quarta-feira, 2 de maio de 2012

Inquietação

Portugal está moribundo, Sim este país está agonizante, morrente, exânime... Não. Não é só o estado português, esse, o Estado já morreu, a sua extinção iniciou-se na década de 80 da centúria que a esta precede, refiro-me ao país e ao povo que lhe dá alma, à identidade que nos tem unido, para o bem e para o mal, já lá vai quase um milénio. Talvez! Sim talvez seja um “velho do Restelo” incapaz de compreender a dimensão das transformações que têm ocorrido no retângulo continental e nas regiões insulares atlânticas mas que dói, lá isso dói.
Não estou sozinho na dor, nem na inaptidão do entendimento mas todos, os incapazes de compreender estes caminhos da modernidade, da globalização, da competitividade económica, todos os que negam a inevitabilidade deste caminho e deste paradigma, todos os que padecem por Portugal democrático... Todos somos poucos. Poucos para contrariar o pensamento dominante que aliena os cidadãos, poucos para destronar um poder ilegítimo, sim, bem sei que ganham e ganharam eleições, mas também sei que o contrato social celebrado com os eleitores é, invariavelmente, remetido para a gaveta do entorpecimento coletivo, o poder conta com a amnésia dos cidadãos e, os cidadãos desobrigam-se das opções eleitorais e, os cidadãos não exigem que o contrato social seja cumprido. Sem a responsabilização dos cidadãos a democracia definha e despotismo instala-se, o autoritarismo instalou-se.
Numa manhã de Abril de 1974 o povo português despertou para o sonho, um sonho ali ao alcance da mão, mão que trabalha, mão que cria, mão que acarinha, mão que constrói, sonho adiado por 48 anos de despotismo, sonho reprimido pelo medo, pela pobreza, pela fome. Em Abril de 2012 o povo português está de novo mergulhado num pesadelo, já não é o povo quem mais ordena, essa tarefa agora cabe aos acólitos do FMI, o Gaspar, o Relvas, o Coelho. A saúde, a educação, a segurança social, o emprego, a democracia, a liberdade e o que restava da soberania nacional esfumam-se em memorandos e tratados intergovernamentais, a letargia instala-se e o despotismo medra como as relvas com que se apelida o ministro Miguel, e outros quejandos, que não sendo Vasconcelos, se prestam bem ao papel de colaboradores do protetorado estrangeiro que nos submeteu ao pacto de agressão.
Por fim a este poder despótico e ilegítimo é um dever, direi mesmo um imperativo patriótico, dever que cabe a todos os portugueses que amam o seu país e, desde logo a quem, pelo seu voto, ainda que embalado nas vãs promessas eleitorais, contribuiu para catapultar para o poder estes vendilhões sem escrúpulos.
Ponta Delgada, 30 de abril de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 02 de maio de 2012, Ponta Delgada

A ilustração foi retirada daqui

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