terça-feira, 31 de maio de 2022

incompatibilidades

Aníbal C. Pires by Catarina Pires




Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.







(...) Quem entrou na “Sala de Espera” e se manteve até aqui já me apelidou, no mínimo, de putinista. Eu direi que o facto de ser, como sabem, comunista, é incompatível com qualquer simpatia política pelo atual presidente da Rússia. O que ficou registado são factos que me preocupam e que partilho com os frequentadores deste espaço, não pretendo mais do que se reflita sobre uma série de eventos paradoxais que colocam em causa a nossa segurança e bem-estar. Apenas isso! (...)

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Cognitive Warfare (guerra cognitiva)

Aníbal C. Pires by Paulo R. Cabral

Sou bem-humorado e, como todos, ou quase todos, os bem-dispostos sou um otimista. Bem sei, para a generalidade dos cidadãos, os que se recordam da minha intervenção pública, não será bem esta a imagem que têm de mim, mas quem priva comigo pode testemunhar a meu favor e confirmar que assim é. 

Ser otimista e bem-humorado não é sinónimo de ser, ou estar na vida de forma leviana e irresponsável. Conciliar o humor e o otimismo com a verticalidade, a responsabilidade e a participação cidadã, tem sido, é, e continuará a ser a minha forma de estar na vida. Uma vez mais conto com as pessoas que comigo privam, não são muitas, mas constituem uma amostra qualitativa da qual me orgulho, para o confirmar.

O leitor estará perplexo com o que acabou de ler. Tem razão, mas eu também. Tudo tem uma razão até os parágrafos anteriores como se procurará demonstrar.

Sendo, como disse, uma pessoa otimista e bem-humorada estou com algumas dificuldades em continuar a sê-lo. O mundo, ao qual geograficamente pertenço, está num processo de negação dos valores civilizacionais que eu julgava estarem consolidados. 

As instituições da União Europeia e os governos dos estados-membros estão a destruir o que restava dos princípios e valores “europeus” construídos no pós II Guerra Mundial e a arrastarem os seus povos para uma crise social, económica e política sem precedentes.

Não posso dizer que me surpreende, pois, os sinais da regressão há muito se manifestavam sob as mais diversas formas, mas fui mantendo sempre uma chama de esperança. A chama não se extinguiu, mas a energia para a manter viva começa a escassear. 

imagem retirada da internet

O que já chegou ao fim foi a paciência para compactuar com o revisionismo histórico e com o processo de estupidificação em curso. Não se entenda esta afirmação como uma declaração de rendição, não é. O que está a acontecer é uma mudança na minha atitude tolerante e conciliadora ou para que não subsistam dúvidas, estou a radicalizar-me. O que significa, tão somente, que vou procurar a raiz dos problemas, denunciá-los e combatê-los. Já o fazia antes, agora é tempo de radicalizar o discurso.

O termo radical tem sido injustamente diabolizado, pois, ser radical é estar bem enraizado nos princípios, nos valores. E eu estou, cada vez mais, radicalmente comprometido com o direito dos povos à liberdade e à diferença, radicalmente comprometido na luta contra a uniformização dos costumes e do pensamento. 

As tentativas de manipular e induzir ilusões são antigas e foram-se aprimorando, dos procedimentos dos primórdios da propaganda, aperfeiçoada por Goebbels, passando pela “guerra psicológica”, aqui entendida como um conjunto de técnicas usadas para influenciar, sem o uso da força, os valores, crenças, emoções, motivações e raciocínio, que pretende induzir mudança de comportamento numa população alvo, até à “guerra híbrida” que agrega um conjunto de variáveis, como sejam, a guerra convencional, a ciberguerra, a diplomacia, lawfare (manobras jurídico-legais), desinformação, fake news, false flags, ou a moderna “guerra cognitiva” que vai mais além do condicionamento do que pensamos, o objetivo é mais ousado a “guerra cognitiva” pretende alterar a forma como pensamos. A população alvo da “guerra cognitiva” é todo o capital humano de uma nação, ou nações, podemos até generalizar dizendo que somos todos nós. O objetivo é claro, a manipulação e o domínio sobre o pensamento. Nada que não esteja já em marcha, mas que pode evoluir para níveis de eficácia preocupantes. E tudo isto com o avale dos países da União Europeia.

