A paralisia do processo autonómico açoriano que carateriza o período político atual tem as suas principais causas no Governo de Lisboa mas, em bom rigor, não são só as opções políticas de desmantelamento das estruturas do Estado e dos serviços públicos a que está obrigado, seja a educação, a saúde, a segurança social, seja o serviço público de rádio e televisão, que provocam esta paralisia, direi mesmo, sem exagerar, este retrocesso da autonomia açoriana, este processo tem fortes aliados na Região, aliados que pensam a Região como o governo do PSD e do CDS/PP pensa o País.
A reestruturação do Serviço Regional de Saúde apresentado pelo Governo regional carrega consigo as teses do centralismo. Concentra o poder e os serviços, afasta os cuidados de saúde dos cidadãos e não tem um único resquício, uma única medida e proposta que considere o desenvolvimento harmonioso, pelo contrário acentua as assimetrias regionais, mesmo sem sair da mesma ilha. Lamentável.
Mas se proposta do Governo de Vasco Cordeiro para a área da saúde mereceu um amplo e transversal repúdio que obrigou o Governo a recuar, outras propostas e opções, do Governo regional, do Estado, ou dos dirigentes dos serviços públicos que o Estado assegura na Região nem sempre têm merecido a atenção devida dos cidadãos e acabam por fazer vencimento.
A RTP Açores tem vindo a sofrer um processo de transformação que tem como objetivo final transformar o “canal regional” numa janela de notícias no canal 1 da RTP, procedimento que está visceralmente ligado à estratégia de destruição da RTP, SA tal como a conhecemos. Críticas aos conteúdos, à gestão, ao desperdício na RTP, SA, enfim ao custo deste serviço público podem e, sobretudo, devem ser feitas. Estou e estarei na linha da frente para as fazer, mas vou, desde já, fazendo uma declaração de intenções, os males de que sofre a RTP, SA não podem, nem devem, ser assacadas aos trabalhadores e, muito menos aos custos com o trabalho
As opções editoriais e de produção de conteúdos da RTP, SA, em clara e errada estratégia de concorrência com as televisões privadas, serão porventura as causas mais profundas dos custos da televisão pública. Custo com que se pretende justificar a “reestruturação” da RTP, SA, e cujos efeitos mais perversos se irão fazer sentir sobre os trabalhadores da rádio e televisão pública sobre a forma de despedimentos, rescisões amigáveis e reformas antecipadas, ou seja mais umas largas centenas de trabalhadores a quem vai ser sonegado o direito ao trabalho.
A RTP Açores pela mão de sucessivas direções regionais, da qual a atual se destaca, tem vindo a implementar a estratégia centralista de Lisboa e, em alguns casos até vai mais longe do que lhe é pedido, desperdiçando vontades e disponibilidades dos seus trabalhadores e colocando em causa o funcionamento do centro e das suas delegações. Esta atuação nem sempre é visível aos olhos dos espetadores e, talvez por isso, a estratégia frutifique rapidamente. São os equipamentos obsoletos, são as instalações em ruína e é, sobretudo, a falta de recursos humanos nas áreas técnica e operacional colmatada com o recurso, sempre mais caro, ao “outsourcing” e à contratação a recibo verde.
A falta de autonomia financeira e administrativa da RTP Açores e a cegueira da sua direção regional têm, obviamente, efeitos na autonomia editorial e, não há critério editorial ancorado em duvidosos critérios do interesse público que justifique opções editoriais como as que se estão a verificar com a cobertura televisa da pré campanha para as Eleições Autárquicas de 29 de Setembro.
A Direção de Informação da RTP Açores, e não interessa se a mando ou não da sua Direção regional, está a contribuir para espessar o nevoeiro informacional ao personalizar as candidaturas às Câmaras Municipais branqueando, assim, as responsabilidades do PS, do PSD e do CDS/PP na profunda crise social e económica em que se encontra mergulhado o País, mas também, responsabilidades na gestão das nossas autarquias. Muitos dos candidatos autárquicos são parte dos problemas com que nos confrontamos, não são solução para as dificuldades com que os cidadãos se confrontam. Mas grave, mesmo grave, pelo significado político cuja essência se funda no mais cristalizado centralismo regional, é a anunciada intenção da Direção de Informação RTP Açores de realizar todos os debates das candidaturas autárquicas nos estúdios de Ponta Delgada. Há certamente outros motivos bem mais pragmáticos para justificar esta opção, como sejam a falta de recursos humanos e técnicos que impossibilita a realização dos debates em Angra e na Horta, para além de Ponta Delgada, e os motivos até podem ser de ordem prática mas, não deixam de ser profundamente preocupantes pois é o prenuncio do fim da tripolaridade na RTP Açores.
Ponta Delgada, 26 de Agosto de 2013
Foto=> Catarina Pires
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 26 de Agosto de 2013, Ponta Delgada
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