quarta-feira, 27 de maio de 2015

Comandante Afonso - Prémio Carlos Bleck, 2017 (APPLA)


No passado dia 23 de Maio a Associação de Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA) promoveu a entrega do Prémio Carlos Bleck 2015 onde foi agraciado o Comandante João Graça. Durante esta cerimónia foi anunciado o agraciado de 2017.
Em 2017 será agraciado com este prestigiado prémio o Comandante Francisco da Encarnação Afonso, assim foi anunciado durante a entrega do prémio em 2015. (ver vídeo)


Esta é uma notícia que me deixa particularmente feliz pela admiração e amizade que nutro pelo Comandante Afonso. Mas é também uma notícia que deve orgulhar todos os açorianos e em particular todos os trabalhadores da SATA.

Tão iguais

Foto - Aníbal C. Pires
Os problemas do Serviço Regional de Saúde (SRS) não se compadece com intervenções casuísticas, não integradas, meramente orientadas para dar respostas rápidas a descontentamentos imediatos e mais ou menos localizados. Este tipo de intervenção política conduz não a um sistema coerente e eficaz, mas sim a uma manta de retalhos, com duplicações e carências de meios e recursos, caro, ineficaz, que gera desigualdades sociais e geográficas no acesso e, na prática, ingerível.
E se o Governo Regional assim atua, também alguns partidos da oposição seguem esta linha de intervenção e propositura política. Ao cair no mesmo hábito as propostas de alguma oposição enfermam do mesmo vício que caracteriza a política de saúde do Governo Regional, ou seja, em vez de abordar as questões de fundo, de procurar resolver os problemas fundamentais do SRS, limita-se a minorá-las, com sucesso relativo, pago a peso de ouro, afirmando claramente a sua opção preferencial pelo sector privado, desviando recursos financeiros que deviam ser investidos no SRS, o sistema a que compete efetivamente garantir os cuidados de saúde aos açorianos.
O caso mais recente e que exemplifica o que tenho vindo a dizer está relacionado com uma proposta do PSD que visava a suspensão da portaria dos reembolsos. E se é verdade que o PSD vinha com a sua proposta escancarar as portas à medicina privada sem tentar resolver os problemas do sistema público, também o Governo Regional se precipitou com as reduções nos reembolsos, sem ter garantido primeiro que não estava a limitar, ainda mais, o acesso dos açorianos aos cuidados de saúde.
Ambos, PS e PSD, sempre tão parecidos, tão iguais, limitando-se apenas a desviar recursos do sector público para o sector privado, não tomando qualquer medida concreta para suprir as lacunas e as dificuldades do SRS e melhorar a sua capacidade de resposta. E fazem-no, como foi afirmado, pelo Presidente da Seção Regional da Ordem dos Enfermeiros, durante a tramitação da proposta do PSD em sede da Comissão dos Assuntos Sociais, sem que esteja completo um diagnóstico objetivo da capacidade instalada. Dizia a este propósito o Enfermeiro Tiago Lopes, “ (...) não se podem definir políticas de saúde sem antes definir a capacidade de produção. O atual cenário socioeconómico não tem capacidade de resposta total, por isso torna-se imperioso definir prioridades e lacunas, de forma a ter um Sistema Regional de Saúde sustentável.” Assim é, sem planeamento não é possível ter um bom e eficaz SRS.
E a verdade é que não temos um bom planeamento da saúde. Temos um diagnóstico incompleto, uma capacidade de produção desconhecida, um Plano Regional de Saúde insuficientemente fundamentado, que é frequentemente subalternizado, atropelado, ignorado, medidas casuísticas que são tomadas de cima para baixo, com pouca ou nenhuma discussão pública, como no caso da Portaria 52/2014, e, por consequência, não são compreendidas, nem aceites pelos profissionais de saúde e pelos utentes do SRS

Ponta Delgada, 26 de Maio de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 27 de Maio de 2015

terça-feira, 26 de maio de 2015

Pelos 30 anos do Grupo de Cantares "Belaurora"