imagem retirada da internet

O leitor quando entrou nesta “Sala de Espera” não estaria à espera destas divagações e, se aqui chegou, já estará a pensar que eu tenho assistido a muitos filmes de ficção científica e que agora estou a desenvolver uma qualquer teoria da conspiração. Asseguro-lhe que não. O conceito de “guerra cognitiva” ou, “cognitive warfare”, e o seu desenvolvimento pode ser encontrado no estudo de François du Clouzel, militar retirado de origem francesa. O estudo publicado e tornado público em 2020 é claro nos objetivos, nos meios a utilizar, nos alvos e, esta será a novidade, introduz um sexto domínio de guerra, o domínio humano. Talvez não seja uma novidade, o que há de novo é a assunção de que o objetivo da “guerra cognitiva” visa alterar a forma como pensamos, o que significa elevar o condicionamento do pensamento para um patamar superior.

Caro frequentador da “Sala de Espera”, julgo que estão justificados os primeiros parágrafos deste texto, como fundamentado está o meu descrédito nas instituições da União Europeia e nos governos dos estados-membros. Na “guerra cognitiva” seremos alvos, mas também soldados armados com os nossos telemóveis inteligentes ampliando realidades paralelas. Ou já o estaremos a fazer!!?? 

Ponta Delgada, 17 de maio de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 18 de maio de 2022

factos são factos

imagem retirada da internet
Chegou-me hoje, através de mão amiga, o convite do Grupo Parlamentar do PPM, para uma conferência de imprensa, na delegação da ALRAA da ilha Terceira, no próximo dia 19 de maio (amanhã).

O convite não é naturalmente para mim, dirige-se aos OCS. Não sendo meu hábito referir-me aos convites dos partidos, organizações ou instituições para as suas conferências de imprensa, quando muito, a ter alguma coisa a opinar, isso acontece posteriormente e em função do que foi comunicado publicamente. Mas a forma, a linguagem utilizada no convite e a finalidade merecem já, uma ou outra consideração. Sei que é um risco, mas a vida é, naturalmente, arriscada. Vamos a isto.

imagem retirada da internet

A conferência de imprensa do Deputado Paulo Estêvão, segundo o convite dirigido aos OCS é: “a respeito da campanha de manipulação que o médico Salgado, os comunistas e os socialistas montaram a respeito da pressuposta expulsão do referido médico da ilha do Corvo.”

A formulação é de vitimização, ou seja, na opinião do Deputado Paulo Estêvão existe uma cabala construída à volta de uma suposição que, por mero acaso é falsa. 

A suposição é falsa por que o médico não foi expulso, foi exonerado da Presidência da Unidade de Saúde de Ilha, por outro lado e, segundo o próprio António Salgado, em declarações públicas, não está em causa a sua permanência como médico na Unidade de Saúde do Corvo, o apoio popular que lhe foi manifestado levou-o a decidir ficar e não pedir a mobilidade para outra ilha.

Quanto à existência de uma cabala sou até capaz de perceber as razões que levam o Deputado Paulo Estêvão a dizê-lo, dá-lhe jeito para se vitimizar e tentar inverter o foco de um problema que ele próprio criou. Os cidadãos, o visado e os partidos políticos reagiram e tomaram posição. É a democracia a funcionar, apenas isso. 

Chamar campanha de manipulação à expressão genuína da maioria dos corvinos que se manifestaram contra a exoneração de António Salgado da Presidência do CA da Unidade de Saúde de Ilha é, menosprezar a vontade e a livre expressão dos corvinos. Corvinos de diferentes quadrantes políticos e partidários que manifestaram o seu desagrado pela exoneração do Dr. António Salgado, mas também pela nomeação do Dr. Paulo Margato para o cargo de Presidente do CA da Unidade de Saúde de Ilha.

O Governo Regional tem toda a legitimidade para nomear e exonerar os Presidentes dos CA das Unidades de Ilha, mas os cidadãos têm igual direito de se manifestar contra as exonerações e as nomeações e, neste caso, os cidadãos, pelas caraterísticas da própria ilha, perceberam as razões desta dança das cadeiras e não aceitaram de ânimo leve.

