sexta-feira, 29 de setembro de 2023

artista mulher

foto de Aníbal C. Pires
A cidade da Lagoa, é justo reconhecê-lo, tem uma agenda cultural diversificada e plural. Nem sempre posso aceder aos convites, nem sempre posso estar presente nos eventos, mas sempre que me é possível vou fruir da oferta cultural que a novel cidade tem para oferecer aos residentes e forasteiros.

Na passada quinta-feira fui, finalmente, visitar a exposição de desenho e pintura (aguarelas e caneta) de Ugolina Batista e gostei.

Ugolina Batista - foto retirada da internet


Gostei do espaço e da forma simpática e entusiasta com que fui recebido e gostei do que vi. 

Conheço a Ugolina Baptista e por ela tenho uma respeitável admiração. A Ugolina é uma mulher surpreendente e possuidora de uma invejável energia, mas é também, e quiçá sobretudo, uma artista multifacetada e criativa.

Embora tardios, ficam os meus parabéns à Ugolina Batista e os votos para que nos continue a brindar com a sua arte, engenho e boa disposição.


quarta-feira, 20 de setembro de 2023

a receita

imagem retirada da internet

Dizem-nos os entendidos em economia que o aumento dos juros de referência do Banco Central Europeu (BCE) tem por finalidade travar o aumento da inflação. A receita é conhecida e a minha geração já experienciou, por diversas vezes, esta “fórmula mágica” com os efeitos que lhe conhecemos: empobrecer alegremente ao ritmo da batuta da especulação económica e financeira. A economia e os economistas deixaram, há muito tempo, de exercer o fim primeiro da sua razão de ser e obliteram uma das principais variáveis que alicerçam a sua existência: a redistribuição justa e equitativa da riqueza gerada. A economia deixou de ser uma ciência para ser um nocivo jogo de adivinhação (probabilidades) e os economistas são meros instrumentos robotizados de um modelo social, económico e político desenhado para concentrar riqueza e perpetuar o domínio de alguns (poucos, muito poucos) sobre uma imensa maioria.

A solução para qualquer problema tem de, ou deve ser, construída tendo como principal premissa as suas causas e, naturalmente, para motivos diferentes as soluções devem ser distintas, por outro lado se as medidas paliativas de combate ao aumento da inflação, em determinado momento, são necessárias é, porém, na eliminação das causas que reside a solução para o seu controle efetivo, mas o que assistimos ciclicamente e de forma linear é à aplicação da mesma receita, independentemente, do que lhe está na origem, ou seja, para travar o aumento da inflação aumentam-se os juros de referência, com as perniciosas e conhecidas consequências sobre as famílias e as economias. Os “analistas” de economia e finanças estão divididos quanto à decisão que o BCE vier a tomar durante o mês de setembro. As probabilidades, segundo os especialistas, dividem-se pela manutenção das taxas de referência ou, por um novo aumento (ganharam os segundos). Como se pode verificar os “analistas”, como é habitual, acertaram neste intrincado processo de adivinhação, acrescentam, ainda, que no caso de os juros não sofrerem um novo aumento isso se ficará a dever aos efeitos negativos que pode provocar nas economias da União Europeia (UE), algumas delas, e isto sou eu que digo, já se encontram à porta da recessão o que não significa que os juros não voltem a aumentar pois, os dogmáticos neoliberais que detêm o poder de decisão mandarão a senhora Christine Lagarde fazer o que melhor satisfaz os seus interesses.

imagem retirada da internet
A subida da inflação está diretamente ligada aos desequilíbrios entre a procura e a oferta, o aumento da procura ou um déficit na oferta fazem oscilar os preços dando origem ao incremento, mais ou menos, descontrolado dos preços ao consumidor. A inflação pode, também, resultar do aumento dos custos de produção (matérias-primas, energia, custos do trabalho), de eventos imprevisíveis (catástrofes naturais, guerras híbridas), ou, ainda, de políticas monetárias expansionistas, de entre outros fatores, ou com a ocorrência de duas ou mais causas em simultâneo. A acrescer às variáveis endógenas aduzem-se outras, como seja a especulação. Vejam-se os lucros indecorosos das grandes centrais de compras e distribuição de produtos alimentares e de uso doméstico, das empresas que comercializam a energia e os combustíveis, ou, ainda, da banca, e, por outro lado o continuado empobrecimento da população que, uma vez mais, é vítima dos erros e opções económicas e políticas feitas em seu nome e justificadas como se da sua salvaguarda se tratasse, mas também alicerçadas num modelo social e económico, apresentado e aceite como sustentável e, como tal, acolhida sem reservas pela generalidade da população portuguesa e da UE. Estou a pensar, por exemplo, na destruição do setor agrícola e da desindustrialização, impostas pelas políticas comuns emanadas da UE e que contribuíram para uma crescente dependência de produtos alimentares e da energia. O aumento da dependência de produtos alimentares e das fontes energéticas, no atual contexto, é demonstrativo do quanto têm sido erradas as políticas comuns da UE.   

