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Chegou-me hoje, através de mão amiga, o convite do Grupo Parlamentar do PPM, para uma conferência de imprensa, na delegação da ALRAA da ilha Terceira, no próximo dia 19 de maio (amanhã).
O convite não é naturalmente para mim, dirige-se aos OCS. Não sendo meu hábito referir-me aos convites dos partidos, organizações ou instituições para as suas conferências de imprensa, quando muito, a ter alguma coisa a opinar, isso acontece posteriormente e em função do que foi comunicado publicamente. Mas a forma, a linguagem utilizada no convite e a finalidade merecem já, uma ou outra consideração. Sei que é um risco, mas a vida é, naturalmente, arriscada. Vamos a isto.
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A conferência de imprensa do Deputado Paulo Estêvão, segundo o convite dirigido aos OCS é: “a respeito da campanha de manipulação que o médico Salgado, os comunistas e os socialistas montaram a respeito da pressuposta expulsão do referido médico da ilha do Corvo.”
A formulação é de vitimização, ou seja, na opinião do Deputado Paulo Estêvão existe uma cabala construída à volta de uma suposição que, por mero acaso é falsa.
A suposição é falsa por que o médico não foi expulso, foi exonerado da Presidência da Unidade de Saúde de Ilha, por outro lado e, segundo o próprio António Salgado, em declarações públicas, não está em causa a sua permanência como médico na Unidade de Saúde do Corvo, o apoio popular que lhe foi manifestado levou-o a decidir ficar e não pedir a mobilidade para outra ilha.
Quanto à existência de uma cabala sou até capaz de perceber as razões que levam o Deputado Paulo Estêvão a dizê-lo, dá-lhe jeito para se vitimizar e tentar inverter o foco de um problema que ele próprio criou. Os cidadãos, o visado e os partidos políticos reagiram e tomaram posição. É a democracia a funcionar, apenas isso.
Chamar campanha de manipulação à expressão genuína da maioria dos corvinos que se manifestaram contra a exoneração de António Salgado da Presidência do CA da Unidade de Saúde de Ilha é, menosprezar a vontade e a livre expressão dos corvinos. Corvinos de diferentes quadrantes políticos e partidários que manifestaram o seu desagrado pela exoneração do Dr. António Salgado, mas também pela nomeação do Dr. Paulo Margato para o cargo de Presidente do CA da Unidade de Saúde de Ilha.
O Governo Regional tem toda a legitimidade para nomear e exonerar os Presidentes dos CA das Unidades de Ilha, mas os cidadãos têm igual direito de se manifestar contra as exonerações e as nomeações e, neste caso, os cidadãos, pelas caraterísticas da própria ilha, perceberam as razões desta dança das cadeiras e não aceitaram de ânimo leve.
O Deputado Paulo Estêvão, de momento, conta apenas com o apoio dos seus indefetíveis protegidos, posso até imaginar a lufa-lufa do líder regional do PPM à procura de apoios para sair deste imbróglio em que se meteu. Já deve ter dados várias voltas a Vila do Corvo para angariar apoios e sair do seu já reduzido círculo de apoiantes.
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A tentativa de vitimização do Deputado Paulo Estêvão é uma evidência. A forma e o conteúdo utilizado no convite aos OCS, para a Conferência de Imprensa, indiciam uma posição de derrota argumentativa, ou seja, ao referir-se a António Salgado como
“(…) o médico Salgado (…)”, numa clara tentativa de menorização e até enxovalhamento, mas também a utilização da expressão
“(…) os comunistas e os socialistas (…), que só acontece numa tentativa desesperada de procurar apoios com recurso à linguagem populista utilizada quando faltam argumentos para desconstruir os factos que caraterizam este escândalo político.
E os factos são:
- exoneração o Dr. António Salgado com base em pressupostos que não se verificam, ou seja, 6 dos 7 trabalhadores da Unidade de Saúde subscreveram apoio ao Dr. António Salgado e exigem que este continue a exercer as funções das quais foi exonerado;
- eventuais desentendimentos no seio do Conselho de Administração da Unidade de Saúde, se é que existiam, reduziam-se a uma vogal do CA. Vogal que foi para o Corvo para assumir essa função nomeada pelo Governo Regional; e
- o timing da nomeação do Dr. Paulo Margato para Presidente do CA deixou claro que o afastamento do Dr. António Salgado não está ancorado em problemas internos no funcionamento da Unidade de Saúde de ilha, nem em eventuais desentendimentos no seio do CA, mas na necessidade de vacatura do cargo para a entrada de um compagnon de route do Deputado Paulo Estêvão.
Bem pode o deputado do PPM e a tutela da saúde na Região desdobrarem-se em justificações, vitimizações e utilização do fantasma da cabala que as evidências são o que são, e ninguém, mesmo os indefetíveis do PPM, têm dúvidas que este escândalo político teve um protagonista, o Deputado Paulo Estêvão, uma vítima, o Dr. António Salgado e um beneficiário, o Dr. Paulo Margato.
O Presidente do Governo Regional, como é habitual, encontra-se em retiro espiritual.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 18 de maio de 2022