O Deputado Paulo Estêvão, de momento, conta apenas com o apoio dos seus indefetíveis protegidos, posso até imaginar a lufa-lufa do líder regional do PPM à procura de apoios para sair deste imbróglio em que se meteu. Já deve ter dados várias voltas a Vila do Corvo para angariar apoios e sair do seu já reduzido círculo de apoiantes.

imagem retirada da internet
A tentativa de vitimização do Deputado Paulo Estêvão é uma evidência. A forma e o conteúdo utilizado no convite aos OCS, para a Conferência de Imprensa, indiciam uma posição de derrota argumentativa, ou seja, ao referir-se a António Salgado como “(…) o médico Salgado (…)”, numa clara tentativa de menorização e até enxovalhamento, mas também a utilização da expressão “(…) os comunistas e os socialistas (…), que só acontece numa tentativa desesperada de procurar apoios com recurso à linguagem populista utilizada quando faltam argumentos para desconstruir os factos que caraterizam este escândalo político.

E os factos são:

- exoneração o Dr. António Salgado com base em pressupostos que não se verificam, ou seja, 6 dos 7 trabalhadores da Unidade de Saúde subscreveram apoio ao Dr. António Salgado e exigem que este continue a exercer as funções das quais foi exonerado;

- eventuais desentendimentos no seio do Conselho de Administração da Unidade de Saúde, se é que existiam, reduziam-se a uma vogal do CA. Vogal que foi para o Corvo para assumir essa função nomeada pelo Governo Regional; e

- o timing da nomeação do Dr. Paulo Margato para Presidente do CA deixou claro que o afastamento do Dr. António Salgado não está ancorado em problemas internos no funcionamento da Unidade de Saúde de ilha, nem em eventuais desentendimentos no seio do CA, mas na necessidade de vacatura do cargo para a entrada de um compagnon de route do Deputado Paulo Estêvão.

Bem pode o deputado do PPM e a tutela da saúde na Região desdobrarem-se em justificações, vitimizações e utilização do fantasma da cabala que as evidências são o que são, e ninguém, mesmo os indefetíveis do PPM, têm dúvidas que este escândalo político teve um protagonista, o Deputado Paulo Estêvão, uma vítima, o Dr. António Salgado e um beneficiário, o Dr. Paulo Margato.

O Presidente do Governo Regional, como é habitual, encontra-se em retiro espiritual.


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 18 de maio de 2022


terça-feira, 17 de maio de 2022

das dificuldades para encarar o futuro com otimismo

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Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.





(...) Sendo, como disse, uma pessoa otimista e bem-humorada estou com algumas dificuldades em continuar a sê-lo. O mundo, ao qual geograficamente pertenço, está num processo de negação dos valores civilizacionais que eu julgava estarem consolidados. 

As instituições da União Europeia e os governos dos estados-membros estão a destruir o que restava dos princípios e valores “europeus” construídos no pós II Guerra Mundial e a arrastarem os seus povos para uma crise social, económica e política sem precedentes. (...)


sábado, 14 de maio de 2022

claro como água cristalina

Paulo Margato - imagem retirada da internet
O Governo Regional dos Açores está cativo dos interesses e das agendas políticas e pessoais de um conjunto de cidadãos e organizações. 

A afirmação anterior não constitui uma novidade e, o cidadão comum, simpatize ou não com esta fórmula de governo, tem plena consciência de que assim é.

Este texto vai ser já concluído, afinal a questão sobre a qual me preparava para dissertar foi clarificada. 

A nomeação do Dr. Paulo Margato para Presidente do Conselho de Administração da Unidade de Saúde da ilha do Corvo é, em si mesmo, esclarecedora do tema.

Nem o Secretário Regional da Saúde e Desporto, nem o deputado Paulo Estêvão, terão necessidade de vir justificar o que quer que seja. Já todos percebemos as razões da exoneração do Dr. António Salgado.

O Presidente do Governo Regional, como é habitual, encontra-se em retiro espiritual.

Este texto fica por aqui, o assunto não. 

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 13 de maio de 2022


sexta-feira, 6 de maio de 2022

da liberdade de expressão

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Meios de comunicação social censurados, perseguição e prisão de jornalistas, narrativa unilateral de um mundo diversificado, promoção do medo, divulgação de notícias falsas. Estes são alguns dos atributos que podem ser utilizados para caraterizar os países que não respeitam a liberdade de expressão e os direitos humanos.

