quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Compromisso com o futuro


Foto - Madalena Pires
Ainda que sem expetativas, nem grandes nem pequenas, quanto a alterações nas condições de vida da generalidade dos portugueses para 2015, manda a tradição que formule votos de um feliz Ano Novo, um ano que desejo de prosperidade para todos quantos não têm tido acesso à fortuna de ter trabalho e um rendimento digno. E faço-o não só porque manda a tradição, faço-o porque sinceramente é esse o meu desejo. Desejo que traduzo no meu quotidiano de luta por mais e melhor justiça social. Não espero transformações mas não renuncio a procurar que as haja, não desisto de lutar e continuo a alimentar a esperança e a luta pela sua concretização.
O ano que agora se inicia é de eleições e de entrada de fundos do novo quadro comunitário e apoio, para além de outros indicadores teoricamente mais objetivos que os comentadores de e ao serviço não se cansam de referenciar, isso não é sinónimo de que as transformações económicas sociais e políticas necessárias para inverter o rumo de destruição do Estado e para a recuperação económica e reposição de direitos sociais básicos, venham a concretizar-se.
Se dos dois primeiros factos irá resultar alguma animação económica com efeitos positivos na dramática situação social que vivemos, em boa verdade os seus efeitos serão paliativos, pois não se espera que o resultado eleitoral possa acabar com o domínio do bloco central, e os fundos europeus, como é sabido, não resolveram nem resolverão os graves problemas que afetam Portugal e os portugueses, apenas prolongam a agonia da dependência e da subserviência. 
Por outro lado os sinais de recuperação e crescimento com que nos ludibriam são isso mesmo, um logro. Que importância tem o crescimento económico se ele não for sustentável e daí resultar uma equitativa distribuição da riqueza criada. Ou seja, se os pressupostos políticos e económicos não forem alterados, se o poder político protagonizado pelo PS e pelo PSD, sempre com o oportunístico apoio do CDS/PP, continuar de cócoras perante o poder financeiro, que importância terá o anunciado e desejado crescimento económico para os trabalhadores e para os povos. Se isto justifica as baixas expetativas que tenho para 2015 também significa que as alternativas existem.
E é pela rutura e pela construção de uma alternativa política patriótica e de esquerda que 2015 poderá ser diferente. Esse é o meu compromisso para no Novo Ano, esse é o meu compromisso com o futuro, contribuir para que seja possível trazer de novo a alegria e a dignidade ao povo de onde nasci.
Bom Ano.

Ponta Delgada, 30 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 31 de Dezembro de 2014

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Da humanidade

Foto - Madalena Pires
Todos os homens, é certo que uns mais do que outros, me merecem respeito, mas nem todos granjeiam a minha admiração, apenas um número muito reduzido me maravilha.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 5 de Janeiro de 2014

