Pela manhã a preparar uma saída para um passeio pedestre que nos levaria até às margens da Lagoa do Fogo.
Verificado o material necessário, onde não podia faltar a máquina fotográfica, um pequeno farnel e água e, claro um indispensável equipamento de geolocalização pois o passeio não era só contemplativo, tinha outros objetivos. Saí em direção à Ribeira Grande, a concentração estava marcada para a cidade norte da ilha do Arcanjo. Café e um pequeno briefing sobre o que nos esperava e aí estamos a caminho das Lombadas onde o passeio tinha o seu início. Ainda antes de principiar a subida até ao cume da caldeira da Lagoa do Fogo pude observar a continuada degradação dos edifícios que há menos de 30 anos albergavam a pequena indústria de engarrafamento de água mineral, a “Água das Lombadas”, assim como uma espécie de “Água das Pedras” local. A fonte que alimentava a antiga indústria corre agora para as ribeiras que ali se cruzam.
Lembro-me de outra pequena indústria desaparecida vai para mais de duas dezenas de anos, uma pequena fábrica, em Santa Clara, que produzia papel reciclado. Eram pequenas indústrias, Sim, eram à nossa dimensão e do seu funcionamento resultavam postos de trabalho que geravam riqueza. Não tinham escala de mercado, pois não, mas no contexto das economias globalizadas nada do que produzimos nos Açores, tem escala de mercado. A economia regional não pode, não deve, competir a essa dimensão, talvez pela diferenciação, talvez pela excelência, nunca pela quantidade, nunca na selvajaria do mercado global.
Bem regressemos ao passeio cuja primeira etapa nos levaria às margens da Lagoa do Fogo pois a ideia é partilhar uma pequena experiência e promover, sim promover, uma atividade com cada vez mais adeptos na Região, em Portugal e no Mundo.
Esmagados pela orografia do local, pela beleza dos matizes do verde, pelos pedaços de azul que lá de vez em quando espreitava pela bruma que, ora subia ora descia as encostas das cumeeiras da Lagoa do Fogo. A vegetação era exuberante, os pequenos cursos de água corriam para ribeira grande para se lançarem no mar, lá em baixo onde a terra se funde com o oceano. O esforço exigido pela subida era sobejamente compensado pela permanente descoberta de uma nova perspetiva da paisagem que a espaços se vislumbrava por entre a neblina. Por fim avistamos a Lagoa do Fogo, era a primeira vez que fazia a abordagem pela margem voltada para Nordeste, um deslumbramento. As gaivotas faziam-se ouvir na tranquilidade do espaço, aqui o tempo parece outro que não o nosso tempo.
O areal da acolheu-nos para a merecida merenda. Retemperadas as forças e com o equipamento de geolocalização em punho lá fomos procurar aquilo que motivou o passeio, as caches da Lagoa do Fogo. Este grupo que acompanhei tem como afinidade o gosto pelas atividades de ar livre e pelo Geocaching.
Os passeios pedestres nos trilhos dos Açores valem por si mesmo e constituem uma das ofertas turísticas mais procuradas por quem nos visita. Os grupos informais de geocaching e os geocachers que existem nos Açores divulgam a custo zero, por todo o Mundo, o destino Açores, existem caches em todas as ilhas da Região. Podem encontrar na internet basta informação sobre esta atividade pois não me cabe a mim fazê-lo, nem tenho essa pretensão.
O passeio acabou no antigo porto da Ribeirinha, da Ribeira Grande, já a Lua ia alta e a alma estava cheia.
Ponta Delgada, 12 de Março de 2013
Anibal C. Pires, In Diário Insular, 13 de Março de 2013, Angra do Heroísmo
(*) Foto Madalena Pires. Não participei no passeio, o texto foi escrito com auxílio da descrição feita pela Madalena.
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