Os atentados à liberdade de expressão, as perseguições e as prisões por delito de opinião indignam os cidadãos do mundo ocidental. Estranho seria se assim não fosse, afinal é esse mundo que se apresenta em todos os fóruns mundiais como o farol da civilização, como a grande referência da liberdade, da defesa dos Direitos Humanos e da democracia.

A revolta dos cidadãos ocidentais é, contudo, seletiva. A indignação manifesta-se quando esses atentados acontecem fora de portas, ou seja, nos países que não fazem parte dessa comunidade internacional e, ainda assim, é necessário que os visados sejam alinhados com a narrativa ocidental. Dentro das fronteiras do mundo ocidental a indignação é, de igual modo, ancorada em escolhas cuidadas. Apoiam-se os alinhados e perseguem-se ou obliteram-se os desalinhados.

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Julien Assange será o mais paradigmático exemplo do que acabo de dizer. Está preso há vários anos e, de momento, aguarda a sua extradição para os Estados Unidos. Não, não é cidadão estado-unidense, também não é russo, tem nacionalidade australiana e o seu crime foi fazer o que compete a um jornalista: divulgar, sem opinar, um conjunto de documentos que pôs a nu as mentiras utilizadas para justificar algumas das frequentes invasões de estados soberanos pelos Estados Unidos e aliados ocidentais.


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Pablo González, jornalista espanhol preso, na Polónia, desde o final de fevereiro de 2022. Este jornalista, de origem russa, cobria, na fronteira da Polónia com a Ucrânia, o êxodo dos refugiados ucranianos. Foi preso com a espúria acusação de ser um espião pró-russo. Pablo González tem dupla nacionalidade e esse terá sido o indício que levou à sua prisão. Continua preso.



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Anatoly Shariy, blogger ucraniano foi detido em Espanha numa operação da polícia espanhola a pedido da SBU (serviços secretos ucranianos). Anatoly Shariy veio para Espanha por temer pela sua integridade física. Foi fundador e dirigente de um partido político na Ucrânia. A acusação que conduziu à sua prisão é de suspeita de “alta traição” à pátria. Os jornais do ocidente já lhe colocaram o epíteto de pró-russo, coisa que nos tempos que correm é pior que ser “serial-killer”.



Assange está preso em Inglaterra, González está preso na Polónia e Shariy está preso em Espanha e tudo está na “Santa Paz do Senhor”. São presos por delito de opinião e achamos isto normal, ninguém se indigna. O que se passa com os arautos da liberdade.

A normalização da censura, a promoção da russofobia, a aceitação da ingerência de cidadãos e diplomatas ucranianos nos assuntos internos dos países membros da União Europeia, o silêncio sobre o aumento dos gastos públicos com a defesa, o aumento do custo de vida, o branqueamento da história, estas são apenas as questões mais visíveis que afetam os povos do mundo ocidental e, paradoxalmente, aceites sem qualquer sinal de indignação.

Tem tudo para acabar mal.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 5 de maio de 2022 


quinta-feira, 5 de maio de 2022

as razões de Inna Afinogenova

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Inna Afinogenova é uma periodista russa que até ao fim de fevereiro de 2022 deu a cara pelo canal Ahí les Va, ligado à RT. O canal Ahí Les Va, no Youtube, tinha mais de 1 milhão de seguidores e como é falado em espanhol a maioria dos seguidores serão falantes de espanhol e residentes na América Latina.

Eu era, e continuo a ser, um seguidor dos vídeos do canal Ahí Les Va. O Youtube retirou-os da plataforma, como tudo o que cheirasse a russo, viva a liberdade de expressão, mas o Ahí Les Va e outros meios de comunicação social censurada alojaram-se noutras plataformas da internet e, quem quiser aceder-lhes basta procurar. A qualidade e a acuidade dos seus conteúdos mantiveram-se. O trabalho coletivo vale o que vale e, neste caso, como sempre, vale muito.

No último programa pelo qual a Inna deu a cara a invasão da Ucrânia já se tinha iniciado e foi notório o seu descontentamento por isso. Chegou mesmo a dizer: “a guerra é uma merda”. E eu também acho que sim: as guerras são uma merda.

Depois deste vídeo a Inna desapareceu do Ahí Les Va e o Mirko Casale, membro da equipa, substituiu-a na apresentação dos vídeos. A Inna, muito pontualmente, fez algumas aparições nas suas redes sociais, mas a sua ausência da apresentação do Ahí Les Va causou estranheza nos seus seguidores.

