Foto by Aníbal C. Pires |
Os Celtas, os Maias, os Egípcios de entre outras civilizações, ergueram construções que hoje constituem grandes atrações turísticas que, estando diretamente relacionadas com o equinócio do Outono ou da Primavera, conforme o hemisfério, têm, em alguns dos casos, uma relação com a morte ou as suas divindades e, naturalmente com os comummente designados cultos pagãos muitos deles relacionados com o calendário solar e os ciclos agrícolas. Outros povos, um pouco por todo o planeta, não tendo materializado os cultos e os ritos também desenvolveram construções sociais associadas ao culto da morte, como será o caso dos povos da África subsariana e da América do Norte.
A vida além morte, ou algo semelhante a uma condição etérea, cedo incorporou o imaginário humano. As representações e construções socias mais ou menos elaboradas deram lugar a cultos e rituais humanos, mais ou menos organizados, mas todos eles associados ao respeito pelos mortos e, também, à ideia de que esses entes, em determinados momentos do ano regressavam aos lugares onde tinham vivido ou, mesmo, que nem sequer se chegaram a ausentar, convivem connosco, ainda que, numa outra dimensão.
As religiões monoteístas vieram introduzir alterações e combater os cultos pagãos à medida que foram colonizando e aculturando outros povos, contudo, e porque a própria sobrevivência e afirmação destas religiões estão diretamente relacionadas, não direi exclusivamente, mas profundamente, com ideia da vida além morte, também elas absorveram e, posteriormente, impuseram os seus próprios cultos e ritos. Veja-se no mundo católico o “Dia de Todos os Santos”, a 1 de Novembro, e o dia dos “Fiéis Defuntos”, a 2 de Novembro. No Mundo português, continental, insular e mesmo em alguns dos territórios colonizados encontramos manifestações que os povos foram recriando, mesclando o pagão e o religioso. No interior e norte do Continente português, nos Açores e em Cabo Verde, nos meses que antecedem o dia dos “Fiéis Defuntos, encomendam-se as almas procurando, não só, dar-lhes o eterno descanso, mas também garantindo para si as benesses de entrada direta para o paraíso celestial. Chegado Novembro as casas abrem-se as mesas enchem-se de iguarias para que os mortos que nos venham visitar possam saciar a fome e partir em paz. Se a primeira tem um carácter mágico religioso, a segunda está diretamente ligada aos rituais pagãos que herdamos dos celtas e às oferendas a vizinhos e visitantes de ocasião.
Foto by Madalena Pires |
Os “Santoros” da Beira Baixa, ou o “Pão por Deus” dos Açores, cujos contornos decorrem mais dos rituais pagãos do que do culto religioso, embora a hierarquia católica não os podendo vencer se tenha associado a eles, têm sido progressivamente substituídos pelas festividades do Halloween.
A génese do Halloween é a mesma de outros ritos pagãos, ou seja, o culto da morte e o respeito pelos mortos. A sua adulteração, ou seja, a sua entrada no calendário comercial com tudo o que isso implica, de bom ou mau, fica a dever-se a uma teologia que cresceu, se expandiu e domina, A teologia do mercado.
Não fazendo parte da tradição portuguesa não compreendo que esta importação da cultura anglo-saxónica se tenha, nas Escolas, sobreposto à tradição nacional e aos seus regionalismos. É aceitável que os docentes de língua inglesa promovam esta celebração, faz parte do processo ensino aprendizagem da língua e da cultura dos povos anglo-saxónicos, já não é aceitável que seja feita de uma forma acrítica e secundarizando a nossa, ou outras culturas.
Menos aceitável é a submissão da Escola à teologia do mercado, ao consumismo, à uniformidade.
Santa Maria, (ilha do Sal, Cabo Verde), 01 de Novembro de 2016
Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 03 de Novembro de 2016
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