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Foto - Aníbal C. Pires |
Pode até parecer face ao que tenho dito e escrito sobre o assunto mas não, Não sou contra. Tenho é vindo a intervir com o objetivo de defender o que é público, o que é nosso e a alertar para a entrada, de portas escancaradas, de transportadoras aéreas que não estão desenhadas para uma operação como a ligação aos Açores, não estão em causa os seus trabalhadores, tão qualificados como todos os outros, o que verdadeiramente está em causa é o modelo de negócio e, no caso dos Açores não se trata de negócio, trata-se de serviço público. Serviço público que tendo obrigações às quais não estão associadas compensações terá de ser feito pelas transportadoras aéreas públicas, neste caso a SATA pois, a TAP já vai a caminho da privatização sem que aqueles, ou a maioria, dos que hoje se insurgem pelo abandono das rotas de serviço público, pela TAP, na Região tivessem levantado a sua voz contra o processo de privatização em curso de mais este ativo nacional.
Não ter consciência que o eventual fim da SATA Internacional e o aumento da fragilidade financeira do grupo seria dramático para todos nós é, no mínimo, confrangedor. Qualquer cenário do qual resulte a diminuição da atividade das empresas do Grupo SATA terá reflexos negativos na Região, afinal estamos a falar de uma das maiores empresas da Região e que presta um serviço, apesar de todas as críticas que se lhe possam fazer, que nenhuma outra transportadora aérea fará.
O novo modelo de transporte aéreo para a Região, apoiado pelo Governo da Região e pelo Governo da República, é uma resposta às exigências do setor turístico regional e, também, às exigências das duas transportadoras de baixo custo que agora estão a iniciar a operação. Não é necessário ser um entendido na gestão e no negócio do transporte aéreo para saber que se o “negócio” não satisfizer as expetativas destas operadoras de baixo custo, tão depressa abandonam o mercado como tão depressa cá chegaram, E depois, depois o coro far-se-á ouvir de novo, exigindo à SATA que garanta o serviço.
A espúria tese da concentração para garantir escala e mercado, o novo modelo de transporte aéreo daí resulta, vai esvaziar de importância algumas das ilhas açorianas de onde advirão novas assimetrias ao desenvolvimento regional.
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Foto - João Pires |
O aeroporto de Ponta Delgada será assim o “hub” da operação aérea. Será para S. Miguel que se encaminharão a maioria dos açorianos procurando as tarifas de baixo custo e contanto com a “borla” dos encaminhamentos. Os açorianos das Flores a Santa Maria irão, naturalmente, preferir sair e regressar por Ponta Delgada enquanto durar a miragem das tarifas de baixo custo. É o tal aeroporto único, expressão utilizada pelo Governo Regional para reforçar a ideia de “conquista” da tarifa de 134 euros para residente. Às operadoras de baixo custo dá-se o “filet mignon” para a SATA ficam as sobras
Como já referi não sou contra a entrada de privados no transporte aéreo nas ligações com o exterior, mas sou contra o favorecimento que lhe é feito. Não é admissível que ao Grupo SATA se devam milhões e milhões de euros, sem prazo de pagamento, e que se encaminhem dinheiros públicos para os grupos privados que com a SATA veem concorrer.
Estranho mesmo é que alguns cidadãos com responsabilidades sociais, culturais, académicas e políticas defendam este modelo como um marco, uma viragem na economia regional, o fim de um ciclo, a agropecuária, e o início de um novo ciclo, o turismo. Quando todos sabemos que um dos problemas da economia regional tem sido, ao longo da nossa história, a forte dependência de um só produto. O turismo é importante, sem dúvida. Mas não é nem pode ser substitutivo de qualquer outra atividade económica.
Ponta Delgada, 31 de Março de 2015
Aníbal C. Pires,
In Diário Insular e Açores 9, 01 de Abril de 2015