quarta-feira, 23 de março de 2016

Da exposição "Tocar o Mundo" (10)

Urgência(s)

Um tímido sorriso
Um rubor na face
Um silêncio que fala
Uma palavra ciciada
Um olhar ávido
E acontece
Inesperado
O beijo, o abraço
E as palavras, o sorriso, o olhar e o silêncio
Acatam a vontade
Do corpo, e calam
Perante a urgência
Que desponta
Dos corpos enlaçados
Apressados pelo momento
Desnudam-se, colam-se
Agitados, quentes, suados
Fundem-se ofegantes
Num imenso frenesim
Apelam a Deus
E a urgência chegou ao fim


Aníbal C. Pires, Santa Cruz da Graciosa, 26 de Março de 2015

São 10 aguarelas, 10 poemas, 10 músicas e uma voz que declama. A exposição está aberta ao público até ao dia 16 de Abril, no Centro Municipal de Cultura em Ponta Delgada.
Aqui podem ver e ouvir "Urgência(s)"

Vale mais prevenir do que remediar

Os indícios que apontam para um elevado grau de perigosidade dos herbicidas cujo princípio ativo é o Glifosato têm vindo a avolumar-se de forma cada vez mais clara. Perigos, desde logo, para a saúde humana. Diferentes estudos científicos demonstraram a presença desta substância no sangue, urina e mesmo no leite materno, em quantidades extremamente elevadas, e associam-na a patologias gravíssimas, desde malformações congénitas, autismo, efeitos desreguladores hormonais, cardiotóxicos e carcinogénicos. Só por esse facto devia ser acionado, como referiu o Bastonário da Ordem dos Médicos, o princípio da precaução. E porque a União Europeia e o País ainda não tomaram medidas precaucionarias a Representação Parlamentar do PCP Açores propôs, na ALRAA, um Decreto Legislativo Regional que proibia a sua utilização, comercialização e libertação nos Açores. O PS e os partidos da direita parlamentar uniram-se para chumbar esta proposta do PCP.
Mesmo que possam ser considerados como não conclusivos, ou insuficientemente alargados e sistemáticos, estes estudos científicos justificavam plenamente a tomada de medidas de precaução, ou seja, a sua proibição.
O PS e a direita parlamentar optaram por proteger a venda de herbicidas e os interesses das grandes multinacionais que o fabricam e comercializam, quando a decisão prudente e avisada deveria ser a de apoiar a proposta do PCP que visava proteger a saúde dos açorianos de um perigo que cada vez mais se confirma como real
E, e a proteção da saúde dos açorianos não fosse uma razão suficientemente forte para proibir, de imediato, estes herbicidas, poderíamos ainda acrescentar a questão ambiental. É que a permanência do Glifosato no solo e a sua infiltração nas linhas de água, tem efeitos desconhecidos, mas provavelmente muito destrutivos sobre as plantas e os animais, afetando seriamente os ecossistemas das nossas ilhas.
A biodiversidade do solo é condição indispensável de produções agrícolas saudáveis, bem como a presença de insetos polinizadores, que são comprovadamente afetados pelo Glifosato.
Não basta publicitar para os turistas que somos uma Região ecológica, onde o património natural é protegido e existem padrões de excelência ambiental. Temos que o ser na prática e não apenas no marketing.
E esse era também um objetivo da proposta da Representação Parlamentar do PCP, pôr os Açores na vanguarda da proteção ambiental, dando o exemplo e juntando-nos a um já vasto conjunto de cidades, regiões e países onde o uso desta substância é proibido.
Um dos argumentos para a reprovação pelo PS, PSD, CDS/PP e PPM foi a falta de alternativas disponíveis para substituir os herbicidas com Glifosato mas a verdade é que para além de métodos tradicionais importa saber que 35% dos herbicidas disponíveis no mercado não contêm este princípio ativo
As alternativas ecológicas existem e funcionam. Exigem, é verdade uma maior atenção e frequência na sua aplicação, mas permitem quebrar a dependência de herbicidas poluentes e que representam um sério atentado ao nosso ambiente e um gravíssimo risco para a saúde pública.
Velas (S. Jorge), 21 de Março de 2016
 
Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 23 de Março de 2016 

Da exposição "Tocar o Mundo" (9)

É doce o teu olhar

O teu olhar ausente
Na imensidão do mar
Na infinidade do deserto
Na utopia que persegues
Sem sossego e sem tréguas

O teu olhar ausente
Regressou faiscando
Num perturbador
E provocante azul

O teu olhar pousa em mim
Agora é doce o teu olhar
Doce da cor do mel
Fala de amor e do sonho
Que vive em ti

O teu olhar presente
Afaga a minha alma
Dissipa as sombras
Ilumina o meu caminho


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 23 de Janeiro de 2016

São 10 aguarelas, 10 poemas, 10 músicas e uma voz que declama. A exposição está aberta ao público até ao dia 16 de Abril, no Centro Municipal de Cultura em Ponta Delgada.
Aqui podem ver e ouvir "É doce o teu olhar"

terça-feira, 22 de março de 2016

O fomento da precariedade

Apesar do esforço da propaganda do Governo Regional a realidade não é cor-de-rosa. Os Açores são hoje das regiões do país com maiores índices de precariedade laboral. A provar esta afirmação um exemplo esclarecedor, no nosso arquipélago 90% dos novos contratos de trabalho não são permanentes. Apenas um em cada dez trabalhadores consegue alguma estabilidade no seu vínculo laboral na nossa Região.
Não é por acaso, nem por acidente. Se uma grande parte desta situação decorre das décadas de regressão dos direitos laborais e de flexibilização da legislação laboral, sempre contra os trabalhadores promovida pelos sucessivos governos do PS e do PSD, com coligações pontuais do CDS e, claro está, do resultado desastroso das suas políticas económicas que criaram um desemprego massivo, nunca antes atingido na história de Portugal democrático, a verdade é que a própria Região, o próprio Governo Regional, a promover ativamente a precariedade dos trabalhadores, a degradação das suas condições laborais e, mais recentemente, a instituir um sistema de reprodução e eternização de vínculos precários, nunca antes visto.
Esta continuada promoção da precariedade laboral, no sector público e privado, por parte do Governo Regional é inegável e tem-se processado de múltiplos modos e formas e passa muitas vezes por programas cujos objetivos parecem úteis e meritórios, mas que na prática, são sistematicamente subvertidos em prejuízo dos trabalhadores.
A enumeração das dezenas de programas de promoção de emprego seria fastidiosa, mas podem-se agrupar em quatro grandes categorias: programas de criação do próprio emprego, de subsídio à contratação, de estágios e de programas ocupacionais, que partilham vários vícios que os subvertem, legalizando situações abusivas, por vezes desumanas e sempre, sempre, lesivas para os trabalhadores.
Estes programas contribuem para situações de uma inaceitável exploração dos trabalhadores desempregados, que em muitos casos não podem recusar as funções que lhes são atribuídas, tenham ou não formação, vocação ou capacidade, sob pena de perderem o subsídio de desemprego de que dependem para sobreviver; que são sujeitos a remunerações miseráveis, abaixo do salário mínimo depois dos descontos obrigatórios, tendo de fazer face a custos de transporte e alimentação; que são forçados a trabalho por turnos ou horários irregulares, impedindo qualquer conciliação com a vida familiar ou assistência à família.
É uma quádrupla desgraça, como sabem bem os chamados “beneficiários” dos programas destes programas: prestam serviço mas não têm emprego, têm deveres mas não direitos, produzem mas não recebem salário, apenas subsídio; trabalham mas não são trabalhadores.
E isto é apenas o que é legal, ou que está formalmente legalizado pelos regulamentos do Governo Regional. Porque para lá do regulamentado, os abusos são muitos, graves e acontecem na Administração Pública regional. Um exemplo é o caso lamentável, que veio recentemente a público, do centro de resíduos da Câmara da Horta, onde os trabalhadores de programas ocupacionais trabalham na lixeira e na separação de lixo sem terem o indispensável equipamento de proteção e segurança.
Mas o abuso mais comum, que parece ser sistemático, em particular em relação aos programas ocupacionais, é o desempenho de funções essenciais e indispensáveis para os serviços pelos “beneficiários” dos programas ocupacionais, que assim são utilizados para substituir necessidades de trabalho permanente, às quais devia corresponder um posto de trabalho efetivo.
Ponta Delgada, 20 de Março de 2016
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 21 de Março de 2016

