quinta-feira, 16 de junho de 2011

Fundamentalismos

A propósito do que muito se disse e escreveu acerca da posição que tomei sobre a inclusão de uma Tourada à Corda no programa oficial do Dia dos Açores, que este ano se realizou na ilha Terceira, e sobre a qual se tentou lançar uma acintosa mistificação importa, por isso, esclarecer com clareza e rigor o que penso, desde logo, sobre as touradas à corda e depois sobre a inclusão de uma tourada à corda no Dia da Região.
Poderia dissertar sobre o assunto aduzindo novos argumentos aos que estão registados para memória futura e se encontram disponíveis para todos os cidadãos, porém, abstenho-me de o fazer porque considero ser suficiente relembrar o que já disse e escrevi sobre o assunto. Assim, e sobre o que penso sobre as touradas à corda, vou apenas transcrever um excerto da intervenção que proferi durante o debate realizado na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, em 2009, à volta de uma proposta de Decreto Legislativo Regional cujo objecto se relacionava com a “Sorte de Varas”.
(…) Por isso, aqui nos Açores, valorizamos sobretudo a apropriação popular da festa brava que é, incontestavelmente, a tourada à corda.
Foi nessa prática que o povo açoriano encontrou a liberdade de viver a festa dos touros à sua maneira, sem imposições e sem importações, demonstrando, na pureza e carinho com que soube manter esta tradição, o profundo significado desta festa.
Porque é neste costume, não noutro, que residem porções substanciais e significativas da nossa identidade e da forma como nos relacionamos com o nosso meio, mormente com os animais.
E a natureza da tourada à corda, uma das festas que melhor definem a profundidade da alma açoriana, é o facto de respeitar o animal, de o acarinhar e, diria mesmo de se colocarem o homem e o touro em plano de igualdade, naquele toca e foge de emoções e alegria, que move a população em peregrinação de freguesia em freguesia, de tourada em tourada.
A tourada à corda é um momento genuíno de alegre e inclusiva simplicidade, tão característico das nossas tradições e cultura, de entre as quais as Festas do Divino Espírito Santo pela sua universalidade no mundo açoriano são paradigma. (…)
O que atrás ficou dito é a opinião que tinha sobre as touradas à corda, posição que se mantém até hoje inalterada e que não contradiz, em minha opinião, a posição que recentemente tomei manifestando discordância sobre a inclusão de uma tourada à corda nas comemorações oficiais do Dia da Região porque, embora entendendo a forma como as touradas à corda fazem parte do legado cultural de algumas das nossas ilhas, a sua natureza não consensual torna inadequada a sua inclusão num momento onde se pretende representar e celebrar toda a Região.
Quanto a extremismos e fundamentalismos, Estamos esclarecidos!
Angra do Heroísmo, 14 de Junho de 2011

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 15 de Junho de 2011, Angra do Heroísmo 

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