A manifestação da geração “à rasca” teve expressão em todo o território nacional e congregou muitos descontentes de várias gerações que adoptaram a atitude de finalmente “saírem do sofá”, aliás como se podia ler em alguns dos cartazes que os manifestantes empunhavam. Muitos outros cidadãos continuam a acumular descontentamento, ainda inertes, frente aos sonhos e pesadelos com que nos vendem as TVs. Até quando irá essa resignação? Não sei! Não sei até quando, mas sei que o potencial está latente e mais tarde ou mais cedo, mais PEC, menos PEC, também os resignados acabarão por “sair do sofá” para contestar estas ou outras medidas adicionais que mais mês, menos mês, Teixeira dos Santos e José Sócrates, nos anunciarão após uma viagem a Bruxelas com uma curta mas significativa passagem por Berlim.
Participei na manifestação promovida pela “geração à rasca” em Ponta Delgada e gostei. Gostei, desde logo, porque os jovens promotores numa atitude solidária e plural identificaram o evento como uma manifestação das “gerações à rasca”, o que corresponde a uma designação mais consentânea com a realidade, ou seja, estamos todos “à rasca” logo, a manifestação era mesmo para todos. Mas não foi só… o manifesto de luta apresentado equaciona os problemas e exige mudanças: “Basta! Basta! Basta!” Esta terá sido a palavra mais ouvida durante a concentração e manifestação que levou perto de um milhar de cidadãs e cidadãos, de todas as idades, até ao Palácio da Conceição. Este facto denota uma tomada de consciência colectiva da auto-denominada geração “à rasca” que não pode ser olhada de forma despiciente.
Gostei quando o jovem, que de megafone na mão não se cansava de enumerar os diversos pontos do manifesto e de incentivar os manifestantes com palavras de ordem, referenciou a luta das gerações que o precederam. Gerações que conquistaram a liberdade e a democracia. Gostei da atitude deste jovem que não esqueceu o passado e as lutas travadas para que naquele sábado ele pudesse manifestar-se livremente. Gostei porque ao meu lado manifestava-se um cidadão que em Abril de 1974 estava preso em Caxias. Um cidadão privado da sua liberdade por ter ousado tomar partido contra a ditadura em que Portugal esteve mergulhado 48 anos.
Gostei! Gostei de ver os jovens, com os pais e avós unidos na defesa das portas que Abril abriu.
Gostei de ver o povo na rua a exigir que se cumpra Abril por inteiro!
Gostei e dou as boas-vindas a quem está a chegar à luta. Luta pelo direito ao trabalho e ao trabalho com direitos, luta pela valorização do trabalho e dos trabalhadores (podem até chamar-lhe colaboradores mas, não deixam de ser o que sempre foram… trabalhadores).
Bem-vindos à luta!
Ponta Delgada, 15 de Março de 2011
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 16 de Março de 2011, Angra do Heroísmo
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