segunda-feira, 21 de março de 2016

Da exposição "Tocar o Mundo" (8)

A cores

Sou ilha de lava
Nascida do fogo
E do caos telúrico
Que o tempo serenou
A desordem deu lugar à quietude
A escuridão à luz
E despontei verde
Enlaçada de azuis


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 17 de Março de 2015

São 10 aguarelas, 10 poemas, 10 músicas e uma voz que declama. A exposição está aberta ao público até ao dia 16 de Abril, no Centro Municipal de Cultura em Ponta Delgada.
Aqui podem ver e ouvir "A cores"

domingo, 20 de março de 2016

Da exposição "Tocar o Mundo" (7)

Retalhos da vida

Em constante inquietude
Percorro a existência
Nem sempre linear
Tantas vezes sinuosa
Guardo todos os instantes
Nem sempres a cores
Tantas vezes cendrados
Estes instantes 
São pedaços de mim
Com estes retalhos
Caminho pela vida
Com o passado presente
E o futuro no olhar

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 16 de Março de 2015


São 10 aguarelas, 10 poemas, 10 músicas e uma voz que declama. A exposição está aberta ao público até ao dia 16 de Abril, no Centro Municipal de Cultura em Ponta Delgada.
Aqui podem ver e ouvir "Retalhos da vida"

sábado, 19 de março de 2016

Da exposição "Tocar o Mundo" (6)

Sombras e cinzentos

Esse temor 
Que te amarra
Essa mordaça
Que te contém
Essa grilheta
Que te priva
Essa máscara
Que te alucina
Não te atormentes
Descobre o teu caminho
Despedaça os medos
Rasga as mordaças 
Quebra as grilhetas
Arranca a máscara
Troca o medo pelo sonho
A mordaça pela palavra
A grilheta pela liberdade
A máscara pela claridade
Habita o teu sonho
Numa fantasia
Sonhada a cores
Com sombras e cinzentos

Aníbal C. Pires, Horta, 23 de Fevereiro de 2015

São 10 aguarelas, 10 poemas, 10 músicas e uma voz que declama. A exposição está aberta ao público até ao dia 16 de Abril, no Centro Municipal de Cultura em Ponta Delgada.
Aqui podem ver e ouvir "Sombras e cinzentos"

sexta-feira, 18 de março de 2016

Da exposição "Tocar o Mundo" (5)

Perseverança 

Estava entreaberta
Com estrondo
Bateu ao fechar
O ruído sacudiu
A vontade  
O instante doeu
Por momentos
O brilho do teu olhar
Deslustrou-se 
Ferido(a)
Vacilaste sem capitular
A determinação
Regressou 
Faiscante  
Ao teu olhar
Procurando
Outros fados
Outros lugares
Caminhos para andar
Portas por abrir
De par em par

Aníbal C. Pires, Horta, 24 de Novembro de 2014



São 10 aguarelas, 10 poemas, 10 músicas e uma voz que declama. A exposição está aberta ao público até ao dia 16 de Abril, no Centro Municipal de Cultura em Ponta Delgada.
Aqui podem ver e ouvir "Perseverança"

quinta-feira, 17 de março de 2016

Da exposição "Tocar o Mundo" (4)

