulgar a atualidade do seu pensamento, a sua obra e combater algumas ideias preconcebidas sobre a teoria marxista. Teoria que pela sua própria natureza materialista e dialética é antidogmática, ou seja, não se cristaliza em conceitos abstratos e intemporais, é expressão do próprio movimento da sociedade, enriquece-se constantemente com os progressos da ciência e a ação e reflexão do movimento comunista e revolucionário internacional.

Foto by Aníbal C. Pires
A Organização Regional da Região Autónoma dos Açores do PCP, no âmbito das atividades que assinalam o II Centenário do nascimento de Karl Marx, promove uma exposição, entre 20 e 31 de Julho, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, sobre a vida e obra de Karl Marx.
Estas iniciativas visam contribuir para que o conhecimento da obra de Karl Marx possa sair da opacidade em que nas últimas décadas a tentaram mergulhar com o propósito de esconder um pensamento e entendimento do Mundo que, quer se queira quer não, quer se goste quer não, está na origem das grandes transformações e avanços sociais que marcaram o século XX.
Álvaro Cunhal num texto sobre a passagem dos 150 anos do Manifesto Comunista (de Marx e Engels), em 1998, é claro quanto à atualidade da teoria marxista e à sua natureza antidogmática e passo a citar, “O Manifesto Comunista é um extraordinário libelo acusatório contra o capitalismo.
Não apenas indicando a situação da classe operária e das massas trabalhadoras: os salários injustos, o desemprego, o tempo e intensidade de trabalho, as discriminações e falta de direitos da mulher, o trabalho infantil, os problemas da habitação e da saúde, o alastramento da pobreza e da miséria. Não apenas apontando medidas necessárias de carácter imediato. Mas também desvendando a natureza e as leis do capitalismo e apontando a necessidade e possibilidade histórica de superá-lo.” Fim de citação.
O tempo tem vindo a demonstrar que esta é uma realidade cada vez mais dramática e que se acentuou com mais uma das cíclicas crises do capitalismo que Marx identificou e referiu como sendo uma das suas caraterísticas intrínsecas.
Quanto ao caráter antidogmático da teoria marxista diz, no mesmo texto, Álvaro Cunhal – “ As teorias de Marx e Engels, das quais o Manifesto Comunista faz uma primeira síntese, revolucionaram o pensamento e as sociedades no século XX.
A sua expansão mundial foi possível por explicar o que até então não tinha explicação. Sobre a relação do ser humano com a natureza que o envolve. Sobre as contradições e história das sociedades. Sobre a economia capitalista e suas leis. Sobre a atualidade da construção revolucionária de uma nova sociedade. Porque científicas e dialéticas, teorias abertas à reflexão e contrárias à própria cristalização.
Foto by Aníbal C. Pires
As conquistas das ciências, as transformações provocadas pelas novas tecnologias, a internacionalização a nível mundial dos processos produtivos, as alterações na composição do proletariado, obrigaram e obrigam a novas respostas e a um novo rigor dos princípios teóricos.
Curioso que certos estudiosos, quando falam do marxismo, investigam o pensamento de Marx antes de este ter formulado as grandes conclusões teóricas. Ou seja: de quando Marx ainda não era marxista. O marxismo há que considerá-lo em movimento, acompanhando a vida.” Fim de citação.
Esta iniciativa para além de celebrar o bicentenário de Karl Marx, tal como já referi, pretende desconstruir a ideia de que a teoria marxista está ultrapassada, nada mais contraditório. Uma teoria que assenta os seus fundamentos no materialismo dialético  que, em si mesmo rejeita as verdades absolutas e confia no conhecimento científico não perde atualidade e muito menos se extingue, embora essa seja a vontade de quem mantém a opressão sobre os povos e é responsável pela recrudescimento de hodiernas formas de exploração, mas que não deixam, essas sim, de serem tão velhas nos princípios como os que norteiam a atual e globalizada exploração capitalista.

