Não têm como disfarçar as cumplicidades e os objetivos políticos |
As séries televisivas e as novelas durante a produção e ciclo de vida estão sujeitas, como qualquer produto, a alterações. Essas modificações podem assumir várias formas, como sejam transformações no guião, resultado ou não de estudos junto da audiência, e a presença de um convidado especial, num ou mais episódios.
O grupo parlamentar do PSD na ALRAA, não alterou o guião ao longo da legislatura que agora está a chegar ao fim, ou seja, limitou-se a repetir até à exaustão a cartilha do fim de ciclo e do descontrole das finanças públicas regionais, a opção do PSD foi pela convidada especial, como se verificou na última sessão legislativa, a líder do PSD e ex-Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, a Dra. Berta Cabral assumiu as suas funções de Deputada e foi, assim como a guest star do seu Grupo Parlamentar.
Em discussão estavam o “memorando de entendimento Açores Lisboa” e o Relatório da Inspeção Geral de Finanças. Esperava-se que a guest star pudesse entrar no debate político, tendo para isso sido “solicitada” por diversas bancadas, para explicar como pretende alterar, na forma e no conteúdo, o “memorando de entendimento”, esperava-se que, sobre o Relatório da Inspeção Regional das Finanças versus dívida pública da Região, a Dra. Berta Cabral pudesse clarificar como, face à “monstruosa” dívida pública, se executam todas as suas promessas eleitorais, visto que, como todos já percebemos, será necessário um aumento das receitas próprias, o que não é expetável, ou a “solidariedade” da República, o que também não me parece que venha a acontecer, para que o orçamento regional suporte todas as promessas da líder do PSD.
O PSD, em momento algum, fez a afirmação de um modelo de desenvolvimento alternativo, o PSD pela voz da sua guest star limitou-se a reproduzir uma intervenção vazia, construída com frases feitas para o ouvido dos eleitores e sem direito ao contraditório, ou seja, a prestação da guest star do PSD foi um monólogo mediático. Triste figura, sê-lo-ia para qualquer deputado, para qualquer líder parlamentar ou partidário mas, neste caso, vindo de quem afirma que tem pretensões a ser Presidente do Governo Regional foi, no mínimo, confrangedor e dececionante. Terá sido angustiante para alguns dos deputados do PSD, terá sido dececionante para alguns dos seus apoiantes mas, teve um significado político que não é despiciente e, para o qual chamo a vossa melhor atenção.
Com a Região amarrada ao “memorando de entendimento” e com, na opinião do PSD, uma dívida pública descontrolada que melhor desculpa para justificar, considerando a remota e teórica hipótese do PSD vir a ser o partido mais votado em outubro, que afinal as promessas eleitorais da Dra. Berta Cabral e do PSD não se podem concretizar e até, pelo contrário terão de ser aumentados os impostos na Região e por fim aos mecanismos que compensam os custos da insularidade. Este é o significado político da prestação da Dra. Berta Cabral no último plenário ordinário da presente legislatura.
Ponta Delgada, 10 de setembro de 2012
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 10 de setembro de 2012, Ponta Delgada
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