Não é possível ficar indiferente às imagens do terror que se instalou há 76 anos no território palestiniano. Se ainda resta um pouco de humanidade no coração do mundo é chegada a altura de admitir e corrigir o erro cometido em 1947, quando a comunidade internacional validou as pretensões sionistas que a Inglaterra, em 1917 (declaração de Balfour), validou e no pós-II Guerra Mundial a Organização das Nações Unidas (ONU) ratificou. À data foram poucas as vozes que se levantaram contra a artificial implantação do tumor sionista no território da Palestina, mas não foi necessário muito tempo para o “mundo civilizado” assistir, tornando-se cúmplice, ao início do processo colonialista e genocida que se prolonga há 76 anos e ao qual é imperativo por um ponto final.
Se no fim dos anos 40 do século passado a informação era escassa e chegava tardiamente atualmente, nos meios alternativos de informação, assistimos à barbárie em tempo real e ninguém fica indiferente ao sofrimento de um povo que tem vindo a ser colonizado e alvo de apartheid por um grupo de fanáticos que sustenta a sua doutrina política na superioridade do “povo eleito” e olha para os outros povos, não só o povo palestiniano, como seres inferiores cuja utilidade é, tão-somente, servir o “povo eleito”. Isto não é judaísmo é sionismo. Lutar para derrotar e erradicar o sionismo não é ser contra os judeus, ou o judaísmo, aliás os judeus, um pouco por todo o mundo têm expressado de forma clara que não se identificam com o estado sionista, nem o reconhecem e afirmam, nos fóruns mundiais e nas manifestações de rua: “não em nosso nome.”
A colonização da Palestina com todo o terror e violência que os sionistas têm perpetrado contra os legítimos habitantes da Palestina, professem o judaísmo, o islamismo, o cristianismo, ou qualquer outra confissão religiosa, demonstra de forma evidente que aquele conflito não é religioso, como nos querem fazer crer e que a comunicação social “oficiosa” continua a alimentar.
A narrativa ocidental, com os Estados Unidos a reger o coro, pretende reescrever a história e justificar o injustificável. Mas em bom rigor quem demonstra apoio à causa palestiniana não é antissemita pois, como sabemos também os árabes são semitas, mas quem manifesta apoio à Palestina é, por certo, antissionista pelas mesmas razões que se é antifascista e antinazi.
Os fundamentos ideológicos que dão sustentáculo ao sionismo e ao nazismo estão ancorados na superioridade de um grupo humano sobre outro(s), e todos sabemos dos elevados custos para a humanidade que estas teorias provocaram ao longo da história. O colonialismo, o genocídio dos povos nativos do continente americano, a escravatura, o Porajmos, holocausto cigano, o Shoah, holocausto judeu, são exemplos que ilustram as atrocidades cometidas em nome das teorias da supremacia de um grupo humano sobre outro(s).
A criação do estado colonial sionista data de um período histórico em que o mundo assistia a uma fase importante do processo de descolonização que se seguiu ao fim da II Guerra Mundial, ou seja, os povos colonizados libertavam-se. Mas, paradoxalmente concebeu-se um novo estado colonial para limpar a má consciência da secular perseguição aos judeus e do holocausto. Não foi apenas essa a razão, mas também.
A luta do povo palestiniano tem sido, no essencial, uma luta de resistência pacífica contra a ocupação do seu território, uma vez que o Estado Palestiniano não dispõe, como se sabe, de forças armadas, e atirar pedras aos ocupantes não pode ser considerado, digo eu, uma resposta violenta. Neste processo de colonização de um território e de um povo houve algumas ações do povo palestiniano e dos seus representantes políticos que se constituíram como respostas violentas. O quadro jurídico internacional reconhece o direito à luta armada pela libertação e pela autodeterminação e é nesse quadro que as ações violentas do povo palestiniano contra o colonizador se legitimam. A recusa sistemática do estado sionista de, em diálogo, encontrar soluções pacíficas escancararam as portas a soluções violentas.
A ocupação violenta, os assassinatos em massa, a destruição de cinco centenas de cidades e aldeias e, a deslocação de mais de 700mil palestinianos, em 1948 (Nakba). Foi assim que nasceu o estado sionista e se iniciou o genocídio do povo palestiniano. A interminável Nakba, teve início a 15 de maio de 1948, perdura há 76 anos, e não tem fim à vista. As atenções estão centradas em Gaza, mas não podemos perder de vista a globalidade do povo palestiniano que, nos territórios ocupados, é diariamente agredido, vilipendiado e expulso de suas casas pelos colonos, e preso, torturado e assassinado pelo exército sionista de ocupação.
A narrativa do poder e do pensamento dominante continua a vender a ideia de que o estado sionista é um estado judaico, mas confundir o judaísmo com o sionismo é um erro histórico desde logo pelo facto dos sionistas serem antissemitas. E quem o diz são os próprios judeus que vivem nos mais diversos lugares e países do mundo, mas também alguns judeus que nos territórios ocupados da Palestina têm a coragem, apesar de serem alvo de uma brutal repressão, de erguer os símbolos nacionais da Palestina e denunciar os crimes do estado sionista comparando-o com os crimes cometidos pelos nazis durante a II Guerra Mundial, mormente contra os judeus.
O estado da Palestina foi reconhecido pela maioria dos países do mundo, nessa lista não consta Portugal e eu, sinto vergonha. E envergonho-me das palavras proferidas por Marcelo Rebelo de Sousa sobre a posição portuguesa: “não é o momento adequado.” Quantas mais crianças terão de ser mortas pelos sionistas para ser o momento adequado!?
Ponta Delgada, 28 de maio de 2024