Fique bem.
Eu voltarei, assim o espero, no próximo sábado.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 21 de Julho de 2018

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Nota negativa para a SREC

Foto by Aníbal C. Pires
Nem só de obras necessita a Educação. Sim porque essas, as obras, vão-se concretizando com mais ou menos atraso, ou com prioridades que ninguém entende. São Escolas novas, manutenções e requalificações de edifícios escolares, muitos milhões de euros que nem sempre correspondem às necessidades, não por ser insuficiente o investimento, mas porque os destinatários e utilizadores, ou seja, os principais interessados constatam que afinal os projetos concretizados nem sempre, não é grande novidade, são adequados às necessidades e o produto final resulta em espaços mal dimensionados para a função e, espaços sem função. As opções parecem satisfazer os projetistas e construtores, mas deixam muito a desejar quanto à funcionalidade e utilidade a que se destinam.
Mas não é de uma avaliação aos investimentos em infraestruturas escolares de que se trata esta breve reflexão sobre a Educação na Região. Nem esta abordagem poderá ser muito exaustiva, uma vez que se trata de uma coluna de opinião limitada pelo espaço.
Assim, deixo apenas alguns exemplos para sustentar o título com que designo este texto.
Não sei de onde partiu a orientação, mas ela chegou aos departamentos curriculares vinda do órgão pedagógico das Escolas, logo terá tido a sua origem na tutela. Possivelmente não se encontrará reduzida a escrito em nenhum documento emanado da SREC/DRE/ProSucesso, pois contraria tudo, mas mesmo tudo o que é princípio pedagógico, tendo em consideração que os percursos educativos podem e devem ser diferenciados e adaptados à realidade de cada Escola, de cada Turma e de cada aluno. Pois bem a orientação que foi dada aos docentes do ensino básico resume-se ao seguinte: “As aulas têm que ser planificadas com base nas competências essenciais, esqueçam o programa da disciplina, pois as provas são feitas com base nas aprendizagens essenciais.” E pergunta o leitor, o aluno o pai e o cidadão, Quais provas. E digo eu, por exemplo provas de aferição realizadas a meio dos ciclos de ensino básico e cuja utilidade é, como está bom de ver, nenhuma, para além do facto de serem contranatura, uma vez que a organização por ciclos de ensino tem como objetivo respeitar, por um lado a gestão pedagógica das Escolas e dos docentes e, por outro os próprios ritmos de aprendizagem dos alunos. Acresce ainda que as provas não são regionalizadas. Dir-me-ão, E muito bem se somos um país para quê provas diferentes. E eu dir-lhe-ei sem ter de discorrer sobre a defesa da autonomia regional, mas, mal ou bem, na Região a partir dos consulados do PS Açores foram introduzidas alterações curriculares e no modelo de avaliação no Ensino Básico, ou seja, para o melhor ou para o pior, existem diferenças entre a organização curricular do Ensino Básico na Região e a organização curricular nos Ensino Básico no território continental. Logo, não faz sentido que quer as provas quer a elencagem das “aprendizagens essenciais” chegue às escolas da Região com o timbre do Ministério da Educação, aliás esta prática começa a ser comum o que leva os educadores e professores a questionarem-se, cada vez mais, sobre a utilidade da Secretaria Regional da Educação. Este exemplo leva-me a afirmar o seguinte: Nem no tempo dos governos do PSD Açores. Nunca pensei vir a dizê-lo e muito menos deixá-lo escrito. Mas na verdade na década de 80 a Direção Regional de Orientação Pedagógica (DROP), alguns docentes ainda se lembram deste acrónimo, nas escolas costumava brincar-se com a utilidade da DROP que, ao contrário da Direção Regional da Administração Escolar (DRAE) que na sua intervenção sempre discriminou positivamente os trabalhadores docente e não docentes, mas como dizia a DROP pouco mais fazia do que substituir, nas orientações que enviava para as escolas, o timbre do Ministério da Educação pelo seu.

Foto by Aníbal C. Pires
Para reforçar a inoperância da SREC e da sua direção regional para os assuntos da Educação ficam mais estes exemplos.
- um défice de pessoal auxiliar que é suprido com recurso a desempregados em programas ocupacionais, muitos deles sem qualquer formação para o exercício das funções, facto que claramente diminui a qualidade do apoio;
- subfinanciamento dos orçamentos das Unidades Orgânicas; e
- graves carências na formação, por falta de financiamento, de pessoal docente e não docente.
A lista é como uma história interminável, mas este espaço é finito. Posso não ter escolhido os melhores exemplos, mas com estes posso, seguramente, atribuir nota negativa à SREC.

Ponta Delgada, 02 de Outubro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 03 de Outubro de 2018

terça-feira, 2 de outubro de 2018

... da inutilidade

Foto by Aníbal C. Pires





Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos.






