Os vocábulos que dão título a este texto são parte de uma canção dos “Calle 13 – grupo de rap alternativo, de Porto Rico – a canção fala da América, das Américas e da impossibilidade de comprar o Sol, a Chuva, o Tempo, as Nuvens... a Vida, e, fala de luta. A luta dos povos pela liberdade, pela justiça, pelo direito à igualdade no respeito pela diferença, fala da solidariedade individual e coletiva.
Por cá vive-se o período pré eleitoral e os discursos políticos, não todos, adequam-se ao momento e, conforme os locais e os públicos, promete-se, promete-se... A leviandade com que alguns asseguram o paraíso para lá de outubro é confrangedora e, por vezes, chegam a ser ridículos.
Assim não se combate a abstenção, assim só pode aumentar o descrédito pela atividade política e a depreciação dos seus protagonistas, contribuindo para alimentar e engrossar uma certa “cultura” anti partidária paradoxalmente aproveitada por alguns, velhos e novos, partidos. Partidos que têm programas aos quais está associada uma matriz ideológica seja ela mais à esquerda ou à direita, seja republicana ou monárquica, seja ela mais ou menos, intérprete de causas sociais, de causas ambientais, de causas de género, da defesa dos animais e da natureza, do direito à livre opção pela sua orientação sexual ou, de causas relacionadas com a terceira idade, isto para me referir apenas a algumas das mais populares às quais os cidadãos aderem com alguma facilidade e muito acriticismo.
Grande parte dos problemas que a humanidade enfrenta só será resolvida com a libertação dos cidadãos e dos povos do domínio imposto pelos 1% dos cidadãos que detêm a riqueza do Mundo, e que com ela subjugam os tais 99% da população de todo desprovida de recursos ou, os que nos últimos anos têm vindo a ser vítimas de um processo de proletarização (empobrecimento). Mas, no espectro partidário regional e nacional, há quem lute quotidianamente, nos parlamentos e fora deles, para que os 1% sejam derrotados.
A democracia, tal como a temos vivenciado nas últimas décadas, tem-se demonstrado frágil e permeável ao poder dos oligopólios financeiros e económicos, ineficaz na promoção da justiça social e económica e na garantia de direitos básicos como sejam, por exemplo, o trabalho justamente remunerado, a proteção social, o acesso à educação, à cultura e ao conhecimento.
Perante as debilidades da nossa democracia os cidadãos mostram-se descontentes. Descontentes mas resignados e, desresponsabilizam-se. Os cidadãos desobrigam-se não exercendo os seus direitos cívicos e políticos, desobrigam-se sob a forma de abstenção, desobrigam-se fazendo de conta que nada têm a ver com os Relvas e outros quejandos que nos têm governado e a forma como chegaram ao poder, mas a verdade é que estes que hoje, como no passado outros, são dura e justamente criticados só assumiram o poder porque os cidadãos lhes deram o seu voto ou, ainda que indiretamente, o seu apoio, remetendo-se à abstenção ou ao voto em branco. É tempo de cada um de nós assumir a quota-parte da responsabilidade que tem. A democracia só pode funcionar se os cidadãos não se demitirem do exercício dos seus deveres e direitos políticos e de cidadania.
Ganhar o presente, pois é disso que se trata, para garantir o futuro é uma tarefa de todos. Esta empreitada individual e coletiva não se compagina com visões redutoras e bipolares das opções de voto, nem com a resignação alimentada pelo discurso das inevitabilidades.
Nem todos os discursos e narrativas políticas são desprovidos de saliva, alma, sentimento. Há discursos e narrativas políticas que falam de nós, dos nossos problemas, não fazem promessas de ganhar o futuro porque têm consciência que temos de ganhar o presente se queremos ter futuro como Região Autónoma e como País soberano.
Horta, 03 de setembro de 2012
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 03 de setembro de 2012, Ponta Delgada
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