quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

o bem mais precioso

foto by Tiago Redondo
Quem passou pela “Sala de Espera” do dia 12 de janeiro entrou, leu e conversou. Sim, conversou.

Uma querida amiga e leitora teve a amabilidade de me recordar que as antigas salas de espera eram, também, locais onde se conversava, por vezes em surdina, mas igualmente de forma a que todos ouvissem e pudessem participar no diálogo, se assim o entendessem. O meu regresso às colunas do jornal e a leitura do texto que abriu esta “Sala de Espera” gerou algumas conversas, umas públicas outras privadas (em surdina), o que me deixou satisfeito, permitam-me este registo, pois, quando conseguimos atingir o propósito só podemos ficar animados e com redobrada vontade de continuar a conversar convosco e a ouvir o que têm para dizer. 

Estamos a poucos dias de eleger 230 deputados para a Assembleia da República, cinco são eleitos pelo círculo dos Açores. Não sendo uma obrigação referir a questão eleitoral é, contudo, incontornável que neste espaço, sem fronteiras nem verdades absolutas, e neste momento, não deixe um registo que pretendo seja, apenas, um pequeno contributo para irmos votar. Votar onde cada um entender por bem, mas votar. 

foto by Madalena Pires

A abstenção sendo uma opção não serve nenhum intento pois, não retira legitimidade formal às eleições e não contribui, em nada, para mudar o que quer que seja. Quem se abstém delega a sua responsabilidade, valida os resultados eleitorais e certifica as políticas e os políticos que, os abstencionistas, tanto criticam. Por outro lado a liberdade, a autonomia e a democracia precisam de cuidados diários, como fazemos com um jardim que queremos sempre florido e viçoso. E participar é cuidar! Cuidar do presente e do futuro que queremos para nós e para os Açores, para o nosso país e para o mundo.


O voto útil, só é útil para o partido ou coligação que o recebe, ou seja, todas as opções são úteis. Importante mesmo é perceber a utilidade que cada partido ou coligação dá ao voto dos eleitores. Essa sim é a grande questão que os cidadãos devem considerar quando constroem a sua opção de voto.

E por aqui me fico no que diz respeito às eleições de 30 de janeiro. Depois do ato eleitoral é provável que venha a tecer algumas considerações sobre os resultados e os seus efeitos no nosso futuro próximo.

Não é de agora, sempre fui assim. Quando os lugares que intimam à quietude, naturais ou não, se enchem de ruído escapo-me furtivamente e procuro lugares do silêncio. Quando quero ruído e multidões, o que raramente acontece, procuro e vou, mas não gosto que me os imponham. Não faltam por aí lugares cheios de gente e onde a música e as palavras, numa amálgama de sons, abafam e anestesiam os sentidos. Não me dá prazer não sentir, ou ser induzido artificialmente em estados de euforia. 

foto by Aníbal C. Pires
Evito, mas nem sempre consigo furtar-me a umas idas para o seio da confusão de palavras gritadas e música muito acima dos decibéis aceitáveis para o ouvido humano. Raramente me divirto ou retiro algum prazer deste tio de atividade, digamos, lúdica. Há quem goste e se divirta, eu nem por isso. Respeito esta como outras opções de vida, mas na procura de dar utilidade ao tempo, o bem mais precioso da vida, prefiro os lugares do silêncio. Ler, escrever, ouvir música, uma amena cavaqueira numa roda de amigos, cinema, caminhar no verde e respirar azul, estar comigo (faz-me tão bem), procurar informação alternativa às “verdades” do mainstream (fundamental para a minha sanidade mental). Estas são algumas formas com que ocupo o meu tempo, não para que ele passe depressa, mas para lhe dar utilidade e com as quais me deleito.

Não pretendo impor formas de ser e estar na vida. Cada um de nós deve escolher, a cada momento, o que mais lhe aprouver para dar utilidade ao seu tempo e o caminho que quer percorrer, sem por em causa o bem-estar e as opções de terceiros. Eu continuo a escolher o meu caminho procurando, sempre, somar momentos de prazer à vida. Ou dito de outra forma procuro ser feliz pelo caminho e não no fim da caminhada.

Não esperem pela chegada ao destino para encontrarem a felicidade, sejam felizes durante o percurso. A felicidade é mais o que colhemos durante o caminho do que algo que encontramos no fim da caminhada.

Ponta Delgada, 25 de janeiro de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 26 de janeiro de 2022


2 comentários:

Emilio Antunes Rodrigues disse...

Ser feliz será possível neste mundo nos tempos que correm sem nos fecharmos em nós mesmos?

Aníbal C. Pires disse...

Meu caro, aí está uma pergunta para a qual não há receitas. Ou seja, os últimos meses as regras impostas, de “isolamento e distanciamento físico, pela grave situação de saúde pública remeteram-nos para esse tal “fechamento em nós próprios, o que alterou comportamentos e dificultou as relações interpessoais. Relações que são fundamentais para o nosso bem-estar. Porém, dir-lhe-ei que ser feliz é a “soma” de instantes, momentos que nos satisfazem e realizam ao longo da vida e é, sobretudo, um sentimento de avaliação individual, embora esteja dependente do bem-estar de quem nos rodeia. Não somos felizes sozinhos.
Uma abraço e obrigado pelo seus comentários.

Aníbal C. Pires