domingo, 25 de abril de 2021

leitura para gente madura e despida de preconceitos




Apresentação do livro

Memórias de Madre Aliviada da Cruz, 

Henrique Levy, Letras Lavadas, 2021“

Às 18h Açores, 19h Lisboa, de 25 de abril de 2021, 

live streaming no Facebook e no Youtube da Letras Lavadas





(…) pensada por homens e destinada a mulheres (…)

Henrique Levy


Leitura para gente madura e despida de preconceitos

Quero antes de mais, agradecer o convite do autor para apresentar o seu mais recente romance, agradeço também à Editora e Livraria Letras Lavadas o acolhimento desta iniciativa e a disponibilidade deste espaço virtual para partilhar com os leitores uma leitura, a minha leitura, destas memórias.

Ainda antes de vos falar de Madre Aliviada da Cruz julgo ser importante fazer menção ao Henrique Levy e à sua, já vasta, obra poética e ficcional.

o autor e a obra

Henrique Levy, poeta e romancista, é portador de uma identidade com várias pertenças. Cidadão português, nascido em Lisboa, com nacionalidade cabo-verdiana. Viveu em diversos países da Europa, Ásia, África e América. Reside, por opção, na ilha de S. Miguel. É autor de cinco romances: Cisne de África, 2009; Praia Lisboa, 2010; Maria Bettencourt Diários de Uma Mulher Singular, 2019; Segredo da Visita Régia aos Açores, 2020; e o novel Memórias de Madre Aliviada da Cruz, 2021.

O Henrique é também autor de seis livros de poesia, aliás a poesia é, direi eu, o seu território literário de eleição. São os seguintes os títulos de poesia publicados: Mãos Navegadas, 1999; Intensidades, 2001; O Silêncios das Almas, 2015; Noivos do Mar, 2017; O Rapaz de Lilás, 2018; Sensinatos, 2019. 

Editou em coautoria com Ângela Almeida, em 2020, o livro de poemas Estado de Emergência.

Editou e anotou A Sibylla Versos Philosophicos, 2020, de Marianna Belmira de Andrade, cuja primeira edição data de 1884.

O Henrique Levy é coordenador da editora açoriana Nona Poesia.

Deixei esta nota sobre o autor, embora tenha consciência de que o autor das Memórias de Madre Aliviada da Cruz é sobejamente conhecido nos meios literários, mas, ainda assim, julgo ser relevante esta informação.

o primeiro registo

Quando finalizei a leitura das memórias da longeva Madre Aliviada da Cruz publiquei nas redes sociais, como faço habitualmente, uma foto da capa com a seguinte legenda: uma sugestão de leitura para gente madura e despida de preconceitos. E assim é como tentarei explicitar, mas antes gostaria de olhar para a capa que, como todos sabemos, é um elemento importante do livro. 

a capa 

foto by Madalena Pires
E esta é, diria, uma capa muito bem conseguida que nos remete para um ambiente monástico, recatado e bucólico tão adequado a quem se dedica a escrever, sejam memórias, ou não. A mancha do lettring remete-nos para outras épocas, embora como poderão, depois, constatar as memórias foram escritas, pela própria Aliviada da Cruz, em maio de 2020, a cor também não será, de todo, inócua pois, a sua proximidade com uma das cores do Vaticano é uma evidência. Nada ficou ao acaso, nem mesmo o pequeno círculo, no canto superior direito, bordeado a vermelho e onde se pode ler: “aconselhável a mais de 18”, ou seja, este será um livro para gente adulta. 

Eu direi que este livro, independentemente da idade cronológica dos leitores, se destina a pessoas que tenham estórias de vida e, a maturidade que só essas estórias lhes pode conferir, por outro lado, e como já referi, para esta ficção de Henrique Levy é, também, aconselhada uma abordagem despida de preconceitos, ou seja, não será uma leitura para todas as almas, mas estou certo agradará a muitas mais.


as memórias – uma breve abordagem

Madre Aliviada da Cruz relata-nos, na primeira pessoa, as suas memórias ainda que tenha obliterado, por opção sua, um período da sua vida partilhada com Constança, ou melhor com Cacilda este sim o verdadeiro nome de uma santomense que veio servir para Lisboa, em casa dos tios de Madre Aliviada da Cruz.

Bento de Castro, Virgulino, Madre Benedita da Cruz e, mais tarde, Madre Aliviada da Cruz, estes são os nomes pelos quais, Benedita de Portugal e Castro, assim é o seu nome de batismo, foi conhecida em diferentes momentos da sua longa vida, alguns por opção, outros fruto da necessidade que a sua atribulada existência lhe impôs.