Há dois dias Inna veio a público, nas suas redes sociais, informar o motivo do seu silêncio. A periodista é contra a guerra e optou por sair da RT. É uma opção individual que respeito e compreendo que razões de ordem moral, ética e pessoal possam ter estado na génese desta sua decisão. 

Mas Inna Afinogenova aduziu algumas justificações para a sua tomada de posição que me deixam algumas dúvidas. Vou ficar com as minhas dúvidas, mas sempre direi que Inna Afinogenova refugiou-se em argumentos que, desde logo, põem em causa a autenticidade do seu trabalho e coloca sobre os seus colegas do Ahí Les Va e da RT um epíteto de agentes da propaganda russa e pró-guerra, o que em minha opinião é grave e, não corresponderá, em absoluto, à verdade.

Inna e Mirko - imagem retirada da internet

Eu sou contra esta e todas as outras guerras, mas isso não me impede de ter uma opinião crítica sobre o governo de Kiev, sobre a posição do governo do meu país e da generalidade dos países da União Europeia. Posição que em nada têm contribuído para uma solução pacífica deste e de outros conflitos bélicos, e mal seria se assim não fosse. 

Depois que tornou público o vídeo em que informou os seus seguidores Inna tem sido alvo de muitos louvores e muitas críticas. Este texto não pretende ser uma crítica à sua tomada de posição e à sua saída da RT. 

O meu propósito é, somente, manifestar a minha estranheza pela forma leviana como a Inna destruiu todo o seu património de credibilidade. Não pela sua saída da RT, mas pelos argumentos que utilizou para justificar a sua saída.

Os cidadãos sabem, todos sabemos, que a comunicação social tem as suas linhas editoriais e que em estados de guerra as orientações podem sofrer alguns ajustes. Veja-se o que se passa com a comunicação social europeia e a censura desbragada que nos foi imposta, mas também o medo que se está a instalar. Não tenho dúvidas que a narrativa da RT favorece as posições do governo russo, mas ainda assim está muito longe do alinhamento acrítico da comunicação social do “mundo ocidental”

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 5 de maio e 2022


quarta-feira, 4 de maio de 2022

da importância das datas

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As efemérides celebram acontecimentos aos quais atribuímos um significado coletivo e histórico relevante. A comemoração de uma data obriga-nos, implicitamente, a um olhar para o passado. Quando assinalamos, por exemplo, o centenário do nascimento de um escritor temos o propósito de honrar a sua memória, mas sobretudo pretendemos dar continuidade à divulgação da sua obra e conquistar novos públicos, entre os mais jovens, para que o nome e a obra se perpetuem no tempo.

As celebrações, quer gostemos ou não do que, ou quem, se comemora, têm um propósito comum: lembrar, dar a conhecer e projetar para o futuro. Podemos dizer, num sentido lato, que a principal função das efemérides é a divulgação da história, também aqui entendida de forma ampla.  

Voltemos ao exemplo da literatura. Nos planos de estudo de diferentes níveis de ensino constam alguns escritores clássicos. Estes autores têm a memória e a obra imortalizada por via do seu estudo no seio das comunidades académicas, mas não se dispensam as efemérides pois, é dessa forma que a sua obra se expande e dá a conhecer a outros públicos. Há, contudo, outros autores que não tendo a mesma atenção dos académicos, por razões diversas, necessitam que os seus leitores os promovam. E o propósito é similar às efemérides instituídas: divulgar o autor e a sua obra.

A abordagem feita no parágrafo anterior pode até ser rebuscada, mas tem por finalidade enquadrar outras efemérides remetidas a um inexplicável silenciamento pelo mainstream.

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Os portugueses, celebram o dia 25 de abril do ano de 1974, mas nem todos lhe atribuem o mesmo significado e relevância. Os que perderam privilégios não comemoram, os que professam ideologias neofascistas, idem, e, os neoliberais aproveitam-se dela para subverter a sua natureza popular e transformadora.  

O dia 25 de abril de 1974 e o que se lhe seguiu transformou o país e provocou uma rutura com o passado. A revolta militar de 1974 foi apoiada, inequivocamente, pelo povo português, cuja ação foi determinante para lhe conferir um caráter revolucionário. Este corte com o passado só foi possível, com o alcance que veio a ter nos meses seguintes, pela existência da luta clandestina e organizada, durante os 48 anos de ditadura levada a cabo por diferentes organizações políticas, de entre as quais o PCP se destaca. 

