A luta dos trabalhadores e dos povos assume diversas formas. A greve é uma delas, não sendo o último recurso, outros existem quando se bloqueiam todas as portas, a greve é, contudo, reconhecida como uma forma de luta que se adota quando outras se encontram esgotadas e assim acontece, face à rutura do diálogo e à intransigência, decreta-se greve.
É bom recordar e olhar para a história da humanidade para perceber que a construção social que nos elevou ao patamar civilizacional que, até ao último terço do século passado, pautou no designado mundo ocidental, foi feita de lutas. As lutas contra a escravatura, as lutas contra a servidão, as lutas de emancipação do jugo colonial, a luta pela igualdade de género, as lutas contra a homofobia, as lutas pelos direitos sociais e laborais, e tantas, tantas outras lutas que nem sempre foram pacíficas, mas foram sempre, sempre, pela dignidade do ser humano. Todas as transformações conquistadas passo a passo, luta a luta, tiveram associadas a ideia da construção de uma sociedade mais justa, a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável, a melhoria da qualidade de vida dos habitantes desta casa comum a que chamamos terra e a preservação do ambiente e dos recursos para as futuras gerações.
Hoje continuamos a lutar, não por avanços, lutamos contra os retrocessos. Luta para travar o retrocesso civilizacional que foi conquistado ao longo de séculos. A ofensiva não é de hoje, a luta hoje tem protagonistas sem vergonha, mas outros protagonistas os antecederam. A tentativa de desmantelamento das conquistas civilizacionais, não é de hoje nem de ontem, embora nos queiram fazer crer que não há história de luta e resistência antes de a crise ser decretada. Não podemos esquecer que a ofensiva contra os trabalhadores e os povos nunca cessou e que, de forma concertada, a agressão ganhou força e avançou, no Mundo desenvolvido, com os consulados de Ronald Reagan e Margaret Thatcher e a subsequente submissão, dos partidos socialistas e sociais-democratas europeus, à ideia da conciliação do Estado social com o mercado “livre”, como, imagine-se, o “livre” mercado assim o permitisse.
Quando iniciei este texto tinha como ideia central tecer algumas considerações sobre as lutas dos professores e outras que se avizinham, o correr da pena levou-me por outros caminhos e saíram poupados os detratores da greve dos docentes que hipocritamente afirmam reconhecer a greve como um direito mas apenas quando lhes convém, tivemos recentemente outros exercícios de hipocrisia à volta da greve dos trabalhadores da SATA, ou seja, se esta forma de luta for inócua, for mansa, como alguém escreveu por aí, que se realize se prejudicar então, não.
Nos Açores a máquina da propaganda do Governo Regional continua afinada, se é certo que ninguém poderá deixar de se congratular com a declarada intenção de não aplicar a mobilidade especial nos Açores, não é menos verdade que outros aspetos ligados às reivindicações docentes estão em aberto, é tudo uma questão de tempo e não podemos ficar como uma nêspera deitada que Mario Henrique Leiria descreveu, todos sabemos o que acontece às nêsperas que ficam deitadas, caladas, a esperar, o que acontece.
Mas a propaganda do PS não se fica por aqui, o pagamento do subsídio de férias anunciado para o próximo mês chega com um mês de atraso pois, não há nenhum motivo plausível para que o Governo Regional não tomasse a iniciativa, sem mais delongas e à semelhança do que outros organismos públicos fizeram, de pagar o subsídio devido durante o mês de Junho, congratulamo-nos por na Região receber alguns meses antes do que no continente mas, em bom rigor esta é mais uma falácia do PS.
Horta, 17 de Junho de 2013
Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 18 de Junho de 2013, Ponta Delgada
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