Amores fortuitos

Os amantes casuais
Amam 
Sem prazo
Nem tempo
Amam
Com sofreguidão
Fundem-se
Famintos
No deleite
Dum momento
Irrepetível

Os amantes casuais
Amam
Com a avidez
Incontrolada dos sentidos
Amam
Sem ponderar
Desfrutam somente
O prazer de ocasião
Amam
O sôfrego instante
De amores fortuitos
Sem prazo 
Nem tempo  

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 24 de Julho de 2014


São 10 aguarelas, 10 poemas, 10 músicas e uma voz que declama. A exposição está aberta ao público até ao dia 16 de Abril, no Centro Municipal de Cultura em Ponta Delgada.
Aqui podem ver e ouvir "Amores Fortuitos"

terça-feira, 15 de março de 2016

Da exposição "Tocar o Mundo" (3)

Raízes

Caminho pela vida
Carregando as origens
Não são um fardo
É energia que sorvo das raízes
A seiva onde me alimento
Nas memórias e ausências
Da vida passada, saudade
Das palavras e afetos
Onde me aconchegava
Cresci e aprendi contigo
A ser quem sou
Foste a origem, o alicerce
Somos um só, e tudo
O que foste, o que sou
Uma árvore errando pela vida


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 09 de Fevereiro de 2016


 São 10 aguarelas, 10 poemas, 10 músicas e uma voz que declama. A exposição está aberta ao público até ao dia 16 de Abril, no Centro Municipal de Cultura em Ponta Delgada.
Aqui podem ver e ouvir "Raízes"

segunda-feira, 14 de março de 2016

Da exposição "Tocar o Mundo" (2)

Tempo Norte

Uma espessa bruma
Cálida e húmida
Envolve a cidade de cinzento
Invade os corpos de enfado
E as razões de melancolia
Uma amena brisa
Vinda do Norte
Afasta as neblinas
E a cidade cinzenta
Ganha cor e sorri
Em gradientes de azul
De mar e céu
A cidade cinzenta
Vestida de mil cores
Ganha alento e sorri
Ao tempo Norte

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 08 de Fevereiro de 2016


São 10 aguarelas, 10 poemas, 10 músicas e uma voz que declama. A exposição está aberta ao público até ao dia 16 de Abril, no Centro Municipal de Cultura em Ponta Delgada.

Aqui podem ver e ouvir "Tempo Norte"

domingo, 13 de março de 2016

Da exposição "Tocar o Mundo" (1)

Amores-perfeitos

Chegam do Mundo
Pelos carreiros da vida
Por acaso ou atrás do sonho
Vivem nestes picos 
Despontados das profundezas atlânticas
Adornados de verde
Sob um céu
Nem sempre mas também azul
Como o mar que acaricia
As pedras negras
Enlaçadas por alva espuma
Aqui procuram
Amores-perfeitos
Fundem-se nos matizes de verde 
Atravessam as míticas brumas
Soltam os cabelos ao vento 
Penetram no azul oceânico
E encontram
O seu Eu e o Outro
Alcançam a inigualável serenidade
Que precede a tempestade
E amam estas ilhas
Num amor feito
De amores-perfeitos

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 08 de Fevereiro de 2016

São 10 aguarelas, 10 poemas, 10 músicas e uma voz que declama. A exposição está aberta ao público até ao dia 16 de Abril, no Centro Municipal de Cultura em Ponta Delgada.

