Na noite de 17 de Abril assisti, em direto, a grande parte da votação realizada pela Câmara de Deputados brasileira que decidiu dar continuidade ao processo de “impeachment” da Presidente Dilma Roussef. Quem, como eu, teve essa oportunidade deve ter ficado claramente esclarecido sobre o que ali estava em jogo. Os fundamentos da generalidade dos deputados que votaram “sim” mais pareciam discursos em dia de reunião familiar. Pelo pai, pela mãe, pelos filhos, pela tia, por Deus, pelos netos, pelo marido, pela esposa, por tudo isso, Voto sim, senhor presidente. Isto tudo no meio de uma turba de deputados que empunhavam cartazes verde e amarelo com dizeres, como por exemplo, Tchau Querida, e que se encarregavam de vaiar os deputados que pela justiça social, pelos sem terra, pelos direitos da mulheres, pela democracia e pela liberdade diziam, Voto não. Os que votaram não à admissibilidade do “impeachment” à Presidente Dilma não foram suficientes para evitar esta farsa parlamentar.
A democracia brasileira deu ontem uma triste imagem ao Mundo, não pelo resultado da votação na Câmara de Deputados mas, por tudo o resto. Dir-me-ão, como já me disseram, que no PT de Lula e de Dilma existem muitos corruptos, Não o nego, é um facto. Mas sobre Lula e, neste caso preciso, sobre Dilma não há acusações consistentes. O que houve foi uma manobra política conduzida pelo presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, para ele próprio e os seus capangas se auto protegerem dos processos e acusações de corrupção nos quais são potenciais réus. O que houve foi uma gigantesca manobra mediática protagonizada pela rede “Globo” para mobilizar alguns setores da sociedade brasileira que se sente ameaçada pelas transformações sociais e económicas que se verificaram nos consulados de Lula da Silva e de Dilma Roussef. E quem é que se pode sentir ameaçado com o investimento em educação, na saúde, na proteção social, na distribuição equitativa da riqueza gerada, com a promoção da igualdade de direitos, com a erradicação da pobreza e da fome, Sim foram ameaçados os velhos poderes, foi ameaçada a classe média alta, foi ameaçada a burguesia brasileira e os fascistas que se identificam com a ditadura militar que imperou no Brasil entre 1964 e 1985.
Não foi, assim, com surpresa que ouvi e vi o deputado Jair Bolsonaro, do PSC-RJ, antes de votar sim a favor da admissibilidade do “impeachment”, de entre outras aleivosidades, lembrou os militares de 1964 e homenageou a memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, uma figura sinistra da ditadura militar que foi responsável pela tortura de Dilma Roussef aquando da sua prisão durante esse período negro da história do Brasil. Este e outros depoimentos dizem bem qual é a matriz ideológica que sustenta o “impeachment” à Presidente Dilma.
A organização política brasileira é complexa e o espectro partidário uma amálgama de partidos, muitos dos quais apoiados por seitas religiosas e criados apenas com o objetivo de dividir o eleitorado e servir interesses que podem ser de um qualquer deus, mas não são, seguramente, os interesses do povo brasileiro.
O PT não está, neste processo, isento de responsabilidades, desde logo, nas políticas de alianças e por ainda não ter conseguido uma reforma dos sistema parlamentar consentâneo com a democracia, a não ser que o conceito de democracia seja tão permissivo que permita que depois de eleitos os deputados possam formalizar a sua saída de um partido e a sua entrada noutro, tudo isto sem perda de mandato ou, mesmo sem serem obrigados a passar para um estatuto de deputado independente. Sim, é possível na Câmara de Deputados brasileira e é por essa via que o presidente do parlamento brasileiro, Eduardo Cunha, investigado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo Supremo Tribunal Federal, a partir de alegadas luvas no valor de 1,25 milhões de euros recebidas por conta de um contrato do estaleiro Samsung Heavy Industries com a Petrobras, procura que a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados lhe seja favorável na decisão sobre a sua perda de mandato.
