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Não gosto e não concordo. Não gosto da forma como o governo PS e a sua maioria exercem o poder, não concordo com as opções políticas internas e externas do governo de António Costa, julgo mesmo que alguns dos cidadãos que manifestaram desagrado pela posição do PCP e do BE, aquando da votação do orçamento de estado que precipitou as eleições das quais resultou a maioria absoluta do PS, já terão percebido que esses partidos não tinham outra alternativa. Concorde-se, ou não, goste-se, ou não, mas está legitimado pelo sufrágio popular. O que não significa que não se faça oposição e se proponham alternativas. A democracia, ainda que limitada pela maioria absoluta, funciona assim. Embora às vezes tenha dúvidas pois, quando me dou conta do que a senhora Ursula von der Leyen afirma e, sobretudo, decide em nome dos povos da União Europeia pergunto-me qual é a legitimidade democrática da presidente da Comissão Europeia e concluo que: não tem. Não tem a senhora von der Leyen, nem o senhor Josep Borrell, ou qualquer outro comissário europeu, nenhum deles se submeteu ao sufrágio popular e, por conseguinte, não têm legitimidade democrática. Neste caso, não gosto, não concordo e não lhes reconheço nenhuma autoridade para representarem e decidirem em nome dos povos da União Europeia
E, caros visitantes da “Sala de Espera”, não se trata do momento político, com os efeitos conhecidos, que estamos a viver. Nunca reconheci ao órgão executivo da União Europeia, ou seja, à Comissão, nenhuma legitimidade democrática. A Comissão é um órgão de nomeação ao qual não deviam ser atribuídos tamanhos poderes. E notem bem que este órgão, a sua presidente e o comissário Borrell, sem legitimidade democrática permitem-se ajuizar sobre se este ou aquele país são democráticos ou autocráticos, se este ou aquele presidente ou primeiro ministro são democratas ou autocratas, em claro desrespeito pela vontade popular dos povos que os elegeram em eleições democráticas. Não gosto como exercem o poder, e não concordo com as opções políticas de muitos dos atuais dirigentes políticos mundiais, desde logo do presidente e do primeiro ministro portugueses, mas há um aspeto que os diferencia dos comissários europeus, exercem o poder em resultado de eleições e da vontade popular e respondem perante as oposições, têm uma legitimidade que a Comissão Europeia e a sua presidente não têm, para além dos tiques, eles sim, autocratas.
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Alguns democratas da nossa e de outras praças, desde que continuem a jorrar milhões, estão pouco preocupados com a qualidade da democracia nos organismos tecnocráticos da União Europeia, mas o caudal foi desviado para outras agendas, por outro lado a escassez alimentar e energética, que já se faz sentir, o aumento das taxas de juro e da inflação são os ingredientes para trazer os povos para a rua, o que aliás já verifica em alguns dos países da União Europeia. Sei, meu caro visitante da “Sala de Espera”, que não tem visto na televisão, nem tem lido nos jornais, mas, como sabe, isso não significa que não esteja a acontecer. Está e vai acentuar-se. Alguns democratas da nossa e outras praças deixaram cair as preocupações com a liberdade de informação e com a pluralidade de expressão no espaço a que vulgarmente se chama “mundo ocidental”, é lamentável, mas é um facto. Claro que as preocupações de alguns democratas, da nossa e outras praças, com a liberdade de expressão e a pluralidade se mantêm, quando se trata de países fora da esfera de influência do “mundo ocidental”, como convém ao pensamento que dá corpo e forma à unipolaridade, ao atlantismo e ao eurocentrismo. Como se o mundo se resumisse a tão pouco e esses princípios ideológicos não se estivessem a desmoronar, ou, talvez não. Mas tudo leva a crer que sim.
O conflito bélico que domina as agendas mediáticas e políticas do “mundo ocidental” vai, aparentemente, determinar a emergência de um mundo multipolar e é essa, e não outra, a razão do empenho da Inglaterra, da União Europeia e dos Estados Unidos no apoio incondicional a um dos beligerantes. Os Estados Unidos não querem perder ou dividir o protagonismo geopolítico e estratégico, a Inglaterra é o aliado natural dos Estados Unidos e a União Europeia serve, tão-somente, como municiador do conflito, sacrificando os seus cidadãos ao abdicar do papel diplomático. Sim, se queremos pôr fim a um conflito não podemos adotar como estratégia o fornecimento de material de guerra a uma das partes. Como é público apoio a Palestina, mas não advogo uma solução que passe pelo fornecimento de material de guerra aos palestinianos, defendo uma solução diplomática, sob a égide das Nações Unidas, que reponha a legalidade e promova a paz.
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O “mundo ocidental/comunidade internacional” representa 20% da população mundial, ou seja, os 151 países que não subscreveram as sanções à Rússia representam 80% da população mundial. Como se percebe o conflito sendo “regional” tem uma dimensão que extravasa as fronteiras europeias e coloca em causa a hegemonia da ideologia atlantista e eurocentrista. Quer-me parecer, independentemente do que vier a acontecer, que nada será com até aqui. Os povos oprimidos e despojados pelo “mundo ocidental” estão, por fim, a emancipar-se da tutela dos colonizadores.
Arranhó, 19 de setembro de 2022
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 21 de setembro de 2022
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