Aqui podem ver e ouvir "Amores-perfeitos"

sexta-feira, 11 de março de 2016

Da mulher

Hoje (ontem) o calendário assinala o Dia Internacional da Mulher. A comemoração deste dia não se deve resumir apenas à evocação de uma efeméride, este é um dia como são todos os outros para as mulheres e homens que lutam pela dignidade humana, sem género. A igualdade de género é indissociável da construção coletiva de uma sociedade onde a todos os seres humanos seja reconhecida igual dignidade. A luta das mulheres pela igualdade de género não é uma luta das mulheres, é uma luta da humanidade.
Em 2015, na cidade da Horta, neste mesmo dia, escrevi um poema a que dei o nome “Lado a Lado”. Hoje partilho com os leitores esse poema, essa ideia de que o caminho da libertação se faz com as mulheres e com os homens.
É um dia
Como são outros, todos os outros
Dias de luta
Contra a indignidade
Que discrimina
A filha, a irmã, a mãe
A companheira, a amiga
Este teu dia, Mulher
Celebra velhas e ganhas contendas
Este teu dia, Mulher
É mais do que recordar
É mais do que celebrar
É um dia
Como são outros, todos os outros
Dias de luta
Pela liberdade do teu sorriso
Por um brilho no teu olhar
Caminho ao teu lado
Lutando contra a indignidade
Que te aprisiona o sorriso
Que te entristece o olhar
Aníbal C. Pires, Horta, 08 de Março de 2015
Fica este meu tributo às mulheres e homens que, hoje e todos os dias, resistem à barbárie e lutam por um Mundo melhor.
Lisboa, 08 de Março de 2016

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 09 de Março de 2016

segunda-feira, 7 de março de 2016

Apesar dos estudos prefiro a SATA

Foto - João Pires
Qualidade dos serviços, gestão de reclamações e pontualidade são os parâmetros que a Air Help utilizou para um “estudo” divulgado a passada semana na comunicação social nacional e internacional, em Portugal o jornal “i” fez manchete com o estudo e o britânico “Independent”, pelo menos na sua versão online, também noticiou o estudo da Air Help.
Antes de abordar os resultados do estudo importa saber, desde logo, quem é a empresa que fez o estudo e qual o seu core business. A Air Help é uma start up, criada nos Estados Unidos, em 2013, e dedica-se a mediar as reclamações dos passageiros, em caso de atrasos, overbookings, cancelamentos, etc., com as transportadoras aéreas. Pelo serviço prestado cobra uma percentagem ao passageiro. Digamos que a Air Help é assim uma organização de defesa dos direitos dos passageiros mas com fins lucrativos. Importa igualmente saber qual a amostra utilizada no estudo pois trata-se de um universo de centenas, direi mesmo, de mais de um milhar de transportadoras aéreas a operar em todo o Mundo. Pois bem foram avaliadas 34 transportadoras aéreas, ou seja, o estudo avaliou três parâmetros de 34 empresas. Uma outra questão, que não é despiciente, é saber que tipo de empresas foram consideradas no estudo pois o modelo de negócio, o tipo de operação e a dimensão da empresa são fatores importantes para evitar leituras enviesadas dos resultados. Não farei aqui a lista das transportadoras mas desde a SATA à Qatar, passando pela British, pela Air France, Lufthansa, KLM, TAP até à Ryanair, Vueling, e a Easyjet, todas elas couberam neste estudo, o que não sendo incorreto não é, pelo menos, uma atitude pouco séria e nada ponderada.
Foto - Aníbal C. Pires
Direi então que não se trata de um estudo, tratar-se-á, porventura, da divulgação de resultados, de um determinado ano, da atividade da Air Help, mas não de um estudo que mereça qualquer credibilidade. Mas o “estudo” teve essa credibilidade porque a comunicação social fez notícia e manchetes com os resultados divulgados pela Air Help, facto que me transporta para outra dimensão do problema. Que papel e objetivo pretenderam atingir o jornal “i” e o “Independent” com as suas manchetes e notícias que centraram o alvo da sua atenção na TAP, a quinta pior e, a SATA a pior, entre as piores, companhias aéreas do Mundo. Lembro que o espaço aéreo para duas das rotas açorianas está liberalizado e que, quer a TAP quer a SATA operam nesse mercado e, ainda, que a Bolsa de Turismo dos Açores (BTL) estava a decorrer quando este “estudo” da Air Help foi divulgado, nos moldes em que o foi. Quem ganha e quem perde com este tipo de informação, E, sobretudo, Quem pagou e como pagou as manchetes.
A comunicação social tem vindo a deixar cair a máscara e cada vez é mais visível que o modo como informa está a perder o in e, a ser só e cada vez mais forma. Forma a opinião e não informa e, não é por acaso.
A comunicação social tem de facto esse objetivo basta ler alguns estudos, esses sim credíveis e validados cientificamente, sobre a manipulação da opinião pela comunicação social para separar o trigo do joio, sendo que é cada vez mais difícil encontrar trigo. Veja-se, por exemplo, a capa da passada quarta-feira do “Correio dos Açores” em que se afirmava que a SATA ia abandonar a rota de Boston e retomar a rota para Providence, no dia seguinte a capa do mesmo jornal dava o dito por não dito e afirmava que a SATA ia reforçar a operação para Boston e retomar, com periodicidade semanal, uma ligação a Providence. Terá sido só a incúria de não ter validado a informação junto de outras fontes ou o “Correio dos Açores” terá tido outros propósitos. A leviandade do “Correio dos Açores”, quero crer que foi disso que se tratou, prejudicou a SATA, porquanto daí resultou que nesse dia não houve lugar a reservas para a rota de Boston e algumas reservas já efetuadas foram canceladas.
Foto - Aníbal C. Pires
Os estudos sobre as organizações destinam-se a contribuir para melhorar o seu desempenho, ou assim deveria ser. Mas nem sempre é assim e os estudos sucedem-se por encomenda e com objetivos bem definidos de modo a apresentarem os resultados e conclusões ao sabor dos interesses de quem os financia.
Sobre a SATA todos temos opinião e, quiçá, a maioria de nós temos até algumas críticas a fazer sobre a qualidade do serviço, as respostas e as não respostas às reclamações e, sobre o cumprimento dos horários dos voos, ou seja, a pontualidade, mas daí a denegrir a imagem da transportadora aérea açoriana classificando-a como a pior do Mundo, como fez o jornal “i” vai uma grande diferença. Cá por mim continuo a preferir a SATA.
Lisboa, 07 de Março de 2016

