quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Alemães da Alemanha*


Foto retirada da internet

Aviso: O conteúdo e a linguagem utilizada neste texto podem ser considerados chocantes. As fotografias que ilustram o texto não estão nem direta nem indiretamente relacionadas com os "personagens", nem com o acontecimento descrito no texto.


No princípio da década de 80 do século passado, só parece não foi assim há tanto tempo, no período de pré-adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), hoje União Europeia (UE), deslocou-se à Região uma missão técnica, de entre outras, para preparar a entrada de Portugal nessa tal comunidade económica. Esta, a que me refiro neste texto, era uma equipa constituída por técnicos alemães e, ao que me foi dado apurar vinha avaliar o estado e as caraterísticas da agricultura açoriana. 
Durante a sua permanência nos Açores a missão alemã esteve instalada, durante alguns dias, na ilha do Pico. A delegação alemã fazia-se acompanhar por um intérprete, também ele de nacionalidade alemã.
E é sobre a formulação que o intérprete alterou para apresentar os seus compatriotas que esta curta estória versa.

No primeiro dia da visita de trabalho o intérprete apresentava a delegação dizendo aos interlocutores açorianos que, o grupo era composto por alemães e explicava a finalidade do trabalho que tinham vindo realizar.
No dia seguinte o intérprete ao apresentar a missão técnica da comunidade europeia apresentou a delegação como sendo de alemães da Alemanha ao que seguiu a habitual explicação sobre o propósito da visita e do encontro de trabalho.
A equipa alemã era, naturalmente, acompanhada por alguns quadros técnicos e políticos açorianos que estranharam aquela alteração feita pelo intérprete e a forma como enfatizava as palavras: são alemães da Alemanha; como se alguém duvidasse que aqueles cidadãos alemães não fossem da Alemanha.

imagem retirada da internet
Um dos cidadãos nacionais, mandatado pelos restantes, abordou discretamente o intérprete para desfazer qualquer equívoco que estivesse a prejudicar o bom ambiente que queriam manter com a delegação estrangeira e disse-lhe não ser necessária a formulação: são alemães da Alemanha; pois nos Açores e, certamente, no resto do país, todos sabiam que os alemães eram da Alemanha. O intérprete respondeu prontamente que sim, era necessário e justificou: ontem, no hotel onde estamos, apercebi-me que um grupo de portugueses, por certo pouco conhecedores da geografia e dos povos europeus, se tinha referido aos seus compatriotas como: aqueles alemães do caralho.

O cidadão português conseguiu, a custo, manter a postura e continuou a ouvir a explicação do intérprete. Nós não somos alemães do caralho, nem sei onde é esse lugar, mas para que não exista nenhuma confusão eu entendo que devo dizer: somos alemães da Alemanha para que ninguém pense que podemos ser alemães do caralho.

O português reprimiu a gargalhada, disfarçando como pôde. Só passados uns dias e algumas cervejas depois foi possível cultivar alguma proximidade com o intérprete e, então sim, explicar que não se tratava de desconhecimento, mas de uma forma de expressão que nem depreciativa chegava a ser. O intérprete para dar conta que tinha entendido a explicação disse: esta estória é do caralho.

Ao que se seguiram umas boas gargalhadas sempre regadas de cerveja e alimentadas com boa disposição e hospitalidade das gentes açorianas.

(*) pequena estória recolhida hoje na ilha do Pico

Horta, 26 de Agosto de 2015

 

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