Não, Obrigado não. Não gosto da palavra. Bem talvez não seja do vocábulo mas da utilização a que ele se dá. Prefiro bem-haja e, ainda assim, dispenso agradecimentos por atos que promovo a favor de outros, sejam esses outros anónimos individuais ou coletivos, sejam esses outros indivíduos do meu círculo de amizades, ou mesmo do meu círculo familiar. Não gosto. Não gosto, mas verbalizo com muita frequência a expressão, obrigado, muito obrigado. Faço-o naturalmente, assim fui educado no tempo e no espaço da minha infância e juventude, integrei essa aprendizagem como parte dos ritos da ruralidade e da urbanidade que vivenciei. Veio de casa, veio do seio da família e permanece. Pode parecer um paradoxo, Sim talvez seja uma, de outras contradições que transporto comigo mas, dispenso a obrigação e não faço nada que obrigue outros a que me fiquem obrigados, dependentes. Abomino as dependências e as teias que as servidões tecem. Outro paradoxo, afinal, eu próprio sou um dependente, não dispenso o prazer de um cigarro, um prazer de entre outros prazeres, outras dependências, quiçá, mais deleitosas que aspirar o fumo de um cigarro e sem os perniciosos efeitos da nicotina e do alcatrão.
Desculpa, peço desculpa! Aí está, outra expressão que frequentemente utilizo para com os outros, mas não gosto, não gosto mesmo nada, que me seja dirigida. E aborrece-me profundamente quando os pedidos de desculpa são reiteradamente utilizados, é muito erro junto. O pedido de desculpa está, geralmente associado a um incorreção cometida, a um juízo precipitado, à verbalização irrefletida. Claro que nem sempre é assim, pedimos desculpa, se a educação nos aconselha, por muitas outras razões e por pequenas coisas, pequenas coisas que estão muito longe de serem erros, injustiças, palavras menos apropriadas. Também cometo erros, muitos erros, e peço desculpa por eles. Aprendo com os meus erros e não me lembro, vá lá talvez aos meus pais, de ter pedido desculpa, por mais de uma vez, à mesma pessoa e, muito menos pelo mesmo erro.
Chegado aqui, sem saber muito bem como e porquê aqui vim ter, fico sem perceber se sou tolerante ou intransigente com os outros. Agradeço como toda gente, mas não gosto que me digam obrigado, peço frequentemente desculpa mas não gosto que me solicitem a indulgência. E eu que tenho de mim a ideia que sou um pragmático, ou não serei. Sei que sou teimoso, muito obstinado, orgulhoso que baste, mas capaz de reconhecer quando estou errado. Mas ao reler o que escrevi até aqui começo a duvidar de mim, ou melhor, a colocar em causa aquilo que julgo ou julgava ser, já nem sei muito bem o que pensar e dizer ser sob pena de ter de recorrer à psicanálise, luxo a que não me posso dar, para além do estigma que sobre mim ficaria a pairar.
Será que tenho de deixar de fumar e dedicar-me mais a outras dependências, as tais, as mais deleitosas e menos nocivas prá saúde, ou isto é apenas o cansaço associado a precoces efeitos da silly season.
Muito obrigado a quem conseguiu ler até ao fim e, quero apresentar as minhas sinceras desculpas se as vossas expetativas foram goradas durante a leitura do texto.
Ponta Delgada, 29 de Junho de 2013
Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 01 de Julho de 2013, Ponta Delgada
Fotos de Madalena Pires
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