segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Soltaram os cães

Foto retirada da internet
As últimas duas semanas têm sido pródigas na produção de opinião sobre os resultados eleitorais e os desenvolvimentos que se lhe seguiram. Digamos que mais do que é habitual mas justificadamente, afinal o novo quadro parlamentar ditou uma maioria de esquerda, ditou a derrota da coligação de direita, ainda que esta tenha sido a mais votada. Depois das análises a quente feitas na noite eleitoral, da euforia de alguns e do desalento de outros, a poeira assentou e a racionalidade regressou, como sempre acontece quando se dá espaço à reflexão. As inúmeras e habituais críticas feitas ao discurso de Jerónimo de Sousa na noite eleitoral deram lugar outras leituras, afinal havia um derrotado e não era a CDU, afinal bem vistas as coisas a coligação de direita tinha sofrido um desaire eleitoral e, sendo assim outra maioria parlamentar podia emergir com alternativa. Afinal existe uma maioria de deputados que constituem condição bastante para a formação de um governo de iniciativa do PS, que permita a apresentação do programa, a sua entrada em funções e a adoção de uma política que assegure uma solução duradoura, isto mesmo foi dito a Cavaco Silva pelo PCP. O PS e o BE com é público também manifestaram esse ou semelhante entendimento.
Com estes resultados eleitorais e com o que se lhe tem seguido caíram dois mitos. Primeiro que afinal as eleições não são para escolher o primeiro-ministro, são para eleger deputados, que chatice. E o segundo é que afinal o PCP não é apenas um partido de protesto e de oposição, pior ainda.
Foto retirada da Internet
Claro que isto não veio nada a calhar. Os “donos disto tudo” não gostaram e soltaram os cães de fila, com o devido respeito pela nobreza pelos cães e em particular pelos cães de fila de S. Miguel. Os cães a que me refiro não têm porte nem nobreza, são lacaios, seres que rastejam à volta dos “donos disto tudo”. Mas dizia que, os “donos disto tudo” soltaram os cães de fila contra o PCP, nada que não fosse esperado mas que me deixou estupefacto. Como disse esperava um ataque mas não com recurso à velha, bafienta e salazarista argumentação. Os “donos disto tudo” precisam de novos e criativos sabujos pois os habituais pararam no tempo e, salvo melhor opinião, têm de ser reconvertidos e quiçá, face ao seu próprio código laboral, despedidos com justa causa por inaptidão à função, desde logo o próprio Cavaco Silva que entre uma solução que assegura estabilidade governativa e a instabilidade de um governo minoritário, optou pela última.
Sobre a decisão de Cavaco Silva pouco há a dizer, a não ser que não tem sentido de Estado, nem legitimidade para impor opções políticas e soluções governativas em função dos interesses ao serviço dos quais se coloca e em confronto com o quadro constitucional que está obrigado a respeitar. Cavaco Silva assumiu-se, não como o garante da soberania e independência nacionais, mas sim como procurador dos mercados financeiros, dos especuladores, dos interesses do capital transnacional.
Portugal necessita de um Presidente comprometido com os valores de Abril, Portugal precisa de um Presidente que cumpra e faça cumprir a Constituição da República Portuguesa e não de mais um herdeiro de Salazar.
25 de Outubro de 2015

Aníbal C. Pires, Horta, In Jornal Diário e Azores Digital, 26 de Outubro de 2015

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