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Apresentação de Contrastes, de Alexandra Cunha Cordeiro
Casa da Escrita, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 23 de setembro de 2022
a poeta desnuda-se
Senhoras e senhores,
Caros amigos
Antes de vos falar do livro e da autora, razão maior que nos junta, de novo e sempre aqui, neste espaço onde as palavras repousam e ganham vida, permitam-me alguns agradecimentos.
Agradeço, desde logo, a Vossa presença. Presença sem a qual pouco sentido faria este momento. Os autores libertam as palavras e os leitores dão-lhe uso e voz, cada um com a sua própria leitura e interpretação. É desse modo, por via dos leitores, que os textos literários reunidos em livro cumprem a sua finalidade. E os poemas da Alexandra Cordeiro irão, através de cada um de nós, viajar livremente cumprindo o seu desígnio e povoando o imaginário de cada um dos seus leitores.
À Alexandra agradeço a confiança em mim depositada que se traduziu no convite para tecer algumas considerações sobre o seu primeiro livro de poesia, ou seja, a de fazer a apresentação pública de “Contrastes”. Convite que aceitei sem reservas, mas com a consciência da enorme responsabilidade que lhe está intrínseca.
Obrigado Alexandra! Pelo convite e, sobretudo, pela confiança que em mim depositas para apresentar o teu livro.
Alexandra Cunha Cordeiro - Imagem retirada da internet |
Caros amigos,
Partilho convosco algumas palavras sobre este livro, o primeiro de muitos, assim o esperamos. Palavras que não têm a pretensão de se constituir como uma recensão e, muito menos como uma análise de índole literária.
São breves as minhas palavras pois a poesia é para deleite de quem a lê, a poesia sente-se e vive-se e não pretendo antecipar aos leitores a viagem pelos poemas da Alexandra.
A capa contrasta o preto e o branco, oposição de tons ou cores, o que de per si nos pode proporcionar uma ligação linear ao título, mas não se fica por aí. A bolha negra explode em mil pedaços libertando os estados de alma que estavam, direi eu, aprisionados e transformaram-se nesta aventura poética intimista da Alexandra Cordeiro. E assim é. Se dúvidas houvesse elas dissipam-se nas palavras escritas pela autora na contracapa e que terminam assim: “Partilho-me nesta escrita da minha alma”.
Ao iniciarmos a leitura dos poemas deste livro comprovamos que a interpretação, sempre subjetiva, dos grafismos da capa, se comprova a cada verso, a cada estrofe, a cada poema. Este livro é, como poderão comprovar pela leitura, poesia sentida e intimista em estado puro, mas é também o registo poético de momentos que quase podemos datar, assim como se de entradas diarísticas se tratasse, sem qualquer ordem cronológica pois, não nos relatam os dias, dizem-nos da memória, dos instantes, do quotidiano e dos estados de alma.
Não costumo recorrer à citação de excertos dos livros que tenho apresentado para não subtrair aos leitores prazeres que devem ser só seus, mas neste caso e como é de poesia que se trata, abro uma exceção e vou-vos ler alguns versos dos poemas Vem, Onde andas? Entra e Vizinhas que, em minha opinião, ilustram, de forma modelar, o que já vos disse sobre a poesia da Alexandra.
Vem
(…) Estarei /À espera/Ansiosa(Quando, se e o que quiseres (…)
Onde andas?
(…) Se quiseres, um dia, estarei aqui/À espera de te ver,/De te ouvir,/De te sentir… (…)
Entra
(…) Entra suavemente/Invade o meu espaço./Deixo a porta aberta/Para ti, sempre (…)
Vizinhas
(…) Lá fora/Gargalhadas suaves/Em cima de copos de vinho. (…)
A poesia de Alexandra Cordeiro diz-nos da nossa condição de seres afetivos dotados de razão, por isso nos comovemos e nos sensibilizamos com os sentires partilhados neste livro. Nestes poemas a autora desnuda-se para os seus leitores e partilha, sem limites, o âmago do seu ser.
Os poemas reunidos neste livro, por não obedecerem a nenhuma métrica, conferiram à autora a liberdade para criar as suas próprias normas e ritmos, procurando, contudo, garantir uma das caraterísticas transversais aos textos poéticos, a sua musicalidade.
A poesia de Alexandra Cordeiro insere-se, assim, na chamada poesia contemporânea que veio, de alguma forma, subverter as formas poéticas tradicionais.
Os poemas reunidos no livro “Contrastes” não se confinam a um território, a uma geografia. A Alexandra sem abdicar da sua condição de açoriana, como de forma explícita podemos constatar no último poema do livro (Da ilha).
A Alexandra abre o coração ao mundo e aos afetos, vagueia pelas palavras constrói poemas e confere-lhes um caráter humano e, por isso mesmo, universal.
Bem hajam pela Vossa presença, atenção e pela paciência com que me ouviram.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 23 de setembro de 2022
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