quarta-feira, 23 de agosto de 2023

coisas diversas

imagem retirada da internet

A época, por esta longitude, continua quente e húmida e as agendas políticas de alguns partidos políticos esfriam, o que não constitui uma novidade, é da tradição da temporada aqui, onde a humidade e a temperatura induzem o habitual torpor, mas também pelo território continental onde o calor elevado e o baixo índice de humidade relativa do ar produzem outro tipo de inação. Mas nem todos os partidos políticos mergulharam na inércia e ainda que não seja notícia há, pelo menos, um partido que não deixa passar um dia que seja sem desenvolver ações políticas junto das populações e dos trabalhadores em luta, mas não é de agendas partidárias, nem das reentradas políticas que vai versar este texto. 

Acho alguma piada às chamadas rentrées partidárias, é assim como o anúncio público do regresso dos banhos e uma incompreensível, ou talvez não, necessidade de reafirmar a sua existência junto da mole de potenciais eleitores. Os especialistas em marketing político continuam a promovê-las e não serei eu que, nada percebendo de propaganda, vou colocar em causa tão importante momento político e partidário, se é que de política se trata.

Como a maioria dos meus concidadãos, pelas razões comuns e pelas que são só minhas, ando alheado das notícias que enchem páginas de jornais, horas de rádio e de televisão e que “vendem” um mundo virtual, num tempo em que se desenham, no horizonte próximo, grandes transformações a nível global. 

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Há, contudo, alguns assuntos que mesmo durante a estação quente me mereceram atenção. A situação no Sahel, em particular no Mali, Burquina Faso e Níger, e a decisão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) de poder vir a intervir militarmente no Níger, onde recentemente ocorreu um golpe de estado. Se vier a verificar-se a anunciada intervenção militar será a abertura de mais um conflito bélico por procuração. A CEDEAO mais não representa do que os interesses dos Estados Unidos e da França naquela região africana. 


As eleições primárias para as presidenciais na Argentina e a ascensão eleitoral da ultradireita corporizada no bizarro Javier Milei. Nem sei como caraterizar esta aberração e muito menos ajuizar sobre o que levou 30% dos eleitores argentinos a votar neste “artista” de comédia rasca. Lá para outubro saberemos se os argentinos emendam a mão ou se vão, uma vez mais, meter-se numa camisa de sete varas.

No conflito da OTAN/Estados Unidos/União Europeia com a Rússia, tendo como cenário o território ucraniano já não é, de todo, possível continuar a alimentar, sem algumas interrogações, a narrativa ocidental e, os cidadãos vão paulatinamente deixando cair as bandeirinhas das suas fotos de perfil nas redes sociais, por outro lado na “comunidade internacional” começam a verificar-se algumas fissuras e enfado face à manutenção dos apoios ad aeternum a este conflito. Cada vez mais cidadãos dos Estados Unidos e da União Europeia se manifestam contra o financiamento ilimitado de uma guerra que não é sua, mas que está a ser custeada pelos seus impostos e à custa do desinvestimento público.

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A cimeira alargada dos BRICS que se realiza, de 22 a 24 deste mês, em Joanesburgo, na África do Sul marca a agenda política internacional. Aos países membros (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) juntam-se mais de duas dezenas de países que já manifestaram o seu interesse em aderir a esta organização de estados. Esta cimeira pode vir a constituir-se como o fim do mundo unipolar e da hegemonia dos Estados Unidos, a União Europeia como é, por demais evidente, não é tida nem achada pois, como já percebemos as economias de alguns dos países membros estão em queda livre e os seus cidadãos descontentes com o aumento da inflação e dos juros de referência impostos pelo Banco Central Europeu.

Os incêndios um pouco por todo o lado, em particular os do Havai, na ilha Maui, são preocupantes pela inação da administração federal dos Estados Unidos, mas também das autoridades estaduais, e pela tragédia humana que ali se verificou. A calamidade da ilha Maui precisa de ser devidamente esclarecida e apuradas as responsabilidades, para lá da estafada justificação das alterações climáticas. A empresa de distribuição de energia elétrica da ilha não adotou os procedimentos de segurança que as condições meteorológicas exigiam e isso não terá sido de somenos importância na deflagração dos incêndios.  

