Foto - Aníbal C. Pires |
Sou particularmente cético aos futurólogos e às premonições mas, enfim há quem se entretenha a sê-lo e a fazê-las e há, sobretudo muito público consumidor, o que não deixa de ser relevante para o sucesso desta atividade.
Do que me pude aperceber das palavras de Toffler houve uma questão para a qual fiquei particularmente desperto, talvez pelo facto de ser um profissional da educação e, naturalmente ter, sobre as questões do ensino, da educação e da formação uma opinião própria que decorre do exercício da minha profissão e do “espaço percebido”, que como se sabe fica sempre aquém do “espaço conhecido” e, ainda mais aquém do “espaço real”, ou seja, a realidade vai para além do que o observador “perceciona”, e/ou “conhece.
Haverá sempre alguma subjetividade nas afirmações que possa tecer sobre a realidade que observo na Escola, bem assim como nas alterações que têm vindo a ser promovidas no sistema educativo regional e nacional, embora esteja numa situação privilegiada pois, exerço a minha profissão no “espaço percebido” e, pela minha formação e experiência profissional domino, com algum à-vontade, o “espaço conhecido”. Digamos que, não estarei muito distante do “espaço real” ou, se preferirem da realidade.
Voltando às palavras de Tofller e ao assunto que me despertou o interesse e alguma reflexão. O futurólogo e investigador ao referir-se à Escola falou da sua desadequação face às necessidades atuais e futuras, da necessidade de redesenhar os currículos e que a Escola não pode continuar a reproduzir modelos que só faziam sentido nas sociedades industrializadas ou mesmo nas sociedades do conhecimento.
Não posso deixar de estar de acordo com Toffler no que concerne ao papel da Escola, embora com a relatividade que este assunto merece pois, a sociedade global encontra-se em vários estádios de desenvolvimento e, porventura, haverá algumas sociedades que ainda estarão na 1.ª vaga (agrícola) ou na 2.ª vaga (industrial) – isto segundo a própria categorização de Alvin Tofller – tais são as assimetrias planetárias que se verificam. Mas voltando à Escola, e no caso particular à Escola portuguesa. O meu acordo com Alvin Toffler está relacionado com a desadequação da Escola às exigências do nosso tempo.
Os alunos, os pais, a chamada sociedade civil e os profissionais da educação quer sejam os auxiliares, quer sejam os educadores e professores. Todos se queixam e ninguém ou, muito poucos se reveem na Escola. A Escola atravessa uma profunda crise de identidade, isto é do domínio do “espaço percebido”, aquele que é do senso comum e, onde sou tido a incluir os responsáveis políticos pela administração da educação no País e na Região pois, as políticas educativas mais parecem ser produzidas por quem se encontra a “anos-luz” da realidade conhecida e muito mais ainda do “espaço real”.
A Escola terá os seus dias contados quando a transformarem numa organização avaliada por objetivos de produtividade e desempenho, como se de uma empresa se tratasse. A Escola é uma instituição e como tal deve cumprir uma missão. Missão que segundo a UNESCO se sustenta em quatro pilares: - “ (…) aprender a conhecer, a fazer, a ser, a viver com os outros (…) ”.
As organizações perseguem objetivos que podem ser traduzidos em resultados precisos, as instituições cumprem missões. Ao retirar a dimensão institucional à Escola estamos a reduzir o seu papel a uma mera organização de produção o que me parece profundamente desadequado ao momento presente e ao futuro.
O meu acordo com Toffler pode não ter as mesmas motivações mas lá que a Escola, as medidas e os processos de transformação a que, na Região e no País, tem estado a ser sujeita são desadequados, lá isso são.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 27 de Fevereiro de 2008
(*) Ando a vasculhar no baú e encontrei este texto que foi publicado na imprensa regional no final de Fevereiro de 2008. Achei interessante partilhá-lo convosco agora pois este texto, é um de muitos outros que não estão publicados no "momentos" e não deixa de ser interessante, Digo eu.
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