Já me referi, por mais de uma vez, à longevidade de Madre Aliviada da Cruz, importa, por isso, dizer as suas memórias atravessam o século XIX, o século XX e são escritas, pela própria, em maio de 2020.

O registo das memórias de Bendita de Portugal e Castro não obedece a uma ordem cronológica mais se parecem como a escrita de uma partitura, como a própria justifica: “(…) Optei por fazer seguir o ritmo destas Memórias como quem escreve uma partitura. (…)”. Esta escolha de Madre Aliviada da Cruz em nada prejudica a leitura e a compreensão, fiquem os leitores descansados, e tem uma justificação. Benedita de Portugal e Castro tem uma sólida formação humanística onde a música tem um papel importante como se verá quando, no Convento de Santo André, em Vila Franca do Campo, propõe a criação de um Orquestra de Câmara composta por algumas das freiras em clausura.

Não vou tirar, aos potenciais leitores, o prazer de página a página, irem descobrindo esta inspiradora mulher. Mulher e religiosa que se eleva para o seu Deus através da sexualidade:“(…) As línguas humanas não encontraram nem sintaxe nem léxico para comunicar a relação das mulheres com o divino através do orgasmo. (…)”, ou “(…) nesta mulher destinada a encontrar no amor-dos-homens a consagração ao divino (…), mas também uma mulher libertária para alguns, proscrita para outros, pelo entendimento que tem dos ensinamentos de Cristo e que, em sua opinião, contrariam as práticas da sua igreja. Como quando se refere às contradições que encontra entre o que Jesus pregou e uma prática religiosa ao serviço dos poderosos. Esta nobre, duquesa, marquesa e duas vezes condessa, ao dirigir-se ao povo no dia em é empossada destes títulos nobiliárquicos e dá início a uma revolta dos trabalhadores da terra contra os proprietários que os exploram e animalizam, afirma o seguinte: “(…) Os senhores das terras, apoiados pela hierarquia da Igreja Católica, pressagiam ser a pobreza consequência do pecado e, nesse sentido, castigo de Deus. O objetivo é claro! Continuarem a explorar-vos, meus sagrados irmãos em Jesus Cristo. (…).

Este novo livro de Henrique Levy, se dúvidas tivesse, confirma o autor como um escritor de causas e, claramente, um homem de convicções, mas também um profundo conhecedor da sociedade em que vive, não só a sociedade açoriana, em particular a de S. Miguel, mas a sociedade global.

As mulheres e as suas lutas contra a misoginia e a sociedade patriarcal continuam a ser o objeto da sua intervenção literária, intervenção sim, escolhi a palavra. Henrique Levy dá um propósito interventivo á sua ficção. Diria, como Henry Miller: “If you can’t make words fuck, don’t masturbate them”, assim é, na minha opinião, a escrita de Henrique Levy, as palavras atingem o âmago, não escorrem por entre os dedos das mãos que folheiam as páginas dos seus livros.

Mas se o Henrique é um escritor que dá propósito à sua obra ficcional, e também um autor que domina a linguagem com uma mestria invejável, seja a linguagem popular, sejam os códigos mais eruditos.

Como exemplos deixo-vos algumas passagens que, procurarei não contrariem a promessa que há pouco vos fiz, ou seja, não vos retirar o prazer da descoberta destas Memórias, assim e para ilustrar o que atrás ficou dito sobre o estilo, a criatividade e o domínio da língua portuguesa, leio-vos estes excertos das Memórias de Madre Aliviada da Cruz:

(…) A sala de música pareceu pequena para o arredondado silêncio que a percorreu (…)

(…) Escusado será dizer que nessa noite me senti como Deus. Escrevi direito por linhas tortas. Os leitores que me perdoem, se este texto vos parecer um enviesado. É o que dá, escrever como Deus. (…)

(…) Misturávamos as línguas e a saliva com o mesmo ímpeto com que se amassa o pão. (…)

(…) A madre meteu esse homem na conversa e eu fiquei baratinada. Mas que homem, Diabo-a-Sete!? Que homem! Mulher de Deus! Esse tal Advérbio (…)

(…) Juro não mais pronunciar o nome desse tal seu eleito e, quem sabe, para sempre amado, senhor Advérbio (…)

(…) Daí ter-me entregado à clausura monástica feminina, pensada por homens e destinada a mulheres. (…)

(…) Vestia um luto que de tão negro era assustador. Não lembrava uma andorinha. As andorinhas são leves, frágeis e esvoaçantes. Minha mãe era pesada, nunca levantando voo. Assemelhava-se mais a uma panela bojuda, assente na trempe da cozinha, tisnada pelo fogo. (…)

Estes pequenos excertos exemplificam, em minha opinião, a dimensão literária deste novo romance de Henrique Levy. Livro sobre o qual muito mais virá a ser dito por quem, devidamente qualificado, venha a avaliá-lo através de recensões e ensaios de crítica literária, por mim sempre direi, como já o fiz em outras ocasiões que: a prosa literária de Henrique Levy é surpreendentemente provocadora e a sua leitura um prazer indizível.

