quinta-feira, 5 de maio de 2022

as razões de Inna Afinogenova

imagem retirada da internet
Inna Afinogenova é uma periodista russa que até ao fim de fevereiro de 2022 deu a cara pelo canal Ahí les Va, ligado à RT. O canal Ahí Les Va, no Youtube, tinha mais de 1 milhão de seguidores e como é falado em espanhol a maioria dos seguidores serão falantes de espanhol e residentes na América Latina.

Eu era, e continuo a ser, um seguidor dos vídeos do canal Ahí Les Va. O Youtube retirou-os da plataforma, como tudo o que cheirasse a russo, viva a liberdade de expressão, mas o Ahí Les Va e outros meios de comunicação social censurada alojaram-se noutras plataformas da internet e, quem quiser aceder-lhes basta procurar. A qualidade e a acuidade dos seus conteúdos mantiveram-se. O trabalho coletivo vale o que vale e, neste caso, como sempre, vale muito.

No último programa pelo qual a Inna deu a cara a invasão da Ucrânia já se tinha iniciado e foi notório o seu descontentamento por isso. Chegou mesmo a dizer: “a guerra é uma merda”. E eu também acho que sim: as guerras são uma merda.

Depois deste vídeo a Inna desapareceu do Ahí Les Va e o Mirko Casale, membro da equipa, substituiu-a na apresentação dos vídeos. A Inna, muito pontualmente, fez algumas aparições nas suas redes sociais, mas a sua ausência da apresentação do Ahí Les Va causou estranheza nos seus seguidores.

Há dois dias Inna veio a público, nas suas redes sociais, informar o motivo do seu silêncio. A periodista é contra a guerra e optou por sair da RT. É uma opção individual que respeito e compreendo que razões de ordem moral, ética e pessoal possam ter estado na génese desta sua decisão. 

Mas Inna Afinogenova aduziu algumas justificações para a sua tomada de posição que me deixam algumas dúvidas. Vou ficar com as minhas dúvidas, mas sempre direi que Inna Afinogenova refugiou-se em argumentos que, desde logo, põem em causa a autenticidade do seu trabalho e coloca sobre os seus colegas do Ahí Les Va e da RT um epíteto de agentes da propaganda russa e pró-guerra, o que em minha opinião é grave e, não corresponderá, em absoluto, à verdade.

Inna e Mirko - imagem retirada da internet

Eu sou contra esta e todas as outras guerras, mas isso não me impede de ter uma opinião crítica sobre o governo de Kiev, sobre a posição do governo do meu país e da generalidade dos países da União Europeia. Posição que em nada têm contribuído para uma solução pacífica deste e de outros conflitos bélicos, e mal seria se assim não fosse. 

Depois que tornou público o vídeo em que informou os seus seguidores Inna tem sido alvo de muitos louvores e muitas críticas. Este texto não pretende ser uma crítica à sua tomada de posição e à sua saída da RT. 

O meu propósito é, somente, manifestar a minha estranheza pela forma leviana como a Inna destruiu todo o seu património de credibilidade. Não pela sua saída da RT, mas pelos argumentos que utilizou para justificar a sua saída.

Os cidadãos sabem, todos sabemos, que a comunicação social tem as suas linhas editoriais e que em estados de guerra as orientações podem sofrer alguns ajustes. Veja-se o que se passa com a comunicação social europeia e a censura desbragada que nos foi imposta, mas também o medo que se está a instalar. Não tenho dúvidas que a narrativa da RT favorece as posições do governo russo, mas ainda assim está muito longe do alinhamento acrítico da comunicação social do “mundo ocidental”

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 5 de maio e 2022


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