Qualquer leigo, como eu, identifica um conjunto de fatores que, para além dos efeitos das opções políticas que corroem os setores produtivos em Portugal e no espaço da UE contribuem para justificar a subida dos preços de bens e serviços e, por conseguinte, o aumento da taxa de inflação.

A paralisação económica provocada pelas medidas de confinamento tomadas para enfrentar o grave problema de saúde pública que surgiu em 2020, a guerra híbrida entre os Estados Unidos e a China, tendo como face mais visível a guerra russo-ucraniana, e, por via do conflito, um interminável pacote de sanções à Rússia que, como cedo se percebeu, afetou mais as economias da UE do que o país sancionado. Estes dois eventos, digamos imprevisíveis, justificam, em parte, o aumento dos preços no espaço económico da UE, mas foi o efeito boomerang das sanções e a dependência energética que contribuiu para o aumento dos preços, ainda assim, nem tudo é resultante direta destas circunstâncias. Talvez se possa acrescentar alguns sinais de expansionismo monetário se considerarmos o comportamento dos bancos centrais na resposta à crise de 2007/2008. Se bem se lembram os juros de referência desceram o que permitiu acesso facilitado ao dinheiro, era necessário injetar dinheiro na economia e recapitalizar a banca. As famílias beneficiaram da baixa das taxas de referência, mas a preocupação não era, nunca é, a população o objetivo era, é sempre, a salvaguardada do setor financeiro que, como sabemos, foi o responsável pela crise do subprime.

imagem retirada da internet

Não posso afirmar, com segurança, que o equilíbrio entre a procura e a oferta esteja a contribuir para o aumento da taxa de inflação, ou seja, não tenho dados objetivos que me permitam concluir que se regista um aumento na procura, os parcos rendimentos dos portugueses não o possibilitam, nem tenho conhecimento que exista escassez na oferta, não pela produção nacional, mas pelo recurso às importações. Sei, contudo, que os custos da energia constituem uma importante variável na formação do preço dos produtos e serviços. E, na verdade, o aumento dos combustíveis, do gás e da eletricidade influencia o custo final de produtos e serviços, ainda que, fiquem por explicar os lucros imorais das empresas que negoceiam no setor da energia. Sei também, sabemos todos, que nem todos os males podem ser imputados ao conflito russo-ucraniano.

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O aumento dos juros tem sido a receita, mas como muito bem se sabe existem outros mecanismos que, sendo igualmente paliativos, podem ser utilizados para travar o aumento da taxa de inflação, como seja, o controle de preços. Como disse esta não é uma medida que salvaguarde as economias de outros ciclos inflacionários, mas pode e já devia ter sido adotada pondo termo à especulação de preços que as grandes centrais de compras e distribuição estão a praticar. O controle de preços ou a subida das taxas de juro não são a solução e qualquer destas medidas pode provocar danos colaterais. A opção tem sido pela continuada subida do preço do dinheiro procurando reduzir a procura e penalizando as famílias, em particular, com créditos à habitação, ao invés do controle dos preços que beneficiaria a população e punha fim a um dos fatores exógenos que mais tem contribuído para a subida da taxa de inflação: a especulação.

O aumento e diversificação da produção nacional é, contudo, a opção de médio e longo prazo que melhor pode assegurar a redução da pressão inflacionária. Em Portugal andamos desde 1986 a auto- destruir a nossa capacidade produtiva e, por conseguinte, a perder soberania deixando-nos expostos e permeáveis aos contextos externos, às “jardinices” do Borrel e aos desvarios de Ursula von der Leyen.

Arranhó, 15 de setembro de 2023 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 20 de setembro de 2023

terça-feira, 19 de setembro de 2023

logro

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Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos






(...) O aumento dos juros tem sido a receita, mas como muito bem se sabe existem outros mecanismos que, sendo igualmente paliativos, podem ser utilizados para travar o aumento da taxa de inflação, como seja, o controle de preços. Como disse esta não é uma medida que salvaguarde as economias de outros ciclos inflacionários, mas pode e já devia ter sido adotada pondo termo à especulação de preços que as grandes centrais de compras e distribuição estão a praticar. O controle de preços ou a subida das taxas de juro não são a solução e qualquer destas medidas pode provocar danos colaterais. A opção tem sido pela continuada subida do preço do dinheiro procurando reduzir a procura e penalizando as famílias, em particular, com créditos à habitação, ao invés do controle dos preços que beneficiaria a população e punha fim a um dos fatores exógenos que mais tem contribuído para a subida da taxa de inflação: a especulação. (...)