(*) => excerto doprimeiro texto que escrevi e publiquei em 2014

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Venham também

Foto - Madalena Pires
Se foi bom, Poderia ter sido mas não foi. Se me refiro ao ano que agora finda, sim é disso que falo. Não foi bom para mim, e tenho cá para mim que não foi bom para a generalidade dos habitantes do planeta. Mas aconteceram tantas coisas boas ao longo do ano, É verdade aconteceram e poderia até enunciar, sem grande esforço, um alargado conjunto de factos conhecidos e, até outros tantos menos conhecidos que sobejavam para poder fazer uma outra apreciação de 2014. Mas não vale a pena iludir-me e muito menos contribuir para alimentar a cultura do menos mau que induz a inércia e a resignação. Não estou para isso, não estou para alimentar ilusões. Ludibriar é um papel que cabe bem à comunicação social de referência e, para fantasias e entorpecimento coletivo já chegam os programas de entretenimento que povoam as manhãs e tardes televisivas, o futebol televisionado dentro e fora do retângulo, os reality shows, os concursos e outros sucedâneos.
Se desisti, Não. Não desisti. Mas este ano, estes anos passados produziram um estranho efeito em mim. Estou mais tolerante mas também mais determinado. Se é da idade, Não direi que não. A passagem do tempo vai deixando as suas marcas e eu já tenho no meu saldo um boa conta de aniversários de nascimento. Conheço-me hoje melhor e isso deve-se aos anos já vividos, é uma vantagem da idade.
Estou mais tolerante e racional, raras vezes reajo intempestivamente e penso refletidamente no que digo ou escrevo. Procuro sempre entender porquê compreendo as razões de cada um e não julgo ninguém, esse é um papel que não me cabe a mim.
Estou mais determinado porque continuo a acreditar, e não é uma questão de fé. Acredito que mais tarde ou mais cedo terão de acontecer profundas alterações sociais, económicas e políticas e estou determinado a continuar a lutar por elas, ainda que ao meu redor encontre uma enorme mole de resignados, outros tantos assumidos serventuários de um poder podre, inúmeros ativistas de sofá e, muitos outros a identificar os efeitos, a mobilizar vontades, muitas vontades, descurando a génese dos problemas que enfrentamos e sem projeto político alternativo. São os inorgânicos, estão na moda geram muita simpatia mas são inconsequentes e permeáveis ao poder oculto dos donos do Mundo. Quantas e quantas vezes não passam de meras válvulas de escape para o descontentamento social e político.
Podem, poder podem contribuir para mobilizar descontentamentos e dar contributos para a tão desejada transformação que não pode, como está comprovado, ancorar-se no reformismo. Isso seria mais do mesmo que temos tido com os resultados que todos conhecemos. Podemos, poder podemos e devemos transformar revolucionando, rompendo e apresentando alternativas políticas que não podem resumir-se à mera substituição dos atuais protagonistas, como me parece ser o caso de movimentos sociais e políticos que por aí proliferam como os cogumelos no Outono. Os exemplos são muitos e conhecidos que nem vale a pena referenciá-los nominalmente.
Reconheço a sua importância e não a menosprezo, todavia tenho dúvidas, muitas dúvidas que possam ser estes os agentes da transformação social, económica e política pela qual ansiamos.
Daqui a dias, é já depois de amanhã, entramos num novo ano. Ano sobre o qual não tenho grandes expetativas, embora seja expetável devido a fatores objetivos e menos objetivos, que o próximo seja melhor que os anteriores. Mas melhor é pouco, só ficarei satisfeito se for muito melhor. Quero-o para mim e quero-o para todos e vou lutar por isso. Venham também.
Votos de um excelente 2015.

Ponta Delgada, 28 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 29 de Dezembro de 2014

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Os dias que correm


As TV’s, as rádios, os jornais, as redes sociais, as montras dos espaços comerciais e o calendário dos rituais religiosos ou não, convocam-nos para a celebração. Não há como escapar, tudo e todos à nossa volta nos lembram que estes são, ou devem ser, dias diferentes. 
E assim acaba por acontecer. Embora as garças continuem o seu bailado aéreo, o Sol se levante e deite dando lugar ao dia e à noite, as marés continuem a acontecer num enlace continuado do mar e da terra. Apesar de tudo à nossa volta se manter inalterável, apesar disso os dias por volta do Natal e do aproximar de um Ano Novo transformam o nosso comportamento. Não sei se para melhor ou pior mas como não sou homem para fazer juízos levianos digo, como já o referi, que por estes dias de celebração se observa uma certa alteração comportamental.
Como fugir, se é que queremos, a este frenesim das compras, da troca de presentes, das casas decoradas com árvores, presépios e do “pisca-pisca” das luminárias coloridas das lojas chinesas, não há como evitar a não ser que não haja como comprar, sim que isto das celebrações tem os seus custos.
Pode parecer mas não, eu também gosto de celebrar. Do que não gosto mesmo é que muitos de nós não possam sequer celebrar uma refeição, não por estes dias mas todos os dias do ano, do que não gosto mesmo é que o acesso a direitos básicos nos esteja a ser negado, desde logo o direito mais elementar que é o direito ao trabalho. Sem respostas para que todos os nossos concidadãos tenham este direito básico satisfeito temos pouco, muito pouco para celebrar. 
Do pouco que resta para celebrar façamo-lo reforçando os laços familiares, cultivando a solidariedade e amizade, sim façamos tudo isso sem nunca perder de vista que essa deve ser a nossa prática diária e não apenas um momento no ano para ficarmos com a consciência limpa.
Chegado aqui há que cumprir aquilo que se espera de um escrito de Natal. Não há como fugir ao ritual. Ninguém compreenderia, poderia até correr o risco de ser acusado de heresia, no sentido pagão do termo entenda-se, que é como quem diz, mas que disparate.
Então lá vai sem ironias subjacentes. Votos de Boas Festas e um Feliz Natal. 
Ponta Delgada, 16 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 24 de Dezembro de 2014