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 07 de Março de 2016

domingo, 6 de março de 2016

95.º aniversário do PCP



Para assinalar o 95.º aniversário do PCP fica este poema de Pablo Neruda

AO MEU PARTIDO

Deste-me a fraternidade com os desconhecidos.
Juntaste a mim a força de todos os que vivem.
Voltaste a dar-me a pátria como num nascimento.
Deste-me a liberdade que não tem quem está só.
Ensinaste-me a acender a bondade como o lume.
Deste-me a retidão de que precisava a árvore.
Ensinaste-me a ver a unidade e a diferença dos irmãos.
Mostraste-me como a dor de um ser morreu na vitória de todos.
Ensinaste-me a dormir na cama dura dos que são meus irmãos.
Fizeste-me construir sobre a realidade como sobre a rocha.
Fizeste-me inimigo do malvado e muro do colérico.
Fizeste-me ver a claridade do mundo e como é possível a alegria.
Fizeste-me indestrutível pois contigo não termino em mim próprio.

Pablo Neruda

quarta-feira, 2 de março de 2016

Tocar o Mundo


No dia 10 de Março pf terá lugar, no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada, a inauguração da exposição "Tocar o Mundo" - Aguarelas de Ana Rita Afonso.

A exposição vai ficar mas a inauguração da exposição será um momento ir-re-pe-tí-vel.
Poemas do Aníbal, a voz do Nelson e a viola do Rafael, para as aguarelas da Ana Rita. Um texto da Renata Correia Botelho para todos eles e, também, para quem vier assistir a este momento ir-re-pe-tí-vel.

