sexta-feira, 22 de maio de 2009

Touradas

Nos Açores como, no resto do país e no Mundo, defendo e valorizo os costumes, as tradições e a diversidade cultural como elementos incontornáveis de diversas identidades e referenciais basilares que nos distinguem enquanto cidadãos e povos sempre fora do redutor caixilho do relativismo cultural, por conseguinte dentro de um quadro, mais amplo, das referências humanísticas aceites e subscritas como Direitos Universais.
É, por isso, que valorizo a apropriação popular da festa taurina que é, incontestavelmente, na Região, a tourada à corda. Foi este, de entre outros motivos, que me levou a contestar, com energia mas também com toda a lealdade, a proposta de legalização das touradas picadas que recentemente esteve em discussão no Parlamento Regional.
Foi na tourada à corda que o povo açoriano encontrou a liberdade de viver a festa dos touros à sua maneira, sem imposições e sem importações, demonstrando na pureza e carinho com que soube manter esta tradição, o profundo significado desta festa.
Porque é neste costume, não noutro, que residem substanciais e significativas parcelas da nossa identidade e da forma como nos relacionamos com o meio ambiente, mormente com os animais.
E a natureza da tourada à corda, uma das festas que melhor definem a profundidade da alma açoriana, é o facto de respeitar o animal, de o acarinhar e, diria mesmo, de se colocar: o homem e o touro em plano de igualdade, naquele toca e foge de emoções e alegria, que move a população em peregrinação de freguesia em freguesia, de tourada em tourada.
A tourada à corda é um momento genuíno de alegre e inclusiva simplicidade, tão característico das nossas tradições e cultura, de entre as quais as Festas do Divino Espírito Santo pela sua universalidade no mundo açoriano são um dos paradigmas da identidade regional.
Esta lição que recolhemos das tradições do nosso povo, ensinou-me que a sorte de varas, que se pretendia introduzir, é uma prática estranha e importada, distante dos nossos costumes, de difícil compreensão para a nossa cultura, e que poderia, a prazo, ser um factor prejudicial para a própria vitalidade da tradição da tourada à corda.
Foi fundamentalmente pelo respeito devido às nossas tradições e à nossa cultura que rejeitei esta pretensão de um grupo de deputados que, sem a legitimidade do sufrágio popular, visava introduzir a sorte de varas na Região.
Sem legitimidade porque não foi anunciada e discutida antes de Outubro de 2008, sem legitimidade porque não consta de nenhum compromisso ou programa eleitoral sufragado pelo Povo Açoriano.

2 comentários:

bra disse...

Viva,

Subscrevia este texto se a referência às touradas à corda se limitasse à ilha Terceira. Em São Miguel e noutras ilhas (talvez com exepção de São Jorge e Gracioso?) as touradas à corda são uma imposição de um grupo de industriais ou governantes que falharam no desenvolvimento da agricultura/ pecuária

Teófilo Braga

Maria Margarida Silva disse...

Ninguém duvida de que o Homem, numa luta com as suas armas consegue ser superior a qualquer outro animal. Demonstrar isso numa luta desigual não é nobre!
Não há qualquer justificação moral para se causar sofrimento para fins de entretenimento.
A violência, o sangue, a crueldade, tudo o que humilha e desrespeita a vida nunca poderá ser considerado "arte" ou "cultura".
É lamentável que um país como o nosso e, neste caso, a região dos Açores e a Assembleia Regional estejam tão preocupadas e percam tanto tempo com um tema que, para mim e muita gente, não tem razão sequer de ser questionado quando problemas tão graves e de sobre importância se encontram por resolver.

"Os espectáculos bárbaros e cruéis, em que o prazer dos espectadores está precisamente na contemplação do martírio e, porventura, na agonia dos animais sacrificados, em que se integram as corridas de touros, o tiro aos pombos e os combates de animais uns contra os outros, devem ser banidos de todas as sociedades com pretensão a civilizadas".
Pedro José da Cunha

Beijinhos.

margarida