BOAS FESTAS


Com os votos de Boas Festas.
Que o futuro vos traga a realização e satisfação pessoal e profissional.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Esperança no porvir

Foto - Aníbal C. Pires
É já madrugada, o Solstício de Inverno aconteceu à pouco mais de uma hora dando início a mais um ciclo de vida, Vida que irá despertar luxuriante quando por esta latitude for o tempo do Equinócio da Primavera, que em 2015 acontecerá a 20 de Março. Fica a referência à data que hoje (21 de Dezembro) marca o dia da noite mais longa do ano e o início do Inverno. Nada de novo repete-se a cada órbitra terrestre, não é uma imposição do calendário gregoriano, adotado no século XVI e exportado da Europa para o Mundo, nem todos os mundos, que é como quem diz nem todas as civilizações, culturas e religiões o adotaram. 
O calendário assinala também o tempo dos homens e das culturas, por cá e por todo o mundo católico preparam-se as celebrações do Natal. É um tempo diferente, um tempo de solidariedade, um tempo de encontros e reencontros, um tempo de reflexão, com Deus ou sem ele. É tempo de fechar um e iniciar outro ciclo anual, é tempo de olhar para o que passou e de renovar a esperança no porvir.
E porque é de esperança que alimentamos os nossos sonhos por estes dia, mais do que nos restantes, desejamos para nós e para os outros um futuro melhor e, acreditamos, com fé ou sem fé, que sim, Sim é possível um Mundo melhor para todos. Não sabemos como nem quando será possível mas, ainda assim, continuamos a acreditar, continuamos a sonhar, pacientemente mas sem resignações continuamos a lutar.
Os votos de Boas Festas que hoje quero formular não têm um significado especial, nem são diferentes do que desejo todos os dias para mim e para todos os habitantes da casa comum a que chamamos Terra. Não o digo sempre da mesma forma mas nem por isso deixa de ter o mesmo significado. As Boas Festas que vos desejo neste Natal de 2014 são as mesmas que vos desejo todos os dias que se seguirão a este Natal, porque amanhã nascerão outras crianças, porque amanhã e todos os dias que se lhe seguem acontecerá vida.
Boas Festas e um Feliz Natal, hoje e todos os dias da nossa existência.
Ponta Delgada, 21 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 22 de Dezembro de 2014 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

"No djunta mon"

Foto - Aníbal C. Pires
A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA) aprovou, por unanimidade uma proposta da Representação Parlamentar do PCP que recomenda ao Governo Regional que, em coordenação com o Governo da República de Cabo Verde e dentro das possibilidades orçamentais da Região, envie ajuda humanitária destinada a apoiar as populações afetadas pela erupção do Pico do Fogo, bem como ative outros mecanismos de ajuda e cooperação adequados, que permitam minorar as dificuldades dos seus habitantes. 
O vulcão do Pico do Fogo, na ilha do Fogo, na República de Cabo Verde entrou em erupção no passado dia 23 de Novembro. Desde essa data as torrentes de lava já destruíram completamente as localidades de Portela e Bangaeira, arrasaram casas, estradas, campos agrícolas e edifícios públicos, como o edifício do Parque Natural da ilha do Fogo e a Adega Cooperativa de Chã das Caldeiras, entre outros. 
Apesar dos extensos danos materiais, não se registaram felizmente quaisquer vítimas. No entanto, cerca de 1200 habitantes, até agora, tiveram de ser deslocados de suas casas, prevendo-se que este número possa vir a aumentar significativamente, à medida do avanço das torrentes de lavas pela ilha.
Esta catástrofe atinge uma das ilhas mais pobres do arquipélago de Cabo Verde, lançando os seus habitantes numa situação extremamente difícil do ponto de vista da sua sobrevivência, constituindo-se assim, como uma urgência humanitária a que urge dar resposta.