Não é possível dissociar o PCP da luta contra o regime de ditadura instaurado a 28 de maio de 1926. Sendo a revolução de abril de 1974 uma conquista do povo português é, contudo, legítimo afirmar que a ação do PCP contribuiu, decisivamente, para que tal viesse a acontecer. Nem todos gostam que se diga e escreva e, muitos outros pretendem branquear, ou mesmo apagar, o papel do PCP na história de luta e resistência ao fascismo português, mas os registos históricos dos presos políticos (homens e mulheres), dos assassinatos perpetrados pelo aparelho repressivo do regime e a tortura visaram, no essencial, os militantes e dirigentes do PCP. Se ao PCP é reconhecido esse protagonismo na luta e na resistência à ditadura, também nestes 48 anos de democracia o papel do PCP não é despiciente, desde logo por ser um dos partidos fundadores do estado democrático, mas sobretudo por todas as conquistas que, na ação institucional, nas lutas sociais e laborais, foram conseguidas por intervenção direta ou indireta do PCP. Pode afirmar-se que Portugal podia e devia ser melhor. E eu concordo, mas tenho consciência que seria muito pior sem o PCP, aliás como disse, recentemente, o realizador João Botelho.

Pede-me o leitor desta “Sala de Espera” para voltar ao tema. Vou tentar, não é fácil quando a emoção se envolve com a escrita, a pena foge ao controle da razão e vai por aí. 

Falar do 25 de abril de 1974 sem referir o papel dos comunistas portugueses é como beber cerveja sem álcool ou beber um descafeinado. A cerveja sem álcool e o café sem cafeína estão desprovidos do atributo que lhes confere a essência. Não é possível falar com seriedade do 25 de Abril e obliterar o PCP. 

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Caro leitor, bem sei. Bem sei que já estava, de novo, a vaguear ao sabor das emoções, embora de mãos dadas com a razão. Voltemos às efemérides que o espaço escasseia e queria tanto deixar registadas algumas já passadas, outras a acontecer por estes próximos dias. Queria muito, mas não vai ser possível. Os carateres restantes só permitem referir uma e, ainda assim, de forma breve.

A 2 de maio de 2014, em Odessa, Ucrânia, foram mortas 48 pessoas e mais de 200 ficaram feridas. Após as agressões de que foram vítimas por grupos neonazis mobilizados para o efeito, refugiaram-se na Casa dos Sindicatos de Odessa. O edifício foi incendiado pelos grupos neonazis e a tragédia aconteceu. Os testemunhos e os vídeos destes acontecimentos estão por aí disponíveis, mas nunca houve condenação por esta barbárie. Esta não é uma efeméride amplamente divulgada e lembrada, mas nem por isso deixa de ser importante só porque não convém à narrativa dominante. 

Ponta Delgada, 3 de maio de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 4 de maio de 2022

terça-feira, 3 de maio de 2022

da essência das coisas

 

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Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.





(...) Pede-me o leitor desta “Sala de Espera” para voltar ao tema. Vou tentar, não é fácil quando a emoção se envolve com a escrita, a pena foge ao controle da razão e vai por aí. 

Falar do 25 de abril de 1974 sem referir o papel dos comunistas portugueses é como beber cerveja sem álcool ou beber um descafeinado. A cerveja sem álcool e o café sem cafeína estão desprovidos do atributo que lhes confere a essência. Não é possível falar com seriedade do 25 de Abril e obliterar o PCP. (...)


domingo, 1 de maio de 2022

só a luta é transformadora

 


Hoje, por todo o mundo, celebra-se o dia do trabalhador.

Hoje, como no passado, as razões para comemorar são de luta.


Roza Shanina - a abrir Maio

 

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O mês de Maio celebra o fim da II Guerra Mundial.

Roza Shanina não viveu para celebrar a vitória. Ela e mais de 25 milhões de soviéticos morreram antes da capitulação alemã.

Roza Shanina era franco-atiradora e morreu em janeiro de 1945, vítima de um grave ferimento de estilhaço de artilharia, quando tentava salvar um seu companheiro ferido.

Lindas são as mulheres que lutam e Roza é: LINDA.