Foto retirada da Internet
Em 1985 comemorava-se o Ano Internacional da Juventude. Na Vila de Capelas, em S. Miguel, no âmbito das celebrações, um grupo de jovens procurou o apoio de um professor que estivesse disponível para os iniciar na aprendizagem da música, encontrada essa disponibilidade e vontade, nasceu a 17 de Maio do ano de 1985 um grupo de música e cantares tradicionais que adotou como designação um dos mais belos temas da música açoriana de raiz popular, a Bela Aurora.
Deste então o Grupo de Cantares “Belaurora” tem mantido atividade permanente e dado a conhecer ao Mundo a música tradicional das nossas ilhas. O seu vasto repertório conta com mais de uma centena de títulos e as suas atuações pelos palcos europeus, dos Estados Unidos, Canadá e ilhas da Macaronésia têm, não só maravilhado quem os ouve, mas também servido o nobre objetivo de divulgação do património musical açoriano para além das fronteiras das nossas ilhas.
Sobre a carreira e a qualidade do trabalho que o Belaurora têm desenvolvido disse, em 1996, Urbano Bettencourt, “... o Grupo de Cantares Belaurora tem descoberto matéria e motivações para o desenvolvimento de um coerente (e persistente) projecto de dedicação à nossa música popular.  ... Quedo-me... à escuta de um rumor-outro que me chega, longínqua Voz de um povo que, na música e por ela, encontrou a chave para a iluminação do quotidiano, das suas sombras e mágoas, solidões e maresias.”
Foto retirada da Internet
Para além de outros reconhecimentos e méritos conquistados na Região, no País e no Mundo e que fazem parte do espólio das memórias do Belaurora, serão as palavras de ilustres açorianos, das quais me volto a socorrer, que melhor ilustram este trajeto ímpar de recolha e divulgação da música tradicional açoriana.
Em 2004, sobre o Belaurora, Daniel de Sá escreveu, como só ele o sabia fazer, “... o Belaurora foi por aí adiante em anos e ilhas. Ouviu a voz do povo e cantou com ele e com ele se encantou. ... E embalou-nos no seu canto, que é nosso também porque este povo somos todos nós.”
O Belaurora constituído por 10 elementos e dirigido, desde sempre, por Carlos Sousa afirmou-se no panorama musical da Região e tem sido uma Escola de formação e divulgação da nossa matriz cultural. Sendo um grupo amador, realiza há 30 anos um trabalho sistemático de recolha, preparação e divulgação da música tradicional açoriana que não podia passar indiferente a quem representa o Povo que o Belaurora tão bem canta. Na sessão plenária deste mês de Maio a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores aprovou por unanimidade, um voto de saudação apresentado pela Representação Parlamentar do PCP, onde se reconhece o mérito da carreira dos Belaurora e do seu Diretor Musical e fundador, o Sr. Carlos Sousa, pelo empenho, disponibilidade e persistência que sempre colocou ao serviço da música e cultura popular.

Santa Cruz das Flores, 24 de Maio de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 25 de Maio de 2015

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Integração pelo exercício da cidadania plena (*)

Foto - Aníbal C. Pires
Poder estreitar o contato com as comunidades açorianas emigradas, aprofundar o conhecimento sobre as suas realizações pessoais e comunitárias, o seu grau de integração na sociedade de acolhimento e a sua ligação às origens, de entre os aspetos, constituía, para mim, uma lacuna no conhecimento que os representantes eleitos do Povo Açoriano devem possuir sobre as comunidades açorianas, onde quer que elas vivam e trabalhem. Este meu interesse, sendo de ordem política porque se tratam de açorianas e açorianos e seus descendentes que, embora vivam fora das fronteiras da Região, representam um importante ativo nas estratégias de desenvolvimento regional, mormente, no que concerne ao estabelecimento de “pontes” políticas, económicas e culturais com os territórios de acolhimento, por outro lado tendo dedicado parte da minha vida ao estudo académico das migrações e ao apoio a associações de imigrantes em Portugal, o contato com a realidade migratória e com o movimento associativo emigrante açoriano teve, assim, uma dupla importância.
A participação, pela primeira vez, de uma representação da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA), da qual fiz parte, na XVII Assembleia Geral do Conselho Mundial das Casas dos Açores (AGCMCA), que se realizou a 29 e 30 de Agosto de 2014, em Hilmar, na Califórnia, veio concretizar um sonho antigo e que preencheu, direi melhor, transbordou as minhas melhores expetativas.
A dimensão mundial da diáspora açoriana representada pelos dirigentes das casas dos Açores, as dinâmicas e as preocupações das comunidades ficaram bem patentes nos trabalhos da AGCMCA. Dirigentes de diferentes gerações onde começam a pontuar jovens quadros que para além da renovação constituem, não só o garante de continuidade, mas também a introdução de novas metodologias e abordagens aos recentes e velhos problemas com que os migrantes se confrontam.
Um dos temas que foi abordado durante os trabalhos relaciona-se com a necessidade de assunção pelos emigrantes açorianos e seus descendentes - prefiro em nome do rigor referir-me aos jovens como descendentes e não como emigrantes de 2.ª ou 3.ª geração - de se integrarem plenamente na sociedade de acolhimento. O exercício pleno da cidadania é a condição sine qua non para se atingir este desiderato. Pode, numa leitura superficial parecer paradoxal que um deputado regional esteja a apelar à integração e cidadania plena no território de acolhimento com tudo o que isso implica, designadamente, a participação política pois, o discurso clássico vai num outro sentido, ou seja, na garantia da participação política no território de origem e, por outro lado a integração plena pode traduzir-se num gradual afastamento das raízes. É minha opinião que, se queremos ter uma diáspora forte e capaz de continuar a contribuir para a Região, então temos de juntar esforços para que a cidadania plena seja a regra e não a exceção.

