foto de Aníbal C. Pires |
A situação internacional é alarmante e, se quisermos ser rigorosos, podemos afirmar que não é nada de novo, era até expetável que, mais tarde ou mais cedo, as tensões provocadas pelas assimetrias no desenvolvimento humano, o neocolonialismo, o unilateralismo, a falência das instituições e, por conseguinte, o seu descrédito, bem assim como o processo de desdolarização, já há muito que havia sinais disso, a invasão do Iraque e da Líbia são apenas dois exemplos, de entre outros, da retaliação estado-unidense e da sua aliada União Europeia (ainda com o Reino Unido) contra a tentativa de por fim à hegemonia do dólar nas transações internacionais, em particular na compra e venda de petróleo. Mas não é só, a emergência de economias robustas, fora do eixo atlantista, que se afirmam no contexto mundial e agregam países do chamado Sul global são olhadas, pelo ocidente, como uma ameaça, e assim é no entendimento dos decisores atlantistas e eurocentristas. Os BRICS são um exemplo da organização de estados soberanos que deram início a uma nova ordem económica mundial fora da alçada dos EUA e da EU.
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O Sul global liberta-se gradualmente do neocolonialismo e deu-se início à construção de um mundo multipolar, esta é a “ameaça”. Podia ser uma oportunidade, mas os eurocentristas e atlantistas do alto da sua arrogância, mas também cegueira e insciência insistem em perpetuar a unipolaridade.
Os cidadãos estão, uma vez mais, a pagar caro as opções políticas das diferentes instâncias da UE, a inflação e a alta dos juros são apenas as variáveis visíveis de uma profunda crise para a qual nos estão a conduzir, aliás Mario Draghi num recente relatório apresentado ao Parlamento Europeu fala claramente em "declínio lento e agonizante" da economia da UE e da necessidade de inverter o rumo para salvar este projeto político integrado por 27 países europeus.
Socorri-me de Mario Draghi para reforçar a ideia de que o espaço social, político e económico onde estamos inseridos atravessa uma crise sem precedentes e são necessárias profundas alterações no seu seio, o que não significa que eu esteja de acordo com o que, na opinião do ex-primeiro-ministro italiano, está na raiz dos problemas que a UE está a viver, nem com as soluções por ele propostas.
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O Partido Popular Europeu e o Partido Socialista Europeu, como não podia deixar de ser, estão exultantes e tudo farão para executar as recomendações de Mario Draghi. Nada de novo vem por aí, nem mesmo a hipocrisia de quem paulatinamente tem vindo a destruir a agricultura e a indústria na EU e a submeter-se a interesses dos globalistas, se constitui como uma novidade. O entendimento das famílias políticas europeias vai continuar a limitar a soberania dos estados-membros e promover o empobrecimento dos cidadãos.
O relatório propõe 170 medidas enquadradas em 3 áreas e propõe, para a sua concretização, um investimento de 800 mil milhões de euros, por ano, até 2030. Financiamento que terá de ser obtido por aumento das contribuições dos países que integram a UE e por endividamento no mercado financeiro global.
E a que se destina este gigantesco investimento!? Inovação, descarbonização e defesa.
Assim colocadas as áreas de intervenção podem ganhar amplos apoios na generalidade da população, e para reforçar esse potencial apoio o autor refere que este é um “desafio existencial”, ou seja, o relatório encerra uma ameaça velada: Ou é assim, ou estamos a chegar ao fim deste projeto que se encontra em agonia.
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Ponta Delgada, 17 de setembro de 2024
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