imagem retirada da internet |
Há muito que deixei de me encantar com estes cenários de celebração e renovação que por estes dias se instalam, em particular, no mundo cristão e que o calendário comercial, sem pudor, parasita até à medula. Isto não significa que fique indiferente e me encasule, esta é uma de outras datas, ao longo do ano, em que procuro estar com os meus: a família e os amigos; embora não dê um particular enfâse a esta como a outras datas do calendário. Todos os dias são bons para estar com os amigos e a família, é bom em qualquer ocasião sem qualquer outro motivo a não ser o que nos aproxima, a satisfação de estarmos juntos e a partilha de memórias, mas também de viver o presente e sonhar com o futuro, pois, sem sonhos não há caminho para andar.
Às vezes dou comigo a pensar que este desencantamento se relaciona com o meu envelhecimento, mas ao revisitar o passado concluo que nunca fui muito dado a festas. Fui e vou, mas nunca retirei, nem retiro, uma grande satisfação dos ambientes festivos.
Se é verdade que nunca fui muito dado às festividades do calendário católico e comercial, o que afasta a ideia de que o desencantamento que se tem vindo a instalar no meu ser não é da idade, ou pelo menos não será só, pois não faltam motivos para me sentir dececionado com os caminhos trilhados pelas sociedades ditas civilizadas, e às quais estou ligado pela geografia, mas que há muito deixaram de representar o que sinto e o que penso sobre progresso e civilização. Os exemplos de défice de humanidade nestas sociedades são visíveis e só não os vê e sente quem não quer, ou não se consegue libertar da cegueira que a propaganda induz.
imagem retirada da internet |
Na nova Síria, à semelhança do que aconteceu na Líbia, já abriram mercados de escravos, neste caso de escravas sexuais. Ainda não dei conta foi dos movimentos feministas a insurgirem-se contra essa afronta aos direitos humanos, como não dei conta de nenhuma manifestação de intenção e luta contra a demissão, pelos novos e democratas dirigentes sírios, de todas as mulheres juízes que exerciam a magistratura na velha e opressora Síria, para não falar da obrigatoriedade, até agora uma opção individual, de uso do véu islâmico na nova Síria. Não é fácil, ou será!? entender esta duplicidade de ação e contestação de movimentos ditos de defesa das mulheres.
A inoperância e a ineficácia da ONU dizem bem da sua inutilidade, ou talvez da utilidade submissa aos poderes obscuros que dominam e determinam os nossos destinos e não, não me estou a referir aos governos e a quem os representa.
imagem retirada da internet |
Com outra dimensão, mas ainda assim com uma raiz comum, a imbecilidade promovida pelo governo português e protagonizada pela PSP deixando, contudo, salvaguardado o respeito que a corporação merece, pois, nem todos os oficiais e agentes se identificam com aquela forma de atuação, mas como dizia a operação de “segurança” levada a cabo na zona do Martim Moniz é sintomática de uma certa forma de fazer política que resulta do preconceito levado, neste caso até à discriminação. Este lamentável caso não é único teve a visibilidade mediática que outras, por acontecerem fora dos holofotes, não têm e que são levadas a cabo nas periferias onde residem os pobres, racializados ou não. Sobre o assunto já muito foi dito, escrito e dissecado pelos comentadores nacionais e nada de novo tenho a acrescentar.
A caminho do fim do texto gostaria de abordar duas outras questões que, parecendo não ter nada a ver com o que atrás ficou dito, estão profundamente ligadas e em relação às quais julgo ser necessário alguma reflexão crítica.
A emergência da classe média com algum significado e importância aconteceu na segunda metade do século XX, claro que a história começa muito antes, e era sustentada por aquilo que hoje tem tendência a ser aniquilado, ou seja, o acesso aos serviços públicos (saúde, educação e proteção social), segurança laboral e a rendimentos que lhes permitiam viver com alguma dignidade, não deixando, contudo, de ser trabalhadores e disso tinham consciência. Perceção que foram perdendo na justa medida em que as teorias da realização pessoal se foram sobrepondo às realizações coletivas e lhes começou a ser disponibilizado, não melhores condições de vida ou mais rendimento, mas o acesso a produtos e bens de baixo custo que lhes permite imitar os verdadeiramente ricos, há quem lhe chame democratização do consumo. Eu diria que não passa de uma fantasia que nos vai fazer competir e consumir cada vez mais, ou seja, enquanto alimentarmos esta ideia de que o mercado nos permite que possamos ostentar um modelo de vida que só, até então, alguns podiam ter, o que não passa de uma ilusão, vamos continuar a competir e esquecer a necessidade de transformação de um modelo social, político e económico que nos vai destruir.
imagem retirada da internet |
Os custos e emissões durante a vida útil de um carro elétrico para uso particular não justificam este investimento, quando muito a aposta seria a sua utilização em transportes coletivos, garantindo assim que um maior número de pessoas beneficiava com a presente alternativa de mobilidade elétrica e os impactos ambientais seriam, aí sim, menores.
Os fabricantes de carros elétricos, sejam eles de onde forem, apenas se adaptam aos ciclos do mercado. Se a preocupação social dominante é reduzir o uso de combustíveis fósseis para combater o aquecimento global e as alterações climáticas a resposta do sistema é fornecer uma solução que iluda o essencial. O lítio é escasso, a sua extração provoca impactos ambientais irreversíveis, ou seja, estamos perante mais uma falácia construída em nome de um bem maior: a defesa do meio ambiente.
Ponta Delgada, 24 de dezembro de 2024
Sem comentários:
Enviar um comentário