Foto - Madalena Pires
Os jovens descendentes de emigrantes vivenciam experiências complexas e mesmo conflituais de afirmação e incorporação nos territórios de acolhimento e, nem sempre as estratégias familiares e o desenho das políticas dirigidas às comunidades diaspóricas são desenvolvidas considerando de forma consistente e holística esse importante aspeto do qual depende, na maioria das vezes, o sucesso e a realização pessoal dos jovens açor/luso-descendentes. Quanto maior for êxito social e económico do indivíduo maiores serão os ganhos e afirmação social, económica e política da comunidade de pertença e os ganhos do País ou da Região de origem.
As estratégias de incorporação nas sociedades de acolhimento dependem, desde logo, do projeto migratório e do capital humano que os migrantes transportam consigo mas dependem também dos modos de incorporação da sociedade acolhimento que, segundo alguns autores, são estruturados nos seguintes níveis de acolhimento: i) Diferenciação da política oficial (enquadramento legal) de acolhimento a diferentes grupos de emigrantes; ii) recetividade da sociedade civil e da opinião pública relativa a diferentes grupos de imigrantes; e, iii) dimensão, implantação e importância económica, política e social da comunidade cultural de pertença.
Os dois primeiros níveis estão diretamente relacionados. O quadro legal influencia a opinião pública e vice-versa. Podemos, com facilidade, constatar que o capital humano nem sempre é reconhecido da mesma forma, aos diferentes grupos culturais minoritários, pela sociedade de acolhimento. As políticas oficiais de acolhimento e a recetividade da opinião pública resultam de indicadores como: morfologia; território de origem; língua; cultura; religião; realização económica; e política. As representações da sociedade de acolhimento resultam, assim de construções sociais fundadas em indicadores sobre os quais existem seculares preconceitos mas que determinam a forma como são desenhadas as políticas de acolhimento e que, na generalidade, coincidem com o grau de recetividade da sociedade de acolhimento. O terceiro nível de acolhimento está relacionado com a importância da comunidade de pertença, considerando a sua dimensão, implantação e importância social, económica, e política.
Foto - Madalena Pires
Os jovens descendentes de emigrantes nas suas estratégias de incorporação vêem-se assim confrontados com um sem número de obstáculos que lhes dificultam a integração e a conquista do reconhecimento de pertença pela sociedade de acolhimento e, não bastassem todos estas barreiras ainda têm, por vezes, a família e o País/Região de origem a competir, por vezes da forma menos adequada, para que mantenha intocada a sua matriz cultural e linguística quando a sua primeira prioridade é (será) a integração. À dimensão das comunidades açor/lusas não corresponde, todavia, a importância social, económica e política que poderia favorecer a diferenciação positiva nas políticas de acolhimento e na promoção do fortalecimento das relações bilaterais entre Açores/Portugal e os países onde existem comunidades portuguesas com uma dimensão considerável. Contudo existe um campo de atuação político que pode favorecer esse processo de integração plena, designadamente onde as comunidades têm dimensão e estão consolidadas.
Considerando que os principais problemas com que as comunidades se confrontam residem na menor ou maior capacidade de integração, com os prejuízos que uma baixa capacidade de integração acarreta para os emigrantes, para a comunidade e para o País/Região de origem, assim e salvo melhor opinião, as políticas de apoio às comunidades, para além do aprofundamento, aperfeiçoamento e adequação a novas realidades das já existentes, devem centrar-se no apoio à integração plena. A disponibilidade dos jovens descendentes para assumir múltiplas pertenças e desenvolver novos vínculos com a matriz cultural de origem só acontecerá quando esteja resolvida a sua incorporação (cultural, social, económica e política) na sociedade de acolhimento, ou seja, quando exercerem a sua cidadania plena. O sucesso do projeto migratório dos pais e a sua integração mais do que uma “forçada” “etnicização” são o principal garante da afirmação da comunidade de pertença e a garantia de que os vínculos com as suas raízes, a seu tempo, sairão reforçados.

