A ausência foi para lá do que tinha programado, não aconteceu por vontade própria mas por imprevistos que decorreram, no essencial, da dependência dos meios informáticos e das plataformas de comunicação que aceleraram o tempo mas que, ao invés do que seria de esperar, subtraem tempo ao já escasso tempo. As dependências dão sempre mau resultado, até esta que parecendo inócua também induz dolorosos estados de privação. Não faltará muito tempo, se é que não acontece já, para que sejam desenvolvidas terapias de substituição para esta nova adicção.
Um pequeno bug no sistema foi o suficiente para prolongar, por mais uma semana, a pausa anual neste exercício prazeroso de partilha que se vai prolongando no tempo. Confesso que me deixou irritado, confesso que já sentia saudade e não foi do meu agrado ter de adiar o regresso a este espaço. Gosto de me sentar, abrir o processador de texto e mergulhar nas palavras, organizá-las em função de uma ideia previamente estruturada ou, como hoje acontece, iniciar um texto sem saber muito bem qual o caminho que vou percorrer até ao ponto que lhe colocará fim.
O tempo do calendário nem sempre se adequa aos ciclos da vida contemporânea. Para professores e alunos, nesta latitude, o ano inicia-se em Setembro, a atividade política, passado o período de latência da silly season, desperta pujante por esta altura do ano, embora a silly season que agora terminou tenha sido marcada por grande agitação lá prás bandas do PS. Infelizmente, nesta guerra intestina, não se procuram soluções políticas para o país, procura-se o protagonista que mais votos poderá arregimentar, procura-se um lugar à mesa do poder.
Não será este PS que, com o António ou com o António, se constituirá como uma verdadeira e necessária alternativa política de rutura, até porque o António propôs, em Coimbra, e o António em Coimbra subscreveu, o documento que já foi “Portugal Primeiro” e é agora, “Documento de Coimbra”, mudança de nome para evitar confusões com a designação da moção de Passos Coelho, moção que o consagrou como líder do PSD, em 2010. Como se isto fosse diferenciador, como se a semelhança de ideias, propostas e soluções entre o PS e o PSD não fosse muito para lá da designação dos documentos estratégicos e moções destes dois partidos. Mas isto são assuntos da vida interna do PS que, sendo importantes, prefiro não aprofundar para não ser acusado de ingerência externa. Não que isso me preocupe mas porque, de facto, a guerra fratricida no seio do PS apenas contribui para afastar, ainda mais, os cidadãos da vida política.
Não consigo evitar. E, para que não fiquem dúvidas nos leitores, o “Documento de Coimbra” subscrito pelos dois “candidatos a primeiro-ministro”, coisa que não existe, é assim, como uma espécie de programa de governo do PS. Pois é, e os Antónios estão os dois de acordo naquilo que é verdadeiramente importante no projeto do PS, o “Documento de Coimbra.
Voltando ao calendário e ao seu desajustamento com os ciclos da vida contemporânea, palavras minhas, chegado aqui talvez seja mais avisado não problematizar o assunto e deixar que tudo fique na mesma, afinal há coisas bem mais importantes para fazer e pensar.
Horta, 07 de Setembro de 2014
Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 08 de Setembro de 2014
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