Para terminar apenas mais duas breves notas. 

Estas memórias estão depositadas, segundo nos diz Benedita de Portugal e Castro, na Biblioteca Pública e Arquivo Histórico de Ponta Delgada dando até a referência à cota para mais fácil pesquisa.

Pode, ainda, o leitor endereçar correspondência a Madre Aliviada da Cruz pois encontrará no livro o endereço para tal. Se o fizer espero que venha a ter a sua resposta.

Obrigado pela Vossa atenção!

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 25 de Abril de 2021


quarta-feira, 21 de abril de 2021

do passado ou do presente

foto de Aníbal C. Pires



fragmento de texto escrito a 

16 de março de 2010 e hoje revisitado





(...) As alterações que foram introduzidas tiveram como consequência a descredibilização da Escola e dos agentes educativos e, por conseguinte, desmoronou-se todo o reconhecimento público do seu papel social e educativo.

Confundir a Escola com uma organização que persegue objetivos de produção é um erro que pagaremos caro no nosso processo de desenvolvimento. A Escola é uma instituição e, como qualquer instituição, cumpre uma missão. Não persegue objetivos organizacionais e empresariais. 

A verdade é que o analfabetismo funcional é dramático e que o ambiente escolar em nada corresponde ao propagandeado sucesso das políticas educativas.

Os educadores e professores vivem o drama da desconstrução do seu tempo de trabalho e da essência da sua profissão e, como se não bastasse, ainda os crucificam atribuindo-lhes a responsabilidade pela ineficácia do Sistema Educativo e pela degradação da qualidade do Ensino Público. (...)


segunda-feira, 19 de abril de 2021

são os comentadores

imagem retirada da internet

fragmento de texto escrito a 


10 de setembro de 2010 e hoje revisitado




(...) Não sendo, assumidamente, um adepto de futebol não deixo, no entanto, de acompanhar o que à volta desse fenómeno de massas se vai passando nem poderia, pois, a comunicação social, sob as suas mais diversas formas, encarrega-se de o fazer mesmo sem que eu faça nenhum esforço. É a antecipação do jogo, é a unha encravada do craque, é o treino, é o aquecimento, é o árbitro, é o dirigente de uma SAD, é a Liga, é a Federação, são os adeptos, é a polícia, são os comentadores, são os contratos milionários, é a publicidade, são os direitos de transmissão, são as análises em estúdio aos erros de arbitragem, é o treinador e o adjunto, são os comentadores, é o apito dourado, são os 90mn de jogo, são as entrevistas relâmpago, é o tempo extra, é o dia seguinte, é o outro dia… são os comentadores, e, por aí fora até à exaustão. Percebo porque assim é mas, haja paciência para tanto “ponto cruz” e tão pouco futebol, (...)

sábado, 17 de abril de 2021

o preço a pagar

imagem retirada da internet


fragmento de texto escrito a 

31 de agosto de 2010 e hoje revisitado




(...) O modelo neoliberal, associado ao imperialismo, para se afirmar necessita, porém, do caos, dos conflitos armados, necessita, no fundo, de ter um inimigo que possa associar ao terror, exercendo pelo medo o domínio dos cidadãos sob a sua "protecção".

imagem retirada da internet
Só assim se compreende que muitos de nós estejamos acomodados aos tempos e dispostos a ser despojados de direitos e de rendimentos a troco de uma suposta segurança pessoal. Este é o imposto que o império nos cobra para manter afastado o perigo que, por agora, é... (...) 


quinta-feira, 15 de abril de 2021

apenas a solidão os acompanha

imagem retirada da internet



fragmento de texto escrito a 

21 de dezembro de 2009 e hoje revisitado






(..) Às aldeias falta o riso das crianças, as antigas escolas primárias transformaram-se em centros de convívio para idosos, os antigos hospitais das misericórdias em lares para a terceira idade e os jovens adultos retomaram os caminhos da emigração.

foto by Aníbal C. Pires
Os lugares envelheceram e não há como escondê-lo por detrás da maquilhagem proporcionada pelos programas da União Europeia. As pessoas, pelo contrário, não escondem o tempo que por elas passou, nem escondem o seu desagrado pela forma como os lugares se foram exaurindo e transformando em espaços vazios de oportunidades onde apenas medram as atividades geriátricas.

