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As celebrações, quer gostemos ou não do que, ou quem, se comemora, têm um propósito comum: lembrar, dar a conhecer e projetar para o futuro. Podemos dizer, num sentido lato, que a principal função das efemérides é a divulgação da história, também aqui entendida de forma ampla.
Voltemos ao exemplo da literatura. Nos planos de estudo de diferentes níveis de ensino constam alguns escritores clássicos. Estes autores têm a memória e a obra imortalizada por via do seu estudo no seio das comunidades académicas, mas não se dispensam as efemérides pois, é dessa forma que a sua obra se expande e dá a conhecer a outros públicos. Há, contudo, outros autores que não tendo a mesma atenção dos académicos, por razões diversas, necessitam que os seus leitores os promovam. E o propósito é similar às efemérides instituídas: divulgar o autor e a sua obra.
A abordagem feita no parágrafo anterior pode até ser rebuscada, mas tem por finalidade enquadrar outras efemérides remetidas a um inexplicável silenciamento pelo mainstream.
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O dia 25 de abril de 1974 e o que se lhe seguiu transformou o país e provocou uma rutura com o passado. A revolta militar de 1974 foi apoiada, inequivocamente, pelo povo português, cuja ação foi determinante para lhe conferir um caráter revolucionário. Este corte com o passado só foi possível, com o alcance que veio a ter nos meses seguintes, pela existência da luta clandestina e organizada, durante os 48 anos de ditadura levada a cabo por diferentes organizações políticas, de entre as quais o PCP se destaca.
Não é possível dissociar o PCP da luta contra o regime de ditadura instaurado a 28 de maio de 1926. Sendo a revolução de abril de 1974 uma conquista do povo português é, contudo, legítimo afirmar que a ação do PCP contribuiu, decisivamente, para que tal viesse a acontecer. Nem todos gostam que se diga e escreva e, muitos outros pretendem branquear, ou mesmo apagar, o papel do PCP na história de luta e resistência ao fascismo português, mas os registos históricos dos presos políticos (homens e mulheres), dos assassinatos perpetrados pelo aparelho repressivo do regime e a tortura visaram, no essencial, os militantes e dirigentes do PCP. Se ao PCP é reconhecido esse protagonismo na luta e na resistência à ditadura, também nestes 48 anos de democracia o papel do PCP não é despiciente, desde logo por ser um dos partidos fundadores do estado democrático, mas sobretudo por todas as conquistas que, na ação institucional, nas lutas sociais e laborais, foram conseguidas por intervenção direta ou indireta do PCP. Pode afirmar-se que Portugal podia e devia ser melhor. E eu concordo, mas tenho consciência que seria muito pior sem o PCP, aliás como disse, recentemente, o realizador João Botelho.
Pede-me o leitor desta “Sala de Espera” para voltar ao tema. Vou tentar, não é fácil quando a emoção se envolve com a escrita, a pena foge ao controle da razão e vai por aí.
Falar do 25 de abril de 1974 sem referir o papel dos comunistas portugueses é como beber cerveja sem álcool ou beber um descafeinado. A cerveja sem álcool e o café sem cafeína estão desprovidos do atributo que lhes confere a essência. Não é possível falar com seriedade do 25 de Abril e obliterar o PCP.
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A 2 de maio de 2014, em Odessa, Ucrânia, foram mortas 48 pessoas e mais de 200 ficaram feridas. Após as agressões de que foram vítimas por grupos neonazis mobilizados para o efeito, refugiaram-se na Casa dos Sindicatos de Odessa. O edifício foi incendiado pelos grupos neonazis e a tragédia aconteceu. Os testemunhos e os vídeos destes acontecimentos estão por aí disponíveis, mas nunca houve condenação por esta barbárie. Esta não é uma efeméride amplamente divulgada e lembrada, mas nem por isso deixa de ser importante só porque não convém à narrativa dominante.
Ponta Delgada, 3 de maio de 2022
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