quarta-feira, 18 de junho de 2014

O garrote agiota

Imagem retirada da internet
Uma parte central dos problemas do nosso desenvolvimento resultam de decisões e opções políticas que são tomadas muito longe dos Açores, em função de prioridades e interesses, que não consideram, por um lado as nossas especificidades e, por outro por uma clara opção neoliberal de desvalorização do trabalho e da diminuição do papel dos Estados, enquanto garante da equidade social e económica. Opção que está a transformar o papel dos Estados em meros coletores de impostos sobre quem trabalha para depois redistribuir no apoio aos grandes grupos económicos e financeiros. Veja-se, por exemplo que a recapitalização da banca privada nacional e europeia foi feita à custa da diminuição dos rendimentos dos trabalhadores e pela sobrecarga fiscal dos rendimentos do trabalho.
Existem, todavia outras responsabilidades que não devem, nem podem ser obliteradas, responsabilidades diretas da governação regional autónoma que se refletem no desemprego, na pobreza, na insolvência de particulares e empresas, dificuldades que as empresas e as famílias açorianas vivem de forma dramática. Responsabilidades pela escusa reiterada em utilizar as competências autonómicas. Mas, em boa verdade a génese dessas dificuldades muitos dos problemas mais centrais, dos fatores que mais impacto têm sobre a economia regional decorrem de opções políticas nacionais e europeias. 
PS, PSD e CDS sempre estiveram – e continuam – perfeitamente unidos no rumo de liberalização da economia, de retração do papel do Estado, de forma entusiástica há poucos anos, de forma mais envergonhada agora que os ventos da crise deixam a nu a dimensão do falhanço dessas políticas.
Os custos dessa opção tripartidária, o preço dos seus erros, é pago agora, amargamente, por todos os portugueses e por todos os açorianos, com claros efeitos diretos na nossa economia e na nossa Região.
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Uma das razões fundamentais para as dificuldades do nosso arquipélago são os custos do endividamento, que suga em cada ano milhões de euros à economia regional. As instituições bancárias levam uma fatia cada vez maior da riqueza produzida pelos açorianos, deixando-nos com pouco, ou mesmo nada para reinvestir, para semear um futuro melhor para as próximas gerações.
Perguntemos aos nossos autarcas, aos nossos micro, pequenos e médios empresários, aos dirigentes das nossas cooperativas agrícolas, qual é o grande centro de custo que os impede de investir. A resposta será sempre a mesma: a dívida bancária e os seus juros e taxas, que como uma grilheta de servidão os constrange e impede a economia de crescer.
O serviço da dívida anula os apoios e incentivos pagos com fundos públicos, que acabam por ser sempre canalizados, de forma direta ou indireta, para o setor financeiro, um ralo por onde têm desaparecido sem deixar rasto centenas de milhões de euros do dinheiro dos açorianos.
A primeira e maior dificuldade que as nossas empresas e instituições atravessam, relacionam-se diretamente com a inflexibilidade e exigências agiotas da banca privada.
Depois de receberem milhares de milhões de Euros de financiamento público para os salvar do pecado da gula, as instituições bancárias recusam os investimentos que são necessários para dinamizar a economia nacional e, recusam reestruturar as dívidas das instituições, aliviando-as de um serviço da dívida incomportável, que as pode empurrar inexoravelmente para a insolvência. 
O setor financeiro continua, assim, a embolsar milhões de Euros da riqueza produzida pelos açorianos, dinheiro que, reinvestido na Região, nos garantiria com certeza um nível de desenvolvimento económico muito diferente. 
Horta, 16 de Junho de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular et Açores 9, 18 de Junho de 2014 

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