terça-feira, 24 de abril de 2012

Abril e Maio

O frenesim mediático pré-eleitoral, liderado pelos candidatos do PS e do PSD, não pode ocultar o profundo agravamento da situação social e económica nos Açores.
Enquanto PS, PSD e CDS se digladiam para disfarçar a sua total concordância e alinhamento em relação às piores medidas tomadas em nome do pacto com a troika, acrescidas de medidas adicionais da lavra de Passos Coelho e Paulo Portas, apoiadas cegamente nos Açores, por Berta Cabral a Artur Lima, como dizia, enquanto os partidos troikistas esgrimem lugares comuns na disputa de apoio eleitoral, a vida dos açorianos torna-se cada vez mais difícil.
Continuam a suceder-se os encerramentos de empresas em todas as ilhas, bem como os despedimentos e não-renovações de contratos, com destaque para a construção civil, mas também nas grandes superfícies comerciais e outros setores da atividade económica dando, assim lugar à continuada destruição do emprego, como o comprova o último boletim do IEFP onde se constata a continuação do aumento do desemprego na Região, com o empobrecimento que isso significa. Empobrecimento dos cidadãos, empobrecimento das famílias, empobrecimento da Região.
Aumenta a pressão sobre os trabalhadores e os seus direitos, com entidades patronais sem escrúpulos a utilizarem a ameaça do despedimento ou do encerramento para reduzirem direitos e mesmo remunerações.
As alterações ao Código do Trabalho vão impor mais uma desvalorização dos salários dos trabalhadores açorianos, trabalhadores açorianos que já auferem, em média, menos 100€ mensalmente.
O Governo do PSD e do CDS/PP, com um fundamentalismo inaudito, converteu-se num verdadeiro representante dos direitos do patronato, cilindrando sem subtilezas todos os direitos e conquistas de quem trabalha.
Mas importa não esquecer que a UGT, central sindical afeta ao PS, validou estas medidas e o próprio PS, com as suas abstenções, ditas, “violentas”, legitimou também esta opção e pôs-se objetivamente ao lado da direita, nesta como em muitas outras matérias. A este propósito não posso deixar de reconhecer que a inovação do PS, na oposição ao PSD e ao CDS/PP, foi a introdução no léxico político nacional da “abstenção violenta”. Sem dúvida que o PS trilha um caminho seguro com o seu Secretário-geral, Tó Zé, para os amigos.
As comemorações do 25 de Abril e do 1.º de Maio para além da memória constituem-se como momentos importantes para dar força à luta contra a ofensiva, sem precedentes, que abala os pilares do estado português. Ofensiva que descaracteriza a democracia, ofensiva que coloca em causa as Autonomias e o Poder Local, ofensiva que conduz à ruína nacional, à escalada de sacrifícios e ao crescendo de exploração sobre os trabalhadores e sobre o Povo. As comemorações do 25 de Abril e do 1.º de Maio é um momento e afirmação dos valores do progresso, da democracia e da liberdade que estão na génese da Revolução de Abril e que são a única esperança para Portugal e para os Açores.
Comemorar Abril e Maio é defender a democracia, comemorar Abril e Maio é defender a autonomia.
Ponta Delgada, 23 de abril de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 23 de abril de 2012, Ponta Delgada

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