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O campeonato mundial de futebol feminino mereceu também alguma da minha atenção, desde logo, pela participação da seleção nacional na fase final e, sobretudo, pela entrega, pelo empenho, pela garra das jogadoras nacionais. Foi muito bom e trouxe para a agenda mediática nacional o desporto no feminino. Em Portugal faz-se muito e com qualidade no desporto feminino deveria, por isso, merecer mais atenção dos decisores políticos e desportivos e da comunicação social que continua a olhar e a comentar a prática desportiva das mulheres com uma adjetivação machista, misógina e discriminatória. Ainda sobre o campeonato do mundo de futebol feminino mais uma nota, a Espanha chegou à final com uma vitória, nas meias-finais, sobre a Suécia, por 2-1, e sagrou-se campeã do mundo batendo, na final, a Inglaterra por 1-0. Esta vitória, como qualquer outra, é coletiva e não se pode atribuir, apenas, às jogadoras que protagonizaram a finalização. A vitória é da equipa técnica e de todas as jogadoras que, na fase de apuramento e na fase final, conduziram a Espanha ao título mundial, mas não posso deixar de registar que as autoras dos golos contra a Suécia, Salma Paralluelo e Olga Carmona, e contra a Inglaterra Olga Carmona, sendo espanholas de alma e coração, não escondem as suas raízes ancestrais, Salma Palluelo tem ascendência africana e Olga Carmona é de origem cigana, o que nada tem de estranho, a Espanha, como Portugal, abrigam no seu seio uma diversidade cultural que só nos enriquece, mas fiquei a imaginar a dificuldade dos supremacistas brancos espanhóis (nazifascistas) em digerir esta vitória da Espanha miscigenada. 

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No país, depois das Jornadas Mundiais da Juventude, da recusa do Cardeal em dar o seu nome a uma ponte ciclo pedonal que une os concelhos de Loures e Lisboa, da utilização do grafismo de alguns órgãos de comunicação social pelo Chega para difundir notícias falsas, das ostras e do saké afrodisíaco de Isaltino Morais e dos habituais banhos de mar e das selfies de Marcelo Rebelo de Sousa, que nos intervalos vai promulgando e vetando os diplomas legais para justificar as funções de que está investido, diria que Portugal, nem no Verão deixa de ser um país anedótico. A norma é esta, seja qual for a época do ano e, ao que parece, a malta gosta e considera tudo normal. Talvez seja, e eu ainda não tenha percebido que o sucesso em Portugal está ancorado na esperteza saloia de alguns dirigentes partidários, ocupem ou não cargos institucionais, que contam sempre com os efeitos da estupidificação que tem sido promovida. Tudo lhes é permitido dizer e fazer que a malta acha piada, bate palmas e aliena o presente e o futuro do país. 

Se é assim que querem, pois que assim seja. Como é habitual mantenho-me a remar contra a maré, não gosto de ir com a corrente prefiro escolher o rumo mesmo que tenha de navegar à bolina. Os leitores dir-me-ão que não vale a pena e que o esforço é inglório, eu poderia retorquir com as palavras do poeta “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, mas não o farei, pois, a minha alma não é pequena nem grande é, somente, uma alma como qualquer outra: é humana; mas a minha consciência mantém-se fiel à minha opção de classe e com a robustez que a idade lhe foi conferindo.

Ponta Delgada, 22 de agosto de 2023 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 23 de agosto de 2023

das palavras

imagem retirada da internet




As palavras têm significado.

Usem-nas corretamente.


terça-feira, 22 de agosto de 2023

desporto no feminino e diversidade cultural

Salma Paralluelo - imagem retirada da internet



Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos



Olga Carmona - imagem retirada da internet








(...) A vitória é da equipa técnica e de todas as jogadoras que na fase de apuramento e na fase final conduziram a Espanha ao título mundial, mas não posso deixar de registar que as autoras dos golos contra a Suécia, Salma Paralluelo e Olga Carmona, e contra a Inglaterra Olga Carmona, sendo espanholas de alma e coração, não escondem as suas raízes ancestrais, Salma Paralluelo tem ascendência africana e Olga Carmona é de origem cigana, o que nada tem de estranho, a Espanha, como Portugal, abrigam no seu seio uma diversidade cultural que só nos enriquece, mas fiquei a imaginar a dificuldade dos supremacistas brancos espanhóis (nazifascistas) em digerir esta vitória da Espanha miscigenada. (...)

sábado, 12 de agosto de 2023

Festa do Avante 2023

Cinema, teatro, música, desporto, ciência, artes plásticas, gastronomia, cidade internacional, espaço criança, juventude, livros. Tudo isto e muito mais, é a Festa do país é o país na Festa.



Para quem quiser saber mais pode entrar no sítio virtual da Festa (aqui), para quem quiser sentir e viver a Festa é só comprar a Entrada Permanente (EP), 3 dias 29,00€.






Fica apenas um destaque. 