Foto - Aníbal C. Pires
O Estado Português já colocou no local uma Corveta e um helicóptero para assistir às evacuações e outras operações de salvamento, bem como um primeiro apoio humanitário para os desalojados.
Os açorianos conhecem bem este tipo de catástrofe, pois também, o nosso arquipélago, num passado não muito distante sofreu os terríveis efeitos de erupções vulcânicas perante as quais todos os esforços humanos são fúteis e que arrasam sem piedade moradias, propriedades e labores de vidas inteiras, tudo recobrindo do manto negro duma destruição sem apelo.
As profundas ligações, históricas, sociais e familiares entre o Povo Cabo-verdiano e o Povo Açoriano, não nos permitem ficar indiferentes perante esta catástrofe e obrigam-nos a empreender um esforço de solidariedade ativa para minorar o sofrimento dos habitantes da Ilha do Fogo. 
Essa solidariedade está já em marcha, a título privado, em vários pontos do nosso arquipélago, juntando a boa vontade e os donativos de muitos açorianos para socorrer as populações afetadas pela erupção. No entanto, esse esforço deve também ser assumido pela Região no seu conjunto, através da Administração Regional.
Esta proposta do PCP Açores, aprovada na ALRAA, pretende alargar as áreas de ajuda e cooperação dos Açores com Cabo Verde num esforço de “djunta mon” (dar as mãos, juntar vontades) no auxílio às populações afetadas pela erupção vulcânica do Fogo e, por outro lado tem também o valor simbólico, mas não despiciente, de envolver o principal órgão autonómico açoriano num esforço de solidariedade ativa com Cabo Verde e, em particular com as populações da ilha do Fogo.
Ponta Delgada, 16 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 17 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A ERSE e a autonomia regional

O PS e o PSD voltaram a chumbar a iniciativa do PCP Açores que visava reduzir, para as famílias e empresas, 10 % os custos com a energia elétrica na Região. A justificação não é nova. Temos pena dizem em coro, o PS e o PSD, mas a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) não deixa, podia até retirar o apoio anual à convergência do tarifário elétrico. A pergunta lógica é, mas então quando a EDA distribui dividendos aos acionistas a ERSE não repara, ou quando, como aconteceu o ano passado os membros do Conselho de Administração da EDA, foram aumentados mais de 15%, a ERSE não repara. Uma outra pergunta decorre das anteriores. Porquê, Bem talvez seja porque os membros da administração da ERSE são homens de mão do PS e do PSD, sendo que dois deles até já passaram pelos governos do PS e um outro foi nomeado pelo atual governo da República.
Os leitores dirão que isso não significa nada e eu direi que significa tudo. E não é só no setor energético que o PS e o PSD estão conluiados. Fazendo alguma pesquisa para avivar a memória facilmente se conclui que à relação do PS com o PSD se aplica o conhecido dito popular, uma mão lava a outra.
Mas voltemos à EDA que como se sabe é uma empresa de capitais maioritariamente públicos e que de entre os acionistas privados, a ESA, Energia e Serviços dos Açores, empresa do Grupo Bensaúde, detém 39,7% do capital social da elétrica regional.
É para o Grupo Bensaúde que é encaminhada uma fatia substancial dos 17,5 milhões de Euros distribuídos em dividendos ao longo dos últimos 5 anos. Um grupo que por acaso também é o fornecedor da própria EDA, que fez compras, em 2013 a várias empresas do Grupo Bensaúde num valor superior a 56 milhões de euros, em combustíveis e outros fornecimentos. Um Grupo que lucra assim por duas vias, como fornecedor e como acionista. 
A EDA, em vez de ser, como devia, uma alavanca do progresso dos Açores, tornou-se num negócio altamente lucrativo para o Grupo Bensaúde. O acionista maioritário continua a ser o Povo Açoriano mas para as famílias e empresas regionais não há dividendos. 
Mas o PS e o PSD estranharam, como já tinham estranhado, esta proposta do PCP Açores. Nem parece uma proposta de esquerda, dizem o PS e o PSD, então o PCP não tem em consideração os rendimentos das famílias nem a dimensão das empresas. Não tem, nem tem que ter, aliás para as famílias existe já uma tarifa social, não muito divulgada e utilizada mas, já existe. O objeto da proposta é bem diferente, a proposta do PCP Açores destina-se a apoiar a economia regional, por um lado aliviando os encargos mensais das famílias deixando, por essa via, mais rendimento disponível e, por outro lado reduzindo o centro de custos com a energia elétrica, das empresas e das autarquias. Esta era, e é, uma boa medida de apoio à economia regional e sem custos para o orçamento regional mas, o PS e o PSD, preferem outros caminhos.
A EDA tem vindo a fazer, com apoio das finanças públicas, um importante investimento em energias renováveis o que tem contribuído para a diminuição do custo de produção. Este investimento nas energias limpas é bom para todos os açorianos, coletivamente, no âmbito do esforço para reduzirmos a nossa pegada de carbono. Mas tem de ser também positivo para todos nós, famílias e empresas, individualmente considerados, como uma redução de custos na fatura da energia elétrica.
Foi esta medida de apoio às famílias e às empresas açorianas que o PS e o PSD, pela segunda vez, se recusaram a aprovar na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA). Foi esta medida de apoio à economia regional que o PS e o PSD, pela segunda vez, se recusaram a aprovar na ALRAA. Mas como não há duas sem três, o PCP Açores voltará a apresentar uma proposta semelhante logo que regimentalmente seja possível. Ou seja, a partir do mês de Setembro de 2015.
Ponta Delgada, 14 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 15 de Dezembro de 2014

