segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Viva o baixo custo


Foto retirada da internet
Vive-se um ambiente de efusivo contentamento nos Açores, mais em S. Miguel do que nas restantes ilhas mas para alguns isso não é verdadeiramente importante, para mim é que olho para os Açores como um ente diverso mas único. O custo das passagens aéreas, de Ponta Delgada para Lisboa e Porto, vai cair a pique, e, não são apenas rumores, as simulações e aquisições de viagens feitas nos sites das empresas, até na SATA, ditam essa nova realidade, passagens de baixo custo. Com o tempo veremos quais serão os verdadeiros custos.
Não sei se é pelo meu conhecido mau feitio, se é porque não acredito em tudo o que me dizem ou é publicado, se é porque vivo numa região onde a dispersão territorial e pequena dimensão populacional devem ser consideradas quando se produzem alterações com a que vai suceder, ou ainda porque não acredito nas virtualidades do mercado. Seja lá por que motivo seja, e embora viva em Ponta Delgada, não partilho dessa satisfação que um segmento da população residente em S. Miguel tem manifestado. Não conheço o texto final que resulta da revisão da Obrigações de Serviço Público, ou seja, não sei quais as condições em que posso viajar e, como eu, a grande maioria dos residentes em S. Miguel. O perfil do passageiro ilhéu não se coaduna com as operações de transporte aéreo de baixo custo. A maioria dos ilhéus viaja por necessidade e, quantas e quantas vezes sem possibilidade de prever a data da partida e da chegada, isto para não falar na necessidade de transportar bagagem de cabine e de porão que vai para além do que o transporte de baixo custo oferece. E não havendo, nas rotas liberalizadas, limite ao custo das passagens aéreas é de esperar que, por vezes, este valor possa atingir várias centenas de euros. É certo que seremos ressarcidos pelo valor pago além de 134 euros, mas será necessário ter disponibilidade financeira para suportar o preço da passagem aérea no acto da compra da viagem. Isto para quem reside em S. Miguel. 
Nas outras ilhas como será. Vejamos, para já, o caso da Terceira. Agora que se começa a levantar o véu sobre o novo modelo de transportes aéreos entre a Região e o Continente as preocupações sobre as suas supostas virtualidades aumentam. E se em S. Miguel se instalou um clima de festa, na Terceira as interrogações são muitas. Afinal quem é que vai assegurar o transporte aéreo dos terceirenses para o exterior, é que tratando-se duma rota liberalizada seria expetável que as tão disponíveis companhias low cost para ali voassem mas, até ao momento, não há conhecimento de que nenhuma tenha mostrado interesse. Voar para os Açores sim, mas apenas para S. Miguel. Tratando-se uma rota liberalizada a pergunta ganha cada vez mais consistência. Quem vai assegurar e em que condições o transporte aéreo dos terceirenses.
Foto - Aníbal C. Pires
Se o direito à mobilidade e ao não isolamento é um direito do Povo Açoriano, que o elevado custo das passagens aéreas interilhas e para o continente não garante esse direito, que era, e é, necessário introduzir alterações ao modelo de transportes aéreos e que essas mudanças teriam, e têm, forçosamente de passar pela redução das tarifas e taxas, se tudo isto é consensual, não será menos verdade que o modelo que foi encontrado não foi desenhado tendo, à cabeça, essa preocupação.
Nem sempre ter razão me enche de satisfação, este será o caso. Tenho vindo nos últimos anos, em diferentes fóruns, a questionar sobre esta e outras questões que com esta se relacionam, como seja a defesa da SATA. Grupo empresarial da qual somo todos acionistas. Quanto ao modelo de transporte já todos vamos percebendo que este é um modelo para uma ilha, que este é um modelo para subsidiar empresas privadas por via da indemnização paga ao passageiro, que este é um modelo para satisfazer alguns grupos económicos privados do setor do turismo, que este é um modelo que pode colocar em causa a sobrevivência do Grupo SATA, aliás continua a não se perceber porque é que o Plano Estratégico do Grupo para o período 2015-2020 ainda não é conhecido. 
Ponta Delgada, 07 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 08 de Dezembro de 2014