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Jénifer, a controversa

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A pequena Jénifer ficou sem esperar, conquanto fosse uma sonhadora, no centro das atenções. Nos Açores e, ainda que com menos impacto, pela capital deste triste país que continua a produzir pobres e emigrantes.

Houve quem gostasse e quem não gostasse do livro de Joel Neto que deu à estampa com o título: “Jénifer, ou a princesa de França – As ilhas (realmente) desconhecidas”; é o que normalmente acontece quando é lê um livro, se visita uma exposição de pintura ou fotografia, se visiona um filme, se assiste a um concerto, enfim é natural e não tem nada de estranho a diversidade de opiniões é saudável e contribui para enriquecer o debate público. 

No caso de “Jénifer, ou a princesa de França – As ilhas (realmente) desconhecidas” as opiniões divergentes geraram alguma polémica no espaço público regional. Os contornos são conhecidos e, sobre eles, nada tenho a opinar.

Este texto não intenta, desde logo, alimentar qualquer polémica que é como quem diz atirar achas para a fogueira, já não tenho idade nem paciência para essas estéreis disputas e, por outro lado não pretende ser uma crítica literária, nem poderia, pois, não estou habilitado a fazê-lo. A leitura de “Jénifer, ou a princesa de França – As ilhas (realmente) desconhecidas”, aconteceu apenas por estes primeiros dias de setembro e não tendo sido estimulado pela controvérsia que gerou, não posso negar que essa foi, também, uma motivação, embora mais tarde ou mais cedo chegasse lá. Tenho uma longa lista de livros que aguardam a leitura e este ultrapassou alguns devido à polémica que a sua publicação gerou e que, sem dúvida, ajudou a popularizá-lo. 

Pode gostar-se mais, ou menos, das construções literárias e das narrativas de Joel Neto, mas quem tem por hábito a leitura reconhece valor à sua estética e não lhe fica indiferente. Não li toda a obra do Joel, mas li todos os seus livros publicados desde que regressou aos Açores e, apesar do que politicamente nos separa, reconheço o seu valioso contributo para as letras açorianas, como, no passado, tive oportunidade de tornar público.

Li, reli, e fiquei sem compreender algumas das reações negativas ao livro. A estória é apenas a constatação de uma realidade que afeta um número considerável de açorianos, sem acusações diretas a esta ou àquela formação partidária, a este ou a outro governo regional, aliás o “pecado” do Joel, a existir, está ancorado nas generalizações, quando atribui aos políticos a responsabilidade por uma situação que nos envergonha e que a autonomia regional não resolveu. Nem todos os partidos e protagonistas políticos têm responsabilidade direta pelo retrato dramático, mas pouco conhecido, que o Joel Neto procura dar a conhecer, em forma de novela, e que tanto alvoroço provocou.

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A situação de pobreza, a exclusão, os bairros sociais que albergam os marginalizados que o poder político esconde do olhar da classe média e do postal ilustrado que vende o destino Açores. A iliteracia, o abandono escolar, a gravidez precoce, e nos últimos anos o crescimento exponencial de consumo e dependências de novos psicotrópicos, não são responsabilidade direta do atual governo, ainda que alguns dos seus membros sejam militantes e dirigentes de um dos partidos que governou os Açores durante 20 anos, por outro lado importa, se quisermos ter uma visão holística do problema, olhar para a história e para a origem ancestral da pobreza e da exclusão nos Açores. O modelo de povoamento, o anacrónico sistema da posse da terra, o fascismo português e, só depois para o regime autonómico que se tem mostrado incapaz de resolver esta, como outras questões estruturais da sociedade açoriana, como seja a excessiva sujeição externa da nossa economia e a insistência, historicamente errada, de promover apenas uma atividade económica em detrimento dos necessários equilíbrios dos diferentes setores da economia regional. Mas voltemos às responsabilidades na incapacidade, ou opção política consciente, do período autonómico. A responsabilidade, como já disse, não é do atual governo que está no poder há menos de três anos, embora considere que a Região ao fim deste ciclo político, que se espera e deseja curto, estará ainda mais pobre e com os indicadores sociais e económicos a afundarem. Não é com o assistencialismo e caridadezinha que se resolvem os graves problemas que nos afligem, não é derramando dinheiro público sobre o setor privado que a atividade económica do segundo setor se fortalece, aliás com a dimensão dos apoios ao setor privado é legítimo afirmar-se que: a Região é “acionista” da generalidade das empresas privadas regionais; deve ser por isso que os liberais e outros que tais se querem livrar do peso do setor público na economia.  