Este processo de cassação do mandato de Eduardo Cunha arrasta-se lenta e silenciosamente há meio ano no Conselho Ética da Câmara dos Deputados. O processo político que decorre contra Eduardo Cunha terá sido um dos detonadores do processo de “impeachment” da presidente brasileira, para própria proteção de Eduardo Cunha. Importa ainda dizer que mais de 50% dos 513 deputados da Câmara estão a ser investigados pela prática de algum crime. Também no Senado brasileiro, o número de senadores que estão a ser investigados ultrapassa os 50%.
Ponta Delgada, 18 de Abril de 2016
A democracia brasileira deu ontem uma triste imagem ao Mundo, não pelo resultado da votação na Câmara de Deputados mas, por tudo o resto. Dir-me-ão, como já me disseram, que no PT de Lula e de Dilma existem muitos corruptos, Não o nego, é um facto. Mas sobre Lula e, neste caso preciso, sobre Dilma não há acusações consistentes. O que houve foi uma manobra política conduzida pelo presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, para ele próprio e os seus capangas se auto protegerem dos processos e acusações de corrupção nos quais são potenciais réus. O que houve foi uma gigantesca manobra mediática protagonizada pela rede “Globo” para mobilizar alguns setores da sociedade brasileira que se sente ameaçada pelas transformações sociais e económicas que se verificaram nos consulados de Lula da Silva e de Dilma Roussef. E quem é que se pode sentir ameaçado com o investimento em educação, na saúde, na proteção social, na distribuição equitativa da riqueza gerada, com a promoção da igualdade de direitos, com a erradicação da pobreza e da fome, Sim foram ameaçados os velhos poderes, foi ameaçada a classe média alta, foi ameaçada a burguesia brasileira e os fascistas que se identificam com a ditadura militar que imperou no Brasil entre 1964 e 1985.
Não foi, assim, com surpresa que ouvi e vi o deputado Jair Bolsonaro, do PSC-RJ, antes de votar sim a favor da admissibilidade do “impeachment”, de entre outras aleivosidades, lembrou os militares de 1964 e homenageou a memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, uma figura sinistra da ditadura militar que foi responsável pela tortura de Dilma Roussef aquando da sua prisão durante esse período negro da história do Brasil. Este e outros depoimentos dizem bem qual é a matriz ideológica que sustenta o “impeachment” à Presidente Dilma.
A organização política brasileira é complexa e o espectro partidário uma amálgama de partidos, muitos dos quais apoiados por seitas religiosas e criados apenas com o objetivo de dividir o eleitorado e servir interesses que podem ser de um qualquer deus, mas não são, seguramente, os interesses do povo brasileiro.
O PT não está, neste processo, isento de responsabilidades, desde logo, nas políticas de alianças e por ainda não ter conseguido uma reforma dos sistema parlamentar consentâneo com a democracia, a não ser que o conceito de democracia seja tão permissivo que permita que depois de eleitos os deputados possam formalizar a sua saída de um partido e a sua entrada noutro, tudo isto sem perda de mandato ou, mesmo sem serem obrigados a passar para um estatuto de deputado independente. Sim, é possível na Câmara de Deputados brasileira e é por essa via que o presidente do parlamento brasileiro, Eduardo Cunha, investigado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo Supremo Tribunal Federal, a partir de alegadas luvas no valor de 1,25 milhões de euros recebidas por conta de um contrato do estaleiro Samsung Heavy Industries com a Petrobras, procura que a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados lhe seja favorável na decisão sobre a sua perda de mandato.
Este processo de cassação do mandato de Eduardo Cunha arrasta-se lenta e silenciosamente há meio ano no Conselho Ética da Câmara dos Deputados. O processo político que decorre contra Eduardo Cunha terá sido um dos detonadores do processo de “impeachment” da presidente brasileira, para própria proteção de Eduardo Cunha. Importa ainda dizer que mais de 50% dos 513 deputados da Câmara estão a ser investigados pela prática de algum crime. Também no Senado brasileiro, o número de senadores que estão a ser investigados ultrapassa os 50%.
Ponta Delgada, 18 de Abril de 2016
Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Azores 9, 20 de Abril de 2016
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