sexta-feira, 21 de março de 2008

Como a cortiça… sempre à tona

Não deixa de ser interessante, embora pouco abonatório para quem o pratica, verificar como a opinião de alguns actores políticos se molda às conjunturas do calendário político eleitoral e à casualidade do mercado.
Há algum tempo atrás, pouco mais de um ano se tanto, apenas uma voz reclamava para os Açores a possibilidade de produzir mais leite. Produzir leite em função da capacidade instalada, ou seja, sem aumento do encabeçamento nem da área de exploração. E as vozes insurgiam-se contra quem sempre tem vindo a defender este princípio.
Não. Mais leite, não! – Parecia um coro afinado com o Secretário Regional da Agricultura e Florestas, tal maestro, com a batuta a reger os deputados regionais e europeus, os fundamentalistas do betão e outros que tal.



Na altura, Noé Rodrigues chegou mesmo a afirmar, em declarações à comunicação social regional, que essas exigências poderiam resultar em prejuízo dos produtores de leite.
Pois bem! Nos últimos meses e no presente “aqui d’el-rei” que é preciso mais quota. O coro continua a ter o mesmo maestro e a mesma “prima donna” que antes clamavam pelo cumprimento das orientações comunitárias e pelo silêncio da reivindicação, suportada ao abrigo do estatuto das ultraperiferias.
O acaso do mercado (talvez não seja tão acaso assim) ditou a necessidade de se aumentar a produção de leite, pois verificou-se um défice deste e de outros produtos alimentares junto dos consumidores. A indústria aumentou o preço à produção e agora é ver o coro dos compadres, em bicos de pés, a marcar posição em defesa do mais importante sector da economia produtiva regional. Ou não fosse este um ano eleitoral.
Sempre na crista da onda, a boiar ao sabor das casualidades e das ocasiões. Há quem assim seja, moldável, flexível e desprovido de respeito para com os compromissos que uma vez são, outras vezes nem por isso.
A memória dos agricultores não será assim tão curta e em Outubro a justiça poderá ser feita, penalizando quem se mantém à tona como a cortiça, numa atitude parasitária dos momentos.
Justiça pode ser feita, premiando quem mais coerentemente tem defendido a economia produtiva açoriana e em particular a agropecuária, independentemente da conjuntura político eleitoral.
Ponta Delgada, 13 de Março de 2008

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