foto de Aníbal C. Pires |
Não era bem assim que gostaria de ter iniciado este texto, mas nem sempre posso fazer o que gosto, ou seja, tenho de gerir as minhas emoções e equilibrá-las com a razão. Hoje a ideia era iniciar um ciclo de textos de Verão. Escritos leves e despreocupados como convém à época estival. Se voltarem ao início confirmarão que as primeiras palavras foram: “O Verão…”; a ideia era generosa e a vontade muita, embora não muito fácil de concretizar, aliás como se viu com o primeiro parágrafo.
As minhas inquietações não se suspendem só por ser Verão e, compor textos adequados à época nem sempre é possível. Fácil nunca é, porém, vou tentar esquecer a Palestina, o República Democrática do Congo e a escalada bélica e armamentista alimentada artificialmente na opinião mediática do chamado “Norte Global”.
imagem retirada da internet |
Os cidadãos podem até ficar bem com a sua consciência ao contribuírem para a sustentabilidade ambiental quando optam por um carro elétrico, mas não devem deixar de se questionar sobre a origem dos componentes das baterias, os impactos ambientais negativos que produzem, as condições de trabalho de quem extrai esses minérios e as fontes de energia que são utilizadas para a produção da eletricidade que carrega as baterias do carro. Nem tudo é tão linear e limpo como nos querem fazer crer.
A breve reflexão, sobre o contributo para a sustentabilidade ambiental que a transição dos carros de combustão para os carros elétricos, não pretende mais do que alertar para a forma como a publicidade nos vende “gato por lebre”, e para a importância de nos mantermos informados e, assim, menos permeáveis às agressões da propaganda, mesmo quando aliadas a “nobres” princípios.
Não conheço bem a organização dos movimentos de “ativismo climático”. Partilho das suas preocupações, não apoio a forma como agem e considero muito redutora a forma com abordam as questões para a resolução do aquecimento global e as alterações climáticas. A mais recente ação de um destes grupos consistiu na pintura, com uma tinta laranja, do monumento megalítico de Stonehenge. A cor da tinta e a ação pode ter um profundo significado para o movimento que protagonizou a iniciativa, mas nem por isso deixou de ser um gratuito ato de vandalismo cujo efeito, para além do mediatismo, é nulo.imagem retirada da internet
Não deixa de ser preocupante que estes movimentos do “ativismo climático” se recusem, conscientemente ou não, a ir à raiz do problema e sirvam, ou se deixem utilizar, como testas de ferro de interesses do momento.
As questões ambientais não se resumem apenas à utilização dos combustíveis fosseis e, por conseguinte, à emissão de gases de estufa. Os modos de produção que induzem padrões de consumo estão relacionados com a voracidade do capitalismo, por outro lado a transferência da responsabilidade pela sustentabilidade ambiental para o domínio individual tem como objetivo a desculpabilização dos verdadeiros responsáveis.
A luta pela sustentabilidade ambiental é indissociável da luta pela dignidade humana, ou como dizia Chico Mendes: - Ecologia sem luta de classes é jardinagem.
Seringueiro, sindicalista, defensor dos povos da floresta, enquanto sujeitos históricos, e do uso sustentado da amazónia, Chico Mendes foi assassinado em 1988.
Os assassinatos perpetrados contra ativistas socioambientais no Brasil são inúmeros, em 2005, foi notícia a morte, com vários tiros, de Dorothy Mae Stang, missionária católica, de origem estado-unidense e ativista na defesa da floresta e amazónica e dos seus povos.
A luta pela sustentabilidade ambiental não se esgota nas organizações que se constituem com essa finalidade. As organizações políticas que lutam contra o capital têm, na sua matriz ideológica, a defesa do meio ambiente, por outro lado os movimentos ambientalistas nem sempre são confiáveis pois, a permeabilidade a influências que não se compaginam com os seus objetivos e a dependência de apoios financeiros dos estados, empresas e fundações retiram-lhes, em minha opinião, alguma credibilidade.
imagem retirada da internet |
Chegado ao fim tenho de confessar que a esta narrativa falta coesão e o correr da pena levou-me a saltitar, talvez abruptamente, de tema em tema sem que tivesse conseguido uma linha unificadora e lógica. As minhas desculpas aos leitores que conseguiram acabar a leitura e os meus respeitos pela coragem que demonstraram a percorrer este texto cheio de socalcos e desfiladeiros, quiçá alguns promontórios que vos obrigaram a voltar para trás.
Há dias assim, em que o mais avisado é não resistir e deixar que aconteça.
Ponta Delgada, 25 de junho de 2024
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