segunda-feira, 18 de maio de 2009

Jornada pelo céu das ilhas

Naquela manhã de sol apenas ponteavam algumas nuvens no celeste azul que a vista alcançava. O mar e a terra refulgiam em matizes de cerúleos que a transparência e a tranquilidade dos elementos exaltavam.
Logo após a descolagem no aeroporto do Faial percebi que a rota para a Terceira me iria proporcionar uma visão renovada da montanha do Pico. Íamos pelo Sul.
As caldeirinhas por detrás do Monte da Guia, a cidade da Horta escalando pelo anfiteatro natural que lhe está sobranceiro e a abriga dos ventos de Oeste passaram rapidamente. Em poucos minutos ganhamos altitude e atravessamos o canal.
Sobrevoamos a ilha maior. Ao longe os ilhéus da Madalena. A Candelária vai ficando atrás e a majestosa montanha aproxima-se, a encosta íngreme e negra dá lugar à suavidade dos pastos. Bem no topo do vulcão adormecido, um planalto de onde emerge um pequeno cone que remata o recorte da montanha do Pico, qual pináculo de uma catedral. Para minha surpresa e agrado a aeronave roda para a esquerda e proporciona uma visão diferente da montanha e numa suave diagonal aproximamo-nos de S. Jorge.
A visão desfruta a magnífica paisagem da costa Sul da ilha de Francisco Lacerda, desde os Rosais à Calheta, para logo dar lugar à não menos excelsa costa Norte onde pontificam a Caldeira do Santo Cristo e a Fajã dos Cubres. Mais além… para Norte, recortada no horizonte, a Graciosa.
Na jornada para Ocidente espera-nos uma breve escala na ilha de Jesus Cristo a escolha de navegação é, uma vez mais, pelo Sul, passamos ao largo de S.Mateus e de Angra. Para lá do ilhéu da Cabras estendo a vista para Norte e descortino o porto oceânico da Praia da Vitória e o casario da urbe que viu nascer Nemésio que, na aproximação ao aeroporto das Lajes, iremos sobrevoar.
Saímos rumo ao aeroporto João Paulo II passados que foram os habituais 20 minutos de escala. O que seria apenas mais uma viagem entre a Terceira e a ilha do Arcanjo e um olhar repetido, mas sempre esperado, sobre a costa Sul de S. Miguel dos Mosteiros a Ponta Delgada não aconteceu. O voo cruzou os céus da ilha sobre o maciço das Sete Cidades dando a ver aos viajantes a imponência das lagoas que, num tempo não muito distante, já foram de azul e verde.
Aníbal C. Pires, IN Açoriano Oriental, 18 de Maio de 2009, Ponta Delgada

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

Escrever é uma forma de fotografar a vida, usando palavras e sinais.
Escrever é fotografar o que a câmara não abarca.
Henri Cartier-Bresson, um dos grandes mestres da fotografia do século XX que nos anos finais parou de fotografar e passou a pintar, recolhido no seu apartamento em Paris, não evidenciava muita disposição em falar do seu grandioso trabalho, segundo algumas poucas entrevistas que concedeu. Numa dessas raras ocasiões, chegou a comparar a fotografia com a pintura e a afirmar, a propósito de uma das suas fotos: “Eu estava lá e isto é como a vida me pareceu naquele momento.”
Tu também estiveste lá, mas levaste-nos contigo.
Obrigada pelo passeio que nos proporcionaste.
Beijinhos.