Com a revolução de abril e a consagração do sistema autonómico os indicadores sociais e económicos nos Açores melhoraram consideravelmente, é indiscutível. Não vou comparar os dados do princípio da década 70 do século anterior, com os atuais indicadores sociais e económicos, hoje vive-se melhor, muito melhor, nos Açores. A evolução foi significativa nas áreas da saúde, da educação, das infraestruturas, das acessibilidades, de entre outras, mas estamos muito longe de se terem resolvido algumas das questões estruturais que caraterizam a sociedade açoriana. 

Já referi que alguns dos atuais protagonistas do poder executivo pertencem a um partido que governou durante vinte anos, mas aquele que é hoje o maior partido da oposição fofinha governou vinte e quatro. É, por conseguinte, legítimo inferir que nestes quarenta e sete anos de autonomia constitucional a responsabilidade pela dramática situação social e económica de muitos milhares de açorianos vai por inteiro para o PSD e para o PS.

Não há uma varinha de condão para resolver, no curto tempo da governação do atual governo, os problemas que o retrato escrito Joel Neto expõe. As medidas para a resolução do problema, se é que se quer resolver, deveriam ter sido tomadas há muito.

foto Aníbal C. Pires
A narrativa de Joel Neto situa-se em 2020, quiçá prolongando-se para 2021, as alusões ao grave problema de saúde pública que, por essa altura, nos afetou permite ao leitor inferir essa conclusão, ou seja, a novela narra as vivências de uma comunidade marginalizada na fase de transição do último governo do PS para a híbrida solução do governo atual. Outros motivos, que desconheço por completo, poderão estar na origem da polémica à volta do livro e do seu autor, mas não encontro nas páginas de “Jénifer, ou a princesa de França – As ilhas (realmente) desconhecidas”, nenhuma razão que possa justificar, por si mesmo, a polémica que se instalou.

Ignorar e esconder a pobreza e a exclusão remetendo para as periferias as populações e afetar algumas migalhas do erário público, como se de esmolas se tratasse, não é solução. Não tenho soluções milagrosas, mas a intervenção multidisciplinar, a educação parental, a formação e a educação, o acesso ao trabalho com direitos (sem precariedade e com salários dignos), o fim da utilização indevida e generalizada dos “programas ocupacionais”, transformando-os no que realmente são: postos de trabalho efetivos; talvez se constituam como um bom princípio. É mais caro e, mais difícil viver nos Açores, os tais custos da insularidade que o discurso político abandonou, por isso foram criados complementos remuneratórios e apoios fiscais no princípio do século. Os custos do viver insular são permanentes, o que se esfumou foi o discurso político que sustentou a criação de apoios específicos que urgem em ser atualizados. Não é tudo, mas é uma prioridade.

Ponta Delgada, 05 de setembro de 2023 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 6 de setembro de 2023

terça-feira, 5 de setembro de 2023

das leituras

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Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos





(...) Este texto não intenta, desde logo, alimentar qualquer polémica que é como quem diz atirar achas para a fogueira, já não tenho idade nem paciência para essas estéreis disputas e, por outro lado não pretende ser uma crítica literária, nem poderia, pois, não estou habilitado a fazê-lo. A leitura de “Jénifer, ou a princesa de França – As ilhas (realmente) desconhecidas”, aconteceu apenas por estes primeiros dias de setembro e não tendo sido estimulado pela controvérsia que gerou, não posso negar que essa foi, também, uma motivação, embora mais tarde ou mais cedo chegasse lá. Tenho uma longa lista de livros que aguardam a leitura e este ultrapassou alguns devido à polémica que a sua publicação gerou e que, sem dúvida, ajudou a popularizá-lo. (...)

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Conceição Matos - a abrir setembro

Conceição Matos - imagem retirada da internet

Por que lindas são as mulheres que lutam o "momentos" abre o mês de setembro com





Conceição Matos - imagem retirada da internet


"Mulher de rara fibra, de muita coragem e grande dignidade, Conceição Matos cativa pela doçura. Resistente contra a Ditadura e militante do PCP, ficou especialmente conhecida pelas humilhações e torturas a que foi sujeita pela PIDE, na sua prisão."