Depois, Bem depois ficam as aguarelas da Ana Rita, na Sala do Forno até meados de Abril, para contemplar, as palavras do Aníbal para ouvir na voz do Nelson Cabral e os sons que o Rafael Carvalho arranca magistralmente da viola da terra.

as mais lidas

Foto - Aníbal C. Pires

Em dia de 8.º aniversário divulgo as 10 publicações mais lidas no"momentos"

1.º Espaço aéreo liberalizado. Alegrias e tristezas

2.º A SATA vem. E as outras, Virão

3.º Transportes aéreos (SATA, Aerovip e Windavia) 

4.º A SATA regressou ao tempo da "Caça às Bruxas"

5.º A SATA vai ter de explicar

6.º Rendimento e desemprego

7.º SATA 2014 - Cronologia de um pré-conflito

8.º O baile

9.º Usou e não pagou

10.º A SATA e uma co-piloto (estória de Verão)

Realidade e estatísticas

Foto - Madalena Pires
Segundo as estatísticas oficiais, os números do desemprego nos Açores têm vindo a baixar, ainda que as conclusões inferidas sejam comunicadas conforme dá mais jeito a quem o faz. Se o anúncio for feito pelo Governo Regional a comparação é feita com o mês homólogo, com o mês ou o trimestre anterior, Enfim desde que a comparação indicie a diminuição do desemprego o Governo Regional propagandeia o facto e ficamos todos satisfeitos. Todos não, porque há sempre quem se lembre dos cidadãos que emigraram nos últimos meses e anos, de quem já não está inscrito nos centros de emprego porque perdeu o direito a estar e, dos muitos milhares de açorianos que estão em integrados em programas de estágios e nos programas e programinhas ocupacionais.
Os números do Instituto Nacional de Estatística e as análises que sobre eles são produzidas são legítimos, números são números, mas a realidade do desemprego nos Açores anda bem distante do que os números nos dizem. A taxa real de desemprego na Região é bastante superior ao que os números nos dizem.
Quando falamos em emprego não podemos nem devemos apenas ater-nos aos números pelos números, desde logo, porque estamos a referirmo-nos a pessoas e depois porque devemos ter em consideração alguns atributos que estão associados à criação de emprego e que determinam a qualidade desse emprego. Um dos atributos será, por certo, o salário que como sabemos na Região é, em média, inferior ao praticado no território continental, o que não deixa de ser paradoxal uma vez que na Região até existe um acréscimo de 5% ao salário mínimo nacional. Mas nem só o salário determina a qualidade do emprego, o vínculo contratual que determina a estabilidade ou precariedade é um dos atributos que mais contribui para a qualidade do emprego. E se como já afirmei, nos Açores, a média salarial é baixa, por outro lado a precariedade é muito elevada. Sendo assim a qualidade de trabalho nos Açores só pode ser considerado como má e isso, como tudo na nossa vida, relaciona-se direta ou indiretamente com o desenho das políticas públicas de emprego.
As políticas públicas de emprego, não confundir com emprego público, na Região estão condicionadas por fatores externos, sem dúvida, mas em boa verdade sobram instrumentos e competências aos órgãos de governo próprio para promover políticas públicas de emprego com qualidade, ou seja, trabalho bem remunerado e com estabilidade. Não tem, contudo, sido essa a opção do partido que suporta o Governo Regional nem, tão pouco, do maior partido da oposição que sistematicamente têm vindo a rejeitar qualquer iniciativa legislativa que contrarie a doutrina neoliberal de desvalorização do trabalho e dos trabalhadores.
Ponta Delgada, 01 de Março de 2016

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 02 de Março de 2016

8.º aniversário do "momentos"


Este blog comemora hoje 8 anos de atividade. O “momentos" é um blog pessoal e generalista mas toma partido. Está situado ao lado esquerdo, o lado certo da vida, o lado do coração.
Durante o dia trarei algumas publicações antigas que fazem a parte da estória deste registo de emoções e opções.
Até já.