Para as mulheres e homens em idade ativa não há lugar no espaço rural do interior continental que se transforma inexoravelmente num gigantesco lar de idosos. 

Nos anos sessenta e meados de setenta, para além dos idosos ficaram as crianças e as mulheres, os homens estavam na guerra colonial ou emigrados. Hoje os tempos são outros e os homens já não partem sozinhos, nem as mulheres se quedam por serem mulheres. Os idosos ficam, como sempre, desta vez sem crianças nem mulheres, apenas a solidão os acompanha no último pedaço de tempo que lhes falta ainda cumprir. (..)



terça-feira, 13 de abril de 2021

a economia da desgraça

imagem retirada da internet



fragmento de texto escrito a 

25 de junho de 2009 e hoje revisitado





(...) Há quem faça das fragilidades sociais e económicas de alguns segmentos da população um modo de vida e se sirva para atingir objetivos que não são, certamente, os da resolução dos problemas dos seus semelhantes pois, se assim fosse, ficariam sem modo de vida. O que, está bom de ver, seria uma chatice para os próprios. 

imagem retirada da internet
Não será por acaso que nos últimos anos se começaram a ouvir algumas vozes autorizadas a colocar em causa o modelo de ajuda aos países em desenvolvimento e a estratégia de intervenção de algumas Organizações Não Governamentais (ONG). É a própria Organização das Nações Unidas (ONU) que reconhece que uma parte significativa dos apoios financeiros afetos a projetos de desenvolvimento nem sequer chega a sair do país financiador, ou que os Estados Unidos têm no seu programa de combate à fome nos países africanos uma forma encapotada de financiar o seu sector agrícola.

Mas não necessitamos de sair da nossa cidade, nem mesmo do nosso bairro, para perceber que à volta da desgraça alheia se estabeleceu uma rede de organizações constituída por indivíduos que prosperam na adversidade dos cidadãos.

A economia da desgraça alheia floresce na mesma medida em que a adversidade e a exclusão atingem um número maior de cidadãos. (...)


domingo, 11 de abril de 2021

e amam estas ilhas

foto by Aníbal C. Pires



fragmento de texto escrito a 

28 de maio de 2009 e hoje revisitado





(...) A presença de cidadãos de diversas origens geográficas e culturais na nossa Região não é um dado novo. Os Açores, à semelhança do território continental, desde sempre acolheram, e acolhem, cidadãos provenientes do Mundo. A integração destes cidadãos constitui um valioso contributo para a diversidade cultural, para a criação de riqueza e desenvolvimento dos territórios que os recebem. As motivações de quem aqui chega são diversas, como diversos são os motivos que aqui os vão fixando. (…) e amam estas ilhas/num amor feito/de amores-perfeitos (…) *

foto by Aníbal C. Pires
A consciência e o reconhecimento da multiculturalidade da sociedade açoriana contemporânea não constituem uma novidade. A dimensão deste fenómeno é que lhe confere uma importância acrescida. O número de estrangeiros que no limiar do Século XXI residia nos Açores e os muitos que por cá se fixaram, abriram novas oportunidades de desenvolvimento e progresso, mas também a necessidade de passar de uma atitude estática de aceitação e tolerância, associada ao conceito de multiculturalidade, para um patamar dinâmico de promoção da interculturalidade. Assumindo, assim, o pluralismo cultural como um diálogo positivo, entre identidades e culturas em transformação mútua. A promoção da interculturalidade favorece a capacidade de lançar pontes e aprender a viver com os outros num mundo mais tolerante, que é de todos.

foto by Aníbal C. Pires
Na realidade, os açorianos dispersos pelas suas nove ilhas e por todos os continentes, não são um monólito cultural. Muito pelo contrário, a identidade cultural açoriana é composta pela diversidade dos matizes e linguagens que o seu povo adquiriu nas longas viagens da sua diáspora e que acolheu e absorveu dos muitos povos que vieram para as nossas ilhas e aqui se fixaram e miscigenaram. (...)