Concerto sinfónico comemorativo do 50.º aniversário do 25 de Abril (aqui)


quarta-feira, 9 de agosto de 2023

na rota dos Blues

foto de Aníbal C. Pires
Rendi-me ao verão e às festividades da época (algumas), afinal para quê insistir em contrariar a onda que move e anima milhares pessoas, um pouco por todas as ilhas açorianas. Este ano fiz aquilo a que vou designar pela “Rota dos Blues”. Passei pelo festival de blues de Santa Maria e, de momento, estou a curtir o “Faial da Terra Blues”. 

A minha adesão está ancorada no género musical, gosto e ouço com frequência alguns dos mais emblemáticos intérpretes e compositores de blues, como por exemplo: Bessie Smith, Eric Clapton, John Lee Hooker, B. B. King, Joe Bonamassa e Beth Hart, de entre muitos outros; mas foram, uma vez mais, os laços de amizade, que me mobilizaram para sair do meu canto e, este ano, pela primeira vez fazer este pequeno périplo por alguns dos festivais de música que animam a estação quente e húmida desta região subtropical.

O lugar dos Anjos, em Santa Maria, recebe há dezanove anos o mais antigo e emblemático festival de blues dos Açores, numa organização da Associação dos Escravos da Cadeínha. Este mítico festival acolhe milhares de visitantes com particular e notória incidência da vizinha ilha de S. Miguel, embora me tenha cruzado com alguns amigos e conhecidos de outras ilhas açorianas. O cartaz foi diversificado e de uma qualidade que justifica a sua projeção para além das fronteiras da ilha e da Região, e mais não me atrevo a dizer pois, de música gosto muito, mas não distingo as notas musicais, ou seja, sou um perfeito ignorante dos códigos desta arte.

O “Faial da Terra Blues” vai na segunda edição e é uma iniciativa da Junta de Freguesia. Sendo mais modesto tem, contudo, condições para se afirmar como uma alternativa às “Festas Brancas” e outros sucedâneos urbanos que, por serem de uma só cor não me atraem pois, gosto da diversidade cromática e abomino a uniformidade.

foto de Aníbal C. Pires

O festival de blues do Faial da Terra, em S. Miguel, não tendo a dimensão e a projeção do festival do lugar dos Anjos ofereceu um cartaz de cantores e instrumentistas de grande qualidade. Não faço ideia se este festival se vai consolidar e, por outro lado, não sei se os promotores lhe querem dar continuidade, mas se assim for seria importante alterar a área dedicada à atuação dos artistas convidados, deslocando e alargando este espaço para proporcionar melhores condições às bandas e ao público que quer usufruir dos concertos.

Os festivais deste ou de outro género musical não vivem só da música. A gastronomia local e o artesanato, tradicional ou contemporâneo, local ou importado, constituem-se como importantes complementos para a dinamização das pequenas economias dos lugares. O ensopado de borrego e o atum, em Santa Maria, as sopas do Espírito Santo e a alcatra em bolo lêvedo, no Faial da Terra, deleitam o palato, saciam os visitantes e proporcionam aos locais e à organização os proveitos que, em grande medida, determinam a continuidade destes eventos e o empenho das populações em oferecer mais e melhor aos forasteiros.

Usufruí da música, da gastronomia e do convívio que estes eventos proporcionam, e gostei. Tenho, contudo, algumas reservas na utilização de idílicos espaços naturais para a realização de concertos ou de outros eventos que perturbam a tranquilidade destes lugares. A noite nestes locais é muito mais aprazível se apenas se ouvirem os sons naturais, seja o piar dos cagarros ou o marulhar das ondas no calhau rolado. 

Esta não será uma opinião muito popular, mas não podia deixar de a expressar. Não sou um ambientalista radical, porém tenho consciência que a realização destes eventos provoca impactos negativos sobre a vida das espécies animais que fazem daqueles lugares o seu habitat. É apenas o registo de uma inquietação pois, compreendo as razões dos promotores na escolha dos espaços, como compreendo a satisfação de quem se desloca para desfrutar, bem assim como a importância destes eventos para os pequenos lugares, mas a coerência obriga-me a partilhar e reforçar a ideia de que as atividades antrópicas, independentemente da sua natureza, provocam danos, por vezes irreversíveis, nos ecossistemas.