(*) Texto escrito em Outubro de 2014 e publicado no “Mundo Açoriano”, na sua edição de Novembro desse mesmo ano. Hoje foi revisto para republicação.

Horta, 17 de Maio de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 18 de Maio de 2015

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Do tempo que corre

Foto - Ana Loura
Não está fácil lidar com os tempos que vivemos, nada fácil. A cultura política bipolar alimentada pelos órgãos de informação, o acriticismo fomentado pelas Escolas de diferentes níveis de ensino para que nada mude, o acessório ao invés do essencial, o imediatismo nas decisões, o determinismo dos estudos de opinião ao invés dos princípios e valores, a atomização social em detrimento do interesse coletivo e tudo o mais que vai caraterizando este nosso tempo.
Como se explica que em ano de eleições para a Assembleia da República, eleições de onde resultará um novo quadro parlamentar que pode, ou não ditar um governo que defenda os interesses do país e do povo, dito de outra forma um governo patriótico e de esquerda, assim os portugueses o queiram mas, como dizia, como se explica que havendo, este ano, eleições para a Assembleia da República a agenda política e mediática esteja focada nas eleições presidenciais do próximo ano. Não que lhes queira retirar importância porque a têm mas, há algo estranho nesta antecipação mediática e, tenho cá para mim que isto não é por acaso. Vejamos quem é que sai favorecido com a discussão centrada nas presidenciais e nos putativos candidatos à presidência e, talvez se perceba. E quem beneficia são os partidos do “arco da governação”, os que exercem o poder (PSD e CDS/PP) porque lhes convém que a atenção dos cidadãos não esteja focada na ação governativa e nos sucessivos indicadores da falência das suas decisões e opções políticas. Por outro lado o partido que se coloca na linha de partida eleitoral como o alternante (PS) à governação da direita também recolhe benefícios desta mistificação pois, assim vai evitando mostrar que não constitui uma verdadeira alternativa política e que as suas propostas para o país em nada são diferentes da receita que tem sido aplicada pela direita, ou seja, governar para alemão ver e português sofrer.
Mas se no país o ambiente político está centrado nas presidenciais por cá o alternante, neste caso o PSD, já está em plena campanha eleitoral e as eleições regionais só acontecem bem lá para o último trimestre de 2016. As insuficiências e fragilidades do PSD nos Açores e do seu líder assim o aconselham, ou pelo menos assim foram aconselhados por algum especialista em marketing, quiçá depois de conhecido algum estudo de opinião desfavorável mas, com sustentação científica.
Se as dificuldades do PSD em se apresentar como alternativa política ao PS Açores são visíveis para quem acompanha de perto a vida política regional, basta ver a capacidade de iniciativa parlamentar dos restantes partidos da oposição para o comprovar, a assunção dessas dificuldades pelo PSD e pelo seu líder tomou, recentemente, outros contornos. Para quem frequenta as redes sociais, designadamente, a que por cá tem mais popularidade já se deu conta disso. Para além das clássicas páginas que todos os partidos mantém nas redes sociais apareceu agora uma outra, a patrocinada ADF.9. Conferidos os conteúdos aí temos os chavões eleitorais do PSD e, permitam-me, um certo culto ao atual líder, diria mesmo que a adulação ao líder é, talvez, exagerada, digo eu que não sou especialista em marketing político, nem no mercado eleitoral.

Ponta Delgada, 04 de Maio de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 06 de Maio de 2015

segunda-feira, 4 de maio de 2015

O Sal da Terra - um documentário

Foto retirada da internet

O “Sal da Terra” - um documentário de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.