*Excerto de um poema publicado no livro Esperança Velha e outros poemas

quarta-feira, 7 de abril de 2021

pelo céu dos Açores

foto by Aníbal C. Pires



fragmento de texto escrito a 19 de maio de 2009


(...) Sobrevoamos a ilha maior. Ao longe os ilhéus da Madalena. A Candelária vai ficando atrás e a majestosa montanha aproxima-se, a suavidade verde dos pastos antecede a encosta íngreme e negra. Bem no topo do vulcão adormecido, um planalto de onde emerge um pequeno cone que remata o recorte da montanha do Pico, qual pináculo de uma catedral. Para minha surpresa e agrado a aeronave roda para a esquerda e proporciona uma visão diferente da montanha e, numa amena diagonal rumamos a S. Jorge. 

A visão desfruta a magnífica paisagem da costa Sul da ilha de Francisco Lacerda, desde os Rosais à Calheta, para logo dar lugar à não menos excelsa costa Norte onde pontificam a Fajã dos Cubres e a Caldeira do Santo Cristo. Mais além… para Norte, recortada no horizonte, a Graciosa. (...)


segunda-feira, 5 de abril de 2021

da macaronésia

imagem retirada da internet



fragmento de texto escrito a 13 de março de 2009


(...) As ilhas dos Açores estão inseridas numa região atlântica que pela sua singularidade preservaram um conjunto de exemplares da flora que remontam ao período terciário. Este facto mereceu-lhe a designação Macaronésia. O nome é originário do Grego: "makáron" => feliz, afortunado; e "nesoi" => ilhas, de onde resulta a designação de ilhas Abençoadas ou ilhas Afortunadas.

Quando viajamos pelas ilhas açorianas bem podemos constatar a bênção com que a natureza as dotou. Com exceção das ilhas Canárias, nos arquipélagos da Macaronésia (Açores, Madeira e Cabo Verde) não havia população autóctone . 

A humanização da paisagem, nos quatro arquipélagos, decorrente do uso da terra e da ocupação territorial transformou estas ilhas e acrescentou-lhes um património histórico e cultural diverso, mas singular, que a par do património natural dotam estas ínsulas de características únicas que importa valorizar, enquanto potencial de desenvolvimento integrado, e preservar de modelos atípicos de modernização e uniformidade. Embora a indústria turística na Madeira, nas Canárias e em Cabo Verde se esteja a encarregar da sua descaraterização. Importa que nos Açores se tenha em consideração que a sustentabilidade de um setor, no qual se tem focado a estratégia de desenvolvimento da economia regional, se garante com a manutenção da sua singularidade. (...)  


sexta-feira, 2 de abril de 2021

pelos 475 anos de Ponta Delgada

foto by Aníbal C. Pires



a propósito dos 475 anos de Ponta Delgada republico este texto escrito em outubro de 2013



Cidade com portas e mar

Neste sábado, talvez por ser sábado e com a cidade envolta num manto de nevoeiro, sente-se, respira-se, tranquilidade. Até as gentes caminham mais devagar, sem pressas, até os jovens conversam em surdina, com gestos de ternura. Talvez por ser sábado, talvez para não despertarem o mito prometido para uma manhã de nevoeiro. Mas já não era alvorecer e mitos são mitos, não se deixam perturbar e muito menos influenciar. Porquê esta quietude húmida, quente… porquê esta dolência. Não sei, mas quero-a. Quero esta serenidade envolta nas místicas brumas que chegam do Sul. E fico aqui, vivendo o tempo, fico aqui a contemplar o dia na cidade com portas e mar.

E a noite abate-se sobre a cidade que hoje se vestiu de cinzento e tudo ficou ainda mais tranquilo. A quietude da cidade é, por vezes, suspensa pela luz dos candeeiros que ladeiam as praças e avenidas numa vã tentativa de abrir brechas na densa bruma e, pelos faróis dos raros carros que teimam em embaraçar a tranquilidade deste sábado. Aqui, nesta cidade vestida de cinzento para receber a escura e longa noite.


Ponta Delgada, 26 de Outubro de 2013


quinta-feira, 1 de abril de 2021

Monika Ertl - a abrir Abril

imagem retirada da internet

Monika Ertl nasceu a 7 de agosto de 1937, em Munique, Alemanha e morreu (assassinada) a 12 de maio de 1973, em El Alto, Bolívia



A Monika Ertl atribui-se a “vingança” de Che Guevara. A 1 de abril de 1971, depois de uma viagem de 11 mil Km, Monika Ertl, guerrilheira do (ELN), executou, em Hamburgo, Roberto Quintanilla, o coronel boliviano que, a soldo da CIA, mandou mutilar e matar Che Guevara.