segunda-feira, 9 de abril de 2012

Tramas

A passada semana para além, segundo o calendário católico, de ser Santa, foi também marcada pelo caso do Tó Zé. Sei que é um abuso, Tó Zé é só para os amigos, amigos assim como o Passos Coelho, mas não resisti, acho giro e muito fashion.
O Secretário-geral do PS, António José Seguro, foi alvo de um “vil ataque” do comentador Marcelo Rebelo de Sousa. Terá sido um ataque!? Terá sido vil!? Não vejo, nem oiço, os escólios de tão afamada figura, mas apanho sempre com os ecos da função, é incontornável e, os ecos, desta vez, foram ensurdecedores. A minha recusa, visceral, em sintonizar o canal de televisão quando por lá está o professor Marcelo, deixa-me diminuído perante os meus concidadãos, ainda assim, e apesar deste sentimento provocado pela auto exclusão, não fico nada incomodado por não saber, ou não ter opinião, sobre o comentário que tanta celeuma provocou. Não sei se foi um ataque, nem sei se foi infame o comentário, ficarei, por isso, na ignorância e prefiro-o. Prefiro quedar-me sem o conhecimento das palavras, e do seu tom, à qual o comentador deve ter aduzido uma expressão facial a condizer, a procurar o visionamento do programa na internet. Antes passar sem a douta opinião, do que violentar-me.
Sei, isso sei, que o Tó Zé é, em si mesmo, o melhor seguro da continuidade do governo do seu amigo Coelho. Os inimigos do Secretário-geral do PS, não são os saudosos de Sócrates, não é António Costa, não são os independentes ou os ex-governantes do PS. O que fragiliza António José Seguro são opções políticas como: a abstenção no orçamento de estado ou, mais recentemente, a abstenção nas alterações aos apoios sociais; isto sim, isto fragiliza este delicado, débil, talvez ou, quiçá, inseguro e quebradiço, líder partidário.
Enquanto o país ficou suspenso até que Marcelo viesse de novo à sua ara, depois das inseguranças de Seguro, o país continuou a afundar-se e, o conselho de administração da troika, para Portugal, presidido por Passos Coelho, avançou com mais umas medidas que aceleram a destruição do estado, social sim, mas é mais profundo, é a destruição do próprio estado democrático português.
O Tó Zé e os seus acólitos, sejam eles, socráticos, independentes, apoiantes de António Costa ou, ex-governantes, só têm de se queixar de si mesmo e das escolhas que o PS foi fazendo ao longo da sua história. O problema do PS não foi Sócrates, não é o Tó Zé, nem foi o chumbo do PEC IV, o problema do PS foi a aprovação dos PECs I, II e III, o problema do PS português e dos seus congéneres europeus, foi ter validado, com a adoção da chamada terceira via, a economia de mercado de base neoliberal. Este sim, não sendo único, é o principal problema do PS ser, em tudo, o que é essencial, semelhante ao PSD. A atual dificuldade do PS, para além da intranquilidade de Seguro, reside na dificuldade em afirmar um projeto político diferente daquele que o PSD e o CDS/PP estão a impor a Portugal.
Ponta Delgada, 08 de abril de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 09 de abril de 2012, Ponta Delgada

A ilustração foi retirada daqui

1 comentário:

Zé Manel disse...

Grande texto, grande malha! as palavras certas e certeiras!
UM ABRAÇO!