A experiência festivaleira tendo sido agradável pela música, pela gastronomia, pelos encontros e reencontros com amigos, conhecidos e antigos colegas de profissão, mas também com alguns adversários políticos com quem partilhei importantes anos da minha vida, ainda que em posições antagónicas, mas com os quais mantenho relações de urbanidade e respeito, aliás como sempre aconteceu na minha vida pública.

foto de Aníbal C. Pires


Se tudo o que ficou dito foi importante para ter saído das minhas rotinas de verão, não foi menos relevante o encanto dos lugares onde decorreram os festivais. Sobre a ilha de Santa Maria e o Faial da Terra tenho alguns textos, que atestam a forma como me cativam, seja pela sua geografia, seja pelas suas gentes, seja pela sua singularidade. Mas importante mesmo, diria mesmo determinante, para ter trocado a minha zona de conforto pela ida a Santa Maria e ao Faial da Terra foi, como já referi, a amizade.


A fé e o amor, diz-se, movem montanhas. A amizade também, acrescento eu se ainda ninguém o tiver feito. Não foram os blues, nem os lugares, nem as delícias gastronómicas que me moveram, foi a amizade. Vivemos todos na mesma cidade, encontramo-nos algumas vezes ao longo do ano, não tantas como gostaríamos, mas as que a vida permite. Convivemos bem com isso e sempre que nos reencontramos é como se não houvesse tempo nem distância a separar-nos do último jantar, da última conversa, do último telefonema mas, quando é possível saímos do sufoco da vida na cidade e dos compromissos pessoais e profissionais, e passamos uns dias juntos para celebrar esse sentimento que nos une, não obstante a diversidade de interesses e a forma como cada um de nós lê o mundo que nos rodeia.

foto de Aníbal C. Pires

Este bem-querer que aproxima os amigos vence todas as barreiras que a vida lhes vai colocando no caminho. A cada reencontro revivemos memórias, ou não tivesse sido no tempo pretérito que nasceu e se cultivou essa relação de entendimento e se descobriram as afinidades que nos mantêm juntos, mas não estamos amarrados ao passado. Falamos, com preocupação, do tempo presente, conquanto nem sempre haja concordância, e continuamos a fazer planos para o porvir com a maturidade que a vida nos contemplou. Já não somos cronologicamente jovens, mas mantemos a boa disposição que nos caraterizava há algumas décadas. Quem estiver por perto, com facilidade, enxergará as afinidades, as diferenças, a solidariedade e a alegria que transborda e nos enche a alma.

Esta afinidade, com estes ou outros amigos, vem de longe. Vem de um tempo onde a pressa de viver marcava o ritmo. E quando a urgência impera não há tempo para saborear a vida, vivemos e partilhamos o momento. Depois se verá. 

O passar do tempo consolida a amizade, hoje vivemos a vida como se degustássemos um vinho envelhecido. Também os afetos necessitam de tempo, para no tempo perdurarem. A amizade, assim como o vinho, precisa de um tempo de maturação, e depois… depois acompanha-nos pelo tempo e é bom. É muito bom ter amigos que caminham connosco ao longo da vida.  

Faial da Terra, 6 de agosto de 2023 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 9 de agosto de 2023

terça-feira, 8 de agosto de 2023

festivais de verão

foto de Aníbal C. Pires




Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos







(...) O lugar dos Anjos, em Santa Maria, recebe há dezanove anos o mais antigo e emblemático festival de blues dos Açores, numa organização da Associação dos Escravos da Cadeínha. Este mítico festival acolhe milhares de visitantes com particular e notória incidência da vizinha ilha de S. Miguel, embora me tenha cruzado com alguns amigos e conhecidos de outras ilhas açorianas. O cartaz foi diversificado e de uma qualidade que justifica a sua projeção para além das fronteiras da ilha e da Região, e mais não me atrevo a dizer pois, de música gosto muito, mas não distingo as notas musicais, ou seja, sou um perfeito ignorante dos códigos desta arte.

O “Faial da Terra Blues” vai na segunda edição e é uma iniciativa da Junta de Freguesia. Sendo mais modesto tem, contudo, condições para se afirmar como uma alternativa às “Festas Brancas” e outros sucedâneos urbanos que, por serem de uma só cor não me atraem pois, gosto da diversidade cromática e abomino a uniformidade. (...)



Olga Benario Prestes - a abrir agosto




Olga Gutmann Benário Prestes (Munique, 12 de fevereiro de 1908 — Bernburg, 23 de abril de 1942). Militante comunista alemã de origem judaica, foi casada com o militante comunista brasileiro Luis Carlos Prestes. Deportada para a Alemanha nazi, em 1936, pelo governo Getúlio Vargas. Morreu em em 23 de abril de 1942, com 34 anos de idade, na câmara de gás com mais 199 prisioneiras, no campo de extermínio de Bernburg. 







Lindas são as mulheres que lutam.