(...) Acresce ainda que as provas não são regionalizadas. Dir-me-ão, E muito bem se somos um país para quê provas diferentes. E eu dir-lhe-ei sem ter de discorrer sobre a defesa da autonomia regional, mas, mal ou bem, na Região a partir dos consulados do PS Açores foram introduzidas alterações curriculares e no modelo de avaliação no Ensino Básico, ou seja, para o melhor ou para o pior, existem diferenças entre a organização curricular do Ensino Básico na Região e a organização curricular nos Ensino Básico no território continental. Logo, não faz sentido que quer as provas quer a elencagem das “aprendizagens essenciais” chegue às escolas da Região com o timbre do Ministério da Educação, aliás esta prática começa a ser comum o que leva os educadores e professores a questionarem-se, cada vez mais, sobre a utilidade da Secretaria Regional da Educação. (...)

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

De novo, apenas a liderança

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O PSD Açores tem um novo Presidente. Não tinha nenhum prognóstico, logo não fui surpreendido pelo resultado, nem a minha opinião interessaria aos militantes do PSD, aliás mais do que a personalidade que vai assegurar a liderança do PSD Açores, julgo que não será por muito tempo não por qualquer demérito do Alexandre Gaudêncio, mas pela natureza depredadora de lideranças que é intrínseca ao PSD, mas como dizia mais do que saber quem lidera interessa-me conhecer o seu projeto político, o projeto do PSD, não do líder, afinal o PSD já governou na Região e na República, alternando com o PS, e, como tal, tenho interesse em perceber o que vai mudar, se é que alguma coisa vai mudar. Aguardo pelo congresso do PSD Açores para, então sim, conhecer como os “sociais democratas” açorianos avaliam a atual situação política, social, cultural e económica da Região, a que se propõem para resolver as questões que identificarem e, sobretudo, o que os pode diferenciar do seu gémeo político sem “D”, o PS.

Imagem retirada da Internet
Há, contudo, alguns aspetos que sendo exclusivamente da vida interna do PSD, vão alimentar as conversas de corredor, de café, da soleira da porta, ou para quem prefere o sossego do sofá e a interação virtual, muitas vezes sobre a capa anonimato garantido por falsos perfis e pouca coragem, opta pelas publicações e comentários nas redes sociais, é mais cómodo e, sobretudo, um exercício espúrio que pouco, ou nada, se assemelha ao exercício da cidadania e da participação cívica e política, sem o recurso a subterfúgios, a que todos temos direito e que temos o dever de exercer.
Alguns desses temas marginais já começaram a ser objeto de alguma especulação e vão aprofundar-se mantendo a turba entretida e esperançada de que este, aquele e o outro militante, pela aposta no candidato errado, tendo garantido compromissos para o seu futuro político próximo, seja banido e os seus interesses colocados em causa pela nova liderança. Ou seja, reduzindo a construção de um projeto político a, como já disse, assuntos marginais centrados em pessoas e quezílias pessoais.
Transformar e aceitar tranquilamente que, qualquer que seja a organização partidária, a discussão “política” se resuma à dança de cadeiras e cargos partidários tem sido prática que alimenta a agenda mediática e popular. Enquanto isso o essencial vai passando ao lado de quem perde tempo e reduz a discussão, apenas e só, a estas questões que, sejamos pragmáticos, nada acrescentam aos projetos políticos. Não quero, não é essa a ideia, retirar a importância que as personalidades têm nas organizações, sejam elas partidárias ou não.
As caraterísticas e contributos individuais são importantes se potenciadas para a construção de projetos coletivos, no caso dos projetos de índole política existem ainda outros fatores, alguns deles exógenos às organizações partidárias, mas que integram a sua natureza orgânica e ideológica que contribuem para a construção dos seus projetos políticos que, bem vistas as coisas, pouco mudam a não ser no “upgrade” semântico. Mas ainda quanto à importância das personalidades que lideram as organizações. Há quem consiga ser mobilizador e juntar vontades e há quem, de todo, não o seja. Depende da personalidade, mas a mobilização e a agregação de apoios fazem-se, ou deviam fazer-se, à volta de projetos. Isto se cada um de nós quiser contribuir para o interesse público, independentemente dos caminhos que consideramos ser mais acertados para o servir. Se a ideia é retirar dividendos pessoais então que se discutam as personalidades que lideram e as que aclamam o líder.
A realização de eleições para as lideranças partidárias, fora do contexto do congresso, retira à realização da reunião magna partidária grande parte do seu objetivo e reduz a importância dos projetos dos seus projetos políticos. Dirão os eleitores que esta minha opinião se deve à minha opção ideológica e à natureza do partido onde milito, Sem dúvida. Mas esta opinião é partilhada por um número crescente de militantes de partidos que optaram pela eleição direta dos seus líderes, o que não deixa de ser interessante e deveria ser motivo de reflexão interna nos partidos em que a prática é essa.
Ponta Delgada, 30 de Setembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 01 de Outubro de 2018