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Rankings e sucesso escolar

Foto - Aníbal C. Pires
Debater os resultados escolares na Região de forma reativa e à sombra da publicação dos resultados dos exames nacionais, com a qual se constrói um dito ranking, no qual as escolas açorianas não atingiram posições elevadas, com reflexos mais ou menos bombásticos, mais ou menos sensacionalistas na comunicação social da Região, é sempre um mau contexto para analisar, com o rigor, com a seriedade e com a profundidade, que os problemas do sucesso escolar e os resultados escolares nos devem merecer. 
É um mau contexto porque a aparente objetividade da classificação numérica contribui muitas vezes para esconder a dimensão multifacetada e complexa dos problemas das escolas e dos alunos. É um mau contexto porque estamos perante uma simplificação, diria mesmo uma abordagem simplista, de um problema de grande complexidade. 
Tenho sérias reservas a esta forma de análise do sucesso escolar porque considero o ranking das escolas redutor. Não se pode reduzir ao resultado matemático dos exames a formação integral dos alunos, que passa pela aprendizagem de conteúdos, mas também pela aquisição de competências e pelo desenvolvimento de capacidades e comportamentos que não são avaliáveis em testes de papel e lápis e cujos efeitos só são muitas vezes visíveis anos mais tarde. O ranking das escolas faz comparações ilegítimas, porque não leva em linha de conta os contextos sociais, económicos e geográficos em que as escolas se inserem, bem como mistura as escolas públicas, que aceitam todos os alunos, independentemente das suas dificuldades, e os colégios privados, que efetivamente selecionam alunos, quanto mais não seja pela capacidade económica dos seus encarregados de educação. O ranking das escolas é um instrumento demagógico que, ao contrário do que se quer fazer crer, não está ao serviço da melhoria da qualidade das escolas mas sim da elitização do sistema educativo e da introdução de uma lógica de mercado na educação, comparando o que não é comparável, para desfavorecer a escola pública.
Podemos e devemos, naturalmente, discutir o que é que deve ser alterado ou melhorado no Sistema Educativo Regional para combater o insucesso escolar. Mas não devemos, nem podemos ignorar as causas que lhe estão na origem, sob pena de entrar em discussões estéreis cujos efeitos serão, isso mesmo, improdutivos.
Se ao mapa do insucesso escolar sobrepusermos o mapa das carências sociais, verificamos uma coincidência, que não é sempre linear nem absoluta, mas que é significativa. Não é uma novidade, nem uma descoberta recente, mas um fenómeno estudado e conhecido, embora muitas vezes esquecido ou obliterado dos discursos e da memória política. Pode seguramente afirmar-se que há uma correspondência direta, em termos estatísticos, entre o bem-estar económico dos cidadãos e o sucesso escolar. Não é certamente o único fator que influencia o sucesso escolar mas é com certeza um dos mais estruturais e relevantes. E os Açores são das piores regiões do nosso país em função disso mesmo, isto é, somos uma das regiões mais pobres deste país. 
Se é verdade, e deve ser dito, que temos em geral um bom Sistema Educativo Regional, com professores altamente qualificados, em boas escolas, com bons equipamentos, também é verdade que temos milhares de famílias que regressaram, ou nunca chegaram a sair, de uma situação de grave pobreza, em que as exigências da sobrevivência quotidiana se sobrepõem a todas as outras considerações. Temos demasiados açorianos que, apesar de trabalharem e se esforçarem diariamente, não conseguem sobreviver condignamente. Temos demasiados jovens que, tendo estudado, têm como única resposta um desemprego juvenil esmagador, mostrando à geração seguinte que, afinal, estudar não compensa e que não vale a pena ter expectativas de uma melhoria na sua situação. Temos demasiadas famílias açorianas imersas no ciclo vicioso das baixas qualificações, desemprego, pobreza, para podermos esperar que o resultado fosse diferente. 
Dissociar a Escola do contexto em que está inserida ou atribuir-lhe responsabilidades que lhe são exógenas não me parece ser o melhor caminho para uma discussão séria e rigorosa para avaliar o ensino na Região ou no País. Reduzir a avaliação do Sistema Educativo Regional a um momento é obliterar o percurso de aprendizagem, ou seja, de onde se partiu e onde se chegou. Como sabemos alguns dos nossos alunos partem de patamares muito baixos e, por vezes, a sua conquista para a cultura escolar e a sua socialização é, em si mesmo, um sucesso da Escola. Se é verdade que o Sistema Educativo Regional tem de encontrar respostas não é menos verdade que a solução global para os insucessos da Escola na Região Autónoma dos Açores não depende apenas do sistema mas das políticas e opções de desenvolvimento que são adotadas.
Horta, 09 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 10 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Viva o baixo custo