Até ao dia 2 de Agosto de 2015 quem for ou estiver por Lisboa pode ir ver a exposição “Genesis” de Sebastião Salgado, na Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional.
Génesis", o último trabalho do fotógrafo brasileiro, inclui 245 imagens a preto e branco, de grande formato, captadas entre 2004 e 2011 nos lugares mais recônditos e desconhecidos da Terra. As fotografias estão apresentadas em diferentes secções - "Sul do Planeta", "Santuários", "África", "Espaços a Norte" e "Amazónia e Pantanal".

Talvez por ser Domingo

Foto - Madalena Pires
Hoje estou numa de melancolia. Não sei se por ser Domingo, se por ser o dia consagrado à Mãe, segundo o calendário comercial pois, no calendário dos filhos a Mãe louva-se todos os dias, se por já quem não está, se por quem cá está, ainda que a 900 milhas de distância, talvez por tudo isso e, ainda, quiçá por coisas de somenos importância como seja, sei lá viver num país onde as televisões passam as manhãs da Júlia, as tardes da Fátima as noites das novelas, dos “reality shows” e dos concursos para quem quer ser milionário, todos eles a disputarem, com o futebol comentado, o topo das audiências. Embora de somenos importância isto incomoda-me, deixa-me mesmo preocupado e, às vezes, pergunto-me como é possível tanta mediocridade, como é possível que um Povo se deixe, assim, estupidificar e troque a vida pela entorpecimento servido nas televisões. Mas, também, só assim se percebe que este Povo tenha trocado Abril por Novembro e aberto a porta para o regresso dos “donos disto tudo”. Sei que não é tão simples como parece dito, assim, com meia dúzia de palavras secas e duras mas hoje não dá nem para amaciar o discurso, nem para aprofundar as causas que estão na origem deste Povo e deste País se terem vendido por um prato de lentilhas.
Mas esta coisa dos estados de espírito, por vezes acabrunhados, outras vezes capazes de enfrentar, com toda a alegria, as agruras da vida, tem pouco que se lhe diga e, até o próprio tempo mais solarengo ou mais cinzentão afeta a nossa boa ou má disposição. Importa, contudo, fazer algumas pausas quando nos invade a abatimento e se instala a inércia, assim como é costume dizer-se, “ vou sentar-me num canto e esperar que a crise passe”, mas não só. A crise até pode passar mas o que lhe esteve na origem, mais tarde ou mais cedo, regressa e volta a instalar-se a “crise” que nos descontenta. Enquanto estamos sentados no “canto” é bom que se inventarie o que nos preocupa, o que nos indispõe, o que nos cerceia a vontade, o que nos entristece pois, só assim será possível identificar as causas, passadas ou presentes, que estão na origem da “crise”. Conhecidas que sejam as causas da “crise” mais fácil será de tomar decisões com o objetivo de as debelar e resolver, de uma vez por todas, a “crise”.
Este texto hoje está a roçar o absurdo mas também ninguém se importará com isso. É mais um dos cíclicos devaneios do Aníbal, dirão os costumeiros leitores deste espaço, prá semana ele volta mais incisivo e a tratar de assuntos objetivos. E assim será. Digo eu, sem ter a certeza que assim venha a ser, tudo irá depender da minha disposição, da minha disponibilidade e, sobretudo, da minha tolerância.
Garanto que a minha inquietude de hoje não se deve ao tempo húmido e chuvoso ao qual se juntou vento forte e agitação marítima. O tempo invernoso que se fez sentir na passada, pelo contrário, causou em mim uma estranha serenidade e, decerto, não contribuiu para que neste Domingo, por sinal ensolarado, se abatesse sobre mim o baço manto da melancolia. Outros terão sido os motivos, talvez até tenham sido aqueles que parecem ser de somenos importância mas que, sei-o bem, são determinantes nas minhas inquietações.

Ponta Delgada, 03 de Maio de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 04 de Maio de 2015

Canyoning - S. Miguel (Açores)


Algumas fotos da Madalena Pires (Cagarros Geocaching) a descer uma cascata durante um evento de Canyoning na Ribeira dos Caldeirões (Nordeste, S. Miguel), no dia 7 de Março de 2015.








domingo, 3 de maio de 2015

Sonho embargado

Foto - Aníbal C. Pires

Futuro adiado

Não é este o futuro
Que as portas de Abril abriram
Este é o presente
Fechado em Novembro

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 03 de Maio de 2015