Aníbal C. Pires - foto de Henrique Borges |
(...) Se as sociedades “ocidentalizadas” e a cultura da atomização social desperdiçam os seus idosos e até os apelidam de “peste grisalha”, outras, porém, valorizam os anciãos e têm por eles respeito e deferência. Não temos sequer de seguir os exemplos de outas culturas como as do Japão, da China ou da Coreia, ou mesmo de algumas culturas nativas das Américas ou de África onde os idosos são olhados como referências e devidamente integrados e cuidados no seio da família e da comunidade de pertença, mas não podemos, nem devemos, desaproveitar todo o capital social e cultural de que são detentores, marginalizando-os e depreciando-os.
A atomização social resulta de processos relacionados com o progresso e a modernidade, como por exemplo: a) a migração para as áreas urbanas e, por conseguinte, o crescimento das cidades e a desertificação das áreas rurais; b) promoção do sucesso individual com um claro prejuízo das realizações coletivas e comunitárias; c) as plataformas de informação e comunicação que ao invés de unir promovem o isolamento e o encapsulamento, contribuindo para o enfraquecimento das relações sociais; d) os efeitos do globalismo (desemprego, migrações e trabalho precário; e) fragilidade e perda de confiança nas instituições tradicionais (família alargada, ausência do estado); e, f) a constante mobilidade (por trabalho, estudo, migração forçada) que desmorona as comunidades. Sendo caraterísticas dos nossos tempos, será bom que tenhamos consciência que a atomização social nos aparta das comunidades de pertença e nos torna (velhos e novos) mais vulneráveis. Julgo, por isso, que devemos estar atentos aos efeitos perversos deste fenómeno social e construir estratégias que o contrariem, sob pena de, em nome da liberdade individual, se acentuar a manipulação, a modelação do pensamento e o individualismo e, por conseguinte, o aprofundamento do domínio que podendo ser individual tem reflexos negativos na construção de soluções coletivas que podem, essas sim, abrir caminhos à libertação e à transformação que exigimos para a sustentabilidade da vida no planeta e para a justiça social e económica. (...)
Sem comentários:
Enviar um comentário