Foto retirada da internet
Vive-se um ambiente de efusivo contentamento nos Açores, mais em S. Miguel do que nas restantes ilhas mas para alguns isso não é verdadeiramente importante, para mim é que olho para os Açores como um ente diverso mas único. O custo das passagens aéreas, de Ponta Delgada para Lisboa e Porto, vai cair a pique, e, não são apenas rumores, as simulações e aquisições de viagens feitas nos sites das empresas, até na SATA, ditam essa nova realidade, passagens de baixo custo. Com o tempo veremos quais serão os verdadeiros custos.
Não sei se é pelo meu conhecido mau feitio, se é porque não acredito em tudo o que me dizem ou é publicado, se é porque vivo numa região onde a dispersão territorial e pequena dimensão populacional devem ser consideradas quando se produzem alterações com a que vai suceder, ou ainda porque não acredito nas virtualidades do mercado. Seja lá por que motivo seja, e embora viva em Ponta Delgada, não partilho dessa satisfação que um segmento da população residente em S. Miguel tem manifestado. Não conheço o texto final que resulta da revisão da Obrigações de Serviço Público, ou seja, não sei quais as condições em que posso viajar e, como eu, a grande maioria dos residentes em S. Miguel. O perfil do passageiro ilhéu não se coaduna com as operações de transporte aéreo de baixo custo. A maioria dos ilhéus viaja por necessidade e, quantas e quantas vezes sem possibilidade de prever a data da partida e da chegada, isto para não falar na necessidade de transportar bagagem de cabine e de porão que vai para além do que o transporte de baixo custo oferece. E não havendo, nas rotas liberalizadas, limite ao custo das passagens aéreas é de esperar que, por vezes, este valor possa atingir várias centenas de euros. É certo que seremos ressarcidos pelo valor pago além de 134 euros, mas será necessário ter disponibilidade financeira para suportar o preço da passagem aérea no acto da compra da viagem. Isto para quem reside em S. Miguel. 
Nas outras ilhas como será. Vejamos, para já, o caso da Terceira. Agora que se começa a levantar o véu sobre o novo modelo de transportes aéreos entre a Região e o Continente as preocupações sobre as suas supostas virtualidades aumentam. E se em S. Miguel se instalou um clima de festa, na Terceira as interrogações são muitas. Afinal quem é que vai assegurar o transporte aéreo dos terceirenses para o exterior, é que tratando-se duma rota liberalizada seria expetável que as tão disponíveis companhias low cost para ali voassem mas, até ao momento, não há conhecimento de que nenhuma tenha mostrado interesse. Voar para os Açores sim, mas apenas para S. Miguel. Tratando-se uma rota liberalizada a pergunta ganha cada vez mais consistência. Quem vai assegurar e em que condições o transporte aéreo dos terceirenses.
Foto - Aníbal C. Pires
Se o direito à mobilidade e ao não isolamento é um direito do Povo Açoriano, que o elevado custo das passagens aéreas interilhas e para o continente não garante esse direito, que era, e é, necessário introduzir alterações ao modelo de transportes aéreos e que essas mudanças teriam, e têm, forçosamente de passar pela redução das tarifas e taxas, se tudo isto é consensual, não será menos verdade que o modelo que foi encontrado não foi desenhado tendo, à cabeça, essa preocupação.
Nem sempre ter razão me enche de satisfação, este será o caso. Tenho vindo nos últimos anos, em diferentes fóruns, a questionar sobre esta e outras questões que com esta se relacionam, como seja a defesa da SATA. Grupo empresarial da qual somo todos acionistas. Quanto ao modelo de transporte já todos vamos percebendo que este é um modelo para uma ilha, que este é um modelo para subsidiar empresas privadas por via da indemnização paga ao passageiro, que este é um modelo para satisfazer alguns grupos económicos privados do setor do turismo, que este é um modelo que pode colocar em causa a sobrevivência do Grupo SATA, aliás continua a não se perceber porque é que o Plano Estratégico do Grupo para o período 2015-2020 ainda não é conhecido. 
Ponta Delgada, 07 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 08 de Dezembro de 2014

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O dia que prometia azul entristeceu

Foto - Aníbal C. Pires
Está chegada a noite de um dia em que amanheci ainda o Sol não se tinha levantado no horizonte. Era apenas mais um dia. Ainda que este fosse o primeiro dia do último mês do ano. Era apenas mais um dia de partida com destino diferente donde ontem regressei. O destino é conhecido mas ainda e sempre aliciante e o dia prometia azul no mar e no céu.
Já na ilha que hoje foi meu destino, Terceira, não de ordem mas de nome, e ainda manhã do dia em que Portugal comemora a restauração da independência nacional, recebi a notícia, Oh camarada é para te informar que o Luís Bruno morreu esta noite. Sabia que o Luís estava doente, sabia da gravidade da sua enfermidade, sei que a vida um dia termina, sabia e sei tudo isso mas, nem por isso deixei de sentir o meu coração a entristecer e o meu pensamento a viajar ao encontro do Luís, ao encontro dos momentos e lutas que com ele partilhei.
Depois daquele telefonema que anunciou a partida do Luís o dia, que prometia azul, turvou-se. Cumpri o calendário que estava previsto, fiz o que tinha de fazer e só agora houve tempo para me reconciliar com o tempo, tempo sempre tão escasso.
O Luís ausentou-se sem termos concretizado aquele jantar que tínhamos agendado. Jantar que se destinava a concluir uma conversa iniciada nos idos anos 80 da centúria anterior. Pois é faz tempo, tanto tempo. Mas o tempo faltou para estar com o Luís mais tempo, não pela interminável conversa, mas pelo tempo que gostava de compartilhar com o Luís.

Foto - Madalena Pires
Quem privou com o Luís sabe que ele tinha tempo para todos os que o procuravam. Essa seria, talvez, a marca da sua generosidade. Uma incomensurável disponibilidade para tudo e para com todos. Sinto-me vulgar aos escrever estas palavras, não que tenha outras pretensões para além a de querer ser um comum cidadão mas, porque o Luís não está aqui. Não vai ler, não vai ouvir, e eu não tenho assim tanta certeza de que lhe tenha dito o quanto o admirava e respeitava, o quanto gostava dele, o quanto gostaria de continuar a nossa infindável conversa.
Este dia que prometia azul e assinala, por ser o primeiro dia de Dezembro, um outro dia primeiro de Dezembro do ano de 1640 também azul, também vermelho de luta contra a ocupação espanhola, também vermelho da luta de libertação e restauração da independência nacional, acinzentou-se com a tua partida.
Os dias voltarão a ser daquele azul, serão de novo e sempre vermelhos da luta que também era tua. Mas hoje Luís, hoje não foi, hoje não é. Hoje o dia que amanheceu azul cedo obscureceu os nossos corações.
Até sempre camarada Luís Bruno.

Angra do Heroísmo, 01 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 03 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Ao Luís Bruno

O Luís Bruno partiu hoje.
Permanece o exemplo do homem íntegro, do notável profissional, do militante comunista, do amigo.
Ficas connosco Luís.
Permaneces no coração dos teus familiares, permaneces na memória dos teus amigos e camaradas, permaneces na alma das gentes do Faial, gentes a quem tu servistes como médico, como cidadão, como dirigente político e associativo.
Até sempre camarada.

Opções orçamentais

Trabalho, Trabalho justamente remunerado, trabalho com direitos. É o clamor que se ouve na Região Autónoma dos Açores. Trabalho, Trabalho justamente remunerado, trabalho com direitos é o grito do Povo Açoriano.
Como é que o Governo Regional responde a este anseio, como é que o Governo Regional responde à necessidade de políticas públicas de emprego. A este grito pelo exercício de direito ao trabalho, justamente remunerado, consagrado pelas Nações Unidas na Carta dos Direitos Humanos, a este direito o Governo Regional responde com um aumento de 46% nos programas de incentivos às empresas e a continuidade de uma política salarial que promove a pobreza.
As empresas são as grandes beneficiárias do orçamento, empresas que muitas vezes não contratam ninguém porque lhes é fornecida abundante mão-de-obra gratuita, sob a forma de “estágios”, empresas que muitas vezes não pagam o que é devido aos trabalhadores, pois sabem que o medo do desemprego é maior do que a revolta de trabalhar sem receber.
Empresas que muitas vezes vivem apenas do financiamento público, recebendo apoios para elaboração de projetos, aquisição de instalações e equipamentos, custos bancários e financeiros, tesouraria, matérias-primas, marketing, os transportes, custos de exportação, etc, etc, e que, como tal, também não tem de ter grandes preocupações com a rentabilidade no médio prazo. Quando terminar o período mínimo obrigatório, fecha-se a porta, põem-se os trabalhadores na rua e embolsa-se a diferença.
Mas diga-se, em abono da verdade, que não é assim para todas as empresas. Para os micro e pequenos e médios empresários, o que há são dificuldades, incógnitas, atrasos, obstáculos e decisões arbitrárias na aplicação dos programas de incentivos. 
Estes apoios, estes muitos milhões de euros, destinam-se sobretudo às grandes empresas e aos grandes grupos económicos que operam na Região. Grupos que quase invariavelmente não investem um tostão dos lucros que foram financiados com o nosso dinheiro, como prova a evolução desastrosa da Formação Bruta de Capital Fixo nos Açores nos últimos anos. Esses grupos e empresas dependentes não geram emprego, usam trabalho financiado. Não criam riqueza, secam-na, desviam-na da economia regional. Mas é só neles, apenas neles, que o Governo Regional continua a investir. Dir-me-ão que estou a exagerar, que não é bem assim, que os apoios sociais também aumentaram e que nem tudo é tão mau assim. Assim é, mas ficou por fazer o que de há muito é uma reivindicação dos trabalhadores açorianos e dos seus representantes e que a economia regional precisa para voltar a crescer, aumento do rendimento do trabalho. Sem esse aumento o consumo estagna ou regride e as empresas não vendem, recebem subsídios e mão-de-obra servil.
Anos e anos desta política, milhões e milhões de euros derramados neste sorvedouro do erário público qual é o retorno do setor privado. A maior taxa de desemprego do país, uma Região cada vez mais pobre e sem perspetivas e um Governo Regional cada vez mais cego pelo nevoeiro cor-de-rosa da sua própria propaganda, a dizer que tudo está, não só bem, como cada vez melhor e a prometer mais do mesmo para o futuro.
Ponta Delgada, 30 de Novembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 01 de Dezembro de 2014 

Sophia e Jayne - abrem Dezembro



O mês de Dezembro tem o dia primeiro que celebra a Restauração da Independência Nacional (roubaram-nos o feriado), tem o Solstício de Inverno, o Natal e todos os outros dias, digamos que este mês não é bem como os outros. Em vez de uma, o “momentos” abre com duas divas. Sophia Loren e Jayne Mansfield e traz de bónus uma foto que juntou estas duas lindas mulheres